Falar de moçambicanidade é ao mesmo tempo falar do Estado e da Nação, na medida em que ela constitui o seu complemento, vértice de suporte, enquanto estereótipo representativo de base hegemónica da diversidade étnica, racial, linguística, cultural, religiosa, identitária, etc., que foi construído para gerar o sentimento de semelhanças e a partir das quais se pode pensar Moçambique e sentir-se moçambicano.
A moçambicanidade está em construção. Nesse sentido, afirmar a moçambicanidade no contexto contemporâneo equivale a afirmar, por identificação ou mapeamento, uma cultura que represente o mosaico nacional não apenas no seu elemento racial, como também nas dimensões multiculturais iniciadas pela empresa colonizadora e que constituem o Moçambique atual.
Cara a cara
04.05.2021 | por Alícia Gaspar
É assim, os tugas disseram que o 25 de Abril de 1974, foi o dia da Revolução d’Escravos, que os capitães do Abril foram tomar o poder lá na Grândola da Vila Morena, porque o povo ordena. Na verdade, o povo nada ordena, o povo é ordenado, porque os tugas não conseguem fazer nada por si mesmos, precisam sempre e têm mania de capitães, os quais adoram e até lhes fazem estátuas. Quando chegaram ao Brasil tinham um capitão, à Guiné, outro capitão, ao Moçambique, mais um capitão, e na Madeira é o Cristão Ronaldo o capitão.
A ler
26.04.2021 | por Marinho de Pina
Não existia muito diálogo entre nós, não discutíamos os nossos problemas comuns perante a tropa e a previsível mobilização para uma guerra que ambos detestávamos. Só assim se compreende que ele nunca me tenha falado sobre o assunto, ou tenha sequer esboçado uma tentativa de encontrar uma solução (uma eventual deserção?) para evitar a guerra, apesar de ele saber bem quais eram as minhas ideias sobre a guerra e sobre o regime fascista.
Jogos Sem Fronteiras
30.11.2020 | por Fernando Mariano Cardeira
O caso do combate da pandemia de 1907, em Maputo, apresenta um exemplo de como a resposta a uma crise sanitária se transmuta – ou é usada como desculpa – para a consolidação de medidas de segregação e exclusão racial.
A ler
17.06.2020 | por Matheus Pereira
O filósofo Severino Ngoenha questiona em que momento teria surgido a arte e literatura moderna moçambicana e sugere influências do Movimento do Renascimento Negro. Este artigo dá seguimento a este exercício a partir da obra de José Craveirinha.
A ler
15.04.2020 | por Leonel Matusse Jr.
Reinata Sadimba, artista do povo, artista popular, artista tradicional, artista de elite, artista que se situa entre uma e outra categoria, artista sincrética, onde cabe a individualidade, a novidade e a vitalidade de Reinata? São precisas estas categorias para apreender as qualidades das formas expressivas do seu trabalho? Como interpretar a liberdade de que goza o trabalho de Reinata, a forma como combina diversos elementos culturais, do mundo rural e da cidade, ou dá resposta às profundas transformações sociais?
Cara a cara
27.02.2020 | por Alda Costa
A dança foi Introduzida há vários séculos na costa de Moçambique por comerciantes arabes-swahili. Possui forte raízes religiosas. Na origem, era apenas praticada em rituais e momentos festivos associados à religião muçulmana, mas com o tempo a dança foi-se massificando.
Palcos
29.01.2020 | por Hélio Nguane
Num Moçambique cada vez mais aberto para o capital internacional neoliberal, entendedor da cultura como entretenimento e empreendedorismo, o direito dos músicos de se reconhecerem como trabalhadores, se fortalecerem a partir de um coletivo e se expressarem da forma como consideram adequados é um caminho de resistência política e transformação social.
Palcos
28.01.2020 | por Priscila Dorella e Matheus Pereira
"O modo como as personagens morrem tem muito a ver com a traição entre pessoas na vida real. A meu ver, a sociedade moçambicana tornou-se muito gananciosa. O tempo dos favores já se foi, em troca veio o tempo do refresco. A corrupção aumentou, a prostituição também. Hoje em dia vende-se crianças, albinos são cortados aos pedaços, assassinam-se indianos, rapta-se portugueses, ricos, pobres. Tudo em troca de dinheiro."
Afroscreen
05.08.2019 | por Marta Lança
O eixo à volta do qual gravita toda a narrativa do documentário é o extraordinário conjunto escultórico “A Sagrada Casa dos Madjaha”, obra de Malangatana votada à degradação e ao esquecimento num subúrbio de Maputo. A partir deste exemplo particular, revisita-se vida e obra do criador moçambicano de modo a fundamentar a necessidade de preservar não só o conjunto escultórico, como a sua memória e o seu legado.
