SEM MANIFESTAÇÃO DE INTERESSE, ESCRAVATURA MODERNA

Nova ação/nueva acción en Lisboa:

PT“Sem manifestação de interesse, escravatura moderna” é a nossa recente ação nas ruas de Lisboa sobre as novas políticas de imigração excludente em Portugal. Usamos os desenhos originais dos navios negreiros portugueses - que transportaram milhões de escravos durante séculos - para construir barcos que deixamos flutuar nas fontes do centro histórico de Lisboa, especialmente no eixo urbano Alameda-Martim Moniz. A Avenida Almirante Reis atravessa Arroios, freguesia com maior população imigrante no centro da cidade, que recentemente se recusou a emitir atestados de residência a imigrantes extracomunitários, travando o acesso a direitos fundamentais. Da mesma forma, a nossa frota tem formato de cartaz para colar nas paredes.Portugal tem a responsabilidade histórica de ter iniciado o tráfico transatlântico de escravxs, o maior deslocamento forçado de pessoas a longa distância na história, mais de 12,5 milhões de pessoas aprisionadas no continente africano e forçadas a trabalhar no outro lado do oceano.Com a recente supressão da “manifestação de interesse”, procedimento que permite a regularização dxs trabalhadorxs imigrantes em Portugal, dezenas de milhares de pessoas serão empurradas para a exclusão social, o trabalho clandestino, a exploração laboral e a negação de direitos.Com o fim da “manifestação de interesse” o Governo Português legitima e suporta novamente a escravatura moderna.–—CAS “Sem manifestação de interesse, escravatura moderna” es nuestra reciente acción en las calles de Lisboa en relación a las nuevas políticas de inmigración excluyentes en Portugal. Utilizamos los diseños originales de los navíos negreros portugueses, que transportaron millones de esclavos durante siglos, para construir barcos que dejamos flotar en las fuentes del centro histórico de Lisboa, especialmente en el eje urbano Alameda-Martim Moniz. La Avenida Almirante Reis cruza Arroios, la freguesía con mayor población inmigrante del centro de la ciudad, que recientemente se negó a expedir certificados de residencia a inmigrantes extracomunitarios, bloqueando el acceso a los derechos fundamentales. Asimismo, nuestra flota tiene formato de cartel para pegar en las paredes.Portugal tiene la responsabilidad histórica de haber iniciado el tráfico transatlántico de esclavos, el mayor desplazamiento forzado de personas a larga distancia de la historia, más de 12,5 millones de personas encarceladas en el continente africano y obligadas a trabajar al otro lado del océano.Con la reciente supresión de la “manifestação de interesse”, procedimiento que permite regularizar a lxs trabajadorxs inmigrantes en Portugal, decenas de miles de personas se verán empujadas a la exclusión social, el trabajo ilegal, la explotación laboral y la negación de derechos.Con el fin de la “expresión de interés”, el Gobierno portugués legitima y apoya una vez más la esclavitud moderna.

19.07.2024 | por martalanca | ação

Viúvas da Seca, de Israel Campos

Na região sul de Angola, muitas mulheres viram-se abandonadas pelos seus maridos devido à seca que afeta a região há anos. Agora, sozinhas, enfrentam os desafios da seca para se manterem vivas.

Esta reportagem venceu a  primeira edição do prémio angolano  liberdade de imprensa, promovido pelo Sindicato de Jornalistas Angolanos e o MISA ANGOLA. 

 

16.07.2024 | por martalanca | Israel Campos, Viúvas da Seca

Inauguração - Ateliê Mutamba

Acontecerá na próxima quinta-feira(11), a inauguração da 3• edição  do Ateliê  Mutamba.   
O evento integrará  a programação do Festival,  “O Futuro já era”, no CINE SÃO PAULO.  
Esta mensagem é um convite para que se faça presente  e participe da  conversa com o curador desta edição, Hugo Salvaterra e os artistas Edmar Moon, Graciana Chamba e Nark Luenzi 
Contamos com sua presença!

