Olhares do Mediterrâneo - Women's Film Festival

10ª edição de 9 a 16 de novembroCinema São Jorge e na Cinemateca Portuguesa, Lisboa.

Com a missão de divulgar o cinema feito por mulheres oriundas de países do Mediterrâneo, o Festival apresenta uma programação diversificada constituída por 57 filmes de 22 países.

Nesta edição são apresentados filmes de vários géneros cinematográficos (documentário, ficção, animação, experimental), de realizadoras afirmadas e debutantes, que abordam temas tão variados como as questões de género, o racismo, o (de)colonialismo, o terrorismo e a radicalização, a questão do acesso à habitação, mas também histórias pessoais e familiares.

“Assumimo-nos como um festival “ativista” porque acreditamos que o cinema incide sobre a nossa
forma de ver o mundo e capacidade de o transformar, e é por isso que achamos que é indispensável
dar espaço aos múltiplos olhares das mulheres”, afirmam as organizadoras do Festival.

Olhares da Turquia: Secção especial

Nesta 10ª edição, o Festival programa filmes de realizadoras turcas na Cinemateca Portuguesa, de 13 a
16 de novembro, com 5 longas-metragens e 3 curtas de sete cineastas produzidas entre 2002 e 2022. À
exceção de “Watchtower” (Fic, 2012), de Pelin Esmer, que foi filme de abertura da 1ª edição do
Olhares do Mediterrâneo – Women’s Film Festival, todas as obras desta retrospetiva são estreias
nacionais.

Quatro secções competitivas

O Festival apresenta quatro secções competitivas: Competição geral longas-metragens, Competição
geral de curtas-metragens, secção Travessias, composta por filmes sobre migrações, racismo e
colonialismo enquanto elementos estruturais da sociedade e a Competição Começar a Olhar, com
filmes de escola.

As actividades paralelas do Olhares

O Festival programa ainda inúmeras atividades paralelas, como debates a partir de filmes em
competição, um workshop de escrita para cinema com a realizadora Cláudia Clemente, um workshop
de colagem com a artista Ap Silvestre, uma masterclass com a jornalista e realizadora Benedetta
Argentieri, uma oficina de cantos do Mediterrâneo com as musicólogas Camilla Piccolo e Laura
Venturini; lançamentos de livros, o acolhimento de três livrarias e um concerto no encerramento da
secção competitiva no Cinema São Jorge. 

Haverá ainda no ISCTE-IUL, um seminário sobre Cuidado e Envelhecimento, no âmbito do qual será
apresentado o documentário “CareSeekers” (Itália, 2023, de Teresa Sala e Tiziana Vaccaro) e no Goethe
Institut um encontro Olhares do Mediterrâneo / MUTIM (Mulheres Trabalhadoras das Imagens em

Movimento) sobre os desafios da programação de cinema de mulheres. A masterclass, o workshop de
escrita para cinema e o encontro sobre programação cinematográfica fazem parte do Programa de
Indústria, uma das novidades desta 10ª edição do Festival.

O Festival vai trazer a Lisboa vários convidados, a anunciar muito brevemente. 

Olhares do Mediterrâneo - Women Film Festival é o mais antigo festival de cinema no feminino em
Portugal, e é o único dedicado à cinematografia da bacia do Mediterrâneo. O Festival é um projeto do
grupo Olhares do Mediterrâneo e do CRIA - Centro em Rede de Investigação em Antropologia.

Para mais informações, por favor contactar:
Rita Bonifácio: olharesdomediterraneopress@gmail.com | 918453750

11.10.2023 | por martalanca | Olhares do Mediterrâneo

FIDJU-FEMA

FIDJU-FEMA está de volta!  Sábado, 14 de outubro | 22h | Casa Independente *Donativo Mínimo: 10 paus  A viagem começa com o mestre Braima Galissá  que, ao volante do Kora, nos conduz por gerações de Griots e séculos de história da música da África Ocidental. Juntam-se a esta celebração, Rubera Roots, com reggae finkado na Cabo Verde, mensagem pesóde e musicalidade espraiada por esse Atlântico fora. Para fechar esta 12ª noite, contamos com Fella Ayala (dj Set) que promete uma seleção do que há de melhor na música negro-africana.

09.10.2023 | por martalanca | fidju-fema

Ciclo "Ciências Sociais e Audiovisual", Curtas do Ateliê Mutamba

QUA . 18 OUT . 16H AUDITÓRIO SEDAS NUNES - ICS-ULISBOACiências Sociais e Audiovisual

Sessão do ciclo “Ciências Sociais e Audiovisual”, com a projeção de 5 curtas do Ateliê Mutamba, formação em cinema com formato de residência artística, em Luanda (13+17+25+12+12=120 min, Angola, 2022 e 2023), realizadas por Gegé M’Bakudi, Stélio Macedo, Irene A’mosi, Cristiane Baltazar e Resem Verkrom, seguido de conversa com o coordenador Orlando Sérgio (Kino Yetu) e o realizador Resem Verkrom, moderada por Inês Ponte (ICS-ULisboa).

Mais informações sobre o ciclo aqui 

Organização: Inês Ponte (ICS-ULisboa)

 

04.10.2023 | por martalanca | ateliê mutamba

Problematizar a realidade: encontros entre arte e filosofia

ESPAÇO, LUGAR E MEMÓRIA

Fundação Calouste Gulbenkian, Auditório 3 I 13.10.2023 | 18h30
Excertos de: Memórias do Cárcere (1984) de Nelson Pereira dos Santos
Discussão: Billy Woodberry, Ruth Wilson Gilmore
Memórias do Cárcere (Nelson Pereira dos Santos, 1984), fotograma de filmeMemórias do Cárcere (Nelson Pereira dos Santos, 1984), fotograma de filme
As obras de arte, nomeadamente aquelas que trabalham a partir de material documental, podem oferecer um apelo particularmente desafiante para refletir sobre a realidade. Enquanto a ligação indexante à realidade que abordam garante ao som e à imagem uma credibilidade específica, a postura do artista, a sua escolha estética, temática e política, bem como a posição autorreflexiva, podem gerar uma avaliação crítica sobre a constituição dessa realidade. É neste ponto que a arte encontra a filosofia. A reflexão sobre a relação entre o mundo factual e a sua apropriação subjetiva, questionando as reivindicações hegemónicas de objetividade e autoridade e problematizando as contradições inerentes à sociedade, são, por imanência, questões filosóficas.
A segunda edição de Problematizar a realidade – encontros entre arte e filosofia resulta de uma parceria entre o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, o CineLab do Instituto de Filosofia da Universidade Nova de Lisboa e a Maumaus / Lumiar Cité. Trata-se de um conjunto de seis sessões de discussão e quatro seminários que decorre na Fundação Calouste Gulbenkian e se foca no momento em que a arte e a filosofia estabelecem diálogos produtivos, propondo abordagens diversificadas sobre o pensamento contemporâneo.
Cada sessão de discussão parte da exibição parcial ou integral de obras de arte, acompanhada por uma reflexão conduzida por teóricos, investigadores ou artistas. A primeira sessão de discussão acontece em outubro com o cineasta Billy Woodberry e a investigadora Ruth Wilson Gilmore, numa reflexão suscitada pela exibição da obra Memórias do Cárcere (1984), de Nelson Pereira dos Santos. As restantes discussões e seminários acontecem nos meses seguintes e serão comunicadas oportunamente, estando previstas as presenças de Ghalya Saadawi (Líbano), Jihan El-Tahri (Egito), Kerstin Stakemeier (Alemanha) e Sarah Lewis-Cappellari (República Dominicana, EUA), entre muitos outros.
Protagonizado por Carlos Vereza, Glória Pires e Nildo Parente, Memórias do Cárcere adapta as memórias da prisão de Graciliano Ramos, um dos grandes autores da literatura brasileira, publicadas postumamente. A prisão de Ramos ocorreu durante o regime de Getúlio Vargas devido à suspeita de ser comunista. Nelson Pereira dos Santos inspira-se no percurso de Graciliano Ramos pelo sistema penal para conduzir uma investigação sobre o modo como operam as relações de poder que este produz.
Billy Woodberry (EUA) vive e trabalha em Lisboa. A sua obra foi premiada no Festival Internacional de Cinema de Berlim e faz parte da Library of Congress. Participou como ator em When It Rains (Charles Burnett, 1995) e como narrador em Four Corners (James Benning, 1998) e Red Hollywood (Thom Andersen, 1996). O seu trabalho foi exibido em inúmeros espaços e eventos, incluindo: Centre Pompidou; Festivais de Cinema de Berlim, Cannes, Roterdão e Viena; Camera Austria Symposium; Harvard Film Archive; Human Rights Watch Film Festival; Museum of Modern Art (MoMA); e Tate Modern. Entre os seus filmes, incluem-se: A Story from Africa (2019), And When I Die, I Won’t Stay Dead (2015) e Bless Their Little Hearts (1984).
Ruth Wilson Gilmore (EUA) vive e trabalha em Lisboa e Nova Iorque. Gilmore é Professora de Earth & Environmental Sciences e Diretora do Center for Place, Culture, and Politics (Graduate Center, City University of New York). Entre as suas publicações, destacam-se: Change Everything: Racial Capitalism and the Case for Abolition (Haymarket, no prelo), Abolition Geography: Essays Towards Liberation (Verso Books, 2022) e Golden Gulag: Prisons, Surplus, Crisis, and Opposition in Globalizing California (University of California Press, 2007). Entre as suas distinções recentes, incluem-se: Marguerite Casey Freedom Scholar Prize (2022) e Lannan Foundation Lifetime Cultural Freedom Prize (2021, com Angela Y. Davis e Mike Davis). Gilmore é membro da American Academy of Arts and Sciences.
Duração da sessão: 150 Min. | M/14
Entrada livre, sujeita à lotação da sala.
Requer levantamento de bilhete no próprio dia.
Filme falado em português e legendado em inglês; a discussão será em língua inglesa com tradução simultânea.

04.10.2023 | por martalanca | Memórias do Cárcere, Nelson Pereira dos Santos Discussão: Billy Woodberry, Ruth Wilson Gilmore

Festival Materiais Diversos, toda a programação

É já no próximo dia 5 de outubro que começa a 12ª edição do Festival Materiais Diversos. Sob os propósitos de desacelerar e tornar visíveis as pessoas, os lugares e os processos, o programa pretende continuar a aproximar as pessoas e as artes contemporâneas. As vilas de Alcanena e Minde acolhem, até dia 15, espetáculos de dança, teatro e música, instalações, conversas, um seminário e ações ambientais.

“O Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, maciço calcário formado na era Mesozoica, com mais de 200 milhões de anos, é onde se inscreve o trabalho da Materiais Diversos. Esta escala temporal dificulta percecionar o lento movimento das rochas. E, no entanto, elas movem-se. Sob estas rochas calcárias, existe um dos maiores reservatórios de água doce subterrânea portugueses que ressurge, no inverno, no Polje de Mira-Minde. E, no entanto, ela escasseia.” Conta-nos Elisabete Paiva no seu texto de apresentação desta edição do Festival Materiais Diversos.
“Atenta ao tempo lento dos lugares onde se inscreve, a Materiais Diversos tem investido na desaceleração, na expectativa de trazer à superfície uma comunidade de afetos que se forma lentamente e sustenta em práticas de companheirismo e colaboração. O Festival Materiais Diversos é a alegria que transborda dessa prática continuada.”
O programa do Festival Materiais Diversos é um reflexo e um momento em que o trabalho, muitas vezes invisível, de relações, acompanhamento e apoio à criação emerge e se torna visível. Ao longo de dez dias, as propostas são vastas e variadas.

De 5 a 20 de outubro, na Casa da Cultura de Alcanena estará patente a exposição Corpo Comum que decorre de um trabalho que se consolida desde 2017. A Materiais Diversos desenvolve oficinas artísticas regulares no Agrupamento de Escolas de Alcanena. Estas oficinas, orientadas por Marta Tomé e Raquel Senhorinho, foram entretanto organizadas como projeto – Corpo Comum – e procuram valorizar a diversidade como património e como direito, com o objetivo de alargar o horizonte de possibilidades das crianças e jovens e de contribuir para a sua autoestima, sentido de pertença e reflexão crítica. Nelas, o corpo e a dança são a base de todas as sessões.

