Temos que limpar as impurezas linguísticas ou purificá-las de acordo com o nosso autoconhecimento e as nossas especificidades. É preciso banir frases racistas dos nossos livros tais como: “A descoberta do clarinete por Mozart foi uma contribuição maior do que toda a África nos deu até hoje”. Sim, isso é um processo lento que já devia ser sido feito há muito tempo. A libertação de toda essa maquinação que foi o colonialismo tem um custo. O mesmo, porém, é necessário e fundamental para a nossa reconstrução civilizacional.
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18.02.2023 | por Ednilson Leandro Pina Fernandes
Passamos pelas obras de Ana Aragão, Carlos Bunga, Herberto Smith, G Fema, Kiluanji Kia Henda, Petra Preta, Tony Cassanelli (dos Aurora Negra), Wasted Rita, Xullaji, Julinho KSD e muitos outros artistas contemporâneos. Artistas estes que nos vão preenchendo o quotidiano com os seus projetos e formas de comunicar cultura. Que estudam e aperfeiçoam os seus trabalhos para que o público possa retirar destes a informação necessária por forma a promover e efetuar mudanças na sociedade. Indo assim ao encontro de uma das premissas do projeto, “(…) refletir sobre que cidade, espaços urbanos e instituições artísticas e culturais podem ser construídas (…). Porque afinal, podemos e devemos educar-nos de diversas maneiras.
A ler
17.02.2023 | por Alícia Gaspar
Continuarem a defender os nossos princípios e o programa de ação. Os Cidadãos por Lisboa defendem uma visão política de uma cidade, aberta, e que não deixa ninguém para trás. E temos bem claro que há valores e grupos que merecem a nossa especial atenção, particularmente no que toca às condições de vida das pessoas mais vulneráveis e com menos visibilidade na nossa sociedade. Estamos com estas pessoas, independentemente de uma ideia de cidade que se quer impor em Lisboa e que não as considera, como as que foram defendidas pelo Chega nesta sessão da Assembleia Municipal.
Cara a cara
16.02.2023 | por vários
Cerca de 40 mil pessoas deixaram de viver “no entre mundos”. Belo Monte deslocou-as, tornou-as “expatriados do seu próprio país no próprio país, submergiu-lhes as terras e as vidas. “Belo Monte é um mostruário de horrores. É também uma linha de montagem de conversão explícita de gente floresta em pobres”. Da fortuna da floresta passaram à pobreza das periferias da cidade de Altamira e de outras áreas urbanas, realojados em complexos habitacionais precários, sem árvores, sem rio. Tornaram-se o que não queriam ser, habitantes de lugares estranhos, forasteiros numa (des)organização social que os amputou.
Afroscreen
09.02.2023 | por Anabela Roque
Cumprido o seu destino de orgulhosa sinalização da história e da dignidade resgatadas no nascimento de dois Estados-nação independentes e soberanos, e em prevenção do pesadelo que da utopia em sangue e ressentimento poderia entrementes coagular-se, foi esse hino envolto na bandeira verde-ouro-rubra da estrela negra, do milho e da concha da idiossincrasia caboverdiana, simbolicamente reencontrado e remetido para o lugar digno que, por direito próprio, deve ocupar no presente da estado-nação bissau-guineense, na memória colectiva da nação caboverdiana e na história e na actualidade do Partido Africano da Independência de Cabo Verde.
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08.02.2023 | por José Luís Hopffer Almada
“Reajustamento” nos seus assumidos e correlativos objectivos de manter no (ou de fazer alcandorar ao) poder e de reforçar o papel de quase todas as outras proeminentes figuras do regime de partido único vigente, desde que indubitavelmente bissau-guineenses (mesmo se mestiços, como Vasco Cabral, ou de origem cabo-verdiana (e geralmente denominados burmedjos), dando-se até o caso de um caboverdiano originário das ilhas, Manuel -Manecas- Santos, ter-se tornado figura proeminente do Conselho da Revolução, do novo Governo e do partido único bissau-guineense, depois de ter optado por aderir ao golpe de estado ninista, tendo inicialmente resistido ao mesmo golpe de Estado e se posto em fuga.