09.07.2024 | por martalanca | ateliê mutamba

01.01.1970 |

Lançamento de 'Umbigo do Mundo, dia 8 na Travessa Lisboa

Lançamento do livro Umbigo do Mundo, da antropóloga indígena Francy Baniwa. Dia 8 de julho às 19h, na Livraria da Travessa, com um debate entre a autora e a poetisa indígena radicada em Braga, Ellen Lima Wassu.

Umbigo do mundo é um acontecimento literário e antropológico que merece ser celebrado. Fruto “de uma conversa do narrador com sua filha mulher”, conforme as palavras da autora, Francisco e Francy nos conduzem por uma trilha cosmológica pelas paisagens do Noroeste Amazônico, convidando-nos a sintonizar a sensibilidade e a imaginação em entidades, bichos, plantas, lugares e acontecimentos de um tempo ancestral — e que continua a reverberar. O ciclo de vinganças entre eenonai e hekoapinai, os cantos e benzimentos, as ações e transformações de Ñapirikoli, Amaro, Kowai, Kaali e Dzooli, tudo isso compõe o quadro de uma verdadeira epopeia amazônica, pela voz dos Baniwa ou Medzeniakonai. Ao longo destas páginas, o multilinguismo da região se faz presente no modo como o nheengatu e o baniwa se trançam ao português, em doses, trazendo ao leitor uma amostra da complexidade da arte verbal dos narradores rionegrinos. Umbigo do mundo, assim, é uma confluência entre diferentes rios de saberes, aproximando-se dos livros da constelação Narradores indígenas do Rio Negro a partir da transdisciplinaridade da constelação Selvagem, como um capítulo especial da florescente antropologia indígena. Com originalidade, Francy Baniwa alterna as vozes de narrador, de personagens e de etnógrafa, compartilhando, por meio de sua generosa e corajosa escrevivência, afetos e conhecimentos de seus parentes, do rio, da roça e da floresta. As ilustrações que acompanham o texto, do artista Frank Baniwa, irmão da autora, exprimem aquela modalidade da arte indígena contemporânea que tem registrado em cores e formas as ações e personagens de narrativas tradicionalmente orais, compondo uma singular obra verbo-visual, povoada de sensível intimidade com a mata e seus seres. Seguir este selvagem roteiro é como embarcar em uma floresta de mundos, ou como pôr lentes para mirar o mundo como floresta. Umbigo do mundo é a proclamação, desde o Alto Rio Negro, de que o centro do mundo se encontra mesmo na Amazônia, ou ainda, de que o centro está em toda parte, de todo modo, de que os formigueiros urbanos não são a exclusiva morada dos acontecimentos que atravessam a vida humana e mais que humana.

Idjahure Kadiwel

FRANCY BANIWA: Mulher indígena, antropóloga, fotógrafa e pesquisadora do povo Baniwa, clã Waliperedakeenai, nascida na comunidade de Assunção, no Baixo Rio Içana, na Terra Indígena Alto Rio Negro, município de São Gabriel da Cachoeira/AM. Engajada nas organizações e no movimento indígena do Rio Negro há uma década, atua, trabalha e pesquisa nas áreas de etnologia indígena, gênero, organizações indígenas, conhecimento tradicional, memória, narrativa, fotografia e audiovisual.
É graduada em Licenciatura em Sociologia (2016) pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). É mestra (2019) e doutoranda em Antropologia Social pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGAS-MN/UFRJ). É pesquisadora do Laboratório de Antropologia da Arte, Ritual e Memória (LARMe) e do Núcleo de Antropologia Simétrica (NAnSi) da UFRJ, e do Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (NEAI) da UFAM.
Foi coordenadora do Departamento de Mulheres Indígenas do Rio Negro da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (DMIRN/FOIRN) entre 2014 e 2016. Coordenou o Projeto de Cooperação Técnica Internacional “Salvaguarda de Línguas Indígenas Transfronteiriças”, produzido entre uma parceria UNESCO-Museu do Índio, intitulado “Vida e Arte das Mulheres Baniwa: Um olhar de dentro para fora” entre 2019 e 2020; e que prossegue em 2023 para catalogar e qualificar as peças do primeiro acervo indígena da instituição, editar um catálogo de fotografia, produzir uma exposição virtual e finalizar a produção de 3 documentários, sobre cerâmica, tucum e roça. É diretora do documentário ‘Kupixá asui peé itá — A roça e seus caminhos’, de 2020. Atualmente coordena o projeto ecológico pioneiro de produção de absorventes de pano Amaronai Itá – Kunhaitá Kitiwara, financiado pelo Fundo Indígena do Rio Negro (FIRN/FOIRN), pelo empoderamento e dignidade menstrual das mulheres do território indígena alto-rio-negrino.