Nesta exposição, é partilhado com a comunidade o trabalho desenvolvido no ano letivo 2022/23, que se inspirou no tema da felicidade, na perspetiva de “tornar visível o invisível” e de construir um saber partilhado, um “corpo comum”.
A 5 de outubro, às 19h30, também na Casa da Cultura de Alcanena, Cátia Terrinca e a UMCOLETIVO, apresentam o espetáculo Decadência. Há 100 anos, Judith Teixeira escreveu Decadência – um conjunto de poemas de amor, lavrado no silêncio abrasado da carne. Luísa Demétrio Raposo diz agora, com a carne e o sangue, que “toda a escrita é sexo”. Decadência é um espetáculo sobre fogo e, através dele, desencadeiam-se perguntas. Que calor é este que incendeia as mulheres e as faz renascer transfiguradas? Poderemos responder à violência histórica do gesto de quem queima uma mulher por ter amado? Afinal, quem é que queima quem?

No dia seguinte, 6 de outubro, o programa comporta três momentos. Logo no início da tarde, Natália Mendonça apresenta o espetáculo KdeiraZ que desafia públicos de todas as idades a refletir sobre cadeiras. Às 18h, na Biblioteca Municipal de Alcanena, inaugura a instalação Mil e Uma Noites, de Cátia Terrinca/UMCOLETIVO. Haverá uma conversa com as autoras e a equipa artística do projeto. E às 20h, o bailarino e b-boy Benoît Nieto Duran faz um workshop para estudantes no Estúdio de Dança de Alcanena.

KdeiraZ é um espetáculo de dança para crianças de todas as idades que busca aproximar a pesquisa em dança contemporânea da criação artística para o universo infantil. A cadeira é protagonista nesta viagem. Em cena, as performers deparam-se com cadeiras comuns e fantásticas e ficam curiosas por descobrir quais as possibilidades de brincadeiras que cada uma, com a sua forma e personalidade, pode propor. É apresentado no Largo da Igreja, em Minde, dias 6 (14h30, sessão para escolas) e 7 de outubro (16h para o público, em geral).
 
Mil e Uma Noites é um projeto cívico e artístico de longa duração que, através do teatro radiofónico, resgata do esquecimento a obra de mulheres portuguesas do século XX. Em Alcanena, mulheres de várias gerações foram convidadas a revelar a sua atividade de escrita, mas também a partilhar as histórias e contextos de vida em que a desenvolveram. Depois de uma residência artística e apresentação pública em setembro, a peça de teatro radiofónico criada a partir destas vozes, regressa à Biblioteca Municipal de Alcanena na forma de uma instalação sonora que pode ser visitada até 20 de outubro.  

Mil e uma noites ©Estelle ValenteMil e uma noites ©Estelle Valente
 
Em estreia nacional, a performance instalação Las Lámparas, de Leticia Skrycky é apresentada no Cine-Teatro São Pedro, em Alcanena, no dia 7 de outubro, às 16h30 (repete às 18h e às 19h30).
Há vários anos que esta criadora uruguaia tem vindo a explorar as potencialidades da luz. Como podem os olhos tocar? Como podem os ouvidos ver? Como pode a pele ouvir? Guiada por estas perguntas, associadas a ecosistemas de percepção relacionais, em Las Lámparas procura oferecer um lugar para um olhar periférico e vibrátil. É um convite para um estado de atenção aberto a receber o visível e o invisível. No espaço cénico do teatro, apresenta-se uma coreografia elétrica, onde o som move a luz e a luz, por sua vez, soa, aquecendo todo o meio envolvente.
 
Black Box 2.0 tem origem num projeto de formação e desenvolvimento em criação coreográfica, iniciado pela associação O Corpo da Dança em parceria com o Estúdio de Dança de Alcanena. No âmbito deste projeto, os alunos desenvolvem criações coreográficas e, na semana que antecede a sua apresentação pública, experimentam um período de residência no teatro, trabalhando em conjunto com a equipa de produção deste, ao nível das montagens técnicas.
Nesta edição de 2023, a literatura é o tema genérico de pesquisa para todos os trabalhos coreográficos. As criações que se apresentarão no Jardim da República, no dia 7 de outubro, às 18h, emergem deste tema.
 
Para o público da primeira infância (bebés e crianças até aos sete anos, aproximadamente), a proposta é Traquinar! Esta palavra, que significa “brincar” em calão minderico, denomina o projeto de apoio à integração de crianças na natureza que visa devolver-lhes a possibilidade de brincarem na rua, de forma segura e autónoma. Nos dias 8 e 15 de outubro, entre as 10h e as 12h, o Projeto Traquinar ocupa o Polje de Mira-Minde, com duas sessões. O contacto para mais informações é: projeto.traquinar@gmail.com.
 
Didascálias ou como se constrói uma casa surge do encontro entre Leonor Mendes (PT), Giovanna Monteiro (BR), Vicente Antunes Ramos (BR), conta com a colaboração artística de Isis Andretta (BR) e foi apoiado, em 2023, no âmbito da bolsa Fios do Meio da Materiais Diversos. A sua estreia é dia 8, às 16h30, no Ginásio da EB 2/3 de Minde.
A partir das didascálias de textos clássicos do teatro, este trabalho busca revisitar os espaços domésticos presentes nos textos e o imaginário de “casa” que carregam. Duas intérpretes jogam com as palavras e com o tempo e assim constroem outros espaços, figuras, relações. O desenrolar deste jogo de construir e desconstruir deixa a pergunta em suspenso: o que se pode imaginar a partir dessas palavras que foram escritas para não ser ditas?
 
Também a 8 de outubro, às 18h, no acolhedor jardim do Museu de Aguarela Roque Gameiro, em Minde, Bernardo Branco partilha “Cantar de Ouvido”, álbum a ser lançado brevemente, no qual florescem sonoridades que confluem entre música popular e urbana e que aborda o dia-a-dia, os desamores passados, a queda de cabelo, as festas populares e o êxodo rural.
Na música deste jovem cantautor, as batidas são construídas com recurso a sons da garganta, adufe, um drumkit de hip-hop, ao ritmo quebrado da cana rachada e a ad-libs. O Auto-Tune é usado como recurso expressivo, com o atrevimento de estar presente em alguns dos momentos melismáticos próximos do fado.
 
A 11 e 12 de outubro, para os alunos do Agrupamento de Escolas de Alcanena, há Coreografia em sala de aula. Declinação de Coreografia, de João dos Santos Martins, conta com a participação de Adriano Vicente e coloca em diálogo diferentes linguagens em torno da dança. O desafio é a passagem do corpo para o papel e do papel para o corpo, num jogo de vice-versa: “dançar” uma língua e “falar” uma dança.
 
No dia 12, a programação decorre no Centro Ciência Viva do Alviela. Às 21h30 é projetado o filme Habiter Le Seuil, de Marine Chesnais e Vincent Bruno.
Verão de 2020. Marine Chesnais, coreógrafa e bailarina de dança contemporânea, viaja para a Ilha da Reunião para encontrar baleias-corcundas. Destas interações no azul profundo nasceram danças improvisadas, que serão terreno fértil para a sua próxima criação. Este filme, filmado em apneia, é uma viagem coreográfica e hipnótica que nos leva ao mundo subaquático, sustendo a nossa respiração, seguindo os passos deste projeto original.
Nesta noite, é possível jantar no CCV Alviela (19h30 – 21h), mediante reserva até 24h antes, pelo preço de 8€. O jantar é volante e há opções vegetarianas.
 
Dia 13, às 21h30, no Cine-Teatro São Pedro, Gio Lourenço traz-nos Boca Fala Tropa, um espetáculo que parte dos passos e dos códigos do kuduro para cruzar elementos da memória individual com elementos da memória coletiva, colocando assim à vista trânsitos entre Angola e Portugal. O kuduro surge nos anos 90, em Luanda, no contexto da guerra civil angolana. Os códigos específicos deste estilo de música/dança chegavam a Portugal através do corpo e das cassetes dos que transitavam entre estes dois países. É na adolescência, no final dos anos 90 e já a viver em Portugal, que Gio Lourenço entra em contacto com este universo e se torna kudurista, descobrindo um corpo partido – o seu – onde a memória se reinventa no gesto. O espetáculo contará com o músico Xulaji em palco.

Boca Fala Tropa ©Sofia BerberanBoca Fala Tropa ©Sofia Berberan
 
A 14 de outubro, às 16h30, no Ginásio da EB 2/3 de Minde, teremos La Burla, resultado da parceria entre Bruno Brandolino (UY) e Bibi Dória (BR), em colaboração com Leticia Skrycky (UY), e que foi apoiado pelos Novos Materiais em 2021.
La Burla é uma ficção coreográfica que acompanha duas figuras situadas numa realidade distópica. O encontro entre o sagrado e o profano toma forma em rituais e invocações de entidades que emergem das profundezas. Santas, bruxas, videntes, diabos, monstros e heroínas atravessam o imaginário desta peça, dando voz e corpo a um variado repertório iconográfico medieval. O espetáculo é seguido de conversa.
La Burla ©Tristan Perez-MartinLa Burla ©Tristan Perez-Martin
All in the Air is Bird, performance de María Jerez e Élan d’Orphium, parte do pressuposto que nenhuma presença é neutra e entende que os pássaros são seres com quem partilhamos territórios, acontecimentos e histórias, numa invocação em forma de concerto experimental a partir do canto dos pássaros ao pôr-do-sol. Decorre a 14 de outubro, às 18h30, no Museu de Aguarela Roque Gameiro, em Minde.
 
Outra performance, O Banquete das Saudades é uma refeição, uma instalação, uma situação, uma coleção: a receita como reativação de uma “saudade” e motor de uma situação de partilha. Este jantar performance, que acontece na sede do ABC, em Alcanena, também dia 14 com início às 20h, é uma proposta para estimular os sentidos de todas as pessoas. A partir de um pedido de receitas que, de algum modo, transportassem saudades feito à comunidade, Anne Lise Le Gac e uma pequena equipa de cozinheiros amadores de França e Alcanena irá preparar uma seleção destas receitas, cozinhá-las e combiná-las no menu Saudades. Num espaço de acesso aberto, os visitantes, que se tornam convidados, vão experimentar esses pratos. O Banquete das Saudadesdesenrola-se lentamente, com petiscos e degustações, e termina quando os seus recursos se esgotam.
 
No dia seguinte, 15 de outubro, às 16h30 no Polje Mira-Minde, Elizabete Francisca apresenta a peça a besta, as luas. Fortemente baseada no verso “eu não obedeço porque sou molhada”, da canção “Banho”, interpretada por Elza Soares, Elizabete Francisca propõe enunciar, através de gestos e sons, uma representação possível da geografia política de um corpo não submisso. Neste espetáculo de dança, a criadora usa o corpo como arma política e reivindica um lugar de resistência, transformando possíveis fragilidades em flechas e potências.
 
Para encerrar o festival, também no dia 15, às 18h, teremos o concerto de chica, “em banda”, numa das praças emblemáticas de Minde, a Praça Alberto Guedes. As sonoridades do folk, anti-folk e jazz em parelha com o elemento principal da sua música – o diálogo –, compõem o estilo musical de chica.
“Brincar com o Cão” (2020) foi o primeiro single do seu projeto a solo. O EP “Cada Qual no seu Buraco”, composto entre o Minho e Lisboa ao longo de dois anos, foi lançado em 2022. Em concerto partilha as canções que foram sendo escritas e pensadas à sombra do desencantamento sobre a vida adulta, da gestão da sobrevivência, mas também das palavras de Fausto de “que atrás de tempos vêm tempos e outros tempos hão de vir”.

Em parceria com o Movimento Mira-Minde, estão programados três eventos no dia 15. Das 8h às 12h, a proposta é uma Limpeza de Caminhos no Polje Mira-Minde. Das 9h às 15h, na Fábrica da Cultura de Minde, há o Mercado da Bagageira e dos Produtos Locais, concebido sob a política dos 3 Rs: Reduzir, Reutilizar e Reciclar, e com a proposta de nos aproximarmos cada vez mais de um estilo de vida sustentável. No mesmo local, das 13h às 15h é hora de almoçar no Eco-Piquenique Partilhado & Sem Desperdício. A ideia é partilhar e construir uma relação saudável com o planeta.

