 Poderíamos dizer que a zona de interesse hoje em dia tem de abranger uns bons milhares de quilómetros, para nos isolar das atrocidades que se cometem por esse mundo fora. E nem assim. Porque ao mesmo tempo vai-se restringindo a distância a que as coisas acontecem. Tudo nos chega aos olhos e aos ouvidos. E quase no instante em que acontecem, o que mais aumenta o nosso sentimento de desamparo e de impotência diante das monstruosidades que de certo modo presenciamos e que nos questionam instantemente.
				Poderíamos dizer que a zona de interesse hoje em dia tem de abranger uns bons milhares de quilómetros, para nos isolar das atrocidades que se cometem por esse mundo fora. E nem assim. Porque ao mesmo tempo vai-se restringindo a distância a que as coisas acontecem. Tudo nos chega aos olhos e aos ouvidos. E quase no instante em que acontecem, o que mais aumenta o nosso sentimento de desamparo e de impotência diante das monstruosidades que de certo modo presenciamos e que nos questionam instantemente.		
		
			Mukanda		
		
		29.12.2024 | por José Lima		
	
  
    		
		
						 Estarão as obras literárias de autoria afrodescendente criadas em Portugal a contribuir também para desafiar a identidade europeia, na sua complexidade e diversidade? Tendo presente a «ferida aberta» que o colonialismo continua a ser, mas não se limitando ao seu tratamento, que novas relegações sociais e invisibilidades político-culturais poderão estas vozes [contribuir para mostrar] apontar na paisagem europeia?
				Estarão as obras literárias de autoria afrodescendente criadas em Portugal a contribuir também para desafiar a identidade europeia, na sua complexidade e diversidade? Tendo presente a «ferida aberta» que o colonialismo continua a ser, mas não se limitando ao seu tratamento, que novas relegações sociais e invisibilidades político-culturais poderão estas vozes [contribuir para mostrar] apontar na paisagem europeia?		
		
			A ler		
		
		25.10.2022 | por Liz Almeida		
	
  
    		
		
						 Historicamente, África tem sido retratada numa perspectiva que não faz jus à verdadeira dimensão das suas conquistas em termos de desenvolvimento. Embora o seu território abranja mais de 30 milhões de quilómetros quadrados, a projecção de Mercator representou o continente africano com as mesmas dimensões que as da Gronelândia, que é 14 vezes mais pequena. A descrição cartográfica do mundo feita por Mercator, datada de 1569, tornou‑se uma das projecções mais influentes e amplamente difundidas ao longo dos séculos xix e xx. Houve quem defendesse que a intenção inicial era sobretudo proporcionar aos marinheiros uma ferramenta de navegação, devido à facilidade de assegurar a precisão dos formatos e dos ângulos, mas o certo é que esta descrição acabou por se tornar o mapa mundial mais reconhecido, aparecendo como pano de fundo nos jornais televisivos, na decoração de paredes das casas, em murais e na capa de muitos atlas.
				 Historicamente, África tem sido retratada numa perspectiva que não faz jus à verdadeira dimensão das suas conquistas em termos de desenvolvimento. Embora o seu território abranja mais de 30 milhões de quilómetros quadrados, a projecção de Mercator representou o continente africano com as mesmas dimensões que as da Gronelândia, que é 14 vezes mais pequena. A descrição cartográfica do mundo feita por Mercator, datada de 1569, tornou‑se uma das projecções mais influentes e amplamente difundidas ao longo dos séculos xix e xx. Houve quem defendesse que a intenção inicial era sobretudo proporcionar aos marinheiros uma ferramenta de navegação, devido à facilidade de assegurar a precisão dos formatos e dos ângulos, mas o certo é que esta descrição acabou por se tornar o mapa mundial mais reconhecido, aparecendo como pano de fundo nos jornais televisivos, na decoração de paredes das casas, em murais e na capa de muitos atlas.		
		
			Mukanda		
		
		22.08.2022 | por Carlos Lopes e George Kararach		
	
  
    		
		
						 É contra este desligamento, contra esta hierarquia da teoria sobre a praxis, por exemplo, que este livro opera. Não digo a que este livro se refere, digo “que este livro opera” porque, sentindo-se o que nos é informado numa nota na página final desta publicação, que se trata aqui de textos que derivam de publicações anteriores em artigos ou ensaios de jornal, sente-se também um pensamento que é feito acompanhando e entrelaçando-se, com a contingência, com as circunstâncias históricas atuais e com a práxis da vida quotidiana. É também de questões que reverberam diretamente dos dias que estamos a viver que este livro emerge, interpelando o nosso modo de os habitar.
				É contra este desligamento, contra esta hierarquia da teoria sobre a praxis, por exemplo, que este livro opera. Não digo a que este livro se refere, digo “que este livro opera” porque, sentindo-se o que nos é informado numa nota na página final desta publicação, que se trata aqui de textos que derivam de publicações anteriores em artigos ou ensaios de jornal, sente-se também um pensamento que é feito acompanhando e entrelaçando-se, com a contingência, com as circunstâncias históricas atuais e com a práxis da vida quotidiana. É também de questões que reverberam diretamente dos dias que estamos a viver que este livro emerge, interpelando o nosso modo de os habitar. 		
		
