Estamos uns anos à frente, os fascistas regressam ao poder, apenas meio século após uma revolução ter derrubado a ditadura. Após os movimentos independentistas terem pegado em armas contra o colonialismo e terem derrubado a ditadura. Após acharmos que as liberdades, as conquistas sociais e laborais estavam mais ou menos garantidas. Texto escrito volvidos 67 anos do assassinato de Catarina Eufémia.
Palcos
20.05.2021 | por Marta Lança e Sara Goulart Medeiros
Historicamente, os artistas têm combatido criticamente as doenças e os preconceitos na sua prática, com vista a alterar dinâmicas institucionalizadas. Num momento em que epidemias, o capitalismo e aquecimento global ameaçam todas as formas de vida, queremos interrogar os modos como as diferenças e as formas de vulnerabilidade dos nossos corpos são capturadas em categorias estruturantes das relações sociais, criando estigmas que moldam percepções normativas. Vamos debruçar-nos também sobre a forma como essa mesma vulnerabilidade implica inevitavelmente a interdependência das nossas existências. Quais são as coreografias de solidariedade e cuidado?
Vou lá visitar
10.05.2021 | por vários
A lâmina avançou, cortante e gélida, com a parteira, a daya, a dizer-lhe que agia assim por vontade de Deus, que fora Ele quem ordenara, lá do alto, que lhe arrancassem aquele minúsculo pedaço de carne, aquela pecaminosa víscera que trazia entre as pernas. Tinha então seis anos, não mais, ficou banhada num mar de sangue. A ferida no corpo, horrível, levou dias ou semanas a sarar. O golpe na alma, esse, permaneceu até ao final da vida, ocorrido há pouco, aos 89 anos.
Corpo
28.04.2021 | por António Araújo
Sem desprimor para quem pensa o contrário, eu considero essa discussão importantíssima em Angola. Isso porque a maioria das pessoas desta terra que é Angola, ainda se vê presa pela matriz colonial e pela razão imperial. Na construção dos meus textos eu tento passar a ideia de que precisamos de virar os conteúdos de cabeça para baixo. É necessário rever o que se pensa sobre o saber, como se pensa a história ou as estórias e recuperar os modelos de conhecimento, de produção do saber, de transmissão de experiências de uma geração para outra e incluir outras vozes para escrever outras histórias. Só assim vamos deixar de perpetuar o modelo imposto pelo Estado colonial e o sujeito branco burguês.
Cara a cara
16.04.2021 | por André Soares
Sobre governo Bolsonaro, a ascensão de uma nova extrema-direita no mundo e o fundamentalismo religioso que coloca feministas e população LGBT como principais inimigos, Silvia Federici fala em uma nova caça às bruxas: “Não existe o desejo de proteger a vida mas sim o de controlar os corpos das mulheres, assegurar-se de que as mulheres sejam subordinadas, sacrificadas, que possam ser exploradas por suas famílias e pelo capitalismo. É uma questão econômica também, a igreja com essa aparência da defesa da vida, da família, na verdade está defendendo a produção do trabalho não assalariado das mulheres. E quando a igreja vê que não pode mais nos convencer de tudo isso então nos trata como inimigas, cria novas divisões entre mulheres e homens e entre mulheres também. Porque colocam algumas mulheres como aliadas do diabo”.
Cara a cara
28.03.2021 | por Andrea DiP
Já mais tarde, com 13 anos, e ao entrar numa nova escola e ciclo comecei a deparar-me com padrões de beleza femininos irrealistas. No entanto, para mim e para a maioria das raparigas, não eram irrealistas. Ter uma pele perfeita, olhos verdes num dia e no outro roxos, o cabelo loiro puro e umas ancas largas mantendo uma cintura de 3cm era possível! E sem as tretas do Ómega 3. Claro que não eram precisos os milagrosos produtos por apenas 49,99€ o comprimido, existia algo ainda melhor e - atenção, atenção - gratuito! O photoshop.
Corpo
24.03.2021 | por Alícia Gaspar
A história trágica de Rubi e Marisela transformou-as em ícones num México habituado à violência. Os seus nomes ecoam em versões de “Canção sem Medo”, de Vivir Quintanar, um hino dos movimentos feministas latino-americanos que exigem o fim da impunidade. Com voz forte, cumprem nas ruas o apelo de Marisela: “Saiam de dentro das suas quatro paredes. Se uma porta se fecha hoje, amanhã outra se abre. E procurem justiça até ao último canto da terra. Para que as nossas filhas possam viver em liberdade, para que não sejam vítimas de violência, muito menos de homicídios.“ Sem medo.
