O campo dos estudos da memória é desafiado mais do que nunca pela crescente volatilidade dos debates sobre o que as nações lembram e, consequentemente, o que esquecem. Monumentos e memoriais estão a ser vandalizados, demolidos e oficialmente removidos. Estes já não podem mais ser simplesmente vistos como parte de uma paisagem histórica. Em grande medida, muito do que se passa hoje pode ser entendido como um combate pelas narrativas históricas dos monumentos e do seu poder, mas também se trata de tensões em torno de quem a nação lamenta e quem esta vê ou não vê como tendo uma "vida digna de luto" para usar o conceito de Judith Butler. Portanto, vejo o activismo da memória como um lugar chave para a produção de investigação sobre a memória.
Cara a cara
25.10.2021 | por Inês Beleza Barreiros
Está anunciada a programação da 19ª edição do Doclisboa, que decorre entre 21 e 31 de Outubro, nas salas habituais do festival – Culturgest, Cinema São Jorge, Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema e Cinema Ideal, às que se juntam ainda o Cinema City Campo Pequeno, Museu do Oriente e Museu do Aljube.
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07.10.2021 | por vários
A Quinta do Mocho é conhecida não apenas por ser uma das maiores galerias de arte urbana da Europa, mas também pela simpatia dos seus habitantes. Tia Ducha é um dos “rostos” do bairro, vendendo no restaurante “Mulambeira”, improvisado numa das esquinas, deliciosos quitutes.
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05.10.2021 | por Otávio Raposo
A escola é vista como um dos primeiros espaços de socialização, um espaço no qual depositamos a nossa confiança e crescemos, aprendendo lado a lado com os nossos colegas, no entanto, o sistema educativo não é nem nunca foi verdadeiramente igualitário. O problema faz-se notar quando tentamos implementar mudanças e existe uma forte resistência por parte do espaço escolar, quando a confiança se perde e quando ouvimos os professores que nos ensinaram a nós, e agora a outros jovens dizer que não concordam com o que está a ser discutido porque “os brancos também sofrem racismo quando vão a África”, “sou só um peão no meio disto tudo”, ou que “o tema é abordado dependendo da sensibilidade do professor” quando se debate a descolonização.
A ler
03.10.2021 | por Alícia Gaspar
E o Jazz foi uma das armas de combate dos negros norte-americanos, do Harlem ao longo do século XX. Nina Simone, é apenas um dos vários exemplos. E na vizinha África do Sul, Hugh Masekela, Miriam Makeba, Dollar Brand, Caifás Semenya, Letta Mbulu, Jonas Gwangwa, são outros nomes que usaram este este género musical contra o Apartheid. O Jazz entrou no país pela Casa Grande, desde logo consumido por uma elite intelectual, entre os quais Ricardo Rangel e José Craveirinha que o levaram a periferia.
Palcos
02.10.2021 | por Leonel Matusse Jr.
A história de consumo do Outro, foi fulcral para garantir à igreja um plano estratégico de massacre da carne negra, uma carne amaldiçoada pelo olhar diabólico do mundo europeu com a marca de Caim que só seria expurgada através do trabalho servil, da entrega de si ao serviço do outro. Um corpo carne, um corpo máquina, um corpo deforme, um corpo de talho, pronto para um consumo voraz. Um corpo que serviu de suporte para manter toda a produção da sociedade europeia. Um corpo que ainda serve como cargueiro forte para elevar prédios, construir mansões ou servir de deleite sexual. Um corpo que é ainda é alvo, Um corpo sem política. Um não-corpo.
Mukanda
23.09.2021 | por Rodrigo Ribeiro Saturnino (ROD)
Esta é uma retrospetiva praticamente integral da obra de Sarah Maldoror (1929-2020), realizadora conhecida sobretudo pela dimensão mais militante do seu cinema associada às lutas contra o colonialismo, e autora de uma obra multifacetada determinante para a afirmação de uma cultura negra, que, permanecendo em grande parte invisível, assume particular relevância no contexto português pela sua ligação ao nosso passado colonial.
