Afrikanizm Art

A Afrikanizm Art, plataforma global dedicada à promoção e celebração de arte contemporânea africana e afrodescendente, fundada pelo luso-angolano João Boavida, acaba de formalizar parcerias estratégicas com galerias internacionais de referência, presentes nos Estados Unidos da América, França, Itália, Portugal, Polónia, Gana e China. Com estas parcerias, a plataforma conecta artistas, galerias, colecionadores e entusiastas de arte em todo o mundo, reforçando a sua presença e influência no mercado global de arte.

“Estas parcerias representam um passo estratégico para a Afrikanizm e para todo o ecossistema de Black Art. Mais do que expandir a nossa presença global, estamos a criar oportunidades concretas para que artistas, galerias e colecionadores se conectem num ambiente de confiança, visibilidade e impacto. Acreditamos que a arte africana, afro-americana e afro-brasileira merece ocupar um lugar central no mercado global, e estas colaborações são fundamentais para profissionalizar, valorizar e amplificar as vozes dos criadores. Ao unirmos esforços com galerias de referência, estamos a fortalecer um movimento que transforma narrativas, gera valor económico real e promove um mercado de arte mais inclusivo e sustentável”, afirma João Boavida, CEO da Afrikanizm Art.

As galerias parceiras incluem: Alessandro Berni Gallery (Nova Iorque, EUA), Gallery Soview (Acra, Gana), Lis10 Gallery (Paris, França; Hong Kong, China; Arezzo, Itália), The EAAE Gallery (Estetino, Polónia), This is Not a White Cube (Lisboa, Portugal; Paris, França).

Numa primeira fase, as parcerias compreendem um maior foco no aumento da capacidade de venda das galerias, permitindo-lhes comercializar obras através da plataforma online da Afrikanizm e participar em exposições promovidas pela plataforma. Em fases subsequentes, estas colaborações permitirão ainda potenciar artistas que integram a Afrikanizm e viabilizar a criação de obras conjuntas com as galerias, fortalecendo o desenvolvimento artístico e o alcance global das criações.

Com estas parcerias, a Afrikanizm consolida o seu papel como hub global, reunindo todo o ecossistema de Black Art e oferecendo oportunidades únicas de conexão e visibilidade, graças a uma rede integrada em que artistas, galerias e colecionadores podem interagir, crescer e redefinir os padrões de valorização da arte africana e afrodescendente em todo o mundo.

Ao adquirir obras através desta plataforma, os colecionadores e entusiastas de arte contribuem para um impacto social e económico positivo, apoiando simultaneamente artistas e galerias, graças a um modelo sustentável e inovador.

“Na Afrikanizm orgulhamo-nos de representar mais de 200 artistas em 18 países africanos, com centenas de obras catalogadas, e de realizar uma curadoria de excelência, valorizando a diversidade de talentos contemporâneos e assegurando que cada artista e cada obra refletem profissionalismo, dedicação e qualidade artística. São números que refletem apenas o início de um movimento maior: posicionar a arte africana e afrodescendente como uma força líder no mercado global”, realça João Boavida. 

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30.09.2025 | por martalanca | Afrikanizm Art

Aprender a Sonhar | Manifesto afro-indígena chega aos cinemas nesta quinta (2/10)

“Aprender a Sonhar” (2025), novo filme do cineasta baiano Vítor Rocha, revela a difícil e transformadora trajetória de jovens de diferentes comunidades e territórios periféricos para ingressar e se formar no Ensino Superior.

O longa-metragem estreia nesta quinta, dia 2 de outubro, em cinemas de todo o Brasil. Filmado entre 2016 e 2022, poucos anos após a instituição da Lei de Cotas (12.711/2012), “Aprender a Sonhar” acompanha a luta dos personagens pelo ingresso na Universidade e escancara as mazelas do racismo, mas também as conquistas, que os estudantes vivenciam para exercer o direito reparatório de acesso à Educação.

“Aprender a Sonhar” ganha pré-estreia comentada e gratuita no dia 1º de outubro, quarta, às 19h, em São Paulo (SP), no Teatro da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) (Av. Dr. Arnaldo, 455 - Pacaembu). A projeção será seguida de debate com o diretor Vítor Rocha e as personagens do filme Tamiwere Pataxó, bacharel em Direito, e Nadjane Cristina, assistente social e militante do movimento por moradia.

As praças de exibição poderão ser conferidas no Instagram @abarafilmes.

​'Aprender a Sonhar' chega aos cinemas no dia 2 de outubro​'Aprender a Sonhar' chega aos cinemas no dia 2 de outubro

Longe de se encerrar em relatos individuais, o filme, ao passo que intercala a aparição das histórias de cada estudante, ganha um ritmo revelador da conexão entre todos eles: os protagonistas são portadores de saberes ancestrais que durante séculos foram impedidos de participar dos centros oficiais de produção e disseminação de conhecimento.

O documentário mostra como a quilombola Marina Barbosa conseguiu se formar em medicina na UFBA, assim como a trajetória de conquista da casa própria e do diploma da ex-moradora de ocupação, Nadjane Cristina. Também conta como se deu a transformação de Ana Paula Rosário, que cumpriu medidas socioeducativas e hoje é pesquisadora de sociologia, além das vivências de Taquari e Tamiwere Pataxó, que se formam em Direito sem ter que abrir mão de seus territórios, culturas e tradições.

A narrativa acompanha o cotidiano e os momentos marcantes dos personagens na busca pela sobrevivência e pelo direito de ocupar espaços convencionais da formação superior sem terem que abrir mão de seus territórios, culturas e tradições. Diferente da série televisiva homônima, “Aprender a Sonhar”, também realizada por Vítor Rocha, o capítulo para a tela grande traz diferentes personagens e situações para as salas de exibição.

Para seu diretor, o filme é mais do que um registro cinematográfico, é um manifesto afro-indígena: uma vocalização dos corpos políticos que foram sistematicamente silenciados na fundação e perpetuação do Estado brasileiro.