Regressam também as mesas longas, organizadas estreitamente com atores e parceiros locais e, por isso, trazem à discussão temas do seu interesse, como o papel das comunidades de aprendizagem na educação, a conservação dos rios e ecossistemas ribeirinhos, o futuro dos jovens e o papel das instituições culturais.
Continuando a afirmar-se como espaço imersivo e desacelerado para o encontro entre profissionais, o festival realiza este ano o seminário Companheirismo e colaboração — práticas artísticas para a sustentabilidade, que procura fomentar práticas colaborativas de reflexão crítica e experimentação entre as pessoas participantes. A orientar os trabalhos estarão Carolina Cifras, Simone Frangi e Clara Antunes que se debruçam sobre diferentes dimensões, entre elas, as práticas ecossomáticas em torno do ser/corpo, a revisão crítica da noção de hospitalidade no âmbito da curadoria, e a reflexão sobre o papel das práticas artísticas face ao colapso climático e ecológico.

Ponto de Encontro do Festival Materiais Diversos este ano divide-se entre as Festas Populares de Alcanena, no primeiro fim de semana (5-7 outubro) e o Cine-Teatro São Pedro de Alcanena (entre 10 e 14 de outubro). Aqui poderão degustar-se iguarias locais, beber e brindar, conversar e dançar. As noites de 13 e 14 prometem ser longas, alimentadas pela vibração de DJs que prolongam o espírito de cada jornada. No dia 13, às 23h, os DJs Borga e Laurix, com batidas duras e ritmos acelerados, complementados com melodias alegres e imersivas. A 14, à mesma hora, o DJ Kino assume o comando da pista e propõe-nos que voemos com ele. O Ponto de Encontro é o espaço de convívio e encontro entre a comunidade local, a comunidade artística, equipa e parceiros do festival.

03.10.2023 | por martalanca | Materiais diversos

Teleteatro de Bissau

Sinopse: 

Teleteatro de Bissau é uma mostra de teleteatros guineenses, realizados na Guiné-Bissau e na sua diáspora em Portugal. Geradores de fluxos artísticos entre geografias, dão a conhecer, com humor, formas de invisibilidade social, nomeadamente os desafios de quem luta por uma vida melhor, emigrando ou dubriando …. 

Calendarização 

4 de Outubro

Lixo de Europa (2022; 8’) de Nbana Kabra & Samba Tenen

Sinopse: Curta-metragem humorística sobre emigrantes respigadores, nos contentores de lixo na zona de Queluz. 

Nunde Independência (2023; 4’) de Axy Demba

Sinopse: Reflexão crítica sobre as conquistas alcançadas pela independência. 

Poder di Tchom (2022; 22’) de Tcharlaça Comedy Bissau

Sinopse: As aventuras de um jovem guineense que deseja imigrar para a Europa.

02.10.2023 | por martalanca | Teleteatro de Bissau

Mulheres nas descolonizações, modos de ver e saber

II Encontros

“Descolonizar, dizem elas” *
(*a partir de Destruir, diz ela, Duras, 1969)

Hangar, 29-30 de Setembro

Toca Tchoro © Daniel Barroca e Catarina Laranjeiro (Fogo no lodo, 2023)

A segunda edição dos Encontros MULHERES NAS DESCOLONIZAÇÕES. MODOS DE VER E SABER junta criadorxs, curadorxs e investigadorxs para uma reflexão sobre os olhares, saberes e práticas de mulheres nas libertações e nos processos decoloniais, e sobre como, partindo destes, encetando novas práticas artísticas e comunicacionais, e potenciando novas perspectivas identitárias, se (re-)imagina o (pós-)colonialismo
Programa de investigação-acção, parte das práticas artísticas, de novos modelos de comunicação e da reflexão sobre os mesmos para questionar “políticas da memória” e identidade, ensaiando gestos de restituição. A reflexão sobre e a afirmação de modos de ver e fazer no feminino são centrais num processo necessário de cura e restituição.

Curadoria: Maria do Carmo Piçarra

Doutorada em Ciências da Comunicação, Maria do Carmo Piçarra é professora na Universidade Autónoma de Lisboa, investigadora contratada no ICNOVA e programadora de cinema. Tem investigado propaganda cinematográfica e a censura durante o Estado Novo, o cinema militante africano e os modos de ver e conhecer das mulheres durante os processos de descolonização. Entre outros livros e artigos, é autora de Olhar de Maldoror. Singularidade de um cinema político (2022), Projectar a ordem. Cinema do Povo e propaganda salazarista 1935 – 1954 (2020), Azuis ultramarinos. Propaganda colonial e censura no cinema do Estado Novo” (2015). Coordenou, com Jorge António, a trilogia Angola, o nascimento de uma nação (2013, 2014, 2015) e, com Teresa Castro, (Re)Imagining African Independence. Film, Visual Arts and the Fall of the Portuguese Empire (2017). Dinamiza a Aleph – Rede de Acção e Investigação Crítica da Imagem Colonial.

DIA 29

Identidade e memória nas práticas artísticas e da comunicação

10h-11h15: Sobre o colonialismo português tardio: uma breve imersão

Apresentação e conversa com Rita Cássia Silva

Rita Cássia Silva iniciou-se nas artes cénicas aos doze anos. Natural de Salvador-Bahia-Brasil, radicou-se em Portugal, a partir de 2000. Escolheu Lisboa enquanto primeira morada. Lagos e Mértola enquanto recônditos afetivos cruciais. Mãe de Martim. Escreve, interpreta, encena, pratica artivismo, intervém educacionalmente. Licenciada em Antropologia pelo ISCTE-UL. Doutoranda em Ciências da Comunicação – Comunicação e Artes, pela Universidade Nova de Lisboa. Integra o ICNOVA, Projeto Photo Impulse. Bolseira do Programa Aliança EUTOPIA (FCT / NOVA / CY CERGY PARIS). Curadora participativa da exposição “O Impulso Fotográfico (des) Arrumar o Arquivo Colonial”, patente temporariamente até 31 de Dezembro de 2023, no MUHNAC, Lisboa. As suas áreas de interesse situam-se na pesquisa baseada em criação artística, cruzamentos disciplinares, autoetnografia, género, comunicação, pensamento decolonial e cultura visual.

11h15-11h45: As donas da Casa: A presença (in)visível das mulheres na Casa dos Estudantes do Império

Apresentação por Vânia Maia, seguida de debate

Vânia Maia iniciou-se no jornalismo aos microfones de rádios locais. Para a imprensa escrita, fez reportagens na Central Nuclear de Chernobyl, em campos de refugiados no Uganda ou em áreas devastadas por ciclones, em Moçambique. Integra a bolsa de formadores da Associação Literacia para os Media e Jornalismo. Os seus trabalhos receberam mais de uma dúzia de distinções — seis delas relacionadas com a cobertura da pandemia. No 30.º aniversário do Prémio Lorenzo Natali, promovido pela Comissão Europeia, venceu na categoria Europa. Ganhou uma Bolsa de Investigação Jornalística pela Fundação Calouste Gulbenkian, que deu origem a uma grande reportagem sobre a presença feminina na Casa dos Estudantes do Império.

12h-13h30: Análise da iconografia da mulher negra na banda desenhada de Casa Grande & Senzala – em quadrinhos (Livia Sampaio), O feminismo é uma prática (Lorena Travassos) e Afrolis: jornalismo com cor e sotaque (Amina Bawa)

Apresentações por Livia Sampaio, Lorena Travassos e Amina Bawa, seguidas de debate

Livia Sampaio é brasileira, formada em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Veio para Portugal para fazer o mestrado em Estudos Africanos no ISCTE com a dissertação Mulheres negras e o cabelo: Racismo, sexismo e resitência defendida em 2021, e, desde então, vem se dedicado no estudo do reflexo do racismo e misoginia no corpo da mulher negra em Portugal. Co-editora do livro Uma História com mulheres e autora do capítulo “Como o status social colonial é refletido no cotidiano das mulheres negras”. É doutoranda no curso de Media e Sociedade no Contexto da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, da Universidade Autónoma de Lisboa.

Lorena Travassos é fotógrafa, livreira e investigadora do ICNOVA. Actualmente é docente convidada no ICNOVA e investiga o arquivo a partir das questões decoloniais e de género. É fundadora da livraria feminista Greta em Lisboa.

Amina Bawa é jornalista, produtora cultural e mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade de Lisboa. No Brasil, trabalhou em áreas diversas como comunicação sindical e na produção de museus e espaços de cultura. Em Portugal, trabalha como Gestora de Conteúdo, Marketing e Comunidade na Associação Afrolis e como professora de Tecnologia da Informação e Comunicação na escola de circo do Chapitô. É Produtora Editorial no Gerador, além de ser co-fundadora do observatório de tendências brasileiras, Brasil Mood.

Modos de ser e fazer. Práticas artísticas

15h-16h15: Museu Pessoal

Performance e conversa com Gisela Casimiro

Gisela Casimiro é escritora, artista, performer e activista. Formou-se em Estudos Portugueses e Ingleses pela NOVA/FCSH. Trabalha sobre identidade, corpo, memória, trauma, racismo, pós-colonialismo e quotidiano. A sua prática envolve escrita, fotografia, instalação, colagem e som. É autora de Erosão e Giz (poesia), Estendais (crónicas) e Casa com Árvores Dentro (dramaturgia, encenado por Cláudia Semedo/Companhia de Actores). Em teatro foi co-criadora e actriz de SET THE TABLE, de Raquel André e Cristina Carvalhal. Participou em exposições no Armário, Galerias Municipais do Porto e de Lisboa, entre outros. Integra a Coleção António Cachola. Coordena, com Teresa Coutinho, o Clube de Leitura do Batalha Centro de Cinema. É membro fundador da UNA – União Negra das Artes. De momento faz o apoio à dramaturgia de BLACKFACE!, de Marco Mendonça, a estrear em 2023.

Toca Tchoro © Daniel Barroca e Catarina Laranjeiro (Fogo no lodo, 2023)Toca Tchoro © Daniel Barroca e Catarina Laranjeiro (Fogo no lodo, 2023)

DIA 30

Modos de ser e fazer. Práticas artísticas

10h-11h15: Mankaka Kadi Konda Ko

Performance e conversa com Filipa Bossuet

Filipa Bossuet (1998) Licenciada em Ciências da Comunicação e aluna do mestrado em Migrações, Inter-Etnicidades e Transnacionalismo, na NOVA FCSH. Utiliza a performance, a pintura, a fotografia e o vídeo experimental para retratar processos de identidade, negritude, memória e cura.

Luta e luto. Entre passado e presente

11h30-12h45: Mulheres de fogo, no lodo

Apresentação e conversa com Catarina Laranjeiro e Daniel Barroca

Catarina Laranjeiro (1983) estudou Psicologia Social na FPCE-UL (Lisboa), Cinema/Imagem em Movimento no Ar.Co (Lisboa), Antropologia Visual na FU (Berlim) e doutorou-se em Pós-Colonialismo e Cidadania Global no CES-UC. É investigadora no Instituto de História Contemporânea da NOVA-FCSH. Tem autoria e colaboração em diversos projetos que aliam a investigação à criação artística, cruzando a antropologia, o teatro e o cinema. Realizou o filme PABIA DI AOS (2013).

Daniel Barroca estudou Artes Plásticas na Escola de Arte e Design das Caldas da Rainha e no Ar.Co. Foi artista residente na Künstlerhaus Bethanien em Berlim, na Rijksakademie em Amesterdão, no Ashkal Alwan em Beirute, e no Drawing Center em Nova Iorque. Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, da Fundação Botin e da Comissão Fulbright, entre outras. Neste momento, desenvolve uma pesquisa doutoral sobre imagem antropológica e guerra colonial. Ao longo do seu percurso artístico, tem desenvolvido projetos de cinema expandido e experimental, que têm sido apresentados em festivais de cinema e espaços de arte contemporânea em diversas partes do mundo.

14h30-15h30: “Eu sou a rixa”: traçando a evolução da identidade da segunda geração no Reino Unido através dos arquivos audiovisuais

Apresentação e conversa com Ana Naomi de Sousa

Ana Naomi De Sousa é uma realizadora e jornalista independente. Realizou os documentários The Architecture of Violence, Angola – Birth of a Movement; Guerrilla Architect; e Hacking Madrid – todos exibidos na Al Jazeera em inglês. Colaborou com Forensic Architecture e Amnesty International, no documentário interativo Saydnaya sobre uma prisão militar síria, tendo vencido um prémio Peabody em 2017. Escreve sobre a política pós-colonial, espacial e cultural para diversas plataformas, incluindo The Funambulist, The Guardian, e Al Jazeera. Colabora como realizadora na rede de ‘Decolonizing Architecture’, e como tradutora no projeto ‘Traduzindo Ferro, Transformando Conhecimentos’, entre outros. Actualmente, está a realizar a sua primeira longa-metragem.