Corpo
23.03.2021 | por Pedro Cardoso
Angela Davis tenta dar voz às mulheres de etnia negra, silenciadas durante o percurso da história, ao desconstruir as correntes feministas convencionais para poderem abarcar a questão da raça e das suas vicissitudes. Portanto, nunca é transparente que Davis se assuma como uma feminista, já que a sua preocupação em momento algum descarta essa dimensão racial. É uma linha de pensamento que, cruzando o ativismo e a militância política com a formação intelectual, se vai desenvolvendo da classe e da raça até à questão do género, que lhe chega nas relações profissionais que vai experienciando na própria militância, mesmo no próprio seio das comunidades negras.
Mukanda
22.03.2021 | por Lucas Brandão
Digamos simplesmente que - embora a frase possa parecer lapidar - o seu modelo de análise do domínio masculino, elaborado com base na sociedade cabileña, na qual as relações de parentesco desempenham um papel central na produção e reprodução de todas as relações sociais, não considera as rupturas introduzidas pelo capitalismo em relação às sociedades pré-capitalistas no que diz respeito à situação das mulheres. Em todo o caso, o nosso artigo irá focar esta questão. Não pretendemos dar uma imagem completa do estatuto da mulher e da sua evolução, mas simplesmente apontar certas rupturas decisivas do ponto de vista das lutas de emancipação.
Corpo
18.03.2021 | por Antoine Artous
Têm quatro anos de existência e centram o seu trabalho no diálogo e na acção para mais igualdade e justiça das pessoas LGBTQ+ em Luanda. Para isso partem de dinâmicas feministas negras e descoloniais para a criação de redes de acção e solidariedade. Esta abordagem já tem ecos junto das instituições do Estado como o Ministério da Justiça em Angola para a criação de uma agenda pela igualdade e respeito pelos direitos humanos das pessoas LGBTQ+. Líria de Castro é a activista angolana que dirige a AIA e falou-nos dos desafios da organização do colectivo AIA em tempos de pandemia.
Corpo
04.02.2021 | por André Castro Soares
Em nossa cidade temos mulheres com práticas extremamente importantes, práticas viáveis e sustentáveis. Mas elas sabem disso? Será que estamos fortalecendo em nossa região uma cultura que faça a mulher se apropriar de seu lugar de fala? Será que a mulher da Amazônia se identifica como um ator de transformação social nos mais diversos espaços? Será que nossa cidade, enquanto um ambiente de todos, favorece a autonomia feminina em todos os seus ecossistemas? Se não, o que falta? Essas são provocações individuais e coletivas fundamentais para construirmos territórios que possibilitem a potência de todas as mulheres.
A ler
29.12.2020 | por Natália Carvalho Viana
A actual geração de jovens é muito crítica ao posicionamento da geração de jovens dos anos 80, que fez e viveu uma guerra. Quer comentar?
A geração dos anos 80 sabe muito bem as amarguras de uma guerra, de um conflito, não teve uma juventude ou infância condigna, porque nasceu e viveu num país em conflito; teve os seus sonhos vendidos e destruídos. Muitos dos jovens dos anos 80 tiveram de abandonar o país para viver numa terra que nunca os acolheu, olhou para eles como estrangeiros que vieram estragá-la. Portanto, não estão dispostos, hoje, a perder esta estabilidade conseguida desde 1992.
Cara a cara
29.12.2020 | por Tânia de Carvalho
Mulher negra, lésbica, socialista, mãe e feminista, Audre Lorde escreveu a partir da sua própria posição de “outsider”; como alguém que com frequência se via fazendo parte de algum grupo no qual era definida como “difícil”, “inferior” ou “errada”. Com a compreensão de que as opressões se acumulam sobre as pessoas de forma não hierarquizada, ela confronta, nesses textos, a “inabilidade de reconhecer o conceito de diferença como uma força humana dinâmica, mais enriquecedora do que ameaçadora para a definição do indivíduo quando existem objetivos em comum”.