“A política de cotas permitiu que 50% dos estudantes das universidades sejam, atualmente, negros e, também, indígenas, e fez com que nossas cosmovisões passassem a disputar o conhecimento acadêmico, contribuindo com o desenvolvimento dos saberes institucionais”, explica o diretor e roteirista Vítor Rocha. “Conclamamos professoras e professores, estudantes, sindicatos, associações, centros acadêmicos, grupos de pesquisa e instituições contracoloniais e antirracistas e público geral a se aquilombarem nas sessões do filme para conseguirmos ocupar as salas de cinema e mostrarmos que a produção independente e afrocentrada tem sua força”, convida o realizador.

Distribuição baiana

A distribuição é feita pela Abará Filmes e a produção pela Caranguejeira Filmes – produtoras baianas  lideradas por Vítor Rocha. “Aprender a Sonhar” é o quarto de cinco longas distribuídos pela Abará Filmes,  incluindo “1798 Revolta dos Búzios”, de Antonio Olavo, “Revoada”, de José Umberto Dias, “Brazyl, uma Ópera Tragicrônica”, de José Walter Lima, e “Minha Cuba, Minha Máxima Cuba”, de Júlio Góes. A distribuição é financiada pela Lei Paulo Gustavo Bahia, da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia e do Ministério da Cultura (MinC), e a produção tem financiamento do MinC e da Ancine/BRDE/FSA, Governo Federal.

A Abará também distribui duas temporadas da série de mesmo nome, exibidas nas TVs Públicas do Brasil, entre elas TV Brasil, TV Cultura, TVE-BA, além de canais fechados e plataformas de streaming.

Brasil | Ano 2025 | Longa-Metragem | Documentário | 79’ | Português, Patxohã

Direção e Roteiro: Vítor Rocha

Elenco: Taquary, Tamiwere e Povo Pataxó da Reserva da Jaqueira | Marina Barbosa e Quilombo Quenta Sol | Nadjane Cristina e Ocupação Quilombo Paraíso | Ana Paula e família Rosário

Distribuição: Abará Filmes

Produção: Caranguejeira Filmes

30.09.2025 | por martalanca | Brasil, cotas

A África que vem, Afrotopia Felwine Sarr

A globalização da informação e das comunicações pôs-nos em contacto permanente com lugares do mundo onde talvez nunca coloquemos os pés, deu-nos a oportunidade de aprender coisas sobre comunidades de que nunca tínhamos ouvido falar, deixou-nos conhecer, mesmo que superficialmente, realidades que não faziam parte do nosso pensamento. Claro, podemos discutir se todo este conhecimento e toda esta comunicação atingem níveis de profundidade relevantes, mas é inegável que chegamos, com a nossa curiosidade e sem necessidade de viagens físicas, a sítios que até há umas décadas teríamos desculpa para ignorar. E apesar disso, continuamos a falar do continente africano como se de uma realidade homogénea e geograficamente pequena se tratasse. Ainda escutamos pessoas dizerem “eu estive em África e gostei muito daquela luz…”, ou lemos referências ao “desenvolvimento dos países africanos” e parece que, da Argélia à África do Sul, estamos perante um pedaço de terra passível de ser abarcado numa pequena viagem e de ser social, cultural e economicamente descrito com duas ou três frases esclarecedoras.

Ler Afrotopia, o ensaio do senegalês Felwine Sarr agora traduzido em Portugal (a publicação original é de 2016), leva-nos ao confronto com esses discursos redutores, mas sobretudo abre o horizonte para modos mais produtivos – e justos, diga-se – de abordar essa imensa geografia. Cruzando economia e política, urbanismo e criação artística, produção agrícola e industrial e comércio, pensamento e propostas de acção, o autor discute o modo como parte considerável do mundo olha para África, uma mistura de cobiça pelos recursos e paternalismo perante os problemas identificados (sempre vistos de fora e de cima), tudo sempre banhado nessa ideia de uma subalternidade que se terá instituído com o colonialismo, mas que se apresenta como condição natural.

Para além desses lugares-comuns que abundam nos discursos mais escutados sobre África, há um outro que, não se escutando literalmente, permeia todos eles: a ideia de que há um problema africano e que esse problema será resolvido, um dia e de modo cabal, por algum habitante esclarecido do hemisfério norte, que colocará o continente africano no rumo certo. Como diz Sfarr no fim do livro, «África não tem de se pôr a par de ninguém. Deve deixar de correr pelos trilhos que lhe são indicados, seguindo antes pelo caminho que ela escolher para si.» Deveria parecer óbvio, mas séculos de discursos, análises e dominações mostram o contrário, e se este é um livro que se insere claramente num debate amplo a decorrer no próprio continente africano, a sua leitura assume contornos igualmente urgentes fora dele, nos muitos outros lugares onde continuamos a receber ideias feitas sobre esta geografia sem qualquer discussão que as coloque em causa.

O que Sarr propõe neste livro é uma reflexão ampla que cruza diferentes abordagens, temas e modos críticos de pensar um espaço tão imenso e complexo. E enquanto apresenta outros debates em curso e exemplifica modos de pensar e agir que estão a acontecer agora em diferentes países, movimentos, associações e outros grupos mais ou menos informais espalhados por diferentes territórios africanos (e também pela diáspora, em tantos pontos do mundo), vai desenhando os contornos de uma utopia que não se baseie na circulação de produtos e nas rotas económicas, mas antes assuma os processos culturais como base, incluindo nestes processos a própria reflexão sobre o presente, o passado e um devir que estará nas mãos de quem a ele se dedicar.

Contrariando a ideia dual que continua a dominar o pensamento sobre África a partir do exterior, que oscila entre um apocalipse de fome, doenças e destruição e uma alvorada mística em que os primórdios da humanidade regressam numa qualquer espiritualidade de Arca de Noé, salvando o destino torpe de um planeta inteiro, Sarr reclama um outro modo de pensar no futuro: «O Afrotopos é aquele lugar outro de África cuja vinda há que apressar porque realiza as suas potencialidades felizes. (…) A Afrotopia é uma utopia activa que se propõe encontrar na realidade africana os vastos espaços do possível e fecundá-los. O desafio consiste assim em articular um pensamento que incida sobre o destino do continente africano, examinando o político, o económico, o social, o simbólico, a criatividade artística, mas também identificando os locais onde se enunciam novas práticas e novos discursos e onde se elabora essa África que vem.»

