O vale dos caídos no século xxi

O vale dos caídos no século xxi O fato de Franco estar enterrado "em local sagrado" e da decisão da sua família – de que caso não se possa impedir uma exumação, a que se opõem irrefutavelmente, Franco seja transferido para a Catedral de Madrid – forçou o governo a procurar apoio junto do Vaticano, transferindo o conflito para a esfera diplomática. O destino do corpo de Franco, que ainda está no Vale, tornou-se o centro de uma controvérsia memorial de primeira ordem que questiona a capacidade da democracia espanhola de se livrar de uma vez por todas do tenaz fantasma do seu último ditador.

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06.04.2019 | por Francisco Ferrándiz

48 retratos de guerra, 48 bombas relógio 48 elegias

48 retratos de guerra, 48 bombas relógio 48 elegias A experiência da participação neste evento de indefinida colocação historiográfica, quer pela denegação que oficialmente o caracterizou, quer pela radical reformulação geopolítica do país que a partir dele se engendrou com a descolonização, tornou a guerra colonial um dos mais recalcados e complexos, mas também um dos mais trágicos eventos da contemporaneidade portuguesa que ainda hoje nos interroga.

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30.03.2019 | por Margarida Calafate Ribeiro

O que se pode fazer ao ver com os olhos de um outro

O que se pode fazer ao ver com os olhos de um outro Através do trabalho de Louise Narbo podemos interrogar esta relação de quem herda o olhar de um passado através de um outro. Ela sugere que o olhar do outro, que comporta em si certas capacidades, interfere na visão de quem o herda; que esse olhar, diminuído ou amplificado, pode nublar, embaciar, deformar a visão de quem o recebe; mas pode ao mesmo tempo constituir o motivo pelo qual o herdeiro desse olhar se interroga sobre essa visão que não é exclusivamente a sua, mas que também já não pertence exclusivamente àquele que lhe transferiu o seu olhar.

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23.03.2019 | por Fátima da Cruz Rodrigues

Da guerra colonial: memórias e pós-memórias, transmissão e imaginação

Da guerra colonial: memórias e pós-memórias, transmissão e imaginação Quando a literatura busca transmitir a experiência da violência, o resultado está determinado pela distância entre quem escreve e a realidade traumática referida. Existem, no entanto, constantes entre as representações artísticas da memória feitas pelas testemunhas directas dos acontecimentos e aquelas reelaboradas pelos seus descendentes (as chamadas pós-memórias).

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24.02.2019 | por Felipe Cammaert

Questões de língua, multilinguismo e exílio

Questões de língua, multilinguismo e exílio Importantes ainda são os estudos de Lévy-Strauss, do grupo da “decolonality” latino-americana como Eduardo Viveiros de Castro, Walter Mignolo, Aníbal Quijano, ou de antropólogos como Aparecida Vilaça, Yvone de Freitas Leite, Elisa Loncon Antileo, Pedro Niemeyer Cesarino, ou líderes índios como Ailton Krenac. Estes últimos, ao mesmo tempo que denunciam o extermínio das línguas nativas, também as estudam, tentam registá-las quando tal ainda é possível.

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17.02.2019 | por António Pinto Ribeiro

Enlaces: artes periféricas, artivismo e pós-memória

Enlaces: artes periféricas, artivismo e pós-memória O neologismo “artivismo” terá sido introduzido nos anos 1960 para dar conta das manifestações contra a guerra do Vietname, assim como dos movimentos estudantis e de contra-cultura. Nesse sentido, Guy Debord teorizou sobre o situacionismo em seu livro A Sociedade do Espetáculo (1967), onde apontava para a necessidade da superação da política e da arte, para sabotar as diretrizes do capitalismo e, assim, dar um novo saber a arte e, por conseguinte, à vida. É apenas em meados de 1990, com a revolução da internet, que o termo volta a aparecer no vocabulário crítico para ilustrar não apenas uma prática de arte política, mas para reavaliar o que se considera política e arte, numa reactualização do conceito de Debord.