04.07.2024 | por martalanca | amazônia, Ellen Lima Wassu, Francy Baniwa, Umbigo do Mundo

Residência Negralvo, Alice Marcelino

Localização:

ACOLÁ — Freguesia do Torrão

Alice Marcelino é uma artista luso-angolana radicada em Londres. Labora entre Londres, Lisboa e Luanda. Seu trabalho visual explora noções de pertença, num mundo global complexo e em constante mudança. A sua residência artística no Torrão associa o entender do passado às aspirações das gerações futuras. Marcelino pretende descobrir histórias e narrativas esquecidas, especialmente ligadas às nuances históricas e culturais da comunidade afro-portuguesa na região do Sado. 

detalhe de KINDUMBA, 2015, impressão em placa de cobre, 30×20 cm.detalhe de KINDUMBA, 2015, impressão em placa de cobre, 30×20 cm.

A residência, parte do programa NEGRALVO incluirá a criação de retratos de estúdio – ver Malick Sidibe, Sanlé Sory, Rachidi Bissiriou. O ato de criar retratos de estúdio torna-se um processo colaborativo e dialógico, uma oportunidade para os indivíduos participarem ativamente na representação de suas próprias narrativas. Trata-se de capacitar a comunidade para se apropriar da sua história visual, garantindo que as suas experiências não são apenas vistas, mas também compreendidas e celebradas. 

“Pretos do Sado” de Isabel Castro Henriques funciona como obra catalisadora para esta exploração da memória colectiva e do património, constituindo um roteiro para o navegar pelas complexidades da identidade e da preservação cultural. Em pano de fundo, a artista assume um compromisso: promover a compreensão, a empatia e um apreço renovado pelas diversas narrativas que contribuem para o mosaico cultural da comunidade afro-portuguesa.

28.06.2024 | por martalanca | alice marcelino

#Templo De Sílica 4.0 ===

Tecnologia - cheia de graça

O servidor é convosco
Bendita sois vós entre as máquinas
E bendito é o fruto do vosso silicon - robôs Santa Tecnologia, Placa- Mãe de Deus Rogai por nós utilizadores

Templo de Sílica é um ensaio em curso sobre a Tecnolatria (idolatria e dependência da tecnologia), Fascização Tecnológica, Colonialismo Digital e Necropolítica. Explora a ideia de humanização das máquinas e robotização dos humanos, associada às intensivas economias extrativas e à mineração de dados, o que enriquece um grupo minúsculo de pessoas no mundo, expropriando e deslocalizando o resto. Isto tudo associado à disseminação de ideais racistas, xenófobas e nativistas e à militarização e fronteirização do mundo.

TDS 4.0 é uma criação de xullaji para o grupo Peles Negras Máscaras Negras, a partir de textos e músicas suas, amalgamados a trechos de chats recolhidos durante o processo de criação, ditos rappados, cantados e contracenados, a que se junta luz, movimento, vídeo e a música de prétu. A versão 1.0 foi criada em residência artística, em julho de 2023, no 23 Milhas (Ílhavo), onde se estreou. Agora apresenta a sua versão 4.0 no Teatro Municipal de Matosinhos.