16h00-17h30: Projecção de Entre Eu e Deus (Yara Costa Pereira, 2018, 60), seguida de conversa (via zoom) com Yara Costa

Yara Costa (1982) nasceu em Moçambique. Depois de ter terminado o ensino secundário na África do Sul, estudou jornalismo na Universidade Federal Fluminense, no Brasil. Após um mestrado em cinema documental na Universidade de Nova York, frequentou um curso de cinema em Cuba.


29.09.2023 | por martalanca | Descolonização, mulheres

etceteras, festival feminista de design e edição

Apresentamos: etceteras: uma celebração das muitas mãos que circulam textos feministas! Casa Comum, Praça Gomes Teixeira, Porto, Portugal,  5–7 outubro 2023.

Totalmente aberto e gratuito, este festival de três dias inclui palestras, workshops, conversas, performances, projecção de filmes, tour feminista, e uma Feira do Livro. 

Feminismos são redes colectivas de literacia. É através dos esforços interligados de escritoras, editoras, designers, artistas, impressoras, livreiras, distribuidoras, tradutoras, investigadoras, bibliotecárias, contrabandistas—e tantes outres—que as ideias feministas circulam. E quando o fazem, movem-nos e criam movimentos.

As palestrantes Bec Wonders, Hilda de Paulo, Loraine Furter, Raquel Lima, e Sharmaine Lovegrove, exploram histórias de mulheres na publicação, ferramentas editoriais feministas, imprensa LGBTQIA+, contrangimentos na escrita académica, e muito mais. As conversas com Ellen Lima Wassu, Paula Guerra, Carla Fernandes e outres mergulham nos mistérios da tradução, nas plataformas digitais feministas e na pesquisa de arquivos marginalizados. As exibições de filmes permitem-nos espreitar as histórias escondidas de editoras, jornalistas e escritoras na sua conquista de espaços de disseminação de mensagem radicais e anti-hegemónicas.

Os workshops com Alícia Medeiros, Flavia Doria, Gabriela do Amaral, Isabeli Santiago, MACHEIA, Mio Kojima, Parasto Backman, e Susana Carvalho oferecem novas competências e perspectivas sobre escrita criativa, tipografia, criação de zines, espaço urbano e muito mais. A Feira do Livro reúne 26 editoras, livreiras, e colectivos editoriais de Portugal, Espanha, França, Reino Unido, Holanda, Suécia, México, Uruguai e mais além. Ao final do dia 7 de outubro, sábado, o festival termina com uma perfomance de voz e áudio pela artista Ece Canlı.

A equipa de curadoria do etceteras é formada pela designer e investigadora Isabel Duarte, pela antropóloga, designer e educadora Maya Ober, e pela designer e editora Nina Paim, apoiada pela produção executiva da investigadora Geanine Escobar. etceteras é co-produzido pela Associação Cultural Calote Esférica e pela plataforma feminista Futuress

Marquem nos vossos calendários, passem a palavra, e venham reunir-se connosco para que o etceteras seja um evento inesquecíve!

Geanine, Isabel, Maya e Nina

Palestras

  • As redes de publicação da segunda onda feminista com a historiadora Bec Wonders.
  • O percurso de Sharmaine Lovegrove desde livreira até se tornar directora da Dialogue Books.
  • Entraves, barreiras e constragimentos na edição académica pelos olhos da poeta
    e investigadora Raquel Lima.
  • Ferramentas editoriais feministas com a designer Loraine Furter.
  • processos de exclusão de pessoas trans e travestis no mercado literário português dissecados pela artista Hilda de Paulo.

Workshops e Tours

  • escrita de correspondência com a designer Mio Kojima.
  • Artesania e autoria coletiva com o coletivo MACHEIA.
  • tipografias contra-hegemônias com a designer Parasto Backman.
  • Wikipedia, edição e ativismo com a jornalista Flavia Doria.
  • Silêncios, maternidade e a procura de uma nova língua com a poeta Gabriela do Amaral.
  • Fanzines mão-na-massa com a designer Susana Carvalho do atelier Carvalho-Bernau.
  • Tour Feminista do Porto com a arquiteta Alícia Medeiros e a curadora Isabeli Santiago.

Conversas moderadas

  • Arquivismo e narrativas fora da história instituída com a socióloga Paula Guerra e a historiadora Joana Matias.
  • Práticas de tradução que aproximam mundos com a editora Maria Múr Dean e a poeta
    Ellen Lima Wassu.
  • Tecnologias e plataformas digitais na organização e mobilização feminista com Carla Fernandes da Afrolis.pt e Zinthia Alvarez Palomino da Afrofeminas.com.

Filmes

  • Para Não Esquecer Virgínia Quaresma acompanha a vida de Virgínia Quaresma uma activista negra e lésbica, considerada a primeira mulher jornalista em Portugal.
  • O que Podem as Palavras é um relato em primeira mão das três autoras do livro As Novas Cartas Portuguesas, de 1972, que foi censurado em Portugal e criou uma onda de solidariedade com feministas de todo o mundo. 
  • The Books We Made conta a história de Kali for Women, a primeira editora feminista da
    Índia fundada por Urvashi Butalia e Ritu Menon em 1984.

Feira do Livro 

Nas bancas da Feira do Livro poderá descobrir-se o legado da literacia feminista através de livros, revistas, fanzines, edições, cartazes, jornais, ilustrações e muito mais! A Feira centra-se em editoras, livreiras, e coletivos editoriais que amplificam perspectivas historicamente marginalizadas, incluindo Almanac Press, “Amor?Luta!”, Archive Books, Cahiers des typotes, culturala, Edições Afrontamento, Félixe Kazi-Tani, ​​Girls Like Us magazine, ​​gentopia, Greta Livraria, Revista Leonorana, Hangar Books, Hopscotch Reading Room, Important & Stupid, microutopías, Mujeres negras que cambiaron el Mundo, Occasional Papers, Page Not Found, Roxanne Maillet, Sapata Press, Sismógrafo, Sold Out.

Créditos

Curadoria: Isabel Duarte, Maya Ober & Nina Paim

Produção Executiva: Geanine Escobar

Design gráfico: Joana & Mariana

Website: ReadyMag, a tool for creating websites without code.

Tipografia: Parallel, Joana Siniavskaja

Revisão: Susana Camanho (PT) & Sacha Fortuné (EN)

Consultadoria Curatorial: Isabeli Santiago

Local: Casa Comum, Universidade do Porto

Produção: Calote Esférica & Futuress.org

Apoio: Criatório, dgArtes, Graham Foundation & ProHelvetia

O nosso website foi desenvolvido e desenhado pela Readymag, uma ferramenta intuitiva que oferece composição livre e configurações de tipografia avançadas 

Design gráfico: Joana & Mariana; Tipografia: Parallel, by Joana Siniavskaja; © etceteras: festival feminista de design e edição

29.09.2023 | por martalanca | edição, feminismos

Open Restitution Africa

No âmbito das atividades do Grupo de Trabalho – Reparação e Restituição do GI-Práticas e Políticas da Cultura do Centro em Rede de Investigação em Antropologia CRIA no dia 25 de setembro, das 16h às 18h na Associação Passa Sabi, terá lugar a apresentação do projeto OPEN RESTITUTION AFRICA. 

O projeto, liderado por Áfrican*s, reúne dados sobre os atuais processos de restituição em todo o continente africano, serve como portal de estudos de caso e exemplos de melhores práticas, e incentiva um debate baseado em dados, aprofundado e desafiador sobre as complexidades, responsabilidades e imperativos éticos da restituição. O projeto é impulsionado pela necessidade de tornar central e acessível a amplitude do conhecimento que está a ser construído em torno dos debates sobre restituição, mas também para a urgência de uma abordagem afro-centrada conduzida pelos próprios africanos. 

Por que é importante?

Atualmente, a informação disponível para os profissionais, as partes interessadas e para o público em geral é escassa, sobre o atual estatuto internacional da restituição – debates, políticas e práticas no continente. Por causa disso, não somos capazes de observar tendências, mudanças e impactos objetivos, e permitir que mais pessoas operem a partir de uma posição de conhecimento. 

O que precisamos de saber?

 

Programa do dia 

16.00-16.05 Introdução por Laura Burocco

16.05-16.40 Apresentação ORA Report por Molemo Moiloa com tradução consecutiva do Inglês pelo Portuguese da Lara Menezes do NEAL-NOVA e Bernardo Smith Lima do NEAISCSP-UL

16.40-17.40 Debate

18.00 Encerramento

Dia : Segunda 25 de Setembro de 2023 

Local :  Associação Passa Sabi -  R. Augusto Abelaira 1600, Lisboa

Horário: 16.00-18.00 

Promotores : CRIA através do seu Grupo de Trabalho - Reparação e Restituição

Parceiros : NEAL-NOVA-Núcleo de Estudos Africanos e Lusófonos da Nova; ISCSP - UL -Núcleo de Estudantes Africanos; Mamadou Ba- SOS Racismo; Apolo de Carvalho; Associação Passa Sabi. 

Molemo Moiloa lidera a pesquisa na Andani.Africa. Vive e trabalha em Joanesburgo, em diversas funções na intersecção da prática criativa e da organização comunitária. O trabalho académico de Molemo centra-se nas subjetividades políticas da juventude sul-africana. Colabora artísticamente com MADEYOULOOK, que explora imaginários populares do cotidiano e suas modalidades de produção de conhecimento. Foi Diretora da Rede de Artes Visuais da África do Sul (VANSA). Molemo também trabalha com o Market Photo Workshop, os departamentos da Escola de Artes e Antropologia Social da Universidade de Witwatersrand, entre outros. Possui bacharelado em Belas Artes e mestrado em Antropologia Social pela Wits University.

MADEYOULOOK foi indicado para o Prêmio Vera List Center de Arte e Política 2016/17 na New School, Nova York. Molemo foi Chevening Clore Fellow 2016/17 e vencedor do Prêmio Vita Basadi em 2017.

20.09.2023 | por martalanca | Open Restitution Africa

Chamada de Trabalhos | Reparar (n)o Irreparável (N.º 13) |

De 18 de setembro a 31 de dezembro de 2023

Editoras temáticas: Ana Cristina Pereira (Universidade do Minho, Portugal), Gessica Correia Borges (Universidade do Minho, Portugal) e Marta Lança (BUALA)

Propomos, neste novo número da Vista, pensar as reparações do mundo estilhaçado em que vivemos enquanto um programa de contravisualidade, no sentido em que procura compreender a mentira instituída pela visualidade e propor-lhe alternativas (Mirzoeff, 2011, 2023). Esta sugestão comporta a consciência da sua própria impossibilidade conceptual e ética, uma vez que implicaria acabar com este mundo para que uma nova possibilidade de vida pudesse emergir (Ferreira da Silva, 2022; Mbembe, 2020/2021). No entanto, a consciência do direito à reparação é tão antiga como o colonialismo e a escravatura, e tem sido uma demanda das vítimas desses processos históricos (Araujo, 2017; Azoulay, 2019; Savoy, 2022). Face à impossibilidade de reparar a brutalidade da violência colonial (Mbembe, 2020/2021) — a ocupação, a espoliação, o etnocídio, o desenraizamento, os raptos, as violações, o epistemicídio, o saque em grande escala, e o extrativismo — é preciso, ainda assim, fazer a sua “necrologia” (Hicks, 2020), insistir no gesto de reparação, através de uma “ética da incomensurabilidade” (Tuck & Yang, 2012), parte essencial de um processo de cura e cuidado permanentes.

Hoje, por todo o mundo, governos de antigas potências coloniais e instituições — como a universidade e o museu — estão a ser pressionados para estabelecer políticas de reparação. Nestas se incluem acautelar os direitos dos descendentes de espoliados e escravizados, pedidos de desculpa pelas atrocidades do colonialismo e pela prática da escravatura em larga escala, a implementação de políticas afirmativas (por exemplo, quotas étnico-raciais no acesso à universidade e aos lugares de decisão nas estruturas), a revisão das narrativas históricas e, consequentemente, dos curricula (através da inclusão de narrativas, sujeitos históricos e artistas até agora excluídos), a devolução de objetos saqueados, a descolonização do espaço público (por exemplo, através do desmantelamento de estátuas racistas e a memorialização às vítimas da escravatura), o perdão de dívidas odiosas e o pagamento de indemnizações.

