Memoirs na Brotéria

Memoirs na Brotéria Entre os dias 5 e 10 de Julho, o projeto Memoirs promove – em parceria com a Brotéria – um curso que quer criar ferramentas para que quem participa nele possa analisar e pensar criticamente a questão pós-colonial em Portugal, na Europa e no mundo. Para isso, partir-se-á de um conjunto de tópicos que tem vindo a preencher e questionar a atualidade do século XXI e as suas relações com o social, o político, o tempo e o espaço.

A ler

06.07.2021 | por Francisco Martins SJ

O primeiro jornal da história do Brasil como testemunha das origens dos escravizados do Rio de Janeiro oitocentista

O primeiro jornal da história do Brasil como testemunha das origens dos escravizados do Rio de Janeiro oitocentista A chegada da Família Real portuguesa ao Rio de Janeiro, em março de 1808, provocou um grande impacto na cidade, capital da então colônia de Portugal. O efeito pode ser notado em diversos aspectos, sobretudo no que se refere ao aumento populacional da região e à expansão da importação de indivíduos escravizados. Impactado pela inédita transferência de uma Corte europeia para um território colonial e pelo decreto de abertura dos portos brasileiros às nações amigas, o Rio sofreu modificações marcantes.

Mukanda

01.06.2021 | por João Victor Pires

Sankofa: “Acredito que a poesia falada pode curar"

Sankofa: “Acredito que a poesia falada pode curar" Sem desprimor para quem pensa o contrário, eu considero essa discussão importantíssima em Angola. Isso porque a maioria das pessoas desta terra que é Angola, ainda se vê presa pela matriz colonial e pela razão imperial. Na construção dos meus textos eu tento passar a ideia de que precisamos de virar os conteúdos de cabeça para baixo. É necessário rever o que se pensa sobre o saber, como se pensa a história ou as estórias e recuperar os modelos de conhecimento, de produção do saber, de transmissão de experiências de uma geração para outra e incluir outras vozes para escrever outras histórias. Só assim vamos deixar de perpetuar o modelo imposto pelo Estado colonial e o sujeito branco burguês.

Cara a cara

16.04.2021 | por André Soares

A antropofagia e o tropicalismo na formação da identidade cultural brasileira

A antropofagia e o tropicalismo na formação da identidade cultural brasileira A formação da identidade cultural brasileira desdobrou-se num processo que foi buscar as origens indígenas, assim como a própria herança europeia. No entanto, parte da sua expressão cultural começou a ser orientada por um ideal modernista, também fruto dos movimentos artísticos da Europa. Porém, a grande distinção seria a sua integração nestas ramificações que advêm das origens primárias do povo brasileiro, disperso por um território tão amplo. Por isso, faz sentido viajar ao conceito de antropofagia e à emergência do tropicalismo, ambos cruciais naquilo que é a cultura brasileira tal como é conhecida hoje.

Mukanda

22.03.2021 | por Lucas Brandão

Art Melody: hip hop rural e combativo

Art Melody: hip hop rural e combativo O hip hop africano, como no resto do mundo, tira referências e imita sons da cena americana. Uma vez que é o berço do estilo e onde a sua produção está centrada, é lógico que seja este o caso. E embora o rasto do hip hop americano seja demasiado longo, há artistas do estilo que tentam seguir o seu próprio caminho e adaptá-lo ao seu próprio contexto. Art Melody, um nativo do Burkina Faso, é um caso paradigmático. A sua carreira, que começou depois de uma viagem sem sucesso e truncada à Europa por terra como imigrante ilegal.

Palcos

25.02.2021 | por Javier Mantecón

Arqueologias da Hospitalidade | Entrevista a Yannis Hamilakis

Arqueologias da Hospitalidade | Entrevista a Yannis Hamilakis Tem a ver com a história colonial da Europa como um todo: Vejo este fenómeno de migração do Sul global para o Norte global como a fase mais recente da longa história do capitalismo racializado e do colonialismo. Muitas destas pessoas que estão a tentar atravessar vêm de países anteriormente colonizados pela Europa. Sabemos que a longa história de colonização tem um impacto no presente em termos de desigualdade estrutural, pobreza, despossessão e guerra. Ao mesmo tempo, assistimos à incapacidade da Europa em se reconciliar com a sua própria história.

Cara a cara

02.01.2021 | por Alícia Gaspar e Yannis Hamilakis

São Tomé, “a jóia do império”

São Tomé, “a jóia do império” Em 1907, as roças de São Tomé estavam no centro de uma rede que se estendia aos principais interesses industriais, financeiros e coloniais de Portugal e da Europa. São Tomé era, de facto, a “jóia do império”, moderna, rica, lucrativa. Importa, no entanto, não ignorar o passado de trabalho forçado, de violência e de racismo que criou essa “jóia” e lhe deu forma. Essa é a história que nunca deve ser esquecida.