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18.08.2021 | por Joana Ascensão
Uma visão mais alargada dos contornos dos acontecimentos do 27 de Maio, prestando especial atenção aos sentimentos dos que ficaram, em particular as mães. Com isso, não pretendemos de todo ignorar os restantes familiares, mas sim começar por onde a humanidade tem o seu início: no ventre materno.
As consequências destes acontecimentos foram de tal maneira nocivas, que pretendemos dar início a um longo processo de cura, humanizar a tragédia para mitigar a dor e buscar a paz interior.
Vou lá visitar
11.07.2021 | por vários
A 8ª edição da Arquiteturas tem como objetivo refletir sobre a construção social do espaço conectado a um fio que circula dentro de suas próprias narrativas de dominação. Narrativas também sobre identidade que muitas vezes é retirada ou forçada a representar o nosso corpo. Contra algumas suposições atuais, vemos este paradigma perceptivo — um epítome da visão de nossos tempos — como fundamentalmente social, espacial e corporal.
A arquitetura trabalha com poderes administrativos, económicos, políticos e estruturais que controlam, segregam e colonizam, mapeando ativamente os territórios espaciais habitados pelos nossos corpos.
Vou lá visitar
30.05.2021 | por vários
Francisco Ricardo vive em Manaus desde sua infância e desde então vem desenvolvendo um olhar sensível e crítico para a arte. Em conversa com o artista conheci um pouco da sua trajetória no cinema como diretor de arte que culmina recentemente com o Kikito do Festival de Gramado de 2020 com o filme O barco e o rio (2019). A arte de Francisco conflui dentro de um cenário pulsante de artistas não brancos do norte brasileiro que questionam nossas relações étnico-raciais contemporâneas.
Cara a cara
04.05.2021 | por Marco Aurélio Correa
Sem desprimor para quem pensa o contrário, eu considero essa discussão importantíssima em Angola. Isso porque a maioria das pessoas desta terra que é Angola, ainda se vê presa pela matriz colonial e pela razão imperial. Na construção dos meus textos eu tento passar a ideia de que precisamos de virar os conteúdos de cabeça para baixo. É necessário rever o que se pensa sobre o saber, como se pensa a história ou as estórias e recuperar os modelos de conhecimento, de produção do saber, de transmissão de experiências de uma geração para outra e incluir outras vozes para escrever outras histórias. Só assim vamos deixar de perpetuar o modelo imposto pelo Estado colonial e o sujeito branco burguês.
Cara a cara
16.04.2021 | por André Soares
Em 55 anos de vida, Paulo Leminski deixou um legado único e sui generis, que o posicionou como um dos poetas mais vanguardistas do Brasil, enquanto os cânones ainda eram muito respeitados. De poeta a tradutor, crítico literário e professor, a sua predileção pela cultura japonesa levou-o a ser um judoka e a apaixonar-se pelos haikais (a poesia curta japonesa composta somente por uma estrofe de três versos — o primeiro e o terceiro com cinco sílabas métricas e o segundo com sete —, que resulta da junção de “hai” — brincadeira — com “kai” — harmonia ou realização).
A ler
16.03.2021 | por Lucas Brandão
Como cresci no Rio de Janeiro, numa cidade que tem muito presente a cultura do samba, eu dava de barato essas coisas. Aqui eu comecei a valorizar muito mais e a identificar o que de tão especial existe nessa parte da cultura brasileira. Ter um grupo de samba no Brasil seria apenas mais um grupo, mas aqui em Portugal já torna a coisa muito mais única, porque não há tantos assim. Torna-se num trabalho de apresentação de uma coisa nova, diferente para as pessoas. Isso sempre me estimulou muito.