Do lado de fora do continente africano, é um privilégio acompanhar estas propostas e descobrir os debates e as práticas que vão acontecendo em torno delas. Testemunhamos, de certo modo, um presente que pode ser modificador e do qual não deixamos de fazer parte – o mundo é um só, já o sabemos, e as nossas interligações são infinitas. E enquanto confrontamos velhas ideias, há tanto gastas, mas ainda assim inconscientemente presentes, sobre África, vamos encontrando matéria para nos pensarmos noutros territórios, exemplos que podem ser orientadores, outros que rejeitaremos, outros ainda que parecem poder ser adaptados. Dialogamos, também, à distância, sobretudo quando aceitamos que não pode continuar a haver sobranceria no lugar de onde observamos e de onde queremos pronunciar-nos. E não é porque um suposto politicamente correcto nos diz que não pode, é porque esse lugar sobranceiro não nos permite aprender, duvidar ou dialogar e seria um desperdício mergulhar nesta Afrotopia sem essas capacidades activas.


Sara Figueiredo Costa na Blimunda, 31 Outubro 2022.

29.09.2025 | por martalanca | Afrotopia, Felwine Sarr

Lázaro Ramos em Lisboa

O ator, apresentador, ativista, escritor e cineasta Lázaro Ramos vai estar na Livraria da Travessa, em Lisboa, a 1 de Outubro, pelas 19h, para uma conversa sobre as suas obras literárias com a presença da escritora Teolinda Gersão. A conversa terá moderação de Déa Paulino.

 

29.09.2025 | por martalanca | Lázaro Ramos

Ana Rita Teodoro - Sonhos Comuns

Sonhos Comuns acontece entre ver e não ver, no encontro de Ana Rita Teodoro com Joana Gomes. Duas intérpretes dedicadas a uma comunicação tátil, desdobram-se em danças singulares e cheias de detalhe. Partindo da ideia de que a dança tem algo de semelhante ao sonho, produzem movimentos e sensações difíceis de captar em imagem e traduzir em palavras. Sonhos Comuns propõe retirar o visual, como prova do real, da hierarquia dos sentidos e criar uma trama poética musical, acessível ao devaneio de sonhos e de danças.

Lembras-te dos teus sonhos? Alguma vez percebeste, dentro do sonho, que estavas a sonhar? Será que os sonhos podem resolver problemas? Nos sonhos, conseguimos falar com animais ou com antepassados? Será que os sonhos conseguem ver o futuro? É possível partilhar o mesmo sonho com outra pessoa?

10 e 11 outubro na Culturgest. 

27.09.2025 | por martalanca | Ana Rita Teodoro

Ana Rita Teodoro - Sonhos Comuns

Sonhos Comuns acontece entre ver e não ver, no encontro de Ana Rita Teodoro com Joana Gomes. Duas intérpretes dedicadas a uma comunicação tátil, desdobram-se em danças singulares e cheias de detalhe. Partindo da ideia de que a dança tem algo de semelhante ao sonho, produzem movimentos e sensações difíceis de captar em imagem e traduzir em palavras. Sonhos Comuns propõe retirar o visual, como prova do real, da hierarquia dos sentidos e criar uma trama poética musical, acessível ao devaneio de sonhos e de danças.

Lembras-te dos teus sonhos? Alguma vez percebeste, dentro do sonho, que estavas a sonhar? Será que os sonhos podem resolver problemas? Nos sonhos, conseguimos falar com animais ou com antepassados? Será que os sonhos conseguem ver o futuro? É possível partilhar o mesmo sonho com outra pessoa?

10 e 11 outubro na Culturgest. 

27.09.2025 | por martalanca | Ana Rita Teodoro

LA CUENCA (A Bacia Hidrográfica)

Documentário sobre a defesa da água e dos ecossistemas por grupos ambientalistas e comunidades indígenas Mapuche no Wallmapu (Patagónia

Chilena): https://www.lefthandrotation.com/lacuenca Sem Manifestação de Interesse, Escravatura Moderna Intervenção nas ruas de Lisboa sobre as novas políticas migratórias excludentes de Portugal: https://www.lefthandrotation.com/semmanifestacaodeinteresse
Edição ESPECIAL BUENOS AIRES de “A Volta ao Mundo em 80 Catástrofes”: Um novo guia turístico irónico com monumentos ao colonialismo, femicídios,
epidemias, guerras e outras catástrofes durante a era do Capitaloceno: https://www.lefthandrotation.com/avoltaaomundoem80catastrofes

27.09.2025 | por martalanca | Left Hand Rotation

O Doc’s Kingdom, Seminário Internacional de Cinema Documental. celebra 25 anos

Inscrições abertas. De 14 a 19 de novembro, o Doc’s Kingdom regressa a Odemira com um programa dedicado às práticas cinematográficas colectivas. Em 2025, celebram-se 25 anos do Doc’s Kingdom – Seminário Internacional de Cinema Documental, cuja primeira edição remonta ao ano 2000, em Serpa. Para esta edição especial, o Seminário regressa a Odemira pelo terceiro ano consecutivo, com uma semana densa e imersiva de filmes, debates e outras actividades. A cada ano, o seminário é um ponto de encontro internacional para profissionais e amadores de cinema documental, reunindo cerca de 120 participantes de várias nacionalidades. A experiência prolonga-se além da sala de cinema, envolvendo passeios, refeições colectivas e encontros com o território e as comunidades locais. Este ano, destaca-se a presença de representantes de colectivos cinematográficos históricos e contemporâneos de diversas geografias, incluindo Índia, Japão, Brasil, Portugal e Bolívia. 