Agora e na hora do nosso logout – A[I]MEN

Ficha Técnica e Artística
Criação, Textos e Direção Artística xullaji
Produção Elton Delgado e Coletivo Peles Negras Máscaras Negras

Elenco

Alesa Herero Douguie
Elton Delgado Lúcia Baronesa Nadine do Rosário Raquel da Luz xullaji

Música, Vídeo e Desenho Som xullaji
Desenho de Luz Luís Moreira
Arte (cenografia, figurino e adereços e fotografia) Coletivo Peles Negras Máscaras Negras
Apoio ao Movimento Lucília Raimundo

27.06.2024 | por martalanca | Coletivo Peles Negras Máscaras Negras, teatro

À MESA DA UNIDADE POPULAR de Isabel Noronha e Camilo de Sousa

Sábado, 29 Junho, 19:00, cinema IDEAL

com a presença de Isabel Noronha e Camilo de Sousa e conversa no final da sessão

A Mesa da Unidade Popular, com as suas seis cadeiras, fazia parte da Mobília da Unidade Popular que, no período pós-Independência socialista, o Estado moçambicano pretendia atribuir a todas as famílias. Um conceito que reunia a ideia socialista de igualdade, bem-estar e justiça social com o conceito de Unidade Nacional, pressuposto básico da Frelimo para a Independência e desenvolvimento harmonioso do País. A Mesa da Unidade Popular voltou a ser neste filme, o lugar onde convergiram histórias, memórias e testemunhos, nesta Mesa voltámos a sentar-nos, para revisitar o processo de construção de uma Nação e da utopia partilhada da construção de uma sociedade mais justa. Cada um de nós com sua identidade e sua cultura, a sua forma única e diversa de ser moçambicano.

 + infos

26.06.2024 | por martalanca | independência, Moçambique

Tributo a Azagaia I Casa Independente 28/6

SAM THE KID, HUCA, SIR SCRATCH E NAYR FAQUIRÁ NA SEGUNDA EDIÇÃO DO TRIBUTO AO RAPPER AZAGAIA NA CASA INDEPENDENTE

A Casa Independente em Lisboa, realiza no dia 28 de Junho de 2024, das 17h às 03h da manhã, a 2a edição do Tributo a Azagaia - Povo no Poder. Uma homenagem à vida e obra do músico e pensador moçambicano, Azagaia, pautada pela luta pelos direitos universais da dignidade humana, pela resistência e solidariedade, acrescidas por uma construção lírica que reúne consenso no panorama musical internacional.

Este ano, o Tributo coincide com as celebrações dos 50 anos do 25 de abril, alarga o seu programa a uma talk com a curadoria da antropóloga e jornalista Magda Burity e Flávio Almada, ativista, fundador e porta-voz do movimento Vida Justa e da Associação Mbongi, que traz para debate o tema “Azagaia: A palavra como património transversal ao pensamento decolonial” através de leituras e audição de músicas da autoria e composição de Azagaia.

Coca o FSM & Mano António, Huca, Michel William, Indi Mateta, Libra, Matti Jasse, Muleca XIII, Nayr Faquira, Remna, Sam The Kid, Sir Scratch, LBC Soldjah, e Schmith , Yeri e Yenin e o Dj Set final, são os nomes confirmados para esta edição.

A curadoria está a cargo do rapper Valete, da empresária Inês Valdez, do músico Milton Gulli, da jornalista Magda Burity e da empresária Lídia Amões.

Na primeira edição cerca de 500 pessoas encheram a Casa Independente para homenagear Azagaia, numa noite memorável, que contou com as vozes de Sérgio Godinho e João Afonso, Valete, Paulo Flores, Maria João, Papillon, Scúru Fitchádu, no leque de 19 artistas que tivemos o privilégio de ver atuar no espetáculo. Celebrou-se o percurso de Azagaia com mensagens de colegas de profissão e académicos de todo o mundo.

“Tenho uma costela indireta rapper”, disse Sérgio Godinho, à margem do tributo, que teve lugar na Casa Independente, em Lisboa, e que escolheu a música “Democracia” para homenagear Azagaia.

As receitas do evento de 2024 revertem para a plataforma Makobo. www.makobo.co.mz
As receitas do evento de 2023 reverteram para a família de Azagaia.

