Enquadrado pelo imaginário imperial racialista, o regime do Indigenato consagrava uma delimitação entre indígenas e não-indígenas, que serviu a hierarquização da ordem de interação colonial. Esta delimitação admitia que, de entre os africanos, algumas – poucas – pessoas se aproximavam dos padrões de conduta e estatuto social valorizados pela população de origem europeia, ali monopolizadora das posições de maior poder económico, simbólico e político, geralmente associadas a uma certa ideia de urbanidade. Tal aproximação seria oficialmente reconhecida pela concessão do estatuto de assimilado, e quem assim fosse consagrado estaria isento das obrigações exigidas aos indígenas, incluindo o trabalho forçado.
A ler
24.11.2023 | por Inês Galvão
É importante que uma obra pública (sobretudo um memorial) não mostre apenas uma face, mas que se abra a distintas leituras. Trata-se de uma plantação em luto, queimada, que traduz o lado lúgubre e funerário da plantação. E ainda faz homenagem à resistência dos escravizados pelo gesto de queimar a plantação e boicotar o regime de opressão. A plantação é o lugar onde o processo de desumanização ocorre.
Cara a cara
07.04.2023 | por Marta Lança
O construtor da charca e das inúmeras tentativas contra a burocracia para plantar árvores autóctones, toma a palavra dos carvalhos e do monte e das rãs. Mas é na condição de vivente igual e honesto que o faz. Transporta para o corpo, o seu, o resgate, possível, da vida. Não temer a morte, pois. As pedras e a sua charca dizem-lhe a todo o momento que a vida se transmigra de qualquer maneira, também lhe dizem que faz parte delas. Por isso e porque a charca secará em breve, um jardim, onde a tentação e o trabalho acabaram, servirá não de paraíso mas de momentâneo epílogo.
A ler
04.12.2022 | por Josina Almeida
São Tomé e Príncipe, diz Conceição Lima, vive numa tensão entre a impaciência e a paciência. Por um lado, há uma forte insatisfação com o estado de coisas: “temos uma curta esperança de vida e queremos assistir a mudança!” Por outro, quarenta e sete anos é “um lapso de história muito curto, quase insignificante no grande plano.” A solução passa por um equilíbrio entre os dois: “é preciso cultivar a paciência para remendar e semear, mas nunca permitindo que se esvaia a tão importante impaciência.” Parece que estamos perante uma identidade formada a partir e contra um trauma histórico, que teima em resistir, contra todas as probabilidades. A poetisa responde com um poema: Um pássaro ferido./ Um pássaro ainda ferido / e teimoso.
Cara a cara
12.07.2022 | por João Moreira da Silva