Com o título “A collective / inarticulate memory” (a partir de um verso do poeta Sean Bonney), o programa pretende contribuir para uma reflexão sobre as possibilidades do cinema colectivista no presente. Pensado pela dupla Raquel Schefer e Rita Morais, selecionadas através de uma convocatória pública internacional, o foco desta edição examina continuidades e rupturas que interligam momentos-chave do cinema colectivo, analisando a complexidade das relações sociais horizontais, sem fugir às contradições frequentemente inerentes a modos colectivos de organização. O programa dialoga também com a história política do Alentejo – onde o Seminário foi criado e onde se realiza novamente desde 2023 (após ter passado também pelos Açores e pelo Minho) – particularmente com o processo de colectivização da terra e do trabalho que marcou profundamente a região durante a Reforma Agrária. Entre os colectivos que compõem o programa, conta-se o incontornável Grupo Zero, cooperativa cinematográfica activa em Portugal após a Revolução de 1974. O projecto Video Tracts for Palestine reúne e divulga, desde 2023, uma série de ciné-tracts anónimos contra o genocídio em curso na Palestina. CAMP, estúdio colaborativo fundado em 2007 em Bombaim, trabalha com cinema, arquivos e tecnologia desenvolvendo uma crítica situada das formas documentais. A filmografia do colectivo Ogawa Productions, marco incontornável do cinema político no Japão e no mundo, será apresentada com a participação do programador Ricardo Matos Cabo. Sueli e Isael Maxakali e seus colaboradores, cineastas Tikmũ’ũn (Maxakali), povo originário do Brasil, filmam em processos partilhados com as suas comunidades, afirmando que “sem terra não há cinema”. Mujeres Creando, colectivo anarca-feminista boliviano, propõe a criatividade como prática radical de intervenção social, com a participação online de María Galindo. Além dos nomes anunciados, o programa só é revelado no início de cada sessão. 

Este convite para revisitar e analisar práticas de cinema colectivo históricas e contemporâneas surge num momento em que a urgência política e social exige repensar modos de criação e de vida em comum. “Face ao genocídio em curso na Palestina, à ascensão do fascismo e do racismo em Portugal e no mundo […], assim como ao esvaziamento de certos conceitos do seu significado político, este programa aponta para a colectividade não como uma ideia abstracta, mas antes como uma forma de pensar, estar e agir em conjunto”, pode ler-se na apresentação do programa.

As inscrições estão abertas (através do website: docskingdom.org) e são limitadas. A inscrição cobre a participação em todas as actividades e as refeições. Além da participação integral para as pessoas inscritas, o seminário oferece uma série de sessões abertas ao público, no Cineteatro Camacho Costa, e outras actividades a anunciar em breve. 

Esta é a primeira edição do seminário sob a co-direção de Catarina Boieiro e Stefanie Baumann, que assumiram funções no início de 2025. Organizado pela Apordoc – Associação pelo Documentário, com financiamento do ICA – Instituto do Cinema e do Audiovisual / Ministério da Cultura e com o apoio do Município de Odemira, entre outros apoios e parceiros locais, o Doc’s Kingdom afirma-se como um espaço singular dedicado ao debate horizontal e ao pensamento crítico em torno da criação documental contemporânea. 

25.09.2025 | por martalanca | Doc’s Kingdom

Zineb Sedira. Standing Here Wondering Which Way to Go

20 set 2025 – 19 jan 2026  10:00 – 18:00  sáb, 10:00 – 21:00  Encerra à Terça Local Espaço ProjetoCentro de Arte Moderna Gulbenkian

Preço Entrada gratuita

Esta exposição individual da artista franco-argelina Zineb Sedira parte de uma reflexão em torno das utopias dos anos de 1960, colocando, lado a lado, cultura e resistência. Zineb Sedira (Paris, 1963) é uma artista franco-argelina que tem investigado temas em torno da migração, memória e transmissão, cruzando narrativas coletivas e pessoais, por vezes autobiográficas, questionando a parcialidade das histórias oficiais.

Na sua primeira exposição individual em Portugal, Sedira regressa aos temas da arte e resistência (e revolução), partindo de uma investigação sobre o Festival Pan-Africano de Argel (PANAF) de 1969, organizado pelo novo estado argelino, independente desde 1962. A sua capital, Argel, emerge como um lugar de encontros «revolucionários» para muitos dos movimentos globais de libertação e dos diferentes militantismos e utopias das décadas de 1960 e 1970. Em Argel é criada, em 1965, a primeira Cinemateca do continente africano, a par da emergência de um cinema militante, com coproduções internacionais. Produzido pelo estado argelino, o filme Festival Pan-Africano de Argel (1969) de William Klein é uma das presenças e evocações centrais da instalação.

O título da exposição, Standing Here Wondering Which Way to Go [Permaneço Aqui Pensando que Caminho Seguir], recupera uma canção interpretada pela cantora gospel afro-americana Marion Williams no PANAF, um extenso evento cultural e político de celebração e afirmação da cultura como arma de resistência à dominação colonial, e uma poderosa manifestação de esperança na mudança do mundo.

A instalação constrói-se em 4 «Cenas»: o vídeo mise-en-scène, realizado com negativos encontrados de filmes militantes; a série de fotomontagens e objetos For a Brief Moment the World Was on Fire…; o diorama Way of Life que reencena, em tamanho real, a sala de estar londrina de Sedira, estilo sixties; e a sua coleção de vinis de canções militantes We Have Come Back. Reúne também um conjunto de «presenças criativas», como William Klein, Jason Oddy, Nabil Djedouani e fotógrafos desconhecidos argelinos; e uma seleção de fotografias de Boubaker Adjali, realizadas em Angola e Moçambique em 1970, assim como um conjunto de edições portuguesas e outros documentos de luta e protesto que dialogam com o contexto histórico português.

17.09.2025 | por martalanca | Zineb Sedira

Bairros

domingo, 21 setembro 2025 Praça do Carvão – Exterior do MAAT Central

A celebração dos dez anos do Festival Iminente,  em coorganização com a Câmara Municipal de Lisboa, será assinalada por várias iniciativas ao longo dos próximos meses. A primeira acontece já no dia 21 de setembro de 2025, a partir das 13h, com um evento em parceria com a Fundação EDP, na Praça do Carvão - Exterior do MAAT Central.

Este dia, de entrada livre, apresenta ao público os resultados da edição de 2025 do projeto Bairros: Workshops Artísticos Comunitários Iminente, desenvolvido com comunidades locais da Alta de Lisboa e do Vale de Chelas. O programa deste domingo inclui oficinas, uma exposição, uma cabine de cinema, gastronomia e apresentações de música, performance e moda – dando início a um ciclo de momentos que reafirmam o Iminente como plataforma ativa de cultura urbana, participação e criação coletiva.