			A ler		
		
		31.05.2022 | por Liliana Coutinho		
	
  
    		
		
						 será que o leitor se referia ao seu aspecto físico ou à totalidade da sua percepção da realidade? Ao bairro onde Fidel vivia, ao seu quotidiano e indumentária, condição social, cor de pele, ou a outra condição limitadora? A Primavera não chegou para explicar a mim mesma por que razão as dores de Fidel, os seus medos, os amores de Fidel, os seus anseios, são dores, amores, anseios de segunda — anseios, medos, dores e amores com um grau inferior de generalidade ao da gente que costumamos encontrar dentro dos livros a que chamamos romances.
				será que o leitor se referia ao seu aspecto físico ou à totalidade da sua percepção da realidade? Ao bairro onde Fidel vivia, ao seu quotidiano e indumentária, condição social, cor de pele, ou a outra condição limitadora? A Primavera não chegou para explicar a mim mesma por que razão as dores de Fidel, os seus medos, os amores de Fidel, os seus anseios, são dores, amores, anseios de segunda — anseios, medos, dores e amores com um grau inferior de generalidade ao da gente que costumamos encontrar dentro dos livros a que chamamos romances.		
		
			A ler		
		
		24.07.2020 | por Djaimilia Pereira de Almeida		
	
  
    		
		
						 O processo foi mil vezes intentado. Podemos recitar de olhos fechados as principais acusações. Seja a destruição da biosfera, o resgate das mentes pela tecnociência, a desintegração das resistências, os reiterados ataques contra a razão, a crescente cretinice das mentalidades, ou a ascensão dos determinismos (genéticos, neural, biológico, ambiental), as ameaças à humanidade são cada vez mais existenciais.
				O processo foi mil vezes intentado. Podemos recitar de olhos fechados as principais acusações. Seja a destruição da biosfera, o resgate das mentes pela tecnociência, a desintegração das resistências, os reiterados ataques contra a razão, a crescente cretinice das mentalidades, ou a ascensão dos determinismos (genéticos, neural, biológico, ambiental), as ameaças à humanidade são cada vez mais existenciais.		
		
			Mukanda		
		
		09.04.2020 | por Achille Mbembe		
	
  
    		
		
						 Como todos, estou numa espécie de filme de ficção científica onde temos alguma comida extra e vamos acreditando no que nos dizem na TV. Só saí de casa antes de ontem à tarde para ir buscar cigarrilhas e fiquei numa "bicha" de zombies na estação da BP. Muitos com máscara e eu sem mascara porque pus no meu Buda. Tenho medo que apanhe qualquer coisa e me passe a crença budista - isto nunca se sabe. Estou meio sensibilizado com tudo o que vou vendo, mas o que mais me chocou foi o Donald Trump a ofender os chineses dizendo que o vírus veio da China.
				Como todos, estou numa espécie de filme de ficção científica onde temos alguma comida extra e vamos acreditando no que nos dizem na TV. Só saí de casa antes de ontem à tarde para ir buscar cigarrilhas e fiquei numa "bicha" de zombies na estação da BP. Muitos com máscara e eu sem mascara porque pus no meu Buda. Tenho medo que apanhe qualquer coisa e me passe a crença budista - isto nunca se sabe. Estou meio sensibilizado com tudo o que vou vendo, mas o que mais me chocou foi o Donald Trump a ofender os chineses dizendo que o vírus veio da China. 		
		
			A ler		
		
		21.03.2020 | por Adin Manuel		
	
  
    		
		
						 cada vez mais fico com a sensação de que um dos desafios que a condição pós-colonial coloca a pessoas como eu é de sermos melhores europeus do que os próprios europeus, pois estes, por deixarem que sejam seus porta-vozes pessoas sem noção do importante legado intelectual e moral que a sua nacionalidade implica, abdicam dum projecto normativo que, apesar de tudo, tinha (e ainda tem) tudo para dar certo.
				cada vez mais fico com a sensação de que um dos desafios que a condição pós-colonial coloca a pessoas como eu é de sermos melhores europeus do que os próprios europeus, pois estes, por deixarem que sejam seus porta-vozes pessoas sem noção do importante legado intelectual e moral que a sua nacionalidade implica, abdicam dum projecto normativo que, apesar de tudo, tinha (e ainda tem) tudo para dar certo.		
		