Instagram: tributoazagaia
Bilhetes: https://shotgun.live/pt-pt/events/tributo-a-azagaia-povo-no-poder-2-edic... Comunicação: madamecomunicacao@gmail.com

26.06.2024 | por martalanca | Azagaia, Moçambique

nascimento de Amílcar Cabral

A sociedade civil junta para celebrar o Centenário do nascimento de Amílcar Cabral.Quem somos

Somos cidadãos cabo-verdianos ou descendentes de cabo-verdianos, de diversos quadrantes, idades e profissões, residentes no arquipélago, no continente europeu, africano ou americano, que queremos e decidimos nos juntar para celebrar o centenário daquele que consideramos como a figura histórica mais marcante de Cabo Verde: Amílcar Cabral.

Missão

Em um mundo cada vez mais globalizado, mas ao mesmo tempo marcado por divisões e conflitos, a nossa missão ganha uma importância renovada: contribuir de forma significativa para o reforço dos laços de solidariedade entre os cidadãos comuns, longe de quaisquer aspirações político-partidárias, que almejam prestar uma justa homenagem a Amílcar Cabral ao longo do ano de 2024. Propomo-nos a unir pessoas de diferentes nacionalidades, culturas e continentes, todas movidas pelo reconhecimento do valor histórico e pelo impacto contemporâneo da vida e obra de Cabral, uma figura central na luta pela liberdade e pela igualdade. Este é um esforço para transcender fronteiras geográficas e culturais, visando criar uma comunidade global de memória, aprendizagem e ação inspirada pelos ideais de Cabral.

Ver o site 

 

 

22.06.2024 | por martalanca | Amílcar Cabral

Os Mapas da Memória: uma cartografia pós-colonial europeia

MAPS - Pós-memórias Europeias: uma cartografia pós-colonial foi um projeto financiado pela FCT que criou uma nova cartografia da memória colonial europeia, trazendo para primeiro plano as memórias dos que foram afetados pelo colonialismo e pela descolonização em Portugal, França e Bélgica, do ponto de vista das segunda e terceira gerações. Teve como base parte da pesquisa realizada no projeto Memoirs – Filhos de Império e Pós-memórias Europeias (n.º 648624), financiado pelo Conselho Europeu de Investigação e desenvolvido no Centro de Estudos Sociais. A re-significação do passado colonial trazida pela combinação do estudo de narrativas pessoais, literatura e obras artísticas, do ponto de vista do conceito de pós-memória, deu um contributo poderoso para repensar o património da memória colonial como uma parte fundamental da identidade europeia.

Este projeto está na origem da plataforma Reimaginar a Europa que apresenta em vários suportes as realizações do projeto - https://reimaginaraeuropa.ces.uc.pt. Os resultados obtidos, nomeadamente os instrumentos propostos têm um elevado alcance pedagógico mostrando como a pós-memória pode ser geradora de novos compromissos democráticos, pós-nacionais e geradores de um diálogo Norte-Sul.

27 de Junho 2024 | 9.30 -13.00 

VER PROGRAMA

Nú Barreto, Black Moon, 2018 (Cortesia do Artista)Nú Barreto, Black Moon, 2018 (Cortesia do Artista)

21.06.2024 | por martalanca | cartografia, pós-colonial

GHOST | As pós-vidas do contrato e da escravatura: narrativas sobre trabalho forçado entre Cabo Verde e São Tomé e Príncipe