A discussão sobre os processos de reparação não é de hoje, mas tem vindo a ganhar preponderância à escala mundial, e em Portugal aparecem pontualmente vozes que querem participar nessa conversa global, sobretudo na academia, mas também fora dela, como na Assembleia da República, no meio artístico e no ativismo. Destacamos, neste âmbito, o “IV Encontro de Cultura Visual” e a Oficina de Reparações organizados por Ana Cristina Pereira e Inês Beleza Barreiros, coordenadoras do Grupo de Trabalho de Cultura Visual da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, em colaboração com o teatro da mala voadora (Porto), entre 23 de junho e 8 de julho de 2023, onde se procurou articular práticas artísticas, académicas e do ativismo social em torno do tema reparações. O presente número da Vista pretende também ser uma continuação do trabalho desenvolvido durante esse período.

Convidamos à submissão de trabalhos (que podem ser disruptivos relativamente ao formato tradicional de textos em revistas científicas) que contribuam para o debate crítico e contra-hegemónico, sobre:

  • Reparar restituindo: sobre as restituições dos objetos roubados, adquiridos em circunstâncias pouco claras ou no âmbito de uma relação de poder colonial (Figueiredo, 2022), e a repatriação de restos humanos. Sobre como descolonizar os museus e “curadorias do desconforto” (Vlachou, 2022);
  • Reparar o espaço público: sobre as políticas de memória no espaço público, sejam as estátuas, os nomes das ruas, decoração de espaços de poder, entre outros. Sobre o “trabalho da memória como reparação” (Sturken, 2022);
  • Reparar a narrativa histórica: sobre os programas escolares, os compêndios e as suas imagens, as fontes (visuais) da narrativa histórica e a representatividade (Sousa et al., 2022);
  • Reparar a paisagem: sobre ecologia e política, o extrativismo e como combatê-lo. Sobre formas de “justiça reparativa” que contemplem também a natureza;
  • Reparar através da arte: sobre o papel da produção artística e das práticas culturais nestes processos (Demos, 2020; Eugénio, 2019). Como estes estão a ser trabalhados e com que resultados;
  • Outros temas que possam contribuir para a reflexão sobre reparações e visualidade.

 

DATAS IMPORTANTES

Submissão (texto completo): de 18 de setembro a 30 de novembro de 2023
Publicação do número: edição contínua (janeiro a junho de 2024)

LÍNGUA

Os artigos podem ser submetidos em inglês ou português. Os artigos selecionados para publicação serão traduzidos para português ou inglês, respetivamente, devendo ser publicados integralmente nos dois idiomas.

EDIÇÃO E SUBMISSÃO

Vista é uma revista académica de acesso livre, funcionando de acordo com exigentes padrões de revisão por pares, operando num processo de dupla revisão cega. Cada trabalho submetido será enviado a dois revisores previamente convidados a avaliá-lo, de acordo com a qualidade académica, originalidade e relevância para os objetivos e âmbito da revista.

Os originais deverão ser submetidos através do website da revista (https://revistavista.pt/). Se está a aceder à Vista pela primeira vez, deve registar-se para poder submeter o seu artigo (indicações para se registar aqui).

O guia para os autores pode ser consultado aqui.

Para mais informações, contactar: vista@ics.uminho.pt

 

REFERÊNCIAS

Araujo, A. L. (2017). Reparations for slavery and the slave trade. Bloomsbury.

Azoulay, A. A. (2019). Potential history: Unlearning imperialism. Verso.

Demos, T. J. (2020). Beyond the worlds’ end: Arts of living at the crossing. Duke University Press.

Eugénio, F. (2019). Caixa-Livro AND. Editora Fada Inflada.

Ferreira da Silva, D. (2018, 4 de outubro). A dívida impagável. Bualahttps://www.buala.org/pt/mukanda/a-divida-impagavel-lendo-cenas-de-valor...

Figueiredo, J. (2022). Falling into history: A case for the restitution of Mbali tombstones and the revival of the realms of memory of the enslaved. Postcolonial Studieshttps://doi.org/10.1080/13688790.2022.2152163

Hicks, D. (2020). The brutish museums. The Benin bronzes, colonial violence and cultural restitution. Pluto Press.

Mbembe, A. (2021). Brutalismo (M. Lança, Trad.). Antígona. (Trabalho original publicado em 2020)

Mirzoeff, N. (2011). The right to look: A counterhistory of visuality. Duke University Press.

Mirzoeff, N. (2023). White sight. Visual politics and practices of whiteness. MIT Press.

Savoy, B. (2022). Africa’s struggle for its art: History of a postcolonial defeat. Princeton University Press.

Sousa, V., Khan, S., & Pereira, P. S. (2022). Reparações históricas: Desestabilizando construções do passado colonial. Comunicação e Sociedade41, 11–22. https://doi.org/10.17231/comsoc.41(2022).4039

Sturken, M. (2022). Terrorism in American memory: Memorials, museums, and architecture in the post-9/11 era. New York University Press.

Tuck, E., & Yang, K. W. (2012). Decolonization is not a metaphor. Decolonization: Indigeneity, Education & Society1(1), 1–40. https://jps.library.utoronto.ca/index.php/des/article/view/18630

Vlachou, M. (2022). O que temos a ver com isso? O papel político das organizações culturais. Buala; Tigre de Papel.

mais informações.

18.09.2023 | por martalanca | Reparações

Bustagate, de Welket Bungué

Bustagate, um ano depois do incidente do Bairro da Jamaica (zona da margem Sul de Lisboa) eis o panorama escandaloso da violência e desigualdade social em Portugal. Eis um filme-intervenção póstumo à sua personagem imaginária, dedicado aos portugueses. 

Bustagate é um filme híbrido, que mistura textualidade e três narrativas visuais para contar e asfixiar o público, fingindo colocá-los no mesmo lugar que a nossa defraudada Sociedade, personificada pela nossa heroína Cláudia Simões. Bustagate, surge um ano depois do incidente do Bairro da Jamaica (zona da margem Sul de Lisboa). Através dos comentários do artista como agente político em nome do Ministério Público Português, Welket faz o recorte de um panorama escandaloso e desajustado de violência e desigualdade social em Portugal. Antes da estreia  em festival, a crítica ao filme feita pelo website Hoje Vi(vi) Um Filme diz “Desde o sentimento de pertença/não pertença ao país que é nosso mas não nos tem como seus, ou ao país que nos acolhe mas onde há alguém que prefere usar da violência e do preconceito para não nos tratar como iguais, retirando direitos a quem os detém, Bustagate clama a defesa dos que foram e ainda são oprimidos pela brutalidade retrógrada. Clama Liberdade, Igualdade e Justiça.” Assim sendo, a estreia do filme é assumida através das redes sociais, num momento em que o mundo clama por um sentido democrático de direitos que se desvanece, através de uma mobilização gobal massiva pelo movimento #blacklivesmatter que em Portugal despertou as silenciadas indignações da diáspora africana e portuguesa, que conhece bem o que é dor e perda. Aqui está um filme-intervenção póstumo ao personagem imaginário aqui chamado Pretugal (personificando o Luís Giovani Rodrigues), dedicado ao povo português (aos tradicionalmente “nativos” e aos descendentes do continente africano que nasceram aqui). Esta criação segue o assunto principal retratado no filme-manifesto Eu Não Sou Pilatus (Seleção Oficial DocLisboa - Competição Internacional, 2019).

Um curta-metragem de Welket Bungué, baseado em fatos reais do caso de “Brutalidade policial contra Cláudia Simões” (Amadora, Portugal, 19 de janeiro de 2020). Com a participação de Isabél Zuaa e Cleo Tavares. Criação da KUSSA PRODUCTIONS, filmado em Cabo Verde, com imagem e som de vídeos virais online de vários autores. In memoriam Luís Giovani Rodrigues, o estudante caboverdiano que morreu em Dezembro de 2019, após ter sido agredido por pelo menos dez homens em Bragança (norte de Portugal).

‘Bustagate’ is a hybrid movie, mixing textuality and three visual narratives to tell and asphyxiate the audience, pretending to put them in the same place as our deflated heroine (society).

“We will try to understand what are the civil rights problems in our society. We still believe that our domination over four centuries in Africa, South America and everywhere else was an important mission that bridged the humanity, although we don’t know why they still come to our country P*rtugal.” ‘Bustagate’ is a hybrid movie, mixing textuality and three visual narratives to tell and asphyxiate the audience, pretending to put them in the same place as our deflated heroine (society). ‘Bustagate’ emerges one year after the incident in the neighborhood of Jamaica (south bank of Lisbon). Through the artist commentaries as a politician agent on behalf of the Portuguese public prosecutor, Welket reports a scandalous and misfit panorama of violence and social inequality in Portugal. Here is a posthumous interventional film for this imaginary character called Pretugal (as Luís Giovani Rodrigues), dedicated to the Portuguese people (“natives” and the descendants of the African continent who born here). This creation follows the main subject of the previous manifesto-film ‘I Am Not Pilatus’ (Official Selection DocLisboa - International Competition, 2019).

A short film by Welket Bungué, based on true facts from the case of “Police brutality against Cláudia Simões” (Amadora, Portugal 19th January 2020). Performed by Isabél Zuaa & Cleo Tavares. A KUSSA PRODUCTIONS’ creation, filmed in Cape Verde, with image and sound from online viral videos by several authors. In Memoriam of Luís Giovani Rodrigues, the Cape Verdean student who died after been assaulted by at least ten men in Bragança (North of Portugal).

Kussa Productions © ALL (CIVIL) RIGHTS MUST BE (P)RESERVED, 2020

16.09.2023 | por martalanca | Bustagate, Cláudia Simões, Welket Bungué

LIBERTAR A MEMÓRIA Ciclo de Cinema

Junho a Setembro 2023 DESTAQUE - SESSÃO 23 DE SETEMBRO

Curadoria: KITTY FURTADO

SÁBADO - 17:30

Entrada livre com pré-reserva: ccf@cineclubefaro.pt

Seguir Evento: fb.me/e/567I8wmo3 | Vídeo-Trailer Libertar a Memória

Filmes:

Eu não sou Pilatus / I’m not Pilatus (2019) - Portugal, DOC, 11min

Realização, montagem e edição: Welket Bungué

+

Monumento Catástrofe (2022) - Portugal, DOC, 69min

Realização: Colectivo Left Hand Rotation

Produção: Cósmica

Música: Daniel Birch, Fuck Buttons 

Eu não sou Pilatus (2019) de Welket Bungué (Guiné-Bissau, 1988) é um manifesto artístico antirracista, feito através do diálogo entre dois vídeos de telemóvel, difundidos nas redes sociais, que testemunham dois olhares distintos e opostos sobre Portugal, a democracia e as suas instituições. Um destes vídeos expressa a total rejeição de uma manifestação por direitos civis na Avenida da Liberdade, em Lisboa. O outro é a denúncia da carga policial no Bairro da Jamaica, que deu origem à referida manifestação. A montagem reflexiva de Bungué chama-se Eu não sou Pilatus – Dizer eu não sou Pilatus é desde logo um posicionamento político. Eu não sou Pilatus quer dizer eu não lavo as minhas mãos como Pilatus; eu não me abstenho, eu não enfio a cabeça na areia, eu não olho para o lado, eu não ignoro o problema. Ao dizer eu não sou Pilatus, Welket Bungué deixa implícita uma pergunta: e vocês?

Monumento Catástrofe (2022) do coletivo Left Hand Rotation é um road-movie, em Portugal, que mapeia uma parte da construção do espaço público de forma crítica, partindo da ideia de Catástrofe, que está também relacionada com fatores locais e globais e relações de poder. O que é uma Catástrofe? Quem nomeia um dado acontecimento como Catástrofe? Quem decide memorializar determinadas Catástrofes, como e para quê? Para quem? Monumento Catástrofe forma um díptico com o livro A volta ao Mundo em 80 catástrofes – especial Portugal, que é editado como um guia turístico e revela o fenómeno natural, o capitaloceno, a necropolítica e o acidente enquanto produtores das catástrofes.