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12.02.2019 | por Fernanda Vilar

Luta ca caba inda: do arquivo ao fragmento

Luta ca caba inda: do arquivo ao fragmento Este livro traz-nos, pois, o registo escrito de um processo de resgate e releitura de um tempo que surge vivo na exata medida em que a sua dimensão de ruína envolve o cuidado para que se recuperem os fragmentos existentes e, simultaneamente, um exercício hermenêutico que os torna visíveis e contemporâneos.

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13.01.2019 | por Miguel Cardina

Fórum Humboldt ou Fórum de Benim?

Fórum Humboldt ou Fórum de Benim? É indesmentível que o ano de 2018 não só conheceu avanços consideráveis no debate como assistiu a tomadas de posição políticas de uma clareza pouco usual. O caso alemão é, neste particular, um dos mais interessantes.

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05.01.2019 | por António Sousa Ribeiro

Os (re)usos do passado

Os (re)usos do passado uma necessária reflexão sobre os modos de absorção coletiva de fatos históricos traumáticos e de como revisões, inclusive bastante deformantes, podem acontecer através de releituras. Um reuso é uma reinscrição de uma imagem do passado na moldura de uma determinada, provavelmente outra, ideologia que tem interesse em evocar determinado passado para criar a sua contra imagem com pretensões hegemónicas e de impacto na opinião pública.

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19.12.2018 | por Roberto Vecchi

Sim, europeus e afro-descendentes

Sim, europeus e afro-descendentes Salvo exceções de pioneirismo, só nos últimos anos se começa a ouvir e ler o prefixo “afro” nos diferentes fóruns europeus, com uma conotação positiva: das artes à academia, do associativismo e ativismo aos média e às redes sociais, das associações locais comunitárias às políticas europeias.

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10.12.2018 | por Mónica V. Silva

Quando nem sequer os mortos veem o fim da guerra

Quando nem sequer os mortos veem o fim da guerra Na obra Soliloquios en Inglaterra e Soliloquios Posteriores, escrita entre 1914 e 1921, o filósofo espanhol George Santayana disse: “Apenas os mortos viram o fim da guerra”. De facto, quando as guerras terminam, nem tudo aquilo que elas destruíram, criaram, violentaram e profanaram parece ter fim. Contudo, entre os muitos restos, destroços e heranças que as guerras vão deixando, e que inevitavelmente contaminam várias gerações, por vezes nem sequer os mortos parecem ver o seu fim.

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17.11.2018 | por Fátima da Cruz Rodrigues

Mitologia e memória

Mitologia e memória O mito, ao mesmo tempo que dissimula também revela a ideologia em que se inscreve. É oportuno lembrar que a memória também se configura como um simulacro onde a questão não é a do falso ou do verdadeiro, mas a do acesso subjetivo, o mais amplo possível, à fruição do tempo passado.

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12.11.2018 | por Roberto Vecchi

Liberdade /diáspora a cronologia universal da descolonização da História

Liberdade /diáspora a cronologia universal da descolonização da História A presença assertiva, quase arrogante, e o dandismo performado pelos/as personagens retratados/as, demarcam as fotografias de Diop de uma qualquer humilde dignidade, expressão imagética da subjetividade colonizada que o racismo consente. Trata-se, sim, da mimese (mimicry) de que nos falava Homi Bhabha, aquela em que o fracasso na identificação narcísica com os modos de representação do colonizador, o carácter sempre inapropriado dos sujeitos coloniais, cria uma ambivalência que, num espelho cómico e trocista, perturba a autoridade encenada pelo discurso colonial.

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04.11.2018 | por Bruno Sena Martins

A dissociação entre a verdade e a memória

A dissociação entre a verdade e a memória Quando a história e o dever de memória não são tratados com o devido interesse, a verdade instala-se facilmente como escolha pessoal. Uma vez acomodadas no discurso do poder, as “verdades” tornam-se impunes; são muitas vezes relevadas e raramente condenadas, apesar de veicularem um discurso de ódio. O ódio foi normalizado e propulsionou um radicalismo onde o “bem” luta contra o “mal”. O mal sendo mais uma vez o diferente, o Outro. Um discurso que não humanize o Outro autoriza a barbárie.