Bairros convida o público a descobrir, escutar e participar neste trabalho coletivo. A partir das 13h, os espaços de gastronomia estão a postos para receber o público, seguindo-se um programa de inúmeras atividades, das 15h às 19h:

Cafofo do Fazer: oficinas abertas de colagem em azulejo (Manel Alma), moda sustentável (Pitanga) e plantação urbana (Flor de Murta). Um espaço dedicado à experimentação e à sustentabilidade. 

Exposição Bairros: mostra dos trabalhos artísticos realizados com as comunidades. 

Espaço do Livro: biblioteca portátil e bancos de leitura construídos nas edições anteriores do Bairros. 

Cabine do Cinema do Bairro: projeção de curtas-metragens produzidas no âmbito do Bairros. 

Bancas do Bairro: gastronomia local, feita e servida pelas comunidades. 

Conversas à Sombra do Bairro: debate sobre território e cultura comunitária, com presenças da Alta de Lisboa e da Curraleira. 

O programa inclui também uma série de momentos de apresentação e celebração, a partir das 16h00

  • 16h00: Marcha da Curraleira – performance musical simbólica conduzida por Tristany, que funde tradição cigana, folclore português e a energia da juventude da Curraleira. 
  • 16h30: Desfile de Moda da Curraleira – com peças criadas numa oficina de upcycling orientada pela artista Pitanga. 
  • 17h30: Bairros Music 2025 – um momento que apresenta as atuações resultantes da oficina de música liderada por Fumaxa, Daus e Pika. 
  • 18h30: Deejay Rifox & Tia Vivix – concerto da dupla mãe-filho residente no PER9, que tem atuado em vários locais em Portugal, Espanha e Cabo Verde. 

Esta iniciativa assinala o culminar de um percurso de criação e celebração partilhada, e abre espaço à participação do público em diversas atividades de acesso aberto ao longo da tarde. 

SOBRE O PROJETO BAIRROS: WORKSHOPS ARTÍSTICOS COMUNITÁRIOS IMINENTE 

Criado em 2020, Bairros: Workshops Artísticos Comunitários Iminente é um projeto de criação artística comunitária promovido pelo Iminente, que opera na interseção entre cultura urbana, cidadania e coesão social. Através de oficinas práticas, intervenções artísticas e momentos de partilha, aproxima criadores, associações de moradores e comunidades locais, fomentando a criação colaborativa e o envolvimento ativo de residentes de todas as idades em processos de transformação cultural e social. 

 

17.09.2025 | por martalanca | bairros, Festival Iminente

Das Lutas de Independência aos Desafios do Futuro - Jornada de Feminismos Africanos

23 de setembro de 2025, 09h30

Anf. III, Faculdade de Letras da UC

Esta jornada reúne no CES mulheres protagonistas do pensamento, das artes e das lutas feministas nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. O objetivo é, por um lado, repensar os 50 anos das Independências pela perspetiva das mulheres, bem como recontar uma história que se celebra essencialmente no masculino. Por outro lado, o presente e o futuro dos PALOP colocam desafios particulares aos feminismos, que implicam um balanço particular do presente e caminhos ousados e criativos para as lutas pela dignidade e bem-viver das mulheres. A celebração da luta no coletivo far-se-á, também, nesta jornada, com a música e a poesia.
Entrada livre, sem necessidade de inscrição. Com certificado de presença.
Programa

9h30 – sessão de abertura

10h00-12h00 | Mesa 1 – Lutas de mulheres nos PALOP – Passado e presente
Karyna Gomes (Guiné-Bissau), Solange Salvaterra (São Tomé e Príncipe), Isabel Casimiro (Moçambique), Paula Machava (Moçambique)
Moderação: Catarina Martins (FLUC/CES)

14h30- 16h30 – Mesa 2 – Desafios das Lutas de Mulheres nos PALOP
Aida Gomes (Angola), Celeste Fortes (Cabo-Verde), Terezinha da Silva (Moçambique), Paula Cardoso (Moçambique / Portugal)
Moderação: Teresa Cunha (CES/ESEC)

17h00- 18h00 – Roda de música e poesia

17.09.2025 | por martalanca | Jornada de Feminismos Africanos

Primeiros Abalos, de Les Soulèvements de la terre

Apresentação do livro Primeiros Abalos, de Les Soulèvements de la terre (tradução de Pedro Cerejo; revisão de Pedro Morais; capa de Catarina Leal)
Edições Tigre de Papel | 2025 
A editora Tigre de Papel traz à estampa a tradução para Português de Primeiros Abalos, a recente obra que traça, em mais de 400 páginas, as histórias do movimento ecologista francês Les Soulevements de la Terre. De 2 a 7 de Outubro terão lugar apresentações do livro de norte a sul de Portugal, onde se dará a conhecer o movimento e as experiências dos últimos anos mas também as perspetivas estratégicas e políticas do movimento. O momento é também de discussão e reflexão conjunta sobre o atual momento deste mundo em transe e a necessidade de enfrentar as múltiplas crises que vivemos.
 
Primeiros Abalos:
Ao longo das estações, formámos desfiles coloridos, armados com pás, megafones e trituradores, vestidos com fatos de trabalho e macacões brancos, escoltados por pássaros gigantes… Atravessámos campos e planícies, percorremos vales industriais e pistas de asfalto de fábricas – e chegámos mesmo a roçar os picos alpinos. Erguemo-nos para defender a terra e os seus usos comuns. Contra as megabacias, as pedreiras, a betonização e os especuladores da terra, queremos difundir os gestos de bloqueio, de ocupação e de desarmamento, para desmantelar as cadeias tóxicas. Sublevamo-nos porque não esperamos nada de quem governa a catástrofe.  Sublevamo-nos porque acreditamos na nossa capacidade de agir. Durante séculos, de norte a sul, os movimentos populares têm lutado para defender uma ideia simples: a terra e a água pertencem a todos, ou talvez a ninguém. Os Soulèvements de la terre não estão a inventar nada de novo, ou muito pouco. Trata-se de um regresso a uma convicção que nunca deveríamos ter abandonado. Os Soulèvements de la terre são uma tentativa de construir uma rede de lutas locais e, ao mesmo tempo, dar impulso a um movimento mais vasto de resistência e de redistribuição da terra. É o desejo de estabelecer um verdadeiro equilíbrio de forças com o objetivo de arrancar a terra à devastação da indústria e do mercado.
Apresentações:
02/10 | 19h | Porto | Gato Vadio | gatovadiolivraria.blogspot.com
03/10 | 11h | Coimbra | Colégio São Bento (Universidade de Coimbra) – Laboratório de Estudos Críticos do Antropoceno. CIAS DCV, auditório DC, 1.º andar, Colégio de São Bento, Universidade de Coimbra (calçada Martim de Freitas, 3000-456 Coimbra)
03/10 | 19h | Lisboa | Casa do Comum | casadocomum.org
05/10 | 16h | Lisboa | cem – centro em movimento | Leitura coletiva | https://c-e-m.org/  
07/10 | 18h30 | Montemor-o-Novo | AMOR VIL | https://maps.app.goo.gl/Qb23o28iiMFxhVr76