De forma a documentar a história cultural das práticas de trabalho forçado que, durante o colonialismo português, vigoraram em Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, nasce o projeto GHOST. As pós-vidas do contrato e da escravatura: narrativas sobre trabalho forçado entre Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Esta investigação, sediada no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES) e que vai estar em curso até 2027, propõe-se produzir um conhecimento novo e aprofundado sobre o trabalho forçado nestes dois arquipélagos, que ainda hoje impacta as dinâmicas de vida das sociedades cabo-verdiana e santomense. GHOST visa contribuir para a discussão sobre o reconhecimento de passados coloniais negligenciados e dos seus legados, ao traçar caminho para uma abordagem mais crítica e democrática do trabalho forçado. BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO Entre 1903 e 1970, cerca de 80 mil cabo-verdianos foram enviados para trabalhar nas plantações de café e de cacau de São Tomé e Príncipe. Em resultado deste afluxo maciço de trabalhadores cabo-verdianos, geralmente designado por contrato (termo velado para servidão e/ou trabalho forçado), houve um impacto profundo em ambas as sociedades, com reflexos na sua cultura e nas suas estruturas sociais. Nesta investigação, o entendimento desta história vai ser feito a partir do estudo das narrativas do contrato, como poesia, prosa, pintura, cinema, música, imprensa e histórias de vida. Ao examinar como e por que razão as narrativas sobre o trabalho forçado evoluíram ao longo do tempo nos dois arquipélagos africanos, este projeto de investigação pretende colmatar uma lacuna nos estudos globais sobre as plantações, que tendem a centrar-se no continente americano. O projeto oferece, para tal, um novo quadro concetual para pensar as plantações coloniais, o trabalho forçado e os processos de memorialização: a fantasmagoria. A fantasmagoria contempla os modos pelos quais um passado colonial mal resolvido — e, neste caso, a violência do trabalho nas plantações — se fazem conhecer no presente. Isto diz respeito, por exemplo, ao regresso dos contratados como espíritos, por possessão ritual ou outros mecanismos, mas também engloba os processos ativos de desumanização, silenciamento e marginalização através dos quais sujeitos (pós)coloniais concretos são transformados em espectros. OBJETIVOS DE INVESTIGAÇÃO Situado nos campos interdisciplinares dos Estudos Pós-coloniais, dos Estudos de Cultura e dos Estudos da Memória, o projeto procura responder a três questões centrais: 1) quais foram as manifestações culturais do trabalho colonial nas plantações produzidas em Cabo Verde e São Tomé e Príncipe a partir do século XX? 2) como são retratados nestas narrativas o trabalho forçado e o contrato? 3) poderá a fantasmagoria servir como método de descolonização deste passado colonial partilhado? Em resposta a estas questões de investigação, o projeto propõe-se: (a) Fazer uma história cultural comparativa do trabalho forçado, através do levantamento e da análise de narrativas cabo-verdianas e santomenses, e determinar como estas experiências são simultaneamente objeto e sujeito de memórias divergentes; (b) Examinar a memorialização do trabalho forçado em dois arquipélagos africanos, contribuindo para a internacionalização de um aspeto marginalmente representado da história global; (c) Demonstrar como as fantasmagorias (pós)coloniais podem acentuar o poder político e social da memória no reconhecimento de passados coloniais negligenciados e dos seus legados duradouros. IMPACTOS ESPERADOS DO PROJETO Além da divulgação dos avanços e resultados da investigação através de conteúdos científicos — nomeadamente publicações e comunicações académicas — GHOST pretende, igualmente, fazer chegar o conhecimento a outras esferas da sociedade, através, por exemplo, da produção de um podcast, da organização de um ciclo de cinema, e de ações formativas (como oficinas, sessões escolares e cursos de formação avançada). Será ainda elaborado um documento de orientação (policy brief), destinado maioritariamente a decisores políticos e às organizações internacionais portuguesas com trabalho de cooperação com estes países africanos, especialmente nos domínios da cultura e da educação. O objetivo é maximizar a inclusão da história do trabalho forçado como uma dimensão central nas práticas de memória relativas ao passado colonial e reforçar as capacidades das comunidades locais e dos diferentes intervenientes (inter) nacionais envolvidos no que diz respeito ao conhecimento dos legados coloniais nas sociedades pós-coloniais. EQUIPA Inês Nascimento Rodrigues (Investigadora Principal) Miguel Cardina (CES) Crisanto Barros (Uni-CV) Olavo Amado (CACAU) GESTÃO DO PROJETO Jessica Santos (CES) INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra PARCEIROS ASSOCIADOS Universidade de Cabo Verde CACAU — Casa das Artes, Criação, Ambiente e Utopia, São Tomé e Príncipe.

