Durante os anos da guerra, milhares de jovens recrutados para Angola, Guiné-Bissau e Moçambique tiraram fotografias daquilo que os rodeava: os camaradas, os quartéis, as paisagens, o quotidiano, as populações civis, o aparato militar. Estas imagens escaparam à censura do regime, e foram guardadas ou enviadas pelo correio como provas de vida à distância.
Alguns destes homens construíram laboratórios improvisados, outros acederam a laboratórios oficiais. Vários frequentaram lojas de fotografia que floresceram com a procura gerada pela guerra, muitos compraram e trocaram imagens. Assim construíram os arquivos fotográficos de que agora mostramos partes.
Vou lá visitar
05.01.2022 | por Inês Ponte e Maria José Lobo Antunes
Não havendo um levantamento das fontes relevantes para a história da presença negra em Portugal – tarefa que urge iniciar – partilho aqui o meu encontro fortuito com uma série documental produzida pelo Ministério das Colónias, à guarda do Arquivo Histórico Ultramarino (Lisboa, Portugal), que ilumina aquela presença, paradoxalmente invisível.
A ler
05.01.2022 | por Cláudia Castelo
Ocupar-se e ser um lugar que se permite ocupar. É assim que a Galeria fundada por Alexandre Teixeira e Filipa Valente habita numa rua onde a paisagem se pinta crua e se resgata no meio de tantas outras.
A ler
03.01.2022 | por Patrícia Silva
Na arqueologia dos anos 40 e 50, o difusionismo era a interpretação dominante. O difusionismo considerava que as comunidades do mediterrâneo oriental, mais evoluídas, vinham para o mediterrâneo ocidental numa perspectiva de procura de recursos, de colonização. As gerações do pós-25 de abril vão assumir um combate a estas explicações difusionistas e, dentro do materialismo histórico, vão à procura de respostas relacionados com evolução local. O seu objectivo é a construção de um discurso onde a emergência da desigualdade social, a emergência da exploração do homem pelo homem, esteja presente.
Cara a cara
27.12.2021 | por Lana Almeida, Beatriz Barros e António Valera
Mais de três anos volvidos, as questões referidas mantêm toda a sua virulência e continuam a alimentar ciclicamente um debate público em que aquilo a que vários têm chamado o inconsciente colonial das sociedades europeias continua muito presente, traduzido numa atitude de recusa dos problemas de uma sociedade multicultural inevitavelmente marcada pela herança pesada do passado colonial.
A ler
27.12.2021 | por António Sousa Ribeiro
“Ainda somos escravizados na sociedade moderna, mas houve muitos grandes homens que morreram para hoje estarmos aqui a gozar dessa liberdade”, diz PekaGboom. Bráulio concorda, e evoca a importância do 25 de abril. As revoluções são ensinamentos e também uma urgência, pois o quotidiano de racismo, precariedade e salários indignos permanece. “Vida preta do negro” é o manifesto.
Afroscreen
22.12.2021 | por Otávio Raposo
Novo filme da Geração 80, NOSSA SENHORA DA LOJA DO CHINÊS, escrito e realizado por Ery Claver, terá sua Estreia Mundial em Janeiro de 2022, na 51ª edição do Festival Internacional de Cinema de Roterdão.
Afroscreen
22.12.2021 | por vários
“A mecânica do efémero” parte da ideia de arte enquanto mecanismo que nos permite viajar por diferentes temporalidades, através de uma abordagem que muitas vezes recorre à fantasia, mas onde a imaginação se torna uma importante aliada de questionamentos históricos e sócio-políticos. Embora os discursos dos artistas convidados sejam diversos na sua abordagem e na navegação deste fluxo temporal e identitário, existe o denominador comum na sua relação com um continente onde repousam os sonhos e desvarios de fantasmas forasteiros. Existe e urge ainda abordar um futuro que continua sustentado por inócuas promessas de progresso e liberdade, algo que não é exclusivo do continente africano, acolhendo também as influências de diversas linguagens artísticas e referências que constituem este trabalho conjunto, extravasando as fronteiras nacionais e plataformas continentais.
Vou lá visitar
22.12.2021 | por Gisela Casimiro
Para falar da importância, não só de contar mais histórias sobre Amazónia, mas sobretudo de contá-las a partir de outras perspetivas, com o intuito de construir narrativas livres de contextos colonizadores, de estigmas e estereótipos, realizou-se, entre os dias 23 e 27 de novembro, em Manaus, na capital urbana situada no meio da floresta amazónica, um encontro internacional que juntou - presencial e virtualmente - múltiplas vozes. Com o cruzamento de experiências pretendeu-se estimular a criação e comunicação dessas novas narrativas, sobretudo no cinema, mas não só.
A ler
21.12.2021 | por Anabela Roque
A Tugalândia é tão complicada que não consigo pensar bem, são tugas brancos a serem racistas, são tugas pretos a serem classicistas, são tugas assim-assim a serem assado-assado, e eu aqui apanhado em pensamentos confusos e contraditórios, querendo deixar esta tarefa inglória de estudar os tugas e voltar para Guiné, mas a Guiné está numa situação ainda mais merdosa.