17.09.2025 | por martalanca | Primeiros Abalos

Seminário de Celebração da Independência dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa

Cinco décadas após a conquista da soberania política por Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, a Universidade Federal do Pará (UFPA) promoverá, entre os dias 17 e 19 de dezembro de 2025, o Seminário de Celebração da Independência dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOPs). O evento é organizado pela Cátedra João Lúcio de Azevedo (Camões I.P. – UFPA) e busca rememorar os processos históricos de emancipação que se seguiram à Revolução dos Cravos, em 1974, e culminaram na independência dessas nações africanas em 1975.

A programação contará com conferências, plenárias e mesas-redondas dedicadas a discutir arte, literatura e resistência anticolonialista. Haverá também espaço para a apresentação de comunicações orais, distribuídas em cinco eixos temáticos: Arte, Cultura e Saberes africanos; Circulação das literaturas africanas de língua oficial portuguesa no Brasil; Literatura africana de autoria feminina; Literatura contemporânea dos PALOPs em perspectiva comparada; e Representação da resistência anticolonialista na literatura e na história.

Para a professora Germana Araújo Sales, diretora da Cátedra João Lúcio de Azevedo, o seminário é uma oportunidade de fortalecer diálogos e laços históricos entre Brasil e África:

“É de suma importância celebrar a independência dos países africanos de língua portuguesa que permaneceram tantos séculos no domínio português e só em 1975, após a Revolução dos Cravos, foi possível a emancipação política”.

O encontro receberá inscrições abertas ao público, tanto para ouvintes quanto para apresentadores de trabalhos. As taxas variam de R$ 10 a R$ 25 para ouvintes (de estudantes de graduação a professores de ensino superior) e de R$ 10 a R$ 60 para apresentação de trabalhos, que podem ser submetidos até 26 de outubro de 2025, por meio do site oficial do evento.

Criada em parceria entre a UFPA e o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua (Portugal), a Cátedra João Lúcio de Azevedo tem como missão estreitar laços de cooperação entre instituições de investigação brasileiras e portuguesas. O programa foca nos estudos de História e Cultura, atuando também em áreas complementares como patrimônio, literatura e artes, sempre com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre a história, a língua e a cultura luso-amazônica.

17.09.2025 | por martalanca | seminário

Nota de repúdio da organização de Black Europeans

A organização Black Europeans vem a público repudiar, com total clareza e firmeza, as declarações falsas recentemente difundidas pelo deputado André Ventura a respeito do Black Europeans Lisbon Summit 2025.
Infelizmente, não é a primeira vez que assistimos a ataques direcionados contra comunidades racializadas, movimentos sociais e iniciativas que promovem igualdade e justiça social. Já nos habituámos a ver a extrema-direita recorrer a mentiras, manipulações e discursos de ódio como ferramentas de intimidação, precisamente porque teme o poder da verdade, da memória e da mobilização coletiva.
O Sr. André Ventura afirmou que o nosso evento teria sido financiado com recursos públicos. Esta acusação é absolutamente falsa, desprovida de qualquer fundamento e mais uma tentativa de difundir desinformação para desacreditar o trabalho sério e comprometido que realizamos. A organização rejeita categoricamente esta mentira e desafia publicamente o deputado a apresentar provas concretas, devidamente documentadas, que sustentem aquilo que afirma.


Black Europeans Lisbon Summit 2025 resulta de um esforço coletivo e independente de pessoas, profissionais e organizações comprometidas com a promoção da justiça racial, da memória histórica e do fortalecimento das comunidades negras e racializadas em Portugal e na Europa. Nenhum recurso público foi utilizado para a sua concretização.
As palavras do deputado não são apenas uma difamação ao nosso trabalho, mas uma ofensa direta às centenas de pessoas — mulheres, homens, jovens, crianças, académicos, ativistas, profissionais de diferentes áreas e cidadãos da sociedade civil — que se juntam neste espaço de diálogo e construção.
É importante reforçar: as estratégias da extrema-direita baseiam-se em coação e desinformação. São estas as armas usadas para tentar calar-nos, para apagar a memória histórica e para impedir que se abram caminhos de reparação e justiça. Não nos calarão. Continuaremos a falar, a resistir e a construir.
O Black Europeans Lisbon Summit 2025 é, e continuará a ser, um espaço de afirmação, de dignidade e de futuro.

16.09.2025 | por martalanca | Black Europeans

Cantos, imagens, danças e sons: atos para a libertação

O curador do ciclo de filmes «Cantos, imagens, danças e sons: atos para a libertação», Olivier Hadouchi, reflete sobre como essas formas artísticas foram ferramentas valiosas de resistência ao domínio colonial, ligando-as ao primeiro Festival Cultural Pan-Africano e à exposição «Zineb Sedira. Standing Here Wondering Which Way to Go».

Olivier Hadouchi 11 set 2025 3 min

Em julho de 1969, realizou-se, na capital argelina, o primeiro Festival Cultural Pan-Africano, que acolheu responsáveis e militantes de movimentos de libertação da Ásia e da África (do MPLA ao PAIGC, passando pela SWAPO), os Panteras Negras (Eldridge e Kathleen Cleaver, entre outros), e incluindo exilados do Brasil ou de Portugal, como Miguel Arraes, Manuel Alegre ou Apolônio de Carvalho.  