Os monumentos, incluindo memoriais, podem funcionar como ativadores da memória que desvelam discursos e atrocidades passadas. Como nos diz Patrícia Freire, da Cósmica – a produtora, narradora e chofer desta viagem - «Não esquecer é um ato de resistência e o monumento também cumpre essa função de “despertar as centelhas da esperança” ao contribuir para que os erros do passado não ressurjam».

A comunidade que se cria numa sala de cinema pela partilha de um filme pode virtualmente transformar o mundo. Assim, ainda que a história partilhada venha do passado o cinema projeta-se no futuro como o melhor companheiro para o presente.

Kitty Furtado sobre Libertar a Memória - Sessão 23 de Setembro 

Aveiro, 2023

O Cineclube de Faro traz este ano à Fortaleza de Sagres o ciclo de cinema Libertar a Memória, com coordenação artística de Luísa Baptista que decorre uma vez por mês, sempre aos sábados, pelas 17:30h durante os meses de Junho a Setembro, com entrada livre através de pré-reserva: ccf@cineclubefaro.pt

Através de escolhas de um grupo de curadores convidados vamos abordar o tema Patrimónios (des)confortáveis do DiVaM 2023, com os contributos de Gisela CasimiroLuca ArgelSuzano Costa e Kitty Furtado que em cada mês serão responsáveis pelo conteúdo a exibir. Temas como (des)colonização, escravatura, segregação social, lugares e identidades, formas de organização, dicotomias sociais e culturais, aqui numa pluralidade de perspectivas e visões alternadas de questões fragmentárias da sociedade, que à luz dos acontecimentos actuais, sugerem que talvez a História não esteja assim tão bem contada.

Haverá também uma curadoria literária da responsabilidade de Marta Lança e do projecto Buala - livros escolhidos para enquadrar, desafiar e abrir novos caminhos e que poderão ser adquiridos em cada sessão

 

Agradecemos a vossa divulgação desta iniciativa e convidamos desde já a estarem presentes nas próximas sessões.


 Downloads_Press Kit: press release editável, imagens e todos os materiais exclusivos para Imprensa nesta pasta: 


 Press-kit - 23 de Setembro - Libertar a Memória

Mais informações:

Comunicação: Luísa Baptista - 966 803 707

E-mail: ccf@cineclubefaro.pt

Site: https://www.cineclubefaro.pt/libertar-a-memoria

Facebook: www.facebook.com/cineclubefaro

Instagram: www.instagram.com/cineclube_faro/

Youtube: www.youtube.com/@cineclubedefaro8605

 

Libertar a Memória é um projeto do Cineclube de Faro, com a coordenação e direção artística de Luísa Baptista, apoiado pela Direção Regional de Cultura do Algarve / DiVaM - Dinamização e Valorização dos Monumentos.

Conta com BUALA e a livraria A Internacional como parceiros e com apoio da Multicópias - Centro de Soluções Gráficas.

 

14.09.2023 | por martalanca | libertar a memória

Festival Interferências

15,16 e 17 de setembro Projecto da Companhia Olga Roriz de apoio à criação anuncia programação completa

A 3.ª edição do Interferências, festival bi-anual de apoio à criação da Companhia Olga Roriz, realiza-se de 15 a 17 de setembro, nos diferentes espaços do Palácio Pancas Palha, em Lisboa.
As portas abrem no dia 15 de Setembro às 17h e nos dias 16 e 17 de Setembro às 15h. 

O Interferências partiu de uma vontade de acolher, apoiar e incentivar a criação artística, procurando expandir as suas possibilidades, ao cruzar espectáculos, conversas de jardim e uma feira focada em edições realizadas por artistas.

O Interferências define-se pelo seu lado plural, experimental e transversal a várias práticas artísticas, numa lógica de relação horizontal entre público, artistas e programadores culturais, contribuindo assim para uma ampliação das escalas de visibilidade dos projectos seleccionados.
Segundo Bruno Alexandre, director do Interferências: “Ao pensarmos o Festival Interferências, reconhecemos que as palavras desejo e fragilidade estão presentes desde a primeira edição.

O desejo assenta na vontade de criar um espaço real, embora efémero, onde oito projectos artísticos possam expor o seu imaginário, fruto de uma residência artística de um mês, onde procuramos proporcionar as condições de trabalho para uma nova criação.

A ideia é transformar o Palácio Pancas Palha, espaço de trabalho da Companhia Olga Roriz, numa rede de intimidade onde o risco é vivido de uma forma colectiva, assumindo a interferência não como um ruído que afasta, mas como a vibração necessária e urgente que une o trabalho artístico.

E aqui chegamos à fragilidade, palavra que tem estado na linha da frente do estado de excepção permanente em que se vive na área da cultura, propondo que a olhemos com a instabilidade que a define, deslocando-nos para a possibilidade de a habitarmos em conjunto, seja na forma de um espectáculo, de uma conversa de jardim, ou de uma feira do livro imaginada por um conjunto de artistas.

Sabendo que é um privilégio poder continuar a insistir, continuaremos a fazê-lo, porque após duas edições, parece-nos importante manter um espaço que assume o compromisso e a urgência de ser casa de todxs aqueles que ainda não vimos e não conhecemos, questionando o porquê de não estarem aqui.”

 

11.09.2023 | por martalanca | dança, Festival Interferências

SABURA FESTIVAL.

Acontecerá já no próximo fim de semana (8, 9 e 10 de setembro) o SABURA FESTIVAL. Sabura, palavra do Criolo cabo verdiano e guineense significa “momento ou atividade que dá prazer ou alegria”. É isso que o festival pretende, criar momentos de “comunhão entre povos e culturas, uma celebração da vida, do amor, da alegria e da liberdade, ao som de ritmos dos mais diversos estilos e origens.”

O festival será no SESIMBRA NATURA PARK e terá 5 palcos e mais de 80 artistas, da recriação da música popular portuguesa, do samba ao reggae, passando pelo hip hop, música africana e balcânica, eletrónica. 

Alguns artistas são conhecidos do público, outros virão pela primeira vez a Portugal. O festival pretende ser não só diversão e festa, mas também um espaço para partilha de projetos, encontros de associações e ativismos, reforçando a consciencialização cultural e os debates de ideias. Tem já nesta edição, o acolhimento de 2 projetos sociais, Porbatuka, que traz formação musical a jovens da zona da Costa da Caparica e também o projeto Lolaboard 360 que leva a prática do skate a diferentes comunidades. 

Há ainda outros programas para todas as idades com: yoga, capoeira, skate, kayak, arborismo, artesanato, prova de vinhos, feira de gastronomia, atividades para crianças. Por ser fora de uma zona urbana, este é um festival onde se pode pernoitar em campismo ou glamping, e ainda há disponibilidade para reservas.

Um dos nomes a descobrir neste festival, Nish Wadada, a diva do reggae cabo verdiano, tem sido presença habitual em vários festivais pela Europa e vai atuar com BlackBoard Jungle.  As palavras da mesma, dadas em entrevista ao jornal caboverdiano Expresso das Ilhas, refletem a importância da iniciativa e produção de encontros culturais como este: 

Estar de volta aos palcos da Europa levando a minha música, as minhas mensagens e a bandeira de Cabo Verde, a públicos de diferentes países, quando a Europa vive, atualmente, vários desafios relacionados com a imigração, racismo e maior justiça social, é uma grande responsabilidade” 

A Programação de sexta feira e domingo será das 15horas àté à 1 hora da manhã.

No Sábado, dia 9, das 12 horas até às 6 da manhã. 

Ainda há lugares para campismo e para voluntariado, espreitem as redes sociais do Festival e descubram mais. Espera-se que o SABURA estreie com sol e muito público! 

04.09.2023 | por martalanca | SABURA FESTIVAL.

Conversas por Fazer”: Joacine Katar Moreira e Ellen Lima Wassu

Conversas por Fazer”, promovido pelo colectivo O Lado Negro da Força, regressa ao Goethe-Institut no próximo dia 2 de Setembro, às 15h, para mais uma discussão temática. Com o título “Dívida histórica: como reparar os crimes do passado?”, o encontro vai juntar à conversa a historiadora Joacine Katar Moreira, e a poeta e investigadora Ellen Lima Wassu. Enquanto Joacine apresentou na Assembleia da República, em 2020, uma proposta para implementação de um programa de “descolonização da cultura”, prevendo a restituição aos países de origem, de “todas as obras, objectos e património trazidos das ex-colónias”, Ellen integrou a “Oficina de Reparações” que, no passado mês de Julho, emitiu a “Declaração do Porto”, para “alargar e aprofundar o debate sobre reparações históricas em Portugal”. A entrada é livre.

30.08.2023 | por martalanca | Ellen Lima Wassu., joacine katar moreira

Teleteatro de Bissau

Teleteatro de Bissau é uma mostra de teleteatros guineenses, realizados na Guiné-Bissau e na sua diáspora em Portugal. Geradores de fluxos artísticos entre geografias, dão a conhecer, com humor, formas de invisibilidade social, nomeadamente os desafios de quem luta por uma vida melhor, emigrando ou dubriando …. 

Calendarização 

2 de Setembro

Barafunda (2006; 118’) de Mário de Oliveira

Sinopse: História de uma família de classe média baixa de Bissau, em que o pai não consegue mais ser o provedor da família, e a mãe tem de assumir esse papel, vingando na economia informal. Esta foi a história vivida à época por muitas famílias, para responder à crise económica e política que assolou o país, desencadeando transformações estruturais na sociedade.

9 de Setembro 

Lixo de Europa (2022; 8’) de Nbana Kabra & Samba Tenen

Sinopse: Curta-metragem sobre emigrantes respigadores, nos contentores de lixo na zona de Queluz. 

Fera di Bamdé (2018; 10’) de Nelka Lopes

Sinopse: História de uma mulher, que foi repatriada para a Guiné-Bissau. Retratando o quotidiano guineense, o filme foi realizado no Carregado, em Portugal.

A Lisboeta (2023; 28’) de Tcharlaça Comedy Bissau

Sinopse: Depois de viver muitos anos em Lisboa, uma mulher regressa à Guiné-Bissau, para tentar a sua sorte. 

Poder di Tchom (2022; 22’) de Tcharlaça Comedy Bissau

Sinopse: As aventuras de um jovem guineense que deseja imigrar para a Europa.

30.08.2023 | por martalanca | Bissau, Teleteatro

Terra e Democracia

segundas, 19-23h, sala 105,  FFLCH, https://edisciplinas.usp.br/course/view.php?id=112797

Jean Tible jeantible@usp.br

Em Discurso sobre a origem os fundamentos da desigualdade entre os homens (1754), Jean-Jacques Rousseau situa a questão da propriedade da terra como cerne da irrupção da desigualdade. Em célebre passagem, o filósofo de Genebra imagina essa virada: “O primeiro que, tendo cercado um terreno, atreveu-se a dizer: Isto é meu, e encontrou pessoas simples o suficiente para acreditar nele, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras, assassínios, quantas misérias e horrores não teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, houvesse gritado aos seus semelhantes: ‘Evitai ouvir esse impostor. Estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não é de ninguém!’”

A questão dos cercamentos aparece em contexto bastante distinto, em publicação recente (2010) de um pensamento antigo. O que costumamos chamar de “meio ambiente”, insiste Davi Kopenawa em A queda do céu, é composto tanto por humanos quanto pelos “xapiri, os animais, as árvores, os rios, os peixes, o céu, a chuva, o vento e o sol! É tudo o que veio à existência na floresta, longe dos brancos; tudo o que ainda não tem cerca. As palavras da ecologia são nossas antigas palavras, as que Omama deu a nossos ancestrais”. Os processos de colonização buscam ignorar e aniquilar essa multiplicidade de seres-habitantes dessas espacialidades. Pode-se compreender desse modo o conceito jurídico de terra nullius – clássica aspiração tirânico da página em branco sobre a qual escreve fortes páginas Naomi Klein em A doutrina do choque, analisando os planos neoliberais do poder dos anos 1970 para cá.

