Fantasmas do Império
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 Por uma simplicidade de categorização Fantasmas do Império é um filme pós-colonial mas ao testemunhar no presente o que foi um determinado passado e ao constatar que o presente está cheio desse passado, ele tem toda a força de um filme de luta anti-colonial, situado num mundo que nos é contemporâneo. Um mundo em que os vestígios do passado que permeiam o nosso presente sob a forma de fraturas, são objeto de um trabalho simbólico que começa a produzir novas formas híbridas e cosmopolitas de cultura próprias de um novo tempo pós-colonial, transnacional e pós-migratório.
				Por uma simplicidade de categorização Fantasmas do Império é um filme pós-colonial mas ao testemunhar no presente o que foi um determinado passado e ao constatar que o presente está cheio desse passado, ele tem toda a força de um filme de luta anti-colonial, situado num mundo que nos é contemporâneo. Um mundo em que os vestígios do passado que permeiam o nosso presente sob a forma de fraturas, são objeto de um trabalho simbólico que começa a produzir novas formas híbridas e cosmopolitas de cultura próprias de um novo tempo pós-colonial, transnacional e pós-migratório.		 Os primeiros filmes brasileiros são realizados em 1897. Nove anos antes, o Brasil fora o último país ocidental a abolir a escravatura. Os portugueses começam o tráfego negreiro pouco após a descoberta e, durante 350 anos, deportam no mínimo 5 milhões de africanos, número que não inclui os desaparecidos no oceano. Soldados da conquista, mão-de-obra no campo e na cidade, empregados e artesãos, os africanos edificam o Brasil. Quando D. Pedro, herdeiro da coroa portuguesa e rei do Brasil, proclama a independência, em 1822, dois terços dos brasileiros são afro-descendentes, na sua maioria alforriados e livres. No entanto, durante décadas, o cinema oculta esse passado fundador, o cinema apaga a escravidão.
				Os primeiros filmes brasileiros são realizados em 1897. Nove anos antes, o Brasil fora o último país ocidental a abolir a escravatura. Os portugueses começam o tráfego negreiro pouco após a descoberta e, durante 350 anos, deportam no mínimo 5 milhões de africanos, número que não inclui os desaparecidos no oceano. Soldados da conquista, mão-de-obra no campo e na cidade, empregados e artesãos, os africanos edificam o Brasil. Quando D. Pedro, herdeiro da coroa portuguesa e rei do Brasil, proclama a independência, em 1822, dois terços dos brasileiros são afro-descendentes, na sua maioria alforriados e livres. No entanto, durante décadas, o cinema oculta esse passado fundador, o cinema apaga a escravidão.  		 “O cinema colonial é sempre um confronto de dois olhares. Mesmo que um dos olhares esteja completamente subjugado, ele está lá. Há um momento em que alguém, que foi apanhado pela câmara, olhou para a câmara e, de repente, num simples olhar, transmite um mundo que, aparentemente, na retórica do filme, está completamente esquecido ou está completamente subjugado. Nenhum realizador colonialista, por mais que queira fazer propaganda, consegue fazer um plano escondendo toda a realidade”.
				“O cinema colonial é sempre um confronto de dois olhares. Mesmo que um dos olhares esteja completamente subjugado, ele está lá. Há um momento em que alguém, que foi apanhado pela câmara, olhou para a câmara e, de repente, num simples olhar, transmite um mundo que, aparentemente, na retórica do filme, está completamente esquecido ou está completamente subjugado. Nenhum realizador colonialista, por mais que queira fazer propaganda, consegue fazer um plano escondendo toda a realidade”.		 O triunfo do filme consiste, por isso, em mostrar, mas sobretudo em interromper e interpelar os filmes que mostra, com comentários, observações e justaposições, demonstrando que não há neles rigorosamente nada de natural. Tomando em consideração o modo sistemático como se tem vindo a demonstrar quão artificiais, postiças, desequilibradas, encenadas e ocultadoras são as imagens dominantes que foram produzidas em contextos imperiais, Benjamin Stora perguntou recentemente: será que a imagem colonial ainda mantém uma ligação ao real? Ariel de Bigault levou esta inquietação a sério no documentário, dando-lhe uma resposta enfática na negativa, concentrando-se no imaginário e ficção do cinema colonial como se uma história de fantasmas.
				O triunfo do filme consiste, por isso, em mostrar, mas sobretudo em interromper e interpelar os filmes que mostra, com comentários, observações e justaposições, demonstrando que não há neles rigorosamente nada de natural. Tomando em consideração o modo sistemático como se tem vindo a demonstrar quão artificiais, postiças, desequilibradas, encenadas e ocultadoras são as imagens dominantes que foram produzidas em contextos imperiais, Benjamin Stora perguntou recentemente: será que a imagem colonial ainda mantém uma ligação ao real? Ariel de Bigault levou esta inquietação a sério no documentário, dando-lhe uma resposta enfática na negativa, concentrando-se no imaginário e ficção do cinema colonial como se uma história de fantasmas. 		