Cara a cara
13.03.2021 | por Filipa Teixeira
Invisibilidade pandémica nos melhores filmes de 2018:
33 filmes sem personagens negras ou mulheres afroamericanas; 54 filmes sem personagens asiáticas ou mulheres asiáticas;
70 filmes sem personagens latinas;
89 filmes sem mulheres LGBT;
51 filmes sem mulheres multirraciais;
83 filmes sem personagens femininas com deficiência.
Corpo
13.03.2021 | por Daniel Morais
A construção de cidade exige a confluência em fogueiras que agregam os adversários dispostos a conversar e a uma experiência do tempo sem tempo em que eu procuro acompanhar as razões do que se me afigura como estranho, inflexível ou irracional. As cidades fazem-se de paciência e de acumulação no transcorrer indiferente dos séculos. É nas dinâmicas tensionais da coabitação e no labor anónimo do quotidiano, no quase-nada em que se negociam ganhos e perdas, reputações e amizade, dívidas e gratidão para o resto da vida, a distração prosaica que engendra a saúde de uma cidade que nunca é a mesma. Onde a fúria, os gestos de rutura, o embate frontal e as clivagens têm lugar nobre e merecem atenção.
Mukanda
04.03.2021 | por João Sousa Cardoso
José (ou Zeca) Afonso é uma referência nacional. Entre as vozes de contestação ao regime do Estado Novo, a ditadura que já se prolongava desde 1928 em Portugal, era ele que encabeçava. Era precisamente a partir da arte, da composição lírica, da música que expressou a sua indignação em relação ao estado do país, fazendo-o de forma tão sagaz e subtil que foi fintando a austeridade da censura. Após a queda do regime, manteve-se firme e vincou as promessas de Abril, que asseverou até 1987, ano em que faleceu, vítima de esclerose lateral amiotrófica. No entanto, o seu legado perdura e é, cada vez mais, um alimento para a alma de quem não é só português, mas de quem respira e usufrui da liberdade.
A ler
24.02.2021 | por Lucas Brandão
Em que medida a presença de artistas negros apenas em exposições destinadas ao tema não geram uma dupla reificação: uma redução do artista e de sua obra a apenas um aspecto de sua identidade? É suficiente reunir a produção de artistas negros, apenas por sua etnia? Ou, ainda, a redução de uma exposição à discussão racial não acaba por perder de vista uma série de singularidades formais e conceituais diversas, além de especificidades de linguagem e da especificidade desse assunto dentro da produção de cada artista?
Palcos
11.02.2021 | por Leandro Muniz
Jean Michel-Basquiat não era um fã de entrevistas e, nas raras ocasiões que se rendeu às mesmas, suas respostas foram breves e um pouco enigmáticas. Apesar disso, as palavras do artista revelam muito sobre as suas inspirações e o seu processo consumidor. Elas oferecem uma janela à sua abordagem, no qual ele fez uma mescla de referências entre história de artes, ruas de Nova Iorque nos anos 80 e o tumulto da cultura pop com a sua herança caribenha e a sua identidade como um jovem homem negro.
Palcos
09.02.2021 | por Alexxa Gotthardt
Conversei com a realizadora sobre a sua criação cotidiana com o audiovisual até à sua relação pessoal com os cultos de matriz africana. As narrativas que permeiam a vida de Milena partem da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro e desembocam no atlântico, fazendo parte das grandes confluências que têm sido os cinemas negros contemporâneos.
Afroscreen
25.01.2021 | por Marco Aurélio Correa e Milena Manfredini
Sento-me em qualquer sítio e toda a gente tem uma história com o Teatro Viriato. O Teatro é da cidade. E, ainda assim, sentimos que há novos públicos, há novas energias, novas possibilidades. É isto que um teatro deve ser. É uma casa onde nos encontramos todos, vindos de não sei de onde. Com coisas em comum para partilhar mas também com coisas que nunca tínhamos visto antes. Por vezes incómodas.
Cara a cara
25.01.2021 | por Mariana Carneiro