Não sei como posso partir de ti sabendo eu que te amo tanto e que viverei atormentado por estas visões o resto da vida que sobra em mim para vivê-las e como hei-de dormir, e como hei-de ler e escrever, e como seguramente poderei cheirar uma flôr, colher algum odor do teu rio, se eu morro a cada instante que o tempo me chega, diminuto, pouquíssimo, intransigente, se eu choro com essa criança por uma boca que já não me serve para dizer outra coisa se não o teu nome e se tenho um homem que se mata e se anicotina em nome do que és e se, finalmente, Lisboa, para mim, deixar-te é incontornavelmente deixar de me exercer.
Cidade
15.01.2011 | por Eduardo White
No seu mais recente livro, António Tomás reflecte sobre o que o rodeia. E nessa reflexão constata que em Luanda escasseiam espaços que cumpram uma função social, como as barbearias. Quem vive no musseque está, nesse aspecto, mais bem servido de lugares para o comentário social, afirma o antropólogo
Cara a cara
12.01.2011 | por Isabel Costa Bordalo
Tempo! Em que Monstro
Retalhas a chicote o meu corpo e os sonhos?
Para que diabólica risada
Arrastas o meu riso outrora deslumbrado pela vida?
Fito a infância nos olhos –
E logo viro a cara horrorizado.
Mukanda
12.01.2011 | por Dambudzo Marechera
Enfant mais que terrible da literatura do Zimbabué, outsider da vida e da escrita, Dambudzo Marechera cresceu na miséria mais negra e viveu uma tempestuosa existência afligida por perseguições políticas, fome, clandestinidade, exílio, brigas de bar, drogas, doença… Morreu só, com Sida, aos trinta e cinco anos, e tornou-se o ídolo de milhares de jovens compatriotas que estamparam o seu belo rosto em t-shirts, copiaram as suas excêntricas indumentárias, decoraram os seus poemas e partilharam o seu desencanto pelo Zimbabué pós-Independência.
Cara a cara
11.01.2011 | por José Pinto de Sá
O programa mais visto da televisão de São Tomé e Príncipe foi suspenso por decisão do Governo. Conceição Lima, jornalista, poeta e responsável pelo programa, considera ter sido alvo de "saneamento" e teme que o episódio possa ser um mau sinal para o futuro da democracia no seu país. Este mês chega às livrarias portuguesas o seu novo livro de poemas, "O País de Akendenguê".
Cara a cara
10.01.2011 | por Jorge Marmelo
Como estabelecer uma ética da diferença no quadro da diferença na produção cultural, nas nossas sociedades que prezam a diferença mas são incapazes de criar a diferença? Estaremos a viver uma tirania do ‘outro’? As exposições internacionais erguem uma “cacofonia de vozes” e “espaços de negociação de vários valores”, mas reproduzem discursos e negligenciam a criatividade artística independente e os mundos imaginários alternativos. São algumas das críticas-reflexões apontadas pelos organizadores da Trienal de Cantão.
Vou lá visitar
08.01.2011 | por Marta Lança
A voz vai mudando do outro lado do telefone – escritores, cantores, Lisboa, Rio de Janeiro – mas mantém-se o tom: ninguém sabe dizer o que é, ao certo, a lusofonia, se existe, e ainda que exista, talvez não baste. É preciso discutir, discordar, estrebuchar, concordar, amar perdidamente, ficar insatisfeito, porque bom, bom, era a utopia, aquela dos tempos de “descobrir” o mundo. Como se o mundo não existisse antes de nós o dizermos – em português.
A ler
07.01.2011 | por Susana Moreira Marques
As oportunidades criadas pelo contexto histórico de libertação que África vivia reforçavam a crença na possibilidade de uma nova arte africana, resultado de métodos de ensino inovadores e assente numa força criativa original.
A ler
06.01.2011 | por Alda Costa
O olhar de Pancho via o que muitos não viam, nas viagens que fazia a várias zonas de Moçambique por causa do trabalho, por onde passava diariamente, nas exposições que aconteciam...
A ler
06.01.2011 | por Alda Costa
Apenas mais tarde se soube, de um país haver percorrido o Mundo para embarcar o seu pintador enfeitiçado da vida, que, agora, naquela enorme nave, voltava para vivê-la na consanguinidade moçambicana das suas telas. Desse homem, nosso colorido marinheiro do mundo e de seu nome MALANGATANA, só mesmo elas, justa e merecidamente, poderão falar.
Cara a cara
06.01.2011 | por Eduardo White
Desde o comércio à cultura, Cabo Verde sempre foi encruzilhada de um conhecimento global. Um bom exemplo desta mistura é a capital cultural, Mindelo. Como segunda maior cidade, com cerca de 70 mil habitantes, Mindelo vive de costas voltadas para a sua periferia. Estigmatizadas pelo desemprego crónico, estas recentes comunidades periféricas convivem diariamente com um universo de drogas, violência, carência, exploração laboral e abandono social.
Surpreendentemente, nada parece roubar o sorriso de esperança dos seus rostos, nem a sua vontade de celebrar a vida.
Afroscreen
04.01.2011 | por Miguel Pinheiro
Quanto do que hoje é brasileiro foi português antigo que Portugal perdeu? Como o cardápio em Portugal encolheu, certamente por falta de apetite! E eles continuam a vir, dietistas, higienistas, fiscais-de-contas, reduzindo a língua a um quartinho, e de colarinho: não respire, não respire.