Mukanda
21.12.2021 | por Marinho de Pina
Entender como é que funciona a política, qual é a sua ideia em relação à política, para que serve, como se posicionar, perante as desigualdades, nomeadamente em termos de oportunidade em relação a outros lugares por nascerem naquele meio: questões de habitação, alimentação, situação económica, oportunidade de frequentar espaços abertos para todos, habitação, por que razão são empurrados para a periferia, etc. Tem a ver com tudo isto.
Cara a cara
20.12.2021 | por Marta Lança
A 7 de dezembro, o curador Bruno Leitão partilhou uma carta aberta revelando que o processo de decisão da DGArtes (Direção Geral das Artes), que atua como Júri de Seleção Portuguesa da Bienal de Veneza, foi marcado por incoerências e irregularidades graves nos critérios de avaliação, bem como violações explícitas dos “Deveres do Júri”, que são definidos por lei. Esta notícia, no entanto, tornou-se pública, através da imprensa internacional, que revelou o facto de o projeto A Ferida / The Wound da artista Grada Kilomba ter sido afastado da representação de Portugal na Bienal de Veneza 2022, com argumentos deveras problemáticos por parte de um dos membros do júri, Nuno Crespo, crítico de arte no jornal Público, Director da Escola das Artes e Reitor da Universidade Católica Portuguesa - Porto.
A ler
20.12.2021 | por vários
RASURA, vídeo concebido em Agosto em São Tomé, realização do Lubanzadyo Mpemba e a edição de som de Sara Morais. Penso na rasura lida desde a efemeridade do meu percurso de poesia oral e performativa, uma poética do corpo presente que vive dessa passagem do corpo/voz por diferentes palcos, desde a ideia de corpo enquanto arquivo.
Vou lá visitar
20.12.2021 | por Raquel Lima
O artigo descreve três obras artísticas audiovisuais ('Ilusão', 'Bustagate' e 'Eu Não Sou Pilatus', produzidas respectivamente pelos artistas Vitória Cribb e Welket Bungué, entre 2019 e 2020) para debater como elas tratam, cada uma à sua maneira, o tema da repetição da violência contra corpos negros no ambiente numérico das redes; invocando uma análise qualitativa e estética dos procedimentos empregados nos vídeos e também dos locais em que eles foram disponibilizados, explora-se a hipótese, seguindo Hui (2021), de que a arte joga luz sobre a irracionalidade do racismo viabilizado por algoritmos e assim pode constituir uma necessária aproximação ao sublime, ao não-racional.
A ler
17.12.2021 | por Eduardo Prado Cardoso
No tabuleiro do rap haverá uma cor que identifique este estilo musical? As peças de damas de PekaGboom e Bráulio estão posicionadas, uma partida que inspira reflexões sobre as origens do rap, a identidade e a cultura.
Afroscreen
15.12.2021 | por Otávio Raposo
Gisela Casimiro conversa com Odete e Rafaela Jacinto: performers do teatro e do cinema, poetas, artistas premiadas e activistas pelos direitos LGBTQIA+, trans e queer, amigas e companheiras de palco, de lutas.
Palcos
14.12.2021 | por vários
A História é tanto a erecção das estátuas e dos monumentos como as suas demolições. Presumindo e contundindo, pedir a substituição, a recolocação ou o afundamento duma estátua faz parte do processo histórico.
A ler
14.12.2021 | por Mário Lúcio Sousa
Ser artista mobiliza sonhos e responsabilidades. A aprendizagem é coletiva, não existindo qualquer perspetiva de evolução sem o apoio e a orientação dos colegas.
Afroscreen
13.12.2021 | por Otávio Raposo
A primeira vez que BLINK se impediu de cantar uma rima, estava num concerto de Regula. Quando a plateia feminina entoou “As duas juntas fazem-me coisas que tu não imaginas / metem as bolas na boca e dizem que estão com anginas”, na música “Casanova”, ela manteve-se em silêncio enquanto tentava digerir o choque. Não era que não tivesse ouvido os versos antes, mas pareceu-lhe errado cantar aquilo sendo mulher. Para a rapper, é possível distinguir o conteúdo da forma. As rimas, a sua métrica e cadência são atrações que por vezes até ofuscam o conteúdo, pelo menos numa primeira audição. Mas as palavras dissecadas deram-lhe a volta ao estômago.
A ler
13.12.2021 | por Rute Correia
Estamos habituados a que um homem tenha muitas esposas, habituados a marcar casamentos quando se descobre que a pessoa nasceu com uma vagina (e ainda nem sequer lhe demos um nome), às vezes, o casamento é marcado com homens já com outras esposas e com netas mais velhas que a recém-nascida. Habituados a que o homem possua mulheres (em todas acepções da palavra), que quando vemos um homem a desfilar com catorzinhas, assumimos simplesmente que ele está no seu direito e que ela é que é puta.
Corpo
06.12.2021 | por Marinho de Pina