Este festival foi imortalizado pelo cineasta e fotógrafo William Klein, assistido por várias equipas franco-argelinas, e redescoberto há cerca de uma quinzena de anos. Festival Panafricain d’Alger (1969) surge agora como um registo precioso deste evento, que se estendeu por vários dias, e onde as ideias de Frantz Fanon, Amílcar Cabral e Mário Pinto de Andrade acerca do papel da cultura nas lutas de libertação encontraram uma encarnação concreta. O filme será exibido na inauguração do meu ciclo concebido em ressonância e em diálogo com a exposição Zineb Sedira. Standing Here Wondering Which Way to Go no CAM. Enquanto proposta aberta, este programa reúne uma constelação de filmes anticolonialistas e antirracistas, que dão destaque, em grande medida, às resistências culturais e políticas, e à inventividade das lutas de libertação, filmes que souberam acompanhá-las.

still de «Festival Pan-Africano de Argel» (1969), de William Klein

Várias décadas após o festival de 1969, com Dreams Have No Titles (2022), a artista franco-anglo-argelina Zineb Sedira reproduz e revisita cenas de culto de filmes resultantes de coproduções entre a Argélia e outros países do Mediterrâneo, numa reatualização do fervor em torno da sétima arte e do carácter festivo (músicas, danças de corpos em movimento) das décadas de 1960 e 1970, redescobrindo os sopros líricos e sincopados daqueles anos que viram países renascer, assistiram à sua entrada na dança das nações e ao restabelecimento de novas relações mundiais, onde os sons das guitarras elétricas se combinaram com ritmos latinos e africanos.  

Danças, poesia, contos e canções tradicionais foram ferramentas valiosas de resistência ao domínio colonial, mantendo vivas as culturas e identidades africanas. O seu carácter frequentemente oral permitiu que escapassem à censura, apesar das vontades de assimilação e desaparecimento das línguas locais a favor da língua dominante do poder colonial, preservando a chama de um passado e de uma herança culturais, suscetíveis de servir de baluarte contra o domínio e a aculturação. Estas danças e canções acompanharam as guerras e as lutas pela independência, as marchas e as reivindicações culturais e políticas em diversos países. 

Still de «Dreams Have No Titles» [Os Sonhos Não Têm Título] (2022), de Zineb Sedira

Esta constelação de filmes anticolonialistas e antirracistas, abertos à memória plural e às diversas expressões culturais destas lutas, não para de surpreender. Continua a inspirar as novas gerações de artistas, ativistas, espectadoras e espectadores, convidando-nos a entrar na dança arrebatadora de sons e imagens, de sonhos e imaginários, ao ritmo dos desejos profundos de mudanças globais daqueles anos, para melhor questionar o nosso presente e o nosso futuro.

16.09.2025 | por martalanca | cinema, luta de libertação

Coral dos Corpos sem Norte, criação de Kiluanji Kia Henda

20 sáb, 19h e 21 dom, 16h na Sala Estúdio Valentim de Barros / Jardins do Bombarda (Lisboa)

No deserto angolano, outrora o fundo de um mar, viajantes que retornam às suas terras podem ser alvos de “pemba”, feitiço que os impede de sair novamente. Coral dos Corpos sem Norte pensa a migração como um processo da pemba. Uma maldição que acompanha o indivíduo a cada passo e o leva de regresso ao ponto de partida. Um caminho de círculos concêntricos sem início e sem final.
A condição de diáspora, forçada ou escolhida, faz parte da condição humana. Nesse movimento, ao invés de paraísos, os migrantes que acreditam numa vida possível no continente europeu encontram uma realidade atroz.
Esta obra confronta a imagem de razão, paz e moralidade projetada pela Europa, desde o chamado Iluminismo. Uma imagem em contraste com a realidade de uma força supremacista que colonizou o continente africano e de um Mar Mediterrâneo que se tornou um cemitério para todos os que foram mortos durante a tentativa de travessia.

 

 

texto Kiluanji Kia Henda e Lucas Parente
criação Kiluanji Kia Henda apoio à dramaturgia Zia Soares
interpretação Lua Aurora, Natacha Campos
coreografia Vânia Doutel Vaz, Natacha Campos, Kiluanji Kia Henda 
figurinos Neusa Trovoada
desenho de luz Iorgos Konstantinidis
modelação e modelagem em gesso Eva Lopes
música Michel Figueiredo (aka Zumbi Albino)
técnico de som Bernardo Barata edição de vídeo Lucas Parente desenho técnico Lilianne Kiame construção e instalação Forsemat Lda
comissão e produção BoCA - Biennial of Contemporary Arts (Lisboa)coprodução Teatro Nacional D. Maria II, MAAT

16.09.2025 | por martalanca | kiluanji kia henda

Cantos, imagens, danças e sons: atos para a libertação

Ciclo de filmes / 20 e 21 set

Em diálogo com a exposição «Zineb Sedira. Standing Here Wondering Which Way to Go», este ciclo reúne uma constelação de filmes anticolonialistas e antirracistas, em torno da resistência cultural e política, e da inventividade das lutas de libertação.

Ancorado nos movimentos de resistência cultural e política das lutas de libertação dos anos de 1960 e 1970, o programa convida-nos a entrar na dança ardente dos sons e imagens, dos sonhos e imaginações, ao ritmo dos desejos profundos de mudança planetária desses anos, para melhor questionar o nosso presente e o nosso futuro.

Estas são obras abertas à memória plural e às diversas expressões culturais dessas lutas, que não param de nos surpreender e inspiram novas gerações de artistas, ativistas e públicos.

A seleção inclui filme célebres como A Batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo (1966) e Festival Pan-Africano de Argel, de William Klein (1969), e outros menos vistos como East Timor, Island of Fear, Island of Hope [Timor-Leste, Ilha do Medo, Ilha da Esperança], de Boubaker Adjali (1976) e o muito atual Beyrouth, ma ville [Beirute, Minha Cidade], de Jocelyne Saab (1982).

O ciclo apresenta também Dreams Have No Titles [Os Sonhos Não Têm Títulos], o filme realizado por Zineb Sedira para a Bienal de Veneza, em 2022. Neste, a artista repete e revisita sequências de culto de filmes coproduzidos entre a Argélia e outros países mediterrânicos, atualizando assim o fervor em torno do cinema e o espírito festivo das décadas de 1960 e 1970. As danças tradicionais, a poesia, os contos e as canções foram instrumentos preciosos para resistir à dominação colonial, mantendo vivas as culturas e as identidades africanas.