Avé a poesia, cheia de fome.
A ler
03.01.2011 | por Alexandra Lucas Coelho
Há mais de quarenta anos que ando pelos trópicos e há mais de vinte e cinco anos que me fixei na Guiné. Percorri toda a África desde a Argélia à África do Sul, desde o Egipto a Marrocos, utilizando aviões, comboios, vapores, carros e canoas. Dormi nesses maravilhosos hotéis que o engenho humano criou e dormi também nas mais modestas palhotas das mais modestas tabancas africanas.
Bebi aquela água barrenta, de aspecto leitoso, que se colhe nos poços das povoações perdidos no mato; atravessei rios e pântanos sob um calor escaldante; torneei florestas densas e subi montanhas abruptas; percorri as areias imensas dos desertos africanos; tiritei de frio e abrasei-me e longamente conversei com Tcherno Bokar, a quem Teodoro Monod, com aquele sentido de penetração das coisas africanas que só ele possui, chamou «um homem de Deus».
Mukanda
03.01.2011 | por Artur Augusto Silva
A retórica tradicional da lusofonia tem persistido, não raras vezes, numa espécie de nostalgia do império, subvalorizando a diversidade cultural que cinco séculos de aventuras associaram à experiência de todos os cidadãos que pensam, sentem e falam em língua portuguesa. Será, por isso, importante - e talvez também urgente – que todo um conjunto de políticos, intelectuais e académicos, que têm trazido à luz numerosas pistas sobre a complexa construção da identidade lusófona, reflicta sobre o contributo que o ciberespaço oferece à reconfiguração de uma lusofonia mais englobante e mais plural.
A ler
02.01.2011 | por Lurdes Macedo
Interpretar o viajante, na actualidade, decorre de um pensamento multilateral ampliado pela situação geográfica e cultural que existe entre o ponto de partida e o ponto de chegada. A latitude humana que se encontra nas distâncias percorridas entre princípio e fim de um percurso é, para muitos, um agente provocador que resulta num campo de experimentação artística e intelectual, onde a força de espaços inócuos nos leva a partilhas e à construção de conceitos.
Cara a cara
02.01.2011 | por Jorge Rocha
Desde Philadelpho Menezes e das suas experiências poético-sonoras a solo ou em conjunto com Wilton Azevedo, mais voltadas para a componente tecnológica da palavra, e do soberbo “Nome” de Arnaldo Antunes, que não ouvia uma obra de poesia sonora de um autor brasileiro que me soasse de um modo inovador e entusiasmante como esta obra de Wilmar Silva.
A ler
25.12.2010 | por Fernando Aguiar
Companhias e artistas viajam para apresentarem os seus trabalhos uns aos outros e a um público que refresca o olhar do seu habitual nicho de mercado, nos territórios nacionais. O trabalho ganha em visibilidade e reflexão, pois o debate entre pessoas da área ajuda a desenvolver critérios de exigência e de comunicação sobre aquilo que se apresenta. Um Festival tem uma dimensão festiva, não menos importante que tudo o resto, e contribui para esse intercâmbio no espaço lusófono, entre agentes culturais e representações das realidades de cada um.
Palcos
24.12.2010 | por Marta Lança
A Universidade de Coimbra acolheu duas importantes reuniões internacionais designadas World Heritage Portuguese Origin (WHPO), a primeira sucedeu em 2006 e a segunda acabou de ocorrer (entre 23 e 26 de Outubro de 2010), no quadro das quais se fundou uma rede orientada para a conservação do património arquitectónico e urbano de influência portuguesa, espalhado pelos muitos - certamente mais que quatro - cantos do Mundo.
Cidade
22.12.2010 | por Ana Amendoeira e José Aguiar, ICOMOS-Portugal
Depois de algumas idas e voltas Lisboa-Madrid-Lisboa, e de outras idas e voltas Maputo-Joanesburgo-Maputo comecei a encontrar pontos de encontro entre a viagem no Sudoeste europeu e a viagem no Sudeste africano. Os dois percursos têm cerca de seiscentos quilómetros, de país para país, de capital para capital; sintonizar noutro idioma ao passar a fronteira, cambiar as notas por outras - actualmente já se salta este passo na Península Ibérica. São viagens em longitude, para Oriente: Madrid e Maputo; para Ocidente: Lisboa e Joanesburgo.
Vou lá visitar
17.12.2010 | por Nuno Milagre
Ao contrário do contexto da África francófona, onde dominou o interesse pela criação literária e uma concepção de negritude que passava pela apropriação mais ou menos conflitual da modernidade europeia, alguns mediadores situados mais a sul interrogavam a evolução possível das culturas locais e das grandes tradições artísticas próprias, com independência da subordinação aos modelos europeus de modernidade, que quanto à situação das artes visuais e não só eram vistos de modo crítico. No quadro da morte inevitável da arte tribal própria da sociedade tradicional - mesmo na via da sua cópia turística -, procuravam-se sem qualquer essencialismo nativista (nos casos de Beier, Guedes e Beinart) novas formas populares e espontâneas de produção artística, e também sofisticadas formas sincréticas, no caso da "síntese natural" proposta na Escola de Zaria por Uche Okeke.
A ler
17.12.2010 | por Alexandre Pomar