As versões públicas autorizadas que sancionam o esquecimento destes passados por via da sua integração intencional num esquema de recordação abrangente e trivial, bem como os pactos de silêncio que se mantêm no tecido social, são destabilizados por incómodas e imprevistas erupções da memória que trazem à superfície as ambiguidades dos legados problemáticos.
A ler
06.03.2011 | por Elsa Peralta
sobre Mãe Ju: "Em Luanda, a nova Música / Dança inventa-se todos os dias e evolui a um ritmo efervescente. A novidade do fenómeno deve-se à afluência em massa de jovens vindos directamente das aldeias do interior (de tradições tribais) para a gigantesca metrópole (de vocação moderna e urbana). O resultado é uma explosão de tendências musicais radicalmente inovadoras, contemporâneas, urbanas, em rápida mutação."
Afroscreen
06.03.2011 | por vários
Baía morena da nossa terra
vem beijar os pézinhos agrestes
das nossas praias sedentas,
e canta, baía minha
os ventres inchados
da minha infância,
sonhos meus, ardentes
da minha gente pequena
Mukanda
04.03.2011 | por Alda Espírito Santo
Apesar de se inspirar na música e instrumentos tradicionais de Angola, onde nasceu o seu trabalho como compositor, revela um potencial de transformação para além das estruturas da tradição.
Cara a cara
04.03.2011 | por Kevin Murray
O país chorou e, com verdade, Malangantana. Todos, povo, partidos, governo foram verdadeiros na dor da despedida. Vale a pena perguntar, no entanto: fizemos-lhe em vida a celebração que ele tanto queria e merecia? Ou estamos reeditando o exercício de que somos especialistas: a homenagem póstuma? Quem tanto substitui pedir por conquistar acaba confundindo chorar por celebrar. E talvez o Mestre quisesse hoje menos lágrima e mais cor, mais conquista, mais celebração de uma utopia nova. Na verdade, Malangatana Valente Ngwenya produziu tanto em vida e produziu tanta vida que acabou ficando sem morte. Ele estará para sempre presente do lado da luz, do riso, do tempo. Este é um primeiro equívoco: Malangatana não tem sepultura. Nós não nos despedimos.
Cara a cara
02.03.2011 | por Mia Couto e Abraão Vicente
Onde encontrar o alcance universal de um olhar desenganado‚ para o qual a África não seja apenas o lugar de todas as dores? O que me magoa é que este olhar vem, involuntariamente, reforçar os preconceitos existentes e que vai ser incensado em detrimento do dos próprios Africanos, aqueles cineastas que, muitas vezes com pontas de fios, montam os testemunhos sem público de uma África que mexe.
Afroscreen
01.03.2011 | por Olivier Barlet
Não dizemos que foi a partir do cinema da retomada que se fez filmes no Brasil sobre mulheres e suas questões inerentes. Na verdade, se intensificaram. Todavia não haja uma classificação clara de um cinema de/para mulheres no Brasil, é notável o aumento de argumentos que abordam claramente o universo feminino atualmente. Filmes que misturam dados não-ficcionais e ficção, colocam papéis femininos no foco da narrativa e concedem espaço para interpretarem, a seu modo, lacunas da História sobre a participação das mulheres na vida social e política, bem como sobre a cultura dos costumes na vida privada.
Afroscreen
01.03.2011 | por Sumaya Machado Lima
Vista do Fórum Social Mundial, a crise do Norte de África significa o colapso da segunda fronteira da Europa desenvolvida. A primeira é constituída pela Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda. Com as duas fronteiras em crise, o centro torna-se frágil. dez anos depois de o FSM ter alertado para a situação, o Fórum Económico Mundial (FEM), reunido há semanas em Davos, veio declarar que o agravamento das desigualdades sociais é o risco mais grave (mais grave que o risco da degradação ambiental) que o mundo corre nas próximas décadas. O que o FEM não diz é que tal risco decorre das políticas económicas que ele defendeu, ao longo de toda a década. Como um bom clube de ricos, pode ter assomos de má consciência, mas não pode pôr em causa a sua escandalosa acumulação de riqueza.
A ler
27.02.2011 | por Boaventura de Sousa Santos
Luandino Vieira é caso paradigmático do divórcio entre interesse do público e ensino da literatura. Conheci muito pouca gente que tivesse conseguido ler Luandino Vieira, tirando naturalmente os escritores que assumem terem sido influenciados por ele, como Albino Carlos, Ondjaki, ou o moçambicano Mia Couto.
A ler
26.02.2011 | por António Tomás
Exposição sobre a arte revolucionária de Emory Douglas e os Panteras Negras.
A par da exposição a ZDB apresenta, em colaboração com Serralves, uma série de filmes, alguns referenciais e outros inéditos em Portugal, sobre os Panteras Negras, no Espaço Nimas. A sessão de abertura do ciclo de cinema documental conta com a presença de uma comitiva de Panteras Negras: EMORY DOUGLAS, Ministro da Cultura dos Panteras Negras; ROBERT KING, Pantera Negra, preso político na prisão de Angola – EUA ao longo de 27 anos em regime de solitária e BILLY X JENNINGS, Pantera Negra, historiador e responsável oficial do legado dos Panteras.
Vou lá visitar
25.02.2011 | por Zé dos Bois
Essa forma de colonialismo bárbara e explícita de invadir países deu lugar a uma nova forma de colonialismo assente na economia e nas trocas comerciais. É uma nova forma de colonialismo que perpetua resquícios de colonialismo passado, com recurso a dependências económicas, tecnológicas, culturais e ideológicas. Quer seja através do comunismo quer seja através do capitalismo, a Europa continua a impor a sua ideologia no processo de desenvolvimento de alguns países.
