Um sonho verde

Um sonho verde Penso nas pessoas talentosas que não têm acesso aos holofotes do mundo e que, no seu quartinho à noite, inventam músicas ao violão, e que por vezes em cima de escombros e entulho, ou entre paredes partilhadas com famílias inteiras, esboçam a lápis a sua visão. Que por falta de dinheiro, saúde, ou oportunidade, jamais terão uma plateia. Que paisagens percorrem as suas mãos quando tateiam o escuro? Que navios e estrelas, fogueiras e catedrais povoam os seus sonhos neste preciso momento? E penso nestes macacos que observei, fêmeas que migram e vagueiam durante anos isoladas na floresta, a quem foi roubado o direito de ter uma família. Com o consolo de saber que a natureza é a verdadeira guardiã do tempo, será somente ela a trazer a lava para cobrir as mãos, e a fazer vingar de novo o verde sobre o asfalto.

Mukanda

12.11.2025 | por Rita Brás