Pele escura - da periferia para o centro", de Graça Castanheira, parte de uma ideia original de Kalaf Epalanga. Representa a viagem da periferia ao centro de seis amigos afrodescendentes, inscrevendo-se na paisagem branca e nas suas marcas exteriores de prosperidade.
Vou lá visitar
24.06.2021 | por vários
O choque gerado pelo crime hediondo não se ficou a dever, todavia, à morte de um rapazinho negro no Mississípi, acontecimento não tão raro assim, nem sequer à comoção suscitada pelo desfecho judicial deste caso, expectável por aquelas bandas, sobretudo naquela época. O que mais emocionou a América foi, isso sim, o facto de não ter podido evitar confrontar-se com uma visão arrepiante e brutal, a visão do cadáver de uma criança, horrivelmente desfigurado, exposto perante todos.
A ler
16.06.2021 | por António Araújo
Corpos que se levantam diariamente às 4 da manhã; corpos invisíveis numa sociedade onde são a base da pirâmide; corpos que sofrem diariamente violência obstétrica por serem consideradas “não merecedoras” de um direito fundamental; corpos que deixam os seus filhos sem amparo todos os dias em busca do sustento; corpos sem direito a lazer devido a insuficiência económica; corpos que sofrem diariamente múltiplas opressões e agressões, corpos incapazes de cuidar da sua saúde mental, uma vez que é esperado deste corpo força, destreza e resiliência.
Mukanda
24.05.2021 | por Neusa Sousa
Para desgosto dos mestres-jardineiros da outrora capital do império, a “inconstância da alma indígena” foi e será a autodeterminação de quem se quer recusar a ser talhado pelo poder colonial-racista. Vale lembrar que os cravos de abril não teriam existido sem essa preciosa determinação.
A ler
22.05.2021 | por Bruno Sena Martins
Discriminação é um sinónimo de violência. É uma violência de contornos específicos, focada na diferença entre um sujeito e o outro, e o espaço que fica reservado a cada um. Esta operação premeditada de diminuir alguém com base na sua pertença está presente em quase todos os recantos da sociedade portuguesa. Estas dinâmicas de opressão estão bem entrelaçadas na estrutura do sistema, mas é na comunicação que são validadas e disseminadas.
A ler
10.05.2021 | por Rute Correia
Caro amigo branco, quando eu falo que Portugal é racista, não estou a dizer que tu és racista, nem que todos os portugueses são racistas, mas estou a dizer que o sistema é racista e está construído sobre princípios racistas e de supremacia divisionista.
Mukanda
06.05.2021 | por Marinho de Pina
A insistência em repetir que a guerra colonial carece de registos visuais tende a desprezar o facto de que a imprensa portuguesa a apresentou ao público com a maior das campanhas de imagens de choque. E isto foi determinante na forma como o conflito foi travado, narrado e como viria a ser relembrado. Foram precisos 60 anos, e apenas uma fotografia em sentido contrário, para que se questionasse esta exposição.
Afroscreen
04.05.2021 | por Afonso Dias Ramos
Os primeiros filmes brasileiros são realizados em 1897. Nove anos antes, o Brasil fora o último país ocidental a abolir a escravatura. Os portugueses começam o tráfego negreiro pouco após a descoberta e, durante 350 anos, deportam no mínimo 5 milhões de africanos, número que não inclui os desaparecidos no oceano. Soldados da conquista, mão-de-obra no campo e na cidade, empregados e artesãos, os africanos edificam o Brasil. Quando D. Pedro, herdeiro da coroa portuguesa e rei do Brasil, proclama a independência, em 1822, dois terços dos brasileiros são afro-descendentes, na sua maioria alforriados e livres. No entanto, durante décadas, o cinema oculta esse passado fundador, o cinema apaga a escravidão.
Afroscreen
30.04.2021 | por Ariel de Bigault
Já ultrapassámos a questão das queixas. Ao fim de centenas de anos de queixas que nunca foram ouvidas, a queixa não resulta! Além do mais, se eu me queixar, vão-me reduzir mais uma vez ao estado de vítima. E, lamento, mas não sou uma vítima. É também uma maneira educada de me dirigir ao outro, de lhe dizer: “Quero só conversar consigo, não esteja tão na retranca.” Quero manter o espectador numa situação permanente de expectativa, sem saber o que virá no plano seguinte, para o manter desperto, atento. Quero bombardear o espectador com coisas fortes, belas, tristes, chocantes, mas verdadeiras. E quero convidá-lo a viajar comigo, não para o magoar, mas para que juntos nos tornemos melhores.
Cara a cara
12.04.2021 | por Jorge Mourinha
Os meus pais protegeram-me sempre muito para eu não crescer com estigma. Só já bem adulto é que adquiri noção de algumas coisas que vivemos. Como sou do bairro, habituei-me muito cedo a coisas como ser seguido por um segurança de cada vez que entrava numa loja. E em Cabo Verde não havia disso. Éramos todos iguais. Foi lá que me apercebi do racismo de cá. Quando voltei, pensei «eu não estou no meu país. Por mais que tenha nascido aqui eu nunca vou ser um português inteiro, porque sou filho de imigrantes, porque sou negro». Decidi que tinha de ver isto num outro prisma, de mostrar às novas gerações que, independentemente disso, podes ser tudo, podes triunfar.