21.06.2024 | por martalanca | cabo verde, São Tomé e Príncipe, trabalho forçado

69th Flaherty Film Seminar: Porto pod

TO COMMUNE || COMUNGAR 27 & 28 junho + 1 julho 18h>21h

AUDITÓRIO DA ESCOLA SUPERIOR ARTÍSTICA DO PORTO – ESAP

Flaherty Seminar é um dos mais importantes encontros em torno do cinema de não-ficção no mundo. Todos os anos, amantes do cinema, cineastas, artistas, estudantes, investigadores, curadores, críticos e arquivistas reúnem-se para um programa imersivo de uma semana com projeções de filmes e debates coletivos em torno de um tema — “TO COMMUNE” é o tema da 69ª edição, com curadoria de May Adadol Ingawanij e Julian Ross.

Habitualmente decorrendo em Nova Iorque, o Flaherty Seminar acontece este ano na Tailândia – na Thai Film Archive em Salaya, e desdobra-se em múltiplos locais no mundo através dos seus pods auto-organizados. Um destes pods terá lugar no Porto, com três encontros a 27 & 28 de Junho + 1 de Julho, sempre às 18h. No espírito do seminário,  todas as sessões são surpresa até ao início de cada encontro.

pod do Porto é organizado por docentes e alunos da ESAP , com o apoio do Centro de Estudos Arnaldo Araújo.

As sessões terão lugar no Auditório da ESAP: Rua dos Navegantes 51, 4000-358 Porto.

Os filmes são legendados em inglês; as conversas decorrem em português e em inglês.

A entrada é livre, os participantes podem trazer uma contribuição (texto, imagem, reflexão, filme curto, comida, bebida…) para partilhar com a comunidade.

TO COMMUNE

Como é que o cinema nos permite comungar?

Estamos interessados no potencial criado por grupos que se reúnem à volta de um ecrã durante um período de tempo. Pensamos o cinema documental como aquele que permite aproximar corpos, mentes e espíritos de diferentes espaços, mundos e temporalidades. Para além da auto-organização e da construção de comunidades, comungar é comunicar através de processos místicos, animistas e ritualistas. Para além da afirmação do comum, comungar é ligar-se aos outros e estar em contacto com o que não se pode conhecer. Voltamos assim ao valor fundamental do cinema enquanto encontro com seres e mundos muito diferentes dos nossos.

O nosso programa procura explorar as formas como cineastas e artistas da imagem em movimento da contemporaneidade têm vindo a expandir as possibilidades imaginativas de comunhão nas formas documentais. Queremos destacar o modo como cineastas e artistas, especialmente quando ligadas/os ao Sul Global, estão a herdar legados surpreendentes de esforços históricos para comungar. Intrigam-nos as explorações artísticas das capacidades de comunhão em espaços e situações como a sala de aula, o ritual, o carnaval, o set de filmagens, o lugar propício, a reunião e o protesto.”

May Adadol Ingawanij & Julian Ross, Programadores do 68th Flaherty Film Seminar

INSCRIÇÃO

A participação no pod é livre e gratuita, sendo recomendada a inscrição aqui.

Os participantes inscritos no pod beneficiam ainda de um desconto de 60% no registo para o programa completo online do Flaherty 2024, numa plataforma personalizada, com todas as 13 sessões do seminário disponíveis até 21 de julho, assim como materiais de leitura, bem como um canal de comunicação, troca e partilha de ideias entre pares de uma comunidade global.

ACERCA DO SEMINÁRIO FLAHERTY

Fundado em 1954 por Frances Hubbard Flaherty, o Seminário é um lugar de encontro e discussão com sete décadas de história na vanguarda do cinema de não-ficção, exibindo obras inovadoras e promovendo debates com extensas reverberações no campo do cinema e das artes.

“O Seminário Flaherty deve ser a arena mais dura, mais valiosa e mais estimulante em que qualquer cineasta pode apresentar o seu trabalho” (William Greaves, 1991). 

O Flaherty tem alimentado diretamente milhares de amizades e colaborações ao longo da história e inspirado a criação de instituições seminais (New Day Films, Third World Newsreel, UnionDocs, Kin Theory) e encontros internacionais (Doc’s Kingdom, INPUT, Oberhausen Seminar).