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01.02.2023 | por José Luís Hopffer Almada
Embora defensor e advogado convicto do princípio da unidade Guiné/Cabo Verde, a postura de Amílcar Cabral sobre esta candente questão distinguia-se da de muitos líderes africanos e, até, de alguns militantes e responsáveis políticos guineenses, em cuja óptica Cabo Verde quiçá mais não fosse (ou deveria ser) do que, por assim dizer, um prolongamento meso-atlântico, mestiço e árido das verdes e opulentas ilhas negro-africanas dos Bijagós (como se pode constatar numa entrevista do bissau-guineense de origem caboverdiana Gil Fernandes constante do dossier publicado pela revista Afrique-Asie sobre o assassinato de Amílcar Cabral logo depois da ocorrência desse evento histórico por demais trágico).
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30.01.2023 | por José Luís Hopffer Almada
para o reajustamento dos desastres e dos bolores,
para a predicação dos ressentimentos
de há muito inoculados na carne dos tempos,
para a mitigação dos sonhos
e das utopias de outrora,
dos seus fantasmas elementares,
para a subtil decapitação
dos seus heróis preliminares,
do merecimento da sua vida e obra,
das suas palavras exemplares,
sempre precursoras,
dos seus gestos e actos,
sempre lavradores do futuro,
ainda e sempre acompanhando
os passos e as afrontas de Apili,
Mukanda
30.01.2023 | por José Luís Hopffer Almada
A 7 de dezembro do ano passado, o chamado autogolpe falhado do presidente peruano Pedro Castillo e a sua detenção desataram o caos no Peru. Dois meses depois, as manifestações dos apoiantes do antigo mandatário – indígenas, universitários e sindicatos – continuam a ser reprimidas com especial violência. Até hoje, as forças policiais peruanas mataram 54 manifestantes. Sem saída à vista, a poesia insurge-se.
Jogos Sem Fronteiras
28.01.2023 | por Pedro Cardoso
Samora Machel é recordado como o primeiro presidente de Moçambique e um dos líderes africanos notáveis que foram assassinados, nomeadamente Patrice Lumumba (Congo), Amílcar Cabral (Guiné-Bissau) e Thomas Sankara (Burkina Faso). Para os moçambicanos, foi o chefe da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), o exército guerrilheiro que, contra grandes adversidades, trouxe liberdade à sua pátria; na esfera internacional, no entanto, foi muito mais do que isso. Em toda a África Austral, Samora foi um herói para os oprimidos. Os seus êxitos militares contra um regime colonial apoiado pela África do Sul, a Rodésia, os Estados Unidos e os seus aliados da NATO, reforçaram a sua reputação revolucionária. O seu apoio às forças de libertação do Zimbabwe e ao Congresso Nacional Africano, que se revelou muito oneroso para Moçambique, elevou ainda mais a sua estatura.
Mukanda
25.01.2023 | por ALLEN ISAACMAN e BARBARA ISAACMAN
Em 2010, combinei encontro com a Margarida Vale de Gato, sua filha Alice e o poeta Rui Costa, na base do Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC). Dali se mirava a cidade-montanha Rio de Janeiro como o «outro lado». Escrevi no meu bloco de notas da altura: «Niterói tem uma nave de Niemeyer que aterrou na Baía de Guanabara com um museu que espelha o futuro.» A obra, inaugurada em 1996, era de facto a imagem do futuro: fachada futurista, envidraçados de onde se abarcava um pedaço de mundo a 360 graus. Pairando na água, reconhecíamos o modernismo, a arquitetura botava fé no futuro expresso nas formas redondas de «concreto». A sua escala gigante fazia-nos seres minúsculos na fotografia debaixo da nave, fincados no tapete vermelho serpenteante, também ele cimentado. Ao entrarmos no MAC, recordo vagamente uma exposição (creio que do acervo da Coleção João Sattamini, com obras desde a década de 50) de artistas brasileiros que, durante a ditadura militar e civil, tinham sido perseguidos e torturados. Cada obra à sua maneira, transmitia o desejo coletivo de liberdade. Na altura pensei que era assim mesmo, o desejo de futuro não podia prescindir da evocação das trevas, tinha de levar consigo as dores do passado, a ditadura, a «democracia racial», a escravidão, as gritantes desigualdades, os colonialismos todos, e um sem-fim de dores do Brasil.