Afroscreen
22.03.2019 | por Lurdes Macedo
Jorge Dias e Sónia Sultuane ‘encontraram’ Pancho e o seu mundo e trouxeram-no até nós. Trabalhando juntos em diversos projectos nos últimos anos, a partir das intervenções do Movimento de Arte Contemporânea de Moçambique (Muvart), decidiram voltar a fazê-lo. O contacto, um pouco por acaso, dos dois, com o mundo deste criador em Eugaria deu-lhes o mote.
Cara a cara
06.03.2019 | por Alda Costa
Bertina usou a arte como meio para expressar a sua subjectividade. Uma artista individual, uma artista moderna, nascida em Moçambique, portadora de uma experiência de vida particular, consciente da sua condição de meio-europeia, meio-africana (a dupla consciência), condição que assumiu em diferentes momentos e de diversas maneiras e que traduziu na sua criação mas, ao mesmo tempo, uma artista que assumiu a mudança permanente, uma artista igual aos artistas modernos de todo o mundo.
Cara a cara
04.03.2019 | por Alda Costa
Lucy está internada num hospício em Moçambique. Sonha com o seu filho Zacaria e o marido Pak, soldado numa zona de guerra ao norte do país.
Lucy toca um instrumento musical curioso: a própria cama. Aquela virtuosidade musical atrai a atenção das enfermeiras. Um dia a música passa num programa da Rádio Moçambique e Rosa Mário, pastora evangélica, vai ao hospital para conhecer a intérprete da canção.
Afroscreen
04.12.2018 | por vários
Uma visão antológica do trabalho do fotógrafo moçambicano, apresentado em dois núcleos diferenciados, explorando os seus temas de eleição e o itinerário dos lugares que percorreu e onde vive. Dão-se a conhecer peças de referência do percurso de Cabral mas também imagens esquecidas, direcções experimentais ou fotografias inéditas.
Vou lá visitar
21.04.2018 | por Alexandre Pomar
A partir da escultórico-performatividade de Hilário Nhatugueja abre-se um espaço de negociação de significados e mnemónicas associadas aos objectos da Guerra Civil, fazendo emergir contra-memórias coadas pela experiência traumática dos artistas que procuram provocar o dissenso tendo em vista a resistência e agência cultural.
A ler
05.09.2017 | por Sílvia Raposo
Das múltiplas chaves de entrada em tão eficaz dramaturgia destaco a desconstrução liminar do sistema assistencialista das organizações de ‘ajuda humanitária aos africanos’, a exploração dos refugiados sob o pretexto de um trabalho dignificante, as cenas de contracena e faz-de-conta clássicas à maneira de Molière, a energia contagiante dos ‘números coreográficos’ mimetizando danças de resistência moçambicanas e um trabalho perfeito sobre os equívocos que conduzem a posições racistas quando a identificação de alguém por um colono se sobrepõe à identidade que o ex-colonizado reclama para si.
Palcos
21.08.2017 | por António Pinto Ribeiro
Fundamentos políticos, económicos, jurídicos. E linguísticos. A implantação do Acordo Ortográfico (AO) na totalidade da CPLP continua em discussão e os encontros de ministros da Educação e da Cultura em Luanda, há uma semana e meia, trouxeram à luz novos argumentos sobre os impasses na ratificação de Angola e Moçambique.
A ler
20.05.2017 | por Marta Lança
Sendo este movimento social muito relevante, não deixa de apresentar as características habituais em explosões reivindicativas passadas. Também por isso, preferi destacar neste artigo um outro movimento recente, muito contrastante com os anteriores e inesperado na sua forma e impacto: as marchas e outras ações pacíficas e apartidárias exigindo a manutenção da paz, num país que, 24 anos depois de uma longa e traumática guerra civil, a sente de novo ameaçada.
A ler
07.12.2016 | por Paulo Granjo
Nesta viagem há condições: o percurso é ditado pelo que se busca na paisagem, a época deve ser a da floração, ao mesmo tempo que evitamos a estação das chuvas, os improváveis são presumíveis — os do caminho e das pessoas (como não?) — seguimos uma espécie de guião da natureza, e à narrativa composta por materiais diversos se juntará a fluidez, unidade e ritmo que faz o filme acontecer.
Vou lá visitar
01.09.2016 | por Marta Lança
"E se a verdade fosse mulher_ porque não?" faz conexões entre a escravatura e tempos coloniais, pretende desafiar a construção da brancura como a ideia de pureza, criando imagens que revelam vários recursos do continente que são todos brancos - marfim, algodão, pó, etc. Mas também chega ao tempo presente e olha para os heróis africanos - a construção do herói de forma individual - e as possibilidades que o acervo tem de incluir outros parceiros, e eu reflito apresentando nomes dos seus cônjuges na conversa, no entanto, aberta a outras acrescentos e a sermos os autores das nossas histórias.
Cara a cara
31.05.2016 | por Euridice Kala