Resenha literária do livro "Metrónomo sem Função"

O livro Metrónomo sem função de Laura do Céu, pseudónimo de Soraia Simões de Andrade, desperta logo a atenção pela estratégia literária adotada no texto ao não delinear uma separação entre a voz autobiográfica e a voz ficcional. O primeiro indício deste artifício é o uso do pseudônimo Laura do Céu por parte da autora, manifestação desta estratégia literária do jogo entre ficção e realidade. A autora narra a história de uma jovem de província e da fuga da província (para Lisboa e para Amesterdão); é a história de quem decide sair dos limites provincianos de Coimbra nos anos 80-90, da fuga das tradições familiares e culturais conservadoras. É a história de uma jovem rebelde que encontra na música, na escrita e no cinema a sua fuga e sua paixão.

O metrónomo sem função identifica o tempo indefinido, vago, indeterminado que está na base da narrativa. No texto, o leitor deseja descobrir mais sobre a história de vida da autora/protagonista, uma vida de amarguras e de dificuldade e de compreender finalmente quais são os fatos reais e ficcionais. A curiosidade que se desperta ao ler o texto, rico de referências reais, empurra o leitor a buscar informações fora do livro, por exemplo sobre certos espaços -Zoraide Café (provavelmente não sendo o nome real) em Coimbra e os lugares reais e imaginários evocados pela narradora, como Lagar dos Cortiços e São Martinho do Bispo, lugares da sua infância.

A morte, a dor, a ausência e a doença são os leitmotiv do livro, descritos às vezes de forma crua e fria, mas sobretudo de maneira autêntica. São temáticas centrais na narração da história da própria família em que se subseguem experiências da morte de familiares para se tornar uma reflexão profunda sobre o valor da perda, da lembrança e da memória.

por Luana Loria
A ler | 27 Janeiro 2021 | música, província, Soraia Simões de Andrade