A carta que hoje traz o assunto da remoção dos símbolos esclavagistas e colonialistas, à qual acrescento o fim da reprodução da prática morgadia em modo de instalação de placas de ostentação da fulanização do poder, enquadra-se na terceira vaga de protestos antirracistas e anticolonialistas com séculos de história, mas materializado em parte com a declaração simbólica da independência.
Cidade
17.06.2020 | por Redy Wilson Lima
O caso do combate da pandemia de 1907, em Maputo, apresenta um exemplo de como a resposta a uma crise sanitária se transmuta – ou é usada como desculpa – para a consolidação de medidas de segregação e exclusão racial.
A ler
17.06.2020 | por Matheus Pereira
Caem os heróis de sempre também na América. Por cá, a revolta contra ícones de metal e pedra apontou Cristóvão Colombo como o alvo a abater. Nos Estados Unidos rolam as cabeças do capitão. Na América Latina, o 12 de Outubro, dia em que o genovês chegou a estas bandas, incomoda e desvela uma enorme hipocrisia identitária.
A ler
14.06.2020 | por Pedro Cardoso
Estes rasgos de continuidade sabem muito bem. É que a Nova Ordem Mundial confunde Ordem com Regime e de ordem não percebem nada, a ordem é difícil como tudo, por isso é que aparecem regimes que fazem passar formatação por ordem em desespero tentam impor aquilo que existe e só com muita gentileza atinge ordem.
Corpo
14.06.2020 | por Adin Manuel
É quase heresia falar da história da escravatura, do colonialismo e do neocolonialismo em Cabo Verde. Não se fala desses assuntos porque o Estado e a elite não gostam. Porque vamos afetar a nossa relação com Portugal, ou a Europa de forma geral. Nem se fala destas questões por sermos nós tão “específicos”, tão “especiais”, tão “ singulares”.
Cidade
14.06.2020 | por Alexssandro Robalo
O que foi "novo" na narrativa da cultura popular, hoje relevante, ficou asfixiado por um discurso "integracionista", "cosmopolítico" superficial e bastante romantizado. Falar de violência doméstica, sexismo e desigualdades em função do género dentro de grupos racializados na década de noventa, como o fizeram Djamal e Divine, e no fim da década de noventa Backwords, culminou efectivamente na sua sub-representação.
Corpo
14.06.2020 | por Soraia Simões de Andrade
O tio Paulo Bano diz que os tugas têm orgulho e vaidade nos símbolos de poder, de violência e de opressão, e não toleram quem não os respeite. Chegaram à Guiné, destruíram todos os símbolos das pessoas, dizendo que eram maus, e colocaram os símbolos deles. Contou-me que os tugas obrigavam toda a gente na Guiné a aprender uma cantiga, para mostrar a sua importância e grandeza, até o próprio mar era nada perante um tuga.
Cidade
14.06.2020 | por Marinho de Pina
Fico, tipo: Kumekié, caralho!? N’tão!, vocês vão lá para a Guiné com os vossos padres e as vossas ONGs a falar que devemos nos juntar e mamar como irmãos, e vocês aqui não gostam uns dos outros! Caralho!
Mukanda
13.06.2020 | por Marinho de Pina
«Turra», «terrorista», «preto», tudo queria dizer «assassino». Não se lembrava o Martins aquilo que ele próprio era. Ou talvez não o soubesse.
Entretanto chega outro soldado, de gabardine militar, que se encostou à porta de gare. O seu aspecto era mais franzino do que qualquer das pessoas e o seu rosto evidenciava a sua origem: classe baixa, campestre, dos campos de entre a Ria e as planícies marítimas da Gafanha.
A ler
08.06.2020 | por Rui Lourenço
Diferentemente da primeira geração, que tinha o “sonho francês” de uma vida melhor e a ilusão de retornar a Argélia, Guène tem consciência que a relação dos pais com o país de origem é baseada numa certa negação, numa ilusão que eles alimentaram de um país que não existe mais. Ela acrescenta “para nós era também um país que não existia. Para mim a Argélia se divide entre um país real e um imaginário, e a Argélia é parte de mim tanto quanto a França.
A ler
06.06.2020 | por Fernanda Vilar
Para Cabral a luta armada, filiando-se numa tradição de resistência que remontava ao início da ocupação portuguesa, era igualmente um meio de agregação política de uma população social e etnicamente diversa, na senda da formação de uma “consciência nacional”. Depois, porque no entendimento estratégico de Cabral o modo de travar a guerra pela independência delineava as próprias feições do período pós-independência.