			Mukanda		
		
		05.02.2020 | por  Elísio Macamo		
	
  
    		
		
						 Para Bhabha, face à incerteza do posicionamento de fronteiras – que são maleáveis e flutuantes – do período pós-colonial, emancipa-se o lugar que está para lá, permanecendo-se, porém, num perpétuo entre. 
Esta des-referenciação, baseada na transformação cultural movida pela dinâmica de êxodos migratórios, pela deslocação de grupos étnicos, religiosos e ideológicos, pela itinerância de refugiados e de exilados políticos e pela re-definição de estatutos e fronteiras políticas, está assente na noção exploratória e expeculativa do beyond – para lá/paraalém de.
				Para Bhabha, face à incerteza do posicionamento de fronteiras – que são maleáveis e flutuantes – do período pós-colonial, emancipa-se o lugar que está para lá, permanecendo-se, porém, num perpétuo entre. 
Esta des-referenciação, baseada na transformação cultural movida pela dinâmica de êxodos migratórios, pela deslocação de grupos étnicos, religiosos e ideológicos, pela itinerância de refugiados e de exilados políticos e pela re-definição de estatutos e fronteiras políticas, está assente na noção exploratória e expeculativa do beyond – para lá/paraalém de.		
		
			Jogos Sem Fronteiras		
		
		20.03.2019 | por Luísa Sol, Ana Teresa Ascensão, Manuel Aires Mateus e Vasco Tavares dos Santos 		
	
  
    		
		
						 O trabalho de um artista, como o de qualquer trabalhador imaterial, implica portanto recusar o status quo, isto é, a obrigação de “fazer sem pensar, sentir sem emoção, se mover sem fricção, se adaptar sem questionar, traduzir sem pausa, desejar sem propósito, se conectar sem interrupção.” De forma a inverter esse processo, poderíamos começar por reclamar empatia com a imaginação não-humana e inumana dos mundos, tendo em conta que a aliança e a empatia fazem parte do processo enraizador da imaginação na política.
				O trabalho de um artista, como o de qualquer trabalhador imaterial, implica portanto recusar o status quo, isto é, a obrigação de “fazer sem pensar, sentir sem emoção, se mover sem fricção, se adaptar sem questionar, traduzir sem pausa, desejar sem propósito, se conectar sem interrupção.” De forma a inverter esse processo, poderíamos começar por reclamar empatia com a imaginação não-humana e inumana dos mundos, tendo em conta que a aliança e a empatia fazem parte do processo enraizador da imaginação na política. 		
		
			A ler		
		
		21.03.2017 | por Ritó aka Rita Natálio		
	
  
    		
		
						 portanto, a partir deste capítulo de desvinculação colonial tão “desconhecido” quanto contundente, da longa primavera da África (por relação aos acontecimentos políticos recentes no Oriente Médio), e de um novo pensamento ideológico e cultural (o exemplo da “pedagogia da revolução” de Amílcar Cabral, nas palavras de Paulo Freire), que as responsáveis – Ligia Nobre e Cécile Zoonens – pela plataforma exo experimental org., em colaboração com Anne Sobotta, “imaginaram” uma aproximação renovada e necessária. Mas qual a importância contemporânea desta aproximação? O que alimenta esta necessidade hoje, em que o Brasil se assume como uma potência no mundo? O que existe para além da histórica descendência afro, de milhões de brasileiros?
				portanto, a partir deste capítulo de desvinculação colonial tão “desconhecido” quanto contundente, da longa primavera da África (por relação aos acontecimentos políticos recentes no Oriente Médio), e de um novo pensamento ideológico e cultural (o exemplo da “pedagogia da revolução” de Amílcar Cabral, nas palavras de Paulo Freire), que as responsáveis – Ligia Nobre e Cécile Zoonens – pela plataforma exo experimental org., em colaboração com Anne Sobotta, “imaginaram” uma aproximação renovada e necessária. Mas qual a importância contemporânea desta aproximação? O que alimenta esta necessidade hoje, em que o Brasil se assume como uma potência no mundo? O que existe para além da histórica descendência afro, de milhões de brasileiros?		
		
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		21.08.2013 | por Marta Mestre