Em seus estudos acerca do sistema político-econômico capitalista ao qual se dedicou toda sua vida, Karl Marx opõe a propriedade comunal – que seria no princípio generalizada – à privada. Se nos Manuscritos Parisienses (1844), o pensador europeu caracteriza “a propriedade fundiária” como “raiz da propriedade privada”, em A nacionalização da terra (1872) defende que “a propriedade do solo é a fonte original de toda riqueza, e ela se transformou no grande problema cuja solução determinará o futuro da classe operária”. Salienta, ademais, que juristas, filósofos e economistas “disfarçam esse fait initial da conquista sob o argumento do ‘direito natural’” – evidentemente direito natural de alguns. Seu primeiro texto sobre uma questão material, no qual acompanha a discussão na Dieta renana para definir se a prática tradicional de colheita da lenha por parte dos pobres configurava-se num roubo ou não. Com a madeira valorizada por sua integração no circuito mercantil, havia uma pressão dos proprietários de terra para transformar a colheita da lenha em delito. A alternativa a isto seria sua manutenção como bem para satisfação de necessidades elementares e um embate, então, ocorre entre duas formas de direito, o de propriedade e o dos costumes, que incluía direito de passagem, de pasto e colheita de lenha. Estava, assim, em jogo a definição da propriedade.

Tal questão da terra é onipresente em certos debates político-intelectuais. Ativo participante da República dos Conselhos da Bavária em 1919, o poeta e anarquista Gustav Landauer percebe “o combate do socialismo” como “um combate pelo solo”. O capitalismo somente existe pelo fato de as “massas serem sem-terra” e a revolução se sintoniza com uma grande transformação no regime da propriedade fundiária, na qual o chão “volta a ser o portador da vida comum e da obra comum”. Em outro contexto, movimentos formulam essa antiquíssima demanda por justiça com o lema de terra e liberdade, do México revolucionário e da resistência ao jugo czarista à Catalunha em ebulição passando pela multiplicidade de mobilizações camponesas atravessando tempos e espaços.

Propõe-se, desse modo, estudar essas questões, da terra e da democracia, articuladas. Tal esforço é efetuado a partir do Brasil, mas em conexão com processos de outras partes do planeta. Num primeiro momento, trata-se de compreender o surgimento do capitalismo e seu longo confronto com práticas de coletividades dissidentes, desde as comunidades anabatistas no século 16 no coração da Europa às organizações comunais dos povos indígenas, quilombolas e camponeses nas Américas. A segunda parte busca apreender a privatização da terra em três sessões: a história do Brasil, desde seu início, como apropriação fundiária; a atuação do ator econômico e político do agronegócio e o caso californiano de articulação entre acaparamento de terras rurais e economia carcerária.

A seção final do curso se dedica a experiências de retomadas, com dois exemplos históricos (a cabanagem, no Pará do início do século 19 e a revolução no México em 1910) e de um caso contemporâneo no extremo-sul da cidade de São Paulo. No fim de sua vida, Marx se debruça, para a redação do volume 3 de O Capital, sobre as sociedades agrárias. Recebe do historiador russo Kovalevsky seu livro Obshchinnoe Zemlevladenie e (re)pensa a distinção entre posse e propriedade da terra e sublinha a impossibilidade de aplicar o mesmo conceito de ‘propriedade’ usado para a Europa, para estudar sociedades onde a terra não pode ser alienada (vendida). Marx troca, num ponto que Oswald de Andrade enfatizará depois, sistematicamente “propriedade” por “posse” nesses chamados Cadernos Kovalevsky, indicando a comunidade/comuna como proprietária, ou melhor, possuidora da terra. À apropriação capitalista, pode ser contraposta outra, a reapropriação como retomada. Essa palavra não diz respeito a um tomar para si e ser dono absoluto de uma terra a ser dominada, mas de conviver e adaptar-se a ela, em consonância com os desafios urgentes (dada a emergência climática) de outras compreensões de naturezas-culturas e com inúmeras práticas cotidianas dos povos da terra. Por fim, a última sessão é dedicada à um debate a respeito dos elos costurados entre lutas pela terra e aspirações democráticas.

14 de agosto

abertura

Davi Kopenawa e Bruce Albert. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami.

São Paulo, Companhia das Letras, 2015 [cap. 23. O espírito da floresta].

Gustav Landauer. “The settlement” (1909) em Gabriel Kuhn (org.) Revolution and Other Writings: A Political Reader. Oakland, PM Press, 2010.

Manuela Carneiro da Cunha. “Povos da megadiversidade: o que mudou na política indigenista no último meio século”. Revista Piauí, n. 148, janeiro de 2019.

Habitantes da ZAD, Notre-Dame-des-Landes. Tomar a terra. São Paulo, Glac, 2021 [2019].

José Celso Martinez Corrêa. Sertões: histórias de Canudos. Instituto Moreira Salles, 3 de julho de 2019.

terras cercadas

21 de agosto

cristãos, comunistas, hereges

Friedrich Engels. “As guerras camponesas na Alemanha” (1850) em A Revolução antes da revolução – Vol. 1. São Paulo, Expressão Popular, 2008. [trecho]

Ernst Bloch. Thomas Müntzer, teólogo da revolução. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1973 [1921]. [trecho]

complementar:

Thomas Müntzer. Sermão aos príncipes, 1524.

Dagmar Talga. O Voo da Primavera (2019) - documentário sobre a vida de dom Tomás Balduíno.

28 de agosto

comum contra capital

Karl Marx. Os despossuídos: debates sobre a lei referente ao furto de madeira. São Paulo, Boitempo, 2017 [1842]. [trecho]

Karl Marx. O Capital: crítica da economia política (livro 1: o processo de produção do capital). São Paulo, Boitempo, 2013 [1867] [Capítulo 24 – A Chamada Acumulação Original].

complementar:

Troca de cartas entre Karl Marx e Vera Ivanovna Zasulitch (1881) em Michael Löwy (org.) Lutas de classes na Rússia. São Paulo, Boitempo, 2013. [trecho]

Pierre-Joseph Proudhon. O que é a propriedade? ou Pesquisa sobre o Princípio do Direito e do Governo. São Paulo, Martins Fontes, 1988 [1840]. [capítulos 1 e 2]                      

4 de setembro

antagonismo ameríndio

com Marina Ghirotto Santos e Salvador Schavelzon

Marina Ghirotto Santos. Conversas com florestas viventes: política, gênero e festa em Sarayaku (Amazônia equatoriana). Tese de doutorado em Antropologia Social, FFLCH/USP, 2023 [cap. 3 Terra: formas de cuidar e viver bonito].

complementar:

Ailton Krenak. “A Aliança dos Povos da Floresta” (entrevista de A. Krenak e Osmarino Amâncio, por Beto Ricardo e André Villas Boas, 10 de maio de 1989) em Sergio Cohn (org.) Encontros. Rio de Janeiro, Azougue, 2015.

Edward Valandra. “Mni Wiconi: water is [more than] life” em Nick Estes e Jaskiran Dhillon (orgs.). Standing with Standing Rock: Voices from the #NoDAPL Movement. Minnesota, University of Minnesota Press, 2019.

11 de setembro

brasil quilombola, terra preta

com Salloma Salomão e Ronaldo Santos

Antônio Bispo dos Santos. A terra dá, a terra quer. São Paulo, Ubu e Piseagrama, 2023.

Mariléa de Almeida. Devir quilomba: antirracismo, afeto e política nas práticas de mulheres quilombolas. São Paulo, Elefante, 2022. [introdução e capítulo 1]

complementar:

Joelson Ferreira de Oliveira. “Terra Vista, Terra-Mãe: Existência grandiosa no campo”. Caderno de Leituras n. 111 Série Políticas da terra. Edições Chão da Feira, Belo Horizonte, agosto de 2020.

Flávio dos Santos Gomes. Mocambos e quilombos: uma história do campesinato negro no Brasil. São Paulo, Claro Enigma, 2015. [trecho]

Clóvis Moura. Sociologia política da guerra camponesa de Canudos: da destruição do Belo Monte ao aparecimento do MST. São Paulo, Expressão Popular, 2000. [trecho]

propriedade fundiária, nó do brasil (e do mundo)

25 de setembro

A grilagem como fundamento

com Gustavo Prieto e Douglas Rodrigues Barros

Gustavo Prieto. “Nacional por usurpação: a grilagem de terras como fundamento da formação territorial brasileira” em Ariovaldo Umbelino de Oliveira (org.). A grilagem de terras na formação territorial brasileira. São Paulo, FFLCH/USP, 2020.

complementar:

Ariovaldo Umbelino Oliveira, Camila Salles de Faria e Teresa Paris Buarque de Hollanda. “Registros Públicos e Recuperação de Terras Públicas – Relatório Final”. Série Pensando o Direito n. 48, Brasília, Ministério da Justiça, 2012.

Douglas Rodrigues Barros. “O agro realmente é pop: sobre a hegemonia do sertanejo na era da pós-música”. Revista Rosa, vol. 7, março de 2023.

2 de outubro

O agronegócio

com Yamila Goldfarb e Caio Pompeia

Marco Antonio Mitidiero Junior e Yamila Goldfarb. O Agro não é Tech, o Agro não é Pop e Muito Menos Tudo. São Paulo, ABRA e FES Brasil, 2021.

Caio Pompeia. Formação política do agronegócio. São Paulo, Elefante, 2021. [trecho]

complementar:

Yamila Goldfarb. “Reforma agrária como política de reparação histórica para a população negra no Brasil”. Campo-Território: revista de Geografia Agrária, Uberlândia-MG, v.18, n.49, p. 330-344, abr. 2023.

Caio Pompeia. “Uma etnografia do Instituto Pensar Agropecuária”. Mana, 28 (2), 2022.

9 de outubro

Ajuste prisional: terras rurais e economia carcerária

com Bruno Xavier Martins

Ruth Wilson Gilmore. Golden gulag: prison, surplus, crisis, and opposition in globalizing. Los Angeles, University of California Press, 2007. [no prelo, São Paulo, Igrá Kniga, 2023, tradução de Bruno Xavier Martins]. [trecho]

complementar:

Jackie Wang. Capitalismo carcerário. São Paulo, Igrá Kniga, 2022 [2018] [capítulo 4].

terra habitada

23 de outubro

Cabanagem

com Charles Trocate

Pasquale Di Paolo. Cabanagem, a revolução popular da Amazônia. Belém, Cejup, 1990.

Domingos Antônio Raiol. Motins políticos ou, História dos principais acontecimentos políticos da província do Pará desde o ano de 1821 até 1835. Belém, Universidade Federal do Pará, 1970.

Vicente Salles. Memorial da Cabanagem: esboço do pensamento político-revolucionário no Grão-Pará. Belém, Cejup, 1990.

Mark Harris. Rebelião na Amazônia: Cabanagem, Raça e Cultura Popular no Norte do

Brasil (1798-1840). Campinas, Unicamp, 2018.
Décio Freitas. A miserável revolução das classes infames. Rio de Janeiro, Record, 2005.

Célia Maracajá. O auto da cabanagem.

30 de outubro

Tierra y libertad (México, 1910)

com Cassio Brancaleone e Ester Rizzi

Manifiesto de Partido Liberal Mexicano. Regeneración Tomo IV, No. 56 Los Ángeles, California. 23 de septiembre de 1911.

INEHRM (org). El plan de ayala (1911). Mexico, Fondo de Cultura, 2019.

Rubén Trejo Muñoz. “Vínculos entre los zapatistas y los magonistas durante la Revolución Mexicana”, UACM, 2020.

complementar:

Cassio Brancaleone. “Revolução mexicana, magonismo e anarquismo” em Beatriz Silvério e Fernanda Grigolin (orgs.). Infatigável guerrilheira: Margarita Ortega Valdés na Revolução Mexicana. São Paulo, Tenda de Livros, 2022.

Ester Gammardella Rizzi. Revolução Mexicana - O direito em tempos de transformação social. São Paulo, Expressão Popular, 2023. [capítulo 2 “O Direito e a organização fundiária mexicana”].  

6 de novembro

retomadas

com Jerá Guarani, Lucas Keese e Lauriene Seraguza

[domingo 5 de novembro – dia na Kalipety]

Jerá Guarani. “Tornar-se selvagem”. Piseagrama, n. 14, p. 12-19, jul. 2020.

Lucas Keese dos Santos. A esquiva do Xondaro: movimento e ação política entre os Guarani Mbya. São Paulo, Elefante, 2021. [capítulo 4: esquiva e resistência histórica]

Lauriene Seraguza. As donas do fogo: política e parentesco no mundo guarani. Tese de doutorado em Antropologia Social, FFLCH/USP, 2023 [trecho do capítulo 3: corpos de reservas, vidas em retomadas].

