Em Kassel

Em Kassel Como propaganda, a Justiça Popular não é complexa. À direita estão os simples cidadãos, aldeões e trabalhadores: vítimas do regime. À esquerda estão os autores dos crimes e os seus cúmplices internacionais. Os representantes dos serviços de inteligência estrangeiros - a ASIO australiana, MI5, a CIA - são representados como cães, porcos, esqueletos e ratos. Existe mesmo uma figura com o rótulo "007". Uma coluna armada marcha sobre uma pilha de crânios, uma vala comum. Entre os perpetradores encontra-se um soldado com cara de porco, usando uma Estrela de David e um capacete com "Mossad" escrito. Ao fundo, um homem com cachos laterais, nariz torto, olhos ensanguentados e dentes de vampiro. Veste um fato, fuma charuto e o chapéu tem as iniciais "SS": um judeu ortodoxo, representado como um banqueiro rico, em julgamento por crimes de guerra - na Alemanha, em 2022.

A ler

10.08.2022 | por Eyal Weizman

Políticas do verniz

Políticas do verniz Não deixa de ser curioso que, ainda no século XVIII, o artista seja retratado como aquele que se esconde na multidão — tema que ficaria célebre com o flâneur de Baudelaire — e que, supostamente livre das amarras sociais, “tira proveito” dos acontecimentos. Ou seja, idealmente, nem os convivas, tampouco os artistas presentes num vernissage, fazem parte das classes trabalhadoras. Se, com a “pestilência” da atual pandemia, os vernissages foram proibidos — ou, pelo menos, bastante restritos — há quem diga que a arte será uma espécie de “salvação”, algo capaz de suspender a profunda violência e a desigualdade que estruturam as sociedades e, quem sabe, indicar-nos uma saída: arte como um “exercício experimental da liberdade”, para citar a expressão de Mário Pedrosa, atualizada por alguns comentadores contemporâneos.

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11.03.2022 | por Mariana Leme

Questões raciais no debate cultural

Questões raciais no debate cultural Em que medida a presença de artistas negros apenas em exposições destinadas ao tema não geram uma dupla reificação: uma redução do artista e de sua obra a apenas um aspecto de sua identidade? É suficiente reunir a produção de artistas negros, apenas por sua etnia? Ou, ainda, a redução de uma exposição à discussão racial não acaba por perder de vista uma série de singularidades formais e conceituais diversas, além de especificidades de linguagem e da especificidade desse assunto dentro da produção de cada artista?

Palcos

11.02.2021 | por Leandro Muniz

Jean Michel-Basquiat em Como Ser um Artista

Jean Michel-Basquiat em Como Ser um Artista Jean Michel-Basquiat não era um fã de entrevistas e, nas raras ocasiões que se rendeu às mesmas, suas respostas foram breves e um pouco enigmáticas. Apesar disso, as palavras do artista revelam muito sobre as suas inspirações e o seu processo consumidor. Elas oferecem uma janela à sua abordagem, no qual ele fez uma mescla de referências entre história de artes, ruas de Nova Iorque nos anos 80 e o tumulto da cultura pop com a sua herança caribenha e a sua identidade como um jovem homem negro.

Palcos

09.02.2021 | por Alexxa Gotthardt

Pelas águas sagradas que nos curam: uma conversa com Milena Manfredini

Pelas águas sagradas que nos curam: uma conversa com Milena Manfredini Conversei com a realizadora sobre a sua criação cotidiana com o audiovisual até à sua relação pessoal com os cultos de matriz africana. As narrativas que permeiam a vida de Milena partem da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro e desembocam no atlântico, fazendo parte das grandes confluências que têm sido os cinemas negros contemporâneos.

Afroscreen

25.01.2021 | por Marco Aurélio Correa e Milena Manfredini

Mobilizar as duas partes do atlântico sul, conversa com a curadora Bisi Silva

Mobilizar as duas partes do atlântico sul, conversa com a curadora Bisi Silva Bisi Silva faz parte de uma geração de agentes culturais africanos que viveram grande parte da sua vida na diáspora (Reino Unido, EUA e França), e que recentemente optaram por regressar aos países de origem. É em Lagos que tem desenvolvido programas importantes no âmbito da arte contemporânea, e no fortalecimento de redes culturais no continente, programas educacionais que fazem do CCA um pólo importante de difusão da cultura contemporânea.

Cara a cara

23.10.2013 | por Marta Mestre