A ler
05.06.2020 | por Inês Galvão, José Neves e Rui Lopes
Esta carta de um pai para o filho, que cresceram, ainda assim, com referências diferentes (o filho teve a sorte de assistir a dois mandatos de um presidente negro, exemplo para a comunidade negra em termos de representatividade e ambição), transparece a continuidade do medo e da raiva. Alicerçam a ideia de comunidade imaginada, uma vez que o corpo negro deita por terra qualquer teoria ou história de superação e sucesso pessoal (estudos, dinheiro, estatuto), enquanto for marcado pela descriminação.
A ler
02.06.2020 | por Marta Lança
Amélia da Silva escreveu um livro a contar como recusou o noivo tradicional que lhe estava atribuído e questiona a poligamia, uma prática bastante enraizada entre os manjacos que, no seu entender, não dignifica a mulher, nem respeita a sua escolha e liberdade individual.(...) O sujeito indicado para receber as mensagens do irã é o namanha. O irã pode ser considerado um espírito bom, que protege a comunidade e os seus membros, e o espírito mau que deve ser afastado, uma vez que causa problemas.
A ler
02.06.2020 | por Carlos Alberto Alves
Uma das vertentes deste trabalho foi pensar a relação ideológica entre o espaço de oração (a mesquita) e o espaço de exposição (o palácio), no âmbito das suas interligações históricas, culturais e arquitetónicas. Outra vertente do trabalho foi interrogar o espaço ocupado pelo corpo-crente na relação com as práticas rituais e o local sagrado. Em Variações da Fé, o corpo aparece progressivamente, ao longo do desenrolar da proposta no espaço, até desaparecer. Entramos.
Corpo
31.05.2020 | por Hélène Veiga Gomes
A causa saharaui, justa e legítima, é uma questão pendente na nossa transição para a democracia, como tem sido a exumação do ditador Francisco Franco do “Vale dos Caídos”. Não podemos continuar a fazer ouvidos surdos e a olhar para o outro lado. Seria desejável, portanto, que Espanha, como Portugal no caso de Timor-Leste, fizesse o mesmo no caso do Sahara Ocidental – a nossa antiga 'Província 53' - honrando assim as suas responsabilidades históricas e pondo fim à enorme injustiça cometida contra o povo saharaui. É hora de descolonizar.
Jogos Sem Fronteiras
30.05.2020 | por Luis Portillo Pasqual del Riquelme
Dividimos por uns meses um apartamento em Bayswater, Londres, que me lembro tinha um fotógrafo que morava em frente e nos tirava fotos pela janelas – todas elas despidas de cortinas, que é aliás algo de que gosto muito. A Monika, sendo sueca, andava nua pela casa quando lhe apetecia e eu, está claro, tuga vestido desde o duche da manhã – sem essas frescuras nórdicas. Fazíamos um casal de lésbicas muito bonito, por isso não nos tocávamos em público ou aquilo era logo uma matilha de lobos.
Corpo
30.05.2020 | por Adin Manuel
Mais do que um signo de união sobre a responsabilidade da transmissão da memória, a pós-memória é separador de águas. Menosprezada pelas ciências sociais, subestimada pelos historiadores, endeusada nos estudos culturais e nas artes, o tema da memória das gerações seguintes às gerações testemunhais é um território controverso, por vezes conflituoso, de qualquer modo estranho.
A ler
29.05.2020 | por Roberto Vecchi
No seu vídeo para Apeshit, filmado no Louvre, a cena do joelho dobrado é recriada, com as letras de Jay-Z a recordar à NFL quem precisa de quem, outra fagulha para a discussão sobre quão apreciada é a cultura negra e o quanto ela rende, em detrimento de quem faz essa mesma cultura e dos seus lucros se vê privado. Numa outra cena, Beyoncé retira a bandana pejada de pérolas que lhe cobria o rosto.
Afroscreen
27.05.2020 | por Gisela Casimiro
Como investigadores da história do cinema, entendemos a necessidade de estudos sobre o que está a ser produzido numa certa margem do cinema contemporâneo, questionando inclusive a própria ideia de produção periférica ou marginal, uma vez que grande parte dos filmes que aqui trazemos consolida, em torno dos próprios filmes e de seus realizadores, novos “centros” de ativação cultural, deslocando as velhas (novas) relações entre centro-periferia.
Afroscreen
27.05.2020 | por Michelle Sales
Somos suscetíveis à obscuridade. Não apesar, ou por causa da tecnologia moderna. Mas porque "o que é a história senão uma fábula na qual concordamos?" (Napoleão, talvez). Nossas ‘postagens’, ‘partilhas’ e hashtags se dissiparão no vazio digital quando começarmos a nos enxergar como geração que experienciou um excesso de visibilidade individual, se empolgou e esbaldou. E o ‘esbaldar’ é indiferente à mudança, assim como a mídia social é indiferente à justiça social. Hoje em dia, parece que atribuir natureza revolucionária à tecnologia é depreciar nosso potencial revolucionário como seres sociais, com todas as suas complexidades.
A ler
24.05.2020 | por Mirna Wabi-Sabi