Cara a cara
23.02.2011 | por Bruna Pereira
Aqui em Ngorongoro, os flamingos estão espalhados pelas águas baixas do lago, dão passos avulso e bicam no lodo com avidez. Reflexos dos flamingos e do céu marcado por nuvens pintam a água de azul, rosa, branco.
O vento vai dispersando as nuvens que se olham ao espelho; a tarde vai aquecer.
No norte da Tanzânia, a Oeste do Kilimanjaro e a caminho do famoso Parque do Serengueti existe uma das maiores caldeiras do mundo: a Cratera de Ngorongoro
Vou lá visitar
22.02.2011 | por Nuno Milagre
Não é necessário conhecer a infância musical de Paulo Flores, saber-lhe o currículo académico e existencial para sentir que a sua voz e a sua música têm memória. O que em termos artísticos em geral – e na música particularmente – é tão importante como saber ouvir os outros.
Só assim – nesta envolvente procura no que de melhor se faz “fora-de-portas” e na leitura atenta e crítica do passado-terá sido possível chegar, por exemplo, a Xê Povo- uma obra ímpar, fundamental.
A ler
22.02.2011 | por Jerónimo Belo
Enquanto os filósofos africanos gastam um energia louca e vão a correr atrás da sombra, Edouard Glissant afronta Hegel de forma oblíqua. A esta visão totalizante, pretensamente universal, Edouard Glissant opõe a Opacidade, o Diverso, o Rizoma e, sobretudo, a Relação. Esta recusa dos sistemas constituirá ao longo de toda a sua vida, a sua marca. Deste ponto de vista, o pensamento de Glissant, que é uma ode à fraternidade, corrobora, em alguns aspectos, os de Derrida e Levinas: dois pensamentos do Outro, mas também dois discursos da opacidade. Mas enquanto os filósofos profissionais propõem tratados, Glissant apresenta o fragmento, o estilhaço, o aforismo, subvertendo os géneros
A ler
21.02.2011 | por Boniface Mongo-Mboussa
Explosões dos sentidos, êxtase do verbo. Tais sensações encontram-se após a travessia instigante, surpreendente e prazerosa pelos cinquenta e três poemas do livro de poesia de Filinto Elísio, com o etílico e sugestivo nome Li Cores & Ad Vinhos. Este é o seu quinto título em poesia; constata-se, comparando ao anterior “Das Frutas Serenadas”, o aprofundamento metafórico e a semântica concupiscente das palavras buscando novos significados que vão além dos sentidos inertes impostos pelo discurso estabelecido.
A ler
21.02.2011 | por Ricardo Riso
Na sociedade Bijagó, a mulher tem poder para decidir como se faz a cerimónia, quais os rituais, para que fins e em que momento. É seguida por um grupo de mulheres que, durante um certo tempo, não se dedicam ao trabalho produtivo, ao qual estão tradicionalmente destinadas, mas a si próprias. Entre si discutem o que acharem conveniente, dentro de determinadas regras sociais que são impostas aos Bijagós, mas só entre si; e isso por vezes pode levar meses. O tempo, elas é que decidem.
A ler
19.02.2011 | por Paula Fortes
Lobato estava certo. Certíssimo. Até hoje, muitos dos que o leram não vêem nada de errado em seu processo de chamar negro de burro aqui, de fedorento ali, de macaco acolá, de urubu mais além. Porque os processos indiretos, ou seja, sem ódio, fazendo-se passar por gente boa e amiga das crianças e do Brasil, "work" muito bem. Lobato ficou frustradíssimo quando seu "processo" sem ódio, só na inteligência, não funcionou com os norte-americanos, quando ele tentou em vão encontrar editora que publicasse o que considerava ser sua obra prima em favor da eugenia e da eliminação, via esterilização, de todos os negros.
Mukanda
18.02.2011 | por Ana Maria Gonçalves
Em 1943 Benguela prospera. Com o famoso caminho-de-ferro a avançar em direcção ao interior africano, a cidade prepara-se para mudar de cara segundo um moderno plano de urbanização. Respira-se progresso. Numa das suas ruas um acontecimento importante está também prestes a acontecer: Dona Ludovina (uma cantadeira de mão cheia, diz-se), esposa de Sebastião José da Costa, um funcionário dos Correios e antigo jornalista, prepara-se para dar à luz uma criança a que dará o nome de Carlos Lamartine. Benguela prepara-se assim para receber, de braços abertos mais um grande filho, que se tornará num senhor grande da música nacional e autor de melodias imortais.
Palcos
18.02.2011 | por Mário Rui Silva
"Em ti há um marinheiro demandando uma ilha onde ninguém ainda esteve. Também em ti encontrarás o mapa, a bússola e o navio. Há coisas a que não deves atribuir nomes. A tua ilha não tem nome.”
A ler
18.02.2011 | por Ricardo Riso
Terceira Metade é a primeira edição de um projeto do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro de Janeiro dedicado a pensar o espaço do Atlântico, em especial a triangulação Brasil, África e Portugal. E o que significa representar este espaço? Significa pensar os modelos culturais e os sistemas do visível que lhe conferem estrutura, circulação, significado, sentido.
Ainda que tenha em mente o debate pós-colonial, o passado das relações transnacionais no Atlântico, ou o estado atual das políticas culturais comuns, o ponto de partida de Terceira Metade é o visual. Através de exposições, seminário, mostra de cinema, ações educativas e de um livro que registrará os vários momentos, daremos atenção às alterações que acontecem no mundo contemporâneo globalizado, em especial nas três margens deste eixo geográfico, Brasil, África e Portugal.
Vou lá visitar
17.02.2011 | por Marta Mestre