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25.01.2023 | por Marta Lança
Os tempos mudaram e as famílias acompanharam estas mudanças. Hoje, tendencialmente, vai-se valorizando as relações afectivas em detrimento dos modelos de família do passado. Em vez de se alimentar mentalidades retrógradas da nossa sociedade que ainda hoje condenam mães solteiras, temos de compreender o fenómeno e tentar incluí-lo como um dado nas, cada vez mais variadas, formas de ser família, desde monoparental a famílias compostas, passando por pais ou mães do mesmo sexo. Por outro lado, as mães solteiras são consideradas guerreiras, lutadoras, elogiando-lhes o sacrifício e a abnegação, o que não deixa de ser manifesto de uma mentalidade machista, em que a mulher, cuidadora por excelência, "aguenta tudo" e pode perfeitamente abdicar de si. Uma coisa é ser mãe solteira por opção, outra é, como na maioria dos casos, sê-lo porque o homem não assume a paternidade ou é mais um pai ausente. A educação e o trabalho remunerado foram fundamentais para a emancipação da mulher, a partilha das responsabilidades em relação aos filhos também o são, assim como o direito a ser mãe solteira por opção mas com condições.
Corpo
24.01.2023 | por Marta Lança
Segundo opinião expendida por Onésimo Silveira no ensaio “O Nativismo Cabo-Verdiano: O Caso Amílcar Cabral” (inserto no seu livro A Democracia em Cabo Verde, de 2005), à “deriva literária do nativismo”, que foi o movimento claridoso, ter-se-ia seguido uma nova fase do nativismo de conteúdo essencialmente político e encabeçado por Amílcar Cabral.
Essa derradeira manifestação do nativismo caboverdiano transportaria, em si, os gérmenes do anti-nativismo, na medida em que seria de natureza nacionalista e projectada num quadro pan-africanista de unidade Guiné-Cabo Verde. Por esta última razão, ela estaria também pejada das ambiguidades advenientes da teoria cabraliana da reafricanização dos espíritos, alegadamente inoperante para o caso de um povo mestiço, como o é o povo cabo-verdiano.
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22.01.2023 | por José Luís Hopffer Almada
A recusa da prática do suicídio de classe sugerida por Cabral por parte daqueles a que Frantz Fanon denominou de elite colonizada, potencializou o neocolonialismo forjado no período da libertação entre a elite nativa e a burguesia colonialista, reproduzido hoje pela elite política, cultural e académica nativa em conluio com a elite transnacional, representada pela classe tecnocrática de topo nas agências do desenvolvimento. Portanto, em termos simbólicos, a Marxa Cabral representa o retorno à fonte na lógica cabralista e potencializa a tomada da consciência das várias formas de violência reproduzida desde o período colonial – exploração, humilhação, deslocações forçadas, condenação à fome –, hoje com uma nova roupagem.
Cidade
18.01.2023 | por Redy Wilson Lima
Em Angola, nos últimos dois anos e meio, surgiram vários projectos sociais, sem fins lucrativos, ligados à difusão do livro e da literatura no geral. Uma das componentes mais fortes nesses diversos projectos foi a criação de diversas bibliotecas comunitárias, em diferentes regiões do país, pelas mãos de jovens que se foram inspirando uns aos outros. Várias pessoas, em diferentes lugares, às vezes em simultâneo e outras não, foram dando asas à sua imaginação e dentro das suas comunidades criaram bibliotecas comunitárias que têm servido a um número significativo de pessoas, sobretudo crianças e jovens.
Vou lá visitar
18.01.2023 | por Leopoldina Fekayamãle
Amulongesa kutanga kyoso kyakexile hanji ni mivu iwana anga se ukamba kusoneka, mwene utanga ni paya, madivulu ma asoneki majina ma mama: omusoneki wa diyala dijina dye amwixana Dostoevski, omusoneki wa diyala dijina dye amwixana Balzac, omusoneki wa diyala dijina dye amwixana Zola, omusoneki wa diyala dijina dye amwixana Hemingwayi ni musoneki wa diyala wakamukwa hanji dijina dye amwixana Eça. Mwene anga uzola kukala mukwivila mimbu, mimbu ya ukulu kya, mimbu ya ixi ya Brazili, mimbu yatokala mu ngongo ya África ni mimbu mu kifwa kya jazz. Okusangela musoso mu kaxi ka musoso ni kukunguna omatangelu iyi kikalakalu kitenena mukukala “ikalakalu yenda kamwanyu, ikalakalu yabangiwa ni hele ye yoso”.