Jogos Sem Fronteiras

15.12.2020 | por Marta Macedo

Não dá para ficar parado: Vítor Belanciano assina livro sobre a “música afro-portuguesa”

Não dá para ficar parado: Vítor Belanciano assina livro sobre a “música afro-portuguesa” Esta “música afro-portuguesa” que gira à volta de “celebração, conflito e esperança” é uma ideia em constante construção: “Há imensos agentes relevantes. Acaba por estar tudo ligado. O impacto dos Buraka Som Sistema foi central, mas ele só existiu porque antes o hip hop em Portugal se afirmou e depois houve Cool Hipnoise ou Spaceboys e tantas outras coisas. Da mesma forma que o percurso internacional de Batida ou da Príncipe Discos beneficiou desse efeito Buraka. A redescoberta do Bonga, por exemplo, está também conectada com esta dinâmica, porque existe um recontar da história, um trabalho de memória que importa fazer. E depois, hoje, tens imensos vectores, desde a crioulização do Dino D’Santiago, à atitude combativa de Scúru Fitchádu, ou novas gerações que tanto se inspiram em motivos da cultura global como local, como o Tristany.

A ler

08.12.2020 | por Alexandre Ribeiro

Fronteiras da violência nos corpos das mulheres na República Democrática do Congo

Fronteiras da violência nos corpos das mulheres na República Democrática do Congo O fato das categorias de gênero ocidentais serem apresentadas como inerentes à natureza dos corpos e operam de maneira dicotômica – binariamente opostas masculino/feminino, homem/mulher -, em que o masculino é considerado superior em relação ao feminino e, consequentemente, a categoria definidora, é particularmente exógeno a muitas culturas africanas. Quando as realidades africanas são interpretadas com base em demandas ocidentais, o que consideramos são distorções, disfarces na linguagem e, muitas vezes, uma total falta de compreensão devido à incomensurabilidade das categorias sociais e institucionais.

Corpo

05.11.2020 | por Bas ́Ilele Malomalo

Cara Europa (Da Restituição)

Cara Europa (Da Restituição) Europa, queria começar por enviar-te cumprimentos, mas vais ter de perdoar-me, porque neste momento estou em tormentos cujo comprimento é imenso; tormentos tão velhos como este lamento que me risca o peito e me deixa neste leito, desfeito, em trejeito de dores lancinantes que enlaçam as partes que lançam ares salutares nestes esgares que mostram os meus desaires. Pois tu, tu tudo fazes para que tu e a África não sejam pares. Nunca serão comadres, Europa, enquanto desejares que a África continue à tua sombra… sabes…

Mukanda

26.10.2020 | por Marinho de Pina

Quem define as memórias que cabem na Europa?

Quem define as memórias que cabem na Europa? Este crescimento da extrema-direita tem parasitado o modo como a acumulação neoliberal cria, em significativas parcelas da população, um cenário de expectativas socioeconómicas minguantes. Um tal quadro favorece populismos de direita que se declaram anti-sistema ao mesmo tempo que mantêm o extrativismo capitalista a salvo. A estratégia consiste em mobilizam preconceitos contra alvos de expiação concretos: LGBTQ+, imigrantes, negros, ciganos, Estado Social, corrupção, etc.

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08.10.2020 | por Bruno Sena Martins

E eu não me lembro dos teus olhos serem azuis

E eu não me lembro dos teus olhos serem azuis A Suécia está ainda no eixo do socialismo (social democrata) e mantém relações bem ao seu estilo, apaziguadoras e pacificadoras. Ganhou com a presença da Greta internacionalmente uma missão: a de ser dura nos limites e exigências com o green deal. Ganhou presença discursiva com esta saída dos ingleses do panorama moral europeu. Há muitas décadas que trabalha discretamente nas relações internacionais em direitos humanos e questões ligadas ao ambiente. Tem uma visão muito particular de socialismo que promove um tipo de Swedish dream que contempla uma sociedade mais feliz e menos desigual, mas não condena a riqueza nem a abundância. Querer pagar os impostos numa sociedade que os aplica de forma a criar mesmo uma rede de segurança e bem estar social, é apenas um resultado.