13 de novembro

debate de encerramento ao ar livre na casa líquida [perto do metrô Sumaré]:

apropriação coletiva e territórios libertos

com Mauro William Barbosa de Almeida

11.08.2023 | por martalanca | ameríndio, antagonismo, comunistas, cristãos, curso, democracia, hereges, terra

Em Tempo de Erros (1992), Muhammad Chukri

 

«Procurei o jogo da vida e os seus símbolos, não a sua verdade: a obscuridade e o enigma em vez do claro e do simples, o desconhecido em vez do óbvio, a miragem em vez da água.» 

Em Tempo de Erros (1992), Muhammad Chukri prossegue o duro relato autobiográfico iniciado em Pão SecoNesta história de uma vida no fio da navalha, assistimos aos anos de aprendizagem do autor, à sua crescente obsessão pela leitura, num quotidiano de pobreza e delinquência, e ao advento de um escritor. Entre a família em Tânger e a escola em Laraxe, preenchem os seus dias uma galeria de almas perdidas, amigos e amantes com a marca da loucura e, diz-nos, «bárbaros com quem vivi de noite em estreitas ruelas e tabernas duvidosas». Num país onde «os inteligentes enlouqueceram e deliram pelas ruas, e os que merecem ficar aqui emigraram», Chukri revisita a doença, a idade adulta e as amizades com os marginais estrangeiros atraídos por Tânger, reiterando a impossibilidade de aniquilar os desejos que o movem.

TÍTULO ORIGINAL ﺯﻣﻦ الأخطاء (Zaman al-Akhṭāʾ), TRADUÇÃO DO ÁRABE Hugo Maia, ILUSTRAÇÃO DA CAPA Gonçalo Duarte.

07.08.2023 | por martalanca | árabe, literatura, Marrocos, Muhammad Chukri

Johnson Lowe Gallery presents Ilídio Candja Candja: O Silêncio Negro em Forma de Chocolate [Black Silence in the Form of Chocolate]

On view August 4 – September 9, 2023

“Can we intervene in the future, in the near future? We certainly can. Not in the sense of determining it, shaping it, prophesying it, or grounding it in utopia or dystopia. But we know that each of us, or all of us together in the daily decisions, acts, episodes, constructed fictions and updates of the reality we produce, is incidentally interfering in the future.” – António Pinto Ribeiro, 2009

Atlanta, Georgia — Johnson Lowe Gallery is pleased to announce an exhibition of work by Mozambican artist Ilídio Candja Candja: O Silêncio Negro em Forma de Chocolate [Black Silence in the Form of Chocolate]. This exhibition features a series of the artist’s latest large-scale paintings that, while chromatically vibrant and compositionally poetic, critically investigate the structural mechanisms used in the perpetuation, suppression,

and silencing of the Indigenous populations on the continent of Africa in the colonial era. Elements of pre-colonial African sculpture and devices utilized in the subordination of these communities are [dis]placed across heavily collaged, seismically shifting abstract backgrounds, laying the bedrock for Candja Candja’s constellation of revisionist realms.

Candja Candja strategically inserts various instruments of torture and control into his compositions, underscoring the lasting effects of a colonial system historically built upon the manipulation and commodification of existing communities. Chocolate appears, in subtle references, as a pacifying element, palliating the saccharine whiteness of an economy entirely reliant on exploitation through the farming of ‘white gold’ — ivory, sugar, or cotton — and revealing hidden facets relating to the history of slavery in Mozambique.

The multi-tiered dimensions of the artist’s frenetically charged paintings materialize a deliberate visual schema mirroring the structure found in some vernacular African architecture, underscoring the sophisticated blend of mathematical principles and local building techniques inherent in these traditional styles. Such elements of visual representation provide a foundation for the audience to contemplate imaginative territories of empyrean order.

Rising above turbulent, expressive seas awash with vibrant hues of yellow, red, green, and black, among others — evocative of the Mozambican Flag of Independence — African masks, sacred power objects, maps, and figures associated with wayfinding, ceremony, and celebration pair with various apparatuses historically employed to assert physical and psychological dominion, suggesting a complex interplay between tradition and a desire for progress. These symbols, inalienable from vast histories across the African continent, coalesce into unpredictable, rippling scales that delicately balance one another. Within these cosmic systems lie the blueprints for utopian futures envisioned through the eyes of this Mozambican futurist.

This will be the artist’s first exhibition at Johnson Lowe Gallery following notable solo exhibitions, Octopus & Myopia, Galerias Municipais (2021), and Magnificência Luz e Fusão, Galeria São Mamede (2022), both held in Lisbon, Portugal. The exhibition is accompanied by an essay by Titos Pelembe titled O Silêncio Negro em Forma de Chocolate [Black Silence in the Form of Chocolate].

Ilídio Candja Candja’s Black Silence in the Form of Chocolate will be on view from August 4, 2023, through September 9, 2023.

764 Miami Circle NE, Suite 210, Atlanta, GA 30324
O. (404) 352 8114 info@johnsonlowe.com johnsonlowe.com

About Johnson Lowe Gallery

Johnson Lowe Gallery is devoted to championing emerging, mid-career, and established artists from diverse cultural backgrounds. The gallery’s program is built upon a reverence for the alchemical nature of artistic expression, with the intention to honor the profound nature of visual language and the role it can play in affecting paradigm shifts at both personal and societal levels.

Johnson Lowe Gallery is committed to presenting work across all media, including but not limited to painting, sculpture, installation, and photography. Alongside a commitment to support and foster the Atlanta arts community, our curatorial and programming initiatives aim to facilitate cross-cultural and global dialogues.

The gallery was founded in the summer of 1989 in Atlanta, Georgia, by Bill Lowe. Longtime artists in the gallery program include Thornton Dial, Michael David, Todd Murphy, Jimmy O’Neal, and Kathleen Morris. The gallery’s exhibition history includes internationally renowned artists such as Ida Applebroog, Markus Lupertz, Dale Chihuly, Hiro Yamagata, and Leiko Ikemura.

Notes to Editors
Title: Ilídio Candja Candja: O Silêncio Negro em Forma de Chocolate

Dates: August 4, 2023 – September 9, 2023

Address:
764 Miami Cir NE #210, Atlanta, GA 30324

Hours:
Tuesday – Friday | 10:00 AM – 5:30 PM Saturday | 11:00 AM – 5:30 PM
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06.08.2023 | por martalanca | Ilídio Candja Candja

Former Portuguese Colonies: Media and Decolonization

International conference (Dec. 12-13) / Film Retrospective (Dec. 10-13)

Rome, venues to be determined


The independence of the Portuguese colonies came at the end of the long process of decolonization of African nations: the last countries on the continent to free themselves from European colonialism were Angola, Cape Verde, Guinea-Bissau, São Tomé and Príncipe, and Mozambique between 1973 and 1975, after long wars against Portugal. After the 1974 Carnation Revolution in Portugal, former Portuguese colonies in Africa achieved independence, most recently Angola and Mozambique in 1975. Fifty years later, we want to remember these events by looking at them through the role of film and media.

In recent years, film and media studies has been increasingly concerned with anticolonialism, Third-Worldism, and internationalism, as part of a larger push to include topics such as migration, colonialism, and postcolonialism in this field. At the same time, scholarly investigations into the role of cinema during the Cold War are also finding new outlets particularly with regard to dynamics of transnational solidarity, internationalism, anticolonialism, and more generally the anti-imperialism of the long ’68. This conference takes its cue from these new areas of study, but seeks to approach them from an angle that has received relatively little attention: the relationship between the media (cinema, television, photography) and the former Portuguese colonies. Building on recent studies (such as those by Maria do Carmo Piçarra, Teresa Castro, Catarina Laranjeiro, and Ros Gray) and the recent rediscovering of the photographic and cinematographic work of Augusta Conchiglia, with this conference we aim to highlight these topics and to spotlight new, hitherto marginalized films that will be screened during the conference and in the days leading up to it. If in fact the works of foreign filmmakers such as Sarah Maldoror or Mario Marret, or of Angolan, Cape Verdean, Guinean, and Mozambican filmmakers (Ruy Duarte, among others) are relatively popular, practically unknown is the role of Italian filmmakers in narrating the wars of independence and their afterlives. The photographs of Uliano Lucas, Bruna Polimeni, Augusta Conghiglia, and movies like Labanta Negro! (Piero Nelli, 1966) circulated widely at the time, just as with the films by Valentino Orsini and Alberto Filippi (I dannati della terra, 1969), Lionello Massobrio, Joaquin Jorda, Elena Bedei, Sergio Spina (preserved at AAMOD, the Audiovisual Archive of the Workers’ and Democratic Movement in Rome), and even Carlo Lizzani, who in 1976 made a film for RAI on Angola, Black Africa, Red Africa.

Non-governmental organizations and Italian militants, filmmakers included, played an important role in the solidarity for and with the peoples struggling against colonialism, hosting, among other things, two conferences with the participation of former Portuguese African leaders (in Rome, 1970 and Reggio Emilia, 1973). Our conference aims to broaden the gaze and reopen the debate on the relationship between media (not only Italian) and former Portuguese colonies, in search of those “affinities”—or rather “intimacies” (according to Lisa Lowe’s definition)—between continents united in capitalist oppression and anticolonial solidarity.

We would like to solicit proposals in Italian or English that address queries around media and its relationship with the former Portuguese colonies. We suggest the following topics for participants to consider:

– Representations, renditions, and narratives of the wars of independence;

– Travels of filmmakers and photographer(s);

– Recycling and circulations of images;

– Internationalist solidarity through the media;

– Cinema’s role in Portuguese decolonization;

– Archives and methods of anticolonial studies and work;

– Feminist and gendered approaches to the colonial and anticolonial question;

– Reportage, investigations, and other forms of documentary filmmaking for television.

– We also invite artists to submit works of research-creation, or more generally works of creative artistic practices, that engage with the topics of this conference.

Have confirmed participation: Livia Apa (Centro Studi sull’Africa Contemporanea dell’Università di Napoli L’Orientale),  Andrea Brazzoduro (Università degli Studi di Napoli L’Orientale), José Manuel Costa (Cinemateca Portuguesa, tbc), Ilaria Ferretti (Home Movies), Mario Lanzafame (archivist and researcher), Mariano Mestman (Universidad de Buenos Aires), Carlo Podaliri (archivist and researcher), Roberto Silvestri (film critic), Vincenzo Russo (Università degli Studi di Milano Statale), Masha Salazkina (Concordia University, Montreal), Mariamargherita Scotti (Istituto de Martino), Gabriele Siracusano (CNR e Fondazione Gramsci), Alessandro Triulzi (Università degli Studi di Napoli L’Orientale), and the filmmakers Elena Bedei, Filipa César, Augusta Conchiglia. The retrospective will include films (short, medium, and feature length) rarely screened and/or recently found.

Proposals for papers (20 minutes max.) for the Rome conference may be sent in the form of abstracts of 150-200 words, along with a brief bio (100 words max.) no later than September 22, 2023. The official language of the conference will be English, but there will be sections in Italian with simultaneous translation provided.

The conference is part of the project “A Forgotten History: Italian Cinema and the Decolonization of the Former Portuguese Colonies” promoted by AAMOD, and it is organized as part of the series “The Project and Forms of a Political Cinema.”

Convenors: Luca Caminati (Concordia University, Montreal), Damiano Garofalo (Sapienza University of Rome), Luca Peretti (University of Warwick), Paola Scarnati (AAMOD) with Maria do Carmo Piçarra (ICNOVA-UNL).

The conference is promoted by AAMOD, in collaboration of Fondazione Gramsci, Sapienza-University of Rome, Concordia University, Montreal, University of Warwick, in partnership with

ICNOVA-UNL, Cattedra Antonio Lobo Antunes (Università degli studi di Milano- Istituto Camões di Lisbona), Centro Sperimentale di Cinematografia – Cineteca Nazionale, Istituto De Martino, Centro Studi sull’Africa Contemporanea (CeSAC) dell’Università di Napoli L’Orientale, Centro Amilcar Cabral di Bologna, Fondazione Lelio e Lisli Basso onlus, Casa del Cinema di Roma, and Consulta Universitaria Cinema.

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01.08.2023 | por martalanca | international conference, Media and Decolonization