A ler
22.12.2020 | por Audre Lorde
O racismo que justificou a escravidão de negros e índios, na mesma época em que a Europa saía da servidão e entrava no sistema liberal de pagamento do trabalho mediante salário, deixou marcas indeléveis no continente latino-americano. Entre essas marcas, destaca-se a colonialidade do saber, do poder e do ser. Ou seja, apesar de supostamente independentes, os países latino-americanos continuam subordinados a um modelo de poder que reproduz a hierarquia racial e econômica da época da colônia, que marginaliza os saberes locais e, finalmente, que cinde a identidade nacional, uma vez que ela é marcada por um imaginário colonizado pelo racismo europeu.
A ler
22.12.2020 | por Susana de Castro
Com curadoria de Alexey Artamonov, Denis Ruzaev e Ines Branco López, “Os olhares em confronto” é um ciclo que faz parte do programa da 14ª edição do Lisbon & Sintra Film Festival. Organizado entre Lisboa e Sintra, de 16 a 23 de novembro, este evento consiste na exibição de vários filmes/documentários sobre temas como feminismo, emancipação feminina, sexualidade, etnia, pobreza, infância, negritude, identidade, memória coletiva e saúde mental.
Afroscreen
21.11.2020 | por Alícia Gaspar
A 23 de Março, no início da pandemia, o Secretário-Geral das Nações Unidas António Guterres apelou a um cessar-fogo global, a fim de permitir aos países concentrarem-se na crise da COVID-19 e permitir que as organizações humanitárias cheguem às populações vulneráveis. Mais de 100 organizações de mulheres do Iraque, Líbia, Palestina, Síria e Iémen juntaram-se rapidamente ao apelo com uma declaração conjunta que defendia uma ampla trégua COVID-19, que poderia constituir a base para uma paz duradoura. Não deve ser surpresa que as mulheres tenham sido das primeiras a apoiar o apelo a um cessar-fogo.
Jogos Sem Fronteiras
18.11.2020 | por Phumzile Mlambo-Ngcuka
Depressa percebi o que era Abril. E hoje percebo ainda mais a sua necessidade e importância. A luta pelos direitos nunca foi nem nunca será garantida. É diária e extremamente instável. Precisa de vozes, de eco, de gritos. Precisa de inquietação. Abril foi e é também uma das razões pelas quais eu posso cá estar hoje. A ocupar este espaço que durante muito tempo não foi meu nem de nenhuma mulher. Um espaço pequenino, confinado, como uma quarentena obrigatória em que não era suposto sair à rua e muito menos reivindicar o que seria meu por direito. Em que não era suposto eu ter uma opinião e muito menos expressá-la num lugar qualquer, fosse ele político ou social, académico…
A ler
03.11.2020 | por Marta Dias
“Nunca se perguntou às mulheres como se sentem em relação ao sexo”. Na frase de abertura, um programa revolucionário. E a sua autora, falecida em Londres no passado dia 9 de Setembro, bem merece ficar para a posteridade como “a grande perguntadora”, já que o que de mais bombástico existiu no Relatório Hite não foram as conclusões alcançadas – para muitos, pouco científicas e bastante questionáveis –, mas o facto de, pela primeira vez, alguém ter resolvido interrogar as mulheres sobre o modo como viviam a sua sexualidade, coisa que, pelos vistos, nunca merecera a atenção dos homens, na academia, na política, nem mesmo na cama.
Corpo
31.10.2020 | por António Araújo
O trabalho das feministas negras tem sido essencial para desvelar a fundação racial da reprodução social da limpeza e dos cuidados. Na era actual, que vê uma nova política racial da limpeza produzida pela ansiedade gerada em torno daquilo a que os meios de comunicação chamam crise climática, as sociedades humanas não poderão sobreviver sem esse trabalho de limpeza e de cuidado.
Corpo
19.03.2020 | por Françoise Vergès
Declaramos solidariedade com a deputada Joacine Katar Moreira e apelamos ao sentido de responsabilidade cidadã dos portugueses e das instituições públicas, para que não deixem impor-se a linguagem do ódio e da desconfiança onde deve apenas haver lugar para a vigilância crítica, o debate aberto e a vontade de ir mais longe na construção de um futuro melhor para todos.
Mukanda
09.11.2019 | por vários