Cara a cara
07.04.2021 | por Sara Goulart Medeiros
Hoje, encontramo-nos ainda em pleno processo de aprendizagem. A invisibilidade pode omitir e silenciar, mas não pode extinguir. E sim, podemos “desaprender” o colonialismo; mas primeiro, para que assim seja, as suas marcas e efeitos terão de ser confrontados. A desmemória do colonialismo é uma doença política - uma doença para a qual ainda não foi encontrada a cura. Ao contrário das palavras proferidas pelo assassino de Bruno Candé, não existem mais senzalas às quais se possa regressar. Mas, alinhado com o tema que hoje nos trouxe aqui, “reckoning”, ou reconhecimento, para se desaprender o colonialismo, e para que nos descolonizemos a nós próprios, assim como ao mundo à nossa volta, o passado tem de ser confrontado.
A ler
05.04.2021 | por Patrícia Martins Marcos
Nunca tivemos acesso a tantos arquivos e documentos como hoje, usando simplesmente um teclado. É desnecessário ir à procura do passado: se quisermos, o passado, nas suas multíplices dobras, está - ainda que no simulacro digital - ao nosso alcance. Está à nossa frente. No entanto, o paradoxo é evidente, pois a facilidade de acesso corresponde não a uma potencialização, mas a uma deterioração da nossa capacidade de reter e entender o passado aproximando-nos dele e de construirmos uma memória menos precária; uma memória que ultrapasse as barreiras das recordações individuais ou das sombras de imagens projetadas nos ecrãs que não remetem para nenhum conhecimento.
Jogos Sem Fronteiras
27.03.2021 | por Roberto Vecchi
Uma vez que o racismo continua a ser uma questão actual no discurso público e académico, o mesmo acontece com as estratégias para se chegar ao seu fim. Na tentativa de criar um futuro livre de racismo, há quem acredite que os nossos padrões linguísticos desempenham um papel central. Uma estratégia decorrente desta percepção de importância na África do Sul relaciona-se com o papel da "língua racial" nas nossas sociedades.
Mukanda
17.03.2021 | por Kiasha Naidoo
Como cresci no Rio de Janeiro, numa cidade que tem muito presente a cultura do samba, eu dava de barato essas coisas. Aqui eu comecei a valorizar muito mais e a identificar o que de tão especial existe nessa parte da cultura brasileira. Ter um grupo de samba no Brasil seria apenas mais um grupo, mas aqui em Portugal já torna a coisa muito mais única, porque não há tantos assim. Torna-se num trabalho de apresentação de uma coisa nova, diferente para as pessoas. Isso sempre me estimulou muito.
Cara a cara
13.03.2021 | por Filipa Teixeira
Invisibilidade pandémica nos melhores filmes de 2018:
33 filmes sem personagens negras ou mulheres afroamericanas; 54 filmes sem personagens asiáticas ou mulheres asiáticas;
70 filmes sem personagens latinas;
89 filmes sem mulheres LGBT;
51 filmes sem mulheres multirraciais;
83 filmes sem personagens femininas com deficiência.
Corpo
13.03.2021 | por Daniel Morais
“O cinema colonial é sempre um confronto de dois olhares. Mesmo que um dos olhares esteja completamente subjugado, ele está lá. Há um momento em que alguém, que foi apanhado pela câmara, olhou para a câmara e, de repente, num simples olhar, transmite um mundo que, aparentemente, na retórica do filme, está completamente esquecido ou está completamente subjugado. Nenhum realizador colonialista, por mais que queira fazer propaganda, consegue fazer um plano escondendo toda a realidade”.
Palcos
07.03.2021 | por Mariana Carneiro
Espero que esta carta te encontre de boa saúde, a gozar a juventude em toda a sua plenitude, que nunca madures e que continues sempre cheio de ideais nobres de uma mudança que valha o seu nome, pois, meu caro, da forma como isto anda nesta banda, esta demanda de mudar o mundo está cada vez mais a ir para o fundo e eu acho, meu caro revolucionário que, neste caso, ao contrário do que proclamamos, o problema somos nós. Pois…
Mukanda
05.03.2021 | por Marinho de Pina
A COLÓNIA é a versão colonial portuguesa do Monopólio. Capaz de destruir as melhores amizades e ser efetivamente a origem de brigas acesas entre os participantes, a COLÓNIA continua a ser jogada por milhões de pessoas em Portugal e outros lugares.
O objetivo do jogo consiste em reconstruir o império geográfico, religioso e espiritual português e evitar a perda dos territórios. Ao contrário do Monopólio, não há perdedores.
A COLÓNIA é um jogo de vencedores.
A duração do jogo depende inteiramente do grau da dedicação dos participantes.
A ler
28.02.2021 | por Patrícia Lino
A descolonização política já aconteceu. Falta cumprir-se a difícil descolonização de mentalidades.
Ela está em marcha há anos. É um processo, como todas as mudanças, com fases de avanços e recuos, adormecimentos e efervescências, durante muitos anos remetida para circuitos académicos, educacionais ou culturais, e agora também presente no espaço público como um todo.
Mukanda
28.02.2021 | por Vítor Belanciano
“Há uma predominância de narrativas ligadas à história colonial e uma ausência de narrativas relacionadas com a escravatura. Não há qualquer menção na toponímia, nos monumentos ou em qualquer manifestação urbana no espaço público que relembre ou simbolize o passado escravocrata do Porto”, acrescenta. Ao trazer intervenientes de fora do espaço geográfico da cidade que reflectiram mais sobre o problema, a discussão de quinta-feira alarga-se obrigatoriamente aos casos de cidades como Lisboa e São Paulo e, no debate seguinte, também a Luanda.
Jogos Sem Fronteiras
27.02.2021 | por Isabel Salema