Cara a cara
17.01.2023 | por Marta Lança, Aida Gomes e Mário Luís Pereira
Ndañgo okuti ame ndasonehẽle ale Os Pretos de Pousaflores l'okwivaluka ovikalakala vina vyapitiwa l'owiñgi wo ko Putu, etchi twakala k'anhamo akwĩ epanduvali, ale akwĩ etchelãla toke k'efetikilo ly'anhamo akwĩ etchea kwenda okupungula owiñgi, l'okulimba onhima kw'ovisenge, ale okutepisa ovimbundu l'ovindele kwenda alume lakãyi), etchi ndilaka tchetchi okuti p’okutanga, ava omanu epandu vo vo Ngola lava l'omanu epandu, vo ko Putu, valimbukiwe k'okuvuka kwavo l'okukala kwavo powingi, l'elako, l'usumba.
Cara a cara
17.01.2023 | por Marta Lança, Aida Gomes e Moisés Malumbu
Tirando os tugas pretos e os tugas ciganos, todas as outras pessoas da etnia tuga geralmente concordam com isto: a Tugalândia é tudo menos racista. Até o chefe dos polícias tugas, o Manel Vagina da Silva, concorda com isso, ele diz que se há polícias racistas é só um poucochinho e nem sequer são extremistas. Convém que as pessoas não se deixem enganar pelos milhares de mensagens nas contas do facegram dos polícias ou pela forma como tratam os pretos, são só formas exageradas de carinho, é só BDSM… se calhar. E a outra senhora também, a Inês de Castro Maneiros, aquela que já resolveu os problemas coloniais na Tugalândia, garante, com atitude da dona da bola, que aqui não há problemas de colonialidade e “quem não concorda comigo não joga ou eu faço logo uma birra”. Provavelmente ela garantiria que não há racismo também na Almada Negreiros Colonial. Mas eu não entendo a raiva dela, se Almada até tem Negreiros no nome como é que não é colonial? Ou estarei a misturar coisas? Almada, Armada. Se calhar acham que a Almada não pode ser colonial, porque já há muito tempo que correram com os colonialistas árabes de lá, pois, como se vê, só o nome árabe ficou.
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15.01.2023 | por Marinho de Pina
Há uma longa história de autodeterminação dos povos originários dos países nórdicos europeus que, muitas vezes, escapa aos olhos mesmo daqueles que concentram o seu pensamento crítico em países longínquos. Em vez de definir um tema abrangente para a Bienal, os curadores decidiram guiar o próprio trabalho num processo de escuta e de aprendizagem do contexto local – com o qual ambos não são familiarizados, vindos do sul do país –, formulando quatro princípios para desenvolver a bienal: Pensamento Além da Fronteira (Beyond Border Thinking); Descentralização (Decentering); Imaginação da Terra (Earthed Imagination); Custódia (Custodianship).
Vou lá visitar
12.01.2023 | por Laura Burocco
O autor oferece-nos um testemunho e uma reflexão sobre o fascismo em Portugal e sobre o colonialismo português, pelo dever de memória, a mesma responsabilidade que Primo Levi assumiu ao escrever sobre o holocausto. Porém, ao contrário do autor judeu, que foi juntamente com os seus familiares vítima dos campos de concentração nazi, Álvaro de Vasconcelos não foi vítima do colonialismo; como confessa, foi seu beneficiário. Além disso, a sua condição de homem, nascido num meio privilegiado permitiu-lhe, mesmo durante o fascismo, o acesso a uma liberdade com a qual a maior parte dos portugueses - e sobretudo portuguesas - não podia sequer sonhar. No entanto, Álvaro de Vasconcelos não lamenta “paraísos perdidos” nem no Douro da sua infância, nem na Beira da sua adolescência, nem na Joanesburgo da sua juventude.
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10.01.2023 | por Ana Cristina Pereira (AKA Kitty Furtado)