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26.10.2018 | por Fernanda Vilar

A tessitura da memória

A tessitura da memória Obviamente, a pintura de Kaphar seria uma denúncia eloquente do racismo, mesmo se vista isoladamente e desprovida de qualquer contexto. Justaposta à fotografia de Papf, no entanto, ela assume uma outra camada importante, pois serve para lembrar e testemunhar a violência e a crueldade da escravidão até mesmo nos espaços mais íntimos e domésticos.

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18.10.2018 | por Paulo de Medeiros

Esquecer em português

Esquecer em português É um facto: as sociedades esquecem. É um processo necessário à criação de identidades coletivas, de solidariedades políticas, de projetos de governação da sociedade, de sobrevivência e de reinício coletivo após guerras civis ou outros eventos responsáveis por ruturas.

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02.10.2018 | por Hélia Santos

Sou filha desse passado, mas sinto que não faço parte dele.

Sou filha desse passado, mas sinto que não faço parte dele. E isso é uma herança do passado colonial. O estereótipo do negro, do negro que não sabe falar bem, do negro que não se veste bem, do negro que não se comporta bem, do negro que não tem estudos, que não lê, não escreve, não pensa. Isto ficou. Essa herança do passado ficou. E eu sou esse passado. Eu nasci por causa desse passado; sou filha desse passado. Sei disso. Mas sinto que não faço parte dele.

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26.09.2018 | por Ariana Furtado

"Descobertas" colonialidades da memória

"Descobertas" colonialidades da memória Uma das mais importante descobertas a que o projeto do museu das “Descobertas” poderia conduzir seria, assim, a perceção de que os usos da linguagem não são inocentes e de que a gramática da memória tem sempre muito mais a ver com o presente do que com o passado – a perceção, em suma, de que, em toda esta controvérsia, o que está em questão não e simplesmente o que fomos, mas sim o que somos e, sobretudo, o que queremos ser.

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14.07.2018 | por António Sousa Ribeiro

O encontro nacional dos combatentes: "Talvez nesta cerimónia devessemos ouvir apenas os clarins"

O encontro nacional dos combatentes: "Talvez nesta cerimónia devessemos ouvir apenas os clarins" Quarenta e quatro anos depois do final da Guerra, o 10 de Junho, para os antigos combatentes que o comemoram em Belém, é, acima de tudo, o dia em que se reencontram aqueles que um dia combateram juntos em África para homenagearem os seus companheiros que por lá morreram. Em 2018 este encontro repetiu-se pela 25ª vez. Repetiu-se a cerimónia inter-religiosa. Proferiram-se discursos. Leu-se a mensagem enviada pelo Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa que se encontrava nos Açores a comemorar o outro 10 de junho. Adriano Moreira não discursou, mas encontrava-se entre os convidados de honra que, todos os anos, prestam esta homenagem aos combatentes.

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13.07.2018 | por Fátima da Cruz Rodrigues

Conflitos de memória: o "bairro africano" de Berlim

Conflitos de memória: o "bairro africano" de Berlim Este esforço, todavia, só pouco a pouco vai conseguindo trazer o tema à memória pública, no que, sem dúvida, a relutância das instâncias oficiais em tematizar adequadamente este capítulo da história alemã tem uma boa quota-parte de responsabilidade. Em 2016, uma iniciativa parlamentar tendente ao reconhecimento oficial da responsabilidade pelo genocídio dos Herero e Nama, foi rejeitada pela maioria dos deputados. O relatório elaborado pelos “Serviços Científicos” do Bundestag, um órgão com funções de assessoria e emissão de pareceres sobre matérias levadas ao debate parlamentar, concluía, baseando-se numa perspectiva estreitamente jurídica, do ponto de vista da qual apenas são aplicáveis as normas vigentes à época, que as acções do exército alemão não violaram o direito internacional

Cidade

03.07.2018 | por António Sousa Ribeiro