A ler

08.08.2020 | por Adin Manuel

Covil e chuva é a gente da nossa terra

Covil e chuva é a gente da nossa terra O barco custa a amarrar. Fico sem sonhos nem energias vivas. Ando por aqui a inventar tarefas e vou procurando trabalho online com outros milhões, agora. O futuro chegou mesmo depressa demais e nada me preparou a mim nem a ninguém para tudo isto. Condições ou doenças mentais, fábricas de comunicação, teletrabalho, hospitais de campanha, 15min de fama a enfermeiros portugueses, presidentes mediáticos, vazios de gente e ruído, concelhos fechados em si, lojas de vidro higiénico e empregados de luvas, filas para tirar senha para o supermercado, desinfetantes tantos quanto precisos e a estranha importância do papel higiénico. Tudo ao mais pequeno pormenor noticiado, como se a vida em si se transformasse num Hiatos e agora Home.

Mukanda

16.04.2020 | por Adin Manuel

Centros de Gravidade

Centros de Gravidade Numa Europa que deixou de ser o centro de gravidade do mundo, mas que permanece infraestrutural na globalização de regimes de poder neoliberal, patriarcal e (neo)colonial, e que condiciona não só geopolíticas epistemológicas e ontológicas, como a própria sustentabilidade do planeta, convocamos outras forças de gravidade para um olhar crítico sobre algumas estruturas que perpetuam estes mesmos regimes.

Vou lá visitar

12.11.2019 | por Alexandra Balona

Remember remember the 5th of November for I see no reason to forget treason

Remember remember the 5th of November for I see no reason to forget treason Saí de Portugal rumo a Londres em 1993, a Lisa Stansfield era a musa do momento e os Eurythmics ainda faziam boa música, daquela que nos movia a questionar e já nos apresentava boas pistas. “There must be an angel playing with my heart”. Éramos uma geração de europeístas verdinhos como manda a lei da vida, com vinte aninhos de vontade, tesão e muita alegria.

Jogos Sem Fronteiras

06.11.2019 | por Adin Manuel

Por que razão o racismo ainda é uma questão europeia?

Por que razão o racismo ainda é uma questão europeia? Entretanto, o verdadeiro combate está em trazer para o campo da discussão os problemas estruturais reais da sociedade: a pauperização da população, a precarização do trabalho, as discriminações racistas e sexistas, a mundialização do capitalismo e uma série de preconceitos que herdámos do passado colonial, como a islamofobia, a falta de políticas públicas para a integração dos imigrantes, a abundância de discursos civilizacionais, as teorias como o lusotropicalismo, o racismo contra os negros, entre outros.

A ler

28.10.2019 | por Fernanda Vilar

descolonizar o saber e o poder

descolonizar o saber e o poder Se a agressividade do pensamento reaccionário ocorre num país cujos cidadãos ainda há 50 anos eram vítimas de racismo por toda a Europa dita desenvolvida, se tudo isto ocorre num país cujo poder de governo é ocupado por forças de esquerda, é fácil imaginar o que será quando voltarmos (se voltarmos) a ser governados pela direita.

Mukanda

25.07.2019 | por Boaventura de Sousa Santos

Máscaras europeias

Máscaras europeias Por que é que a Europa tem (ainda) tanta dificuldade em mostrar uma atitude coerente perante os discursos legitimadores dos racismos e da xenofobia? Quais são essas máscaras que lhe impedem de aceitar o seu passado colonial e considerar, de uma vez por todas, as diásporas como parte integrante da riqueza do mapa cultural europeu? O “velho continente” será capaz de conciliar o seu glorioso legado cultural (incluindo o teatro grego, dentro do contexto histórico em que este se insere) com o seu – menos glorioso – passado colonial?

A ler

22.06.2019 | por Felipe Cammaert

Diário de um etnólogo guineense na Europa (1)

Diário de um etnólogo guineense na Europa (1) Não entendia como é que os tugas conseguiam viver na Europa e por que gostavam tanto de escrever sobre problemas. Eu pensava que eles também deviam ter coisas boas, como a música, por exemplo… mas disseram-me que os brancos não sabem dançar, e isso eu não entendia muito bem, visto que também eu li que eles tinham pimba, valsa, passo doble, gavotte, mazurka, dança da roda, branle, quadrilha… entre outros nomes difíceis.

Mukanda

06.05.2019 | por Marinho de Pina

‘Pequena Era do Gelo’: extermínio de indígenas nas Américas causou resfriamento do clima

‘Pequena Era do Gelo’: extermínio de indígenas nas Américas causou resfriamento do clima Os pesquisadores afirmam que o massacre decorrente da colonização europeia levou ao abandono de imensas áreas de terras agrícolas, que acabaram sendo reflorestadas. A recuperação da vegetação tirou CO2 suficiente da atmosfera para resfriar o planeta. Este período de resfriamento costuma ser chamado nos livros de história de “Pequena Era do Gelo” – uma época em que o Rio Tâmisa, em Londres, costumava congelar durante o inverno no hemisfério norte.

A ler

25.02.2019 | por Oliver Milman