Curadoria de Olivier Hadouchi

mais informações na página da Fundação Gulbenkian.


 

15.09.2025 | por martalanca | libertação

Vale da Amoreira: HISTÓRIAS DE UM BAIRRO EM MOVIMENTO

APRESENTAÇÃO DO LIVRO VALE DA AMOREIRA: HISTÓRIAS DA CIDADE NAS MARGENS

27 de setembro – 18h | Artepólon Associação – Av. José Almada Negreiros, n.º 50, Loja B, Vale da Amoreira

No dia 27 de setembro inaugura-se a exposição Vale da Amoreira: Histórias de um Bairro em Movimento e será apresentado o livro Vale da Amoreira: Histórias da Cidade nas Margenspublicado pela editora Fora de Jogo. Trata-se de um projeto coletivo que cruza investigação académica, participação comunitária, fotografia e criação artística. A exposição, em formato bilingue (português e cabo-verdiano), dá a conhecer a história e as histórias do Vale da Amoreira – um bairro nascido nos anos 1970, em plena descolonização e Revolução de Abril, ocupado em massa por retornados de Angola e migrantes internos e que, mais tarde, se tornou casa de sucessivas vagas de imigrantes. Entre diversidade cultural e tensões sociais, abandono estatal e reinvenção comunitária, o Vale afirma-se como território vivo, criativo e plural. Através de etnografia, testemunhos, documentos de arquivo, fotografia e intervenção artística, a exposição e o livro oferecem o retrato de um território tantas vezes estigmatizado, mas essencial para compreender as margens urbanas em transformação no Portugal contemporâneo – e para imaginar, a partir delas, futuros mais justos e comuns.

O projeto é coordenado por Elsa Peralta e conta com a fotografia de Bruno Simões Castanheira. Integra ainda um texto literário de Bruno Vieira Amaral, um poema original de Joãozinho da Costa e uma intervenção artística de Pedro Pinhal – os três crescidos no Vale da Amoreira. A exposição e o livro resultam de Constelações da Memória, projeto de investigação financiado pela FCT e coordenado por Elsa Peralta, que estuda as marcas da migração e da descolonização nos espaços urbanos de Portugal. A exposição estará patente na Galeria da Artepólon Associação, no Vale da Amoreira, entre 27 de setembro e 15 de novembro.

fotografia de Bruno Simões Castanheirafotografia de Bruno Simões Castanheirafotografia de Bruno Simões Castanheirafotografia de Bruno Simões Castanheira

Mais informação aqui.

Contactos para entrevistas e imagens de divulgação:

elsa.peralta@campus.ul.pt | rtepolon@gmail.com | 910 317 516

14.09.2025 | por martalanca | Vale da Amoreira

Como Falar do Trauma? Uma ditadura ainda presente nas artistas ibéricas

Alice Geirinhas, Ana Pérez-Quiroga, Carla Hayes Mayoral, Cintia Gutiérrez, Cristina del Águila, Elo Vega, Susana Gaudêncio, Susana Mendes Silva

CuradoriaAna Pérez-Quiroga, Bruno Marques, Javier Cuevas del Barrio

Data 16.05.2025 – 21.09.2025 HorárioTerça a domingo: 10h - 13h e 14h - 18h Local Galeria Quadrum inauguração 15.05 - 18h

A exposição coloca em diálogo oito artistas contemporâneas de Portugal e de Espanha (Andaluzia) a fim de explorar as marcas das ditaduras ibéricas no presente das mulheres. Os trabalhos reunidos abordam o impacto intergeracional da opressão política, assim como as dinâmicas entre memória, pós-memória e contra-narração. Numa perspetiva crítica, estas obras questionam a amnésia cultural e histórica que frequentemente silencia as experiências traumáticas de subjetividades marginalizadas.

Concebido como um percurso labiríntico, o espaço expositivo articula tecido e um jogo de luz, criando uma cenografia que dramatiza a tensão entre revelação e ocultamento. Este dispositivo enfatiza tanto as projeções imaginárias como os silêncios e ressonâncias que habitam nos interstícios da memória coletiva e nos ângulos mortos das narrativas oficiais.

Mais do que retratar somente a dor, Como Falar do Trauma? | ¿Cómo Hablar del Trauma? convida o público a atravessar as fronteiras entre o visível e o velado, o narrado e o esquecido, promovendo uma reflexão poética e consciência política sobre como lidar com as heranças do passado e a possibilidade de reimaginar futuros.

 

 

 

12.09.2025 | por martalanca | ditadura, trauma

“BANZO” é o filme português candidato aos Oscars 2026

O filme “Banzo é o candidato de Portugal à categoria de Melhor Filme Internacional, na 98.ª edição dos Prémios da Academia Americana de Cinema, que acontece a 15 de março de 2026, em Hollywood, Los Angeles (EUA).

Depois de uma votação entre os membros da Academia Portuguesa de Cinema (APC), que decorreu entre 22 de agosto e 10 de setembro, “Banzo” foi o filme mais votado. Em consideração estavam também “Hanami”, de Denise Fernandes (O Som e a Fúria), “Os Papéis do Inglês”, de Sérgio Graciano (Leopardo Filmes), “Sobreviventes”, de José Barahona (David & Golias) e “Sonhar com Leões”, de Paolo Marinou-Blanco (Promenade).

“Banzo”, realizado por Margarida Cardoso e produzido pela Uma Pedra no Sapato, mergulha na herança do colonialismo português em África. Com uma abordagem sensível e rigorosa, o filme revisita memórias e cicatrizes históricas através de um olhar contemporâneo. A obra destaca-se pela sua força visual e a narrativa intimista. Uma reflexão poderosa sobre identidade, dor e memória coletiva.

Esta obra foi distinguida com o Prémio ‘Árvore da Vida’ em 2024, na 21.ª edição do Festival IndieLisboa. Foi ainda selecionada pela Academia Portuguesa de Cinema como representante de Portugal na categoria de Melhor Filme Ibero-Americano, tanto nos Prémios Macondo 2025, atribuídos pela Academia Colombiana de Cinema, como nos Prémios Goya 2026, atribuídos pela Academia Espanhola de Cinema.

Trailer


12.09.2025 | por martalanca | BANZO