(Amarante Abramovici)

21.06.2024 | por martalanca | Amarante Abramovici, Flaherty Film Seminar

Clube de Leitura – Ernesto Neto - I maat

A leitura é uma prática central na vida e na arte de Ernesto Neto. Toda a obra tem os seus mistérios, até para o seu autor. Cada artista decifrará e carregará consigo camadas de acesso ao mundo, mais ou menos reveladas. Ernesto Neto é expansivo no discurso e na matéria: a sua obra concretiza-se na dimensão da grande escala, como podemos constatar na instalação em exposição no MAAT, Nosso Barco Tambor Terra.

Entre as inúmeras referências que servem de base ao seu amplo vocabulário artístico, Ernesto Neto torna visíveis na obra a sua relação com a música, particularmente com a percussão, com as formas e as matérias orgânicas da terra, convoca sentidos habitualmente inanimados nos espaços museológicos, como o olfato e o tato, criando um universo imaginado que nos situa numa dimensão ancestral e que convida à partilha de um território comum. Quando conversamos com Ernesto Neto, as referências que o artista faz às suas leituras são constantes, muitas vezes como tentativa de encontrar no outro um entendimento comum. Ler e conversar sobre os mesmos livros representam vias de acesso, um encontro com o outro, e com Ernesto Neto o aspeto relacional é primordial. Quando lhe perguntámos se gostaria de nos revelar que livros estiveram na base na criação de Nosso Barco Tambor Terra, ou das suas criações de um modo geral, com a ideia de pensar num Clube de Leitura, a dificuldade foi reduzir as suas escolhas até ao essencial.

O Clube de Leitura Ernesto Neto representa assim uma experiência situada numa cartografia não convencional: as sessões decorrerão no espaço expositivo da instalação, inseridas no universo de leituras que Ernesto Neto traçou como seleção. Este Clube de Leitura representará assim uma possibilidade de encontro, não tanto concebida para que decifremos juntos os mistérios íntimos de cada um, mas na tentativa de podermos animar juntos um espaço partilhado.

Regularidade: entre junho e setembro, uma sessão por mês (exceto agosto), às quartas-feiras em modelo presencial na instalação Nosso Barco Tambor Terra

Duração: 2h

Idioma: Português

Preço:

  • 15€ por sessão única
  • Grátis para Membros MAAT. Portadores do Cartão MAAT + Guest podem trazer um acompanhante. Válido para todas as sessões. Peça aqui o seu Cartão MAAT.

Programa

1.ª sessão: 05/06/2024, 19.00-21.00
Com a presença online de Ernesto Neto
A Salvação do Belo de Byung-Chul Han Saber mais

 

2.ª sessão: 26/06/2024, 19.00-21.00
Ideias para Adiar o fim do Mundo de Ailton Krenak Saber mais

 

3ª sessão: 17/07/2024, 19.00-21.00
O Calibã e a Bruxa de Silvia Federici Saber mais

 

4ª sessão: 18/09/2024 das 19.00-21.00
A Vida das Plantas de Emanuele Coccia (Saber mais) + O principio de tudo de David Graeber e David Wengrow (Saber mais)

 

Leituras suplementares recomendadas por Ernesto Neto:

Conversas do Arquipélago de Hans Ulrich Obrist e Édouard Glissant Saber mais

A trama da vida de Merlin Sheldrake Saber mais

O Poder do Mito de Joseph Campbell Saber mais

 

Marta Lança Lisboa (1976). Trabalhadora independente nas áreas de edição, jornalismo, programação e cinema. Formada em Literatura e Estudos Portugueses, é doutoranda em Estudos Artísticos na FCSH - UNL. Colaborou com publicações culturais portuguesas e angolanas. Criou as revistas V_ludoDá Fala (em Cabo Verde) e o portal BUALA, sobre questões pós-coloniais, que edita desde 2010 e foi lançado no programa Terreiros da Bienal de São Paulo. Viveu no Rio de Janeiro e em São Paulo, em Luanda (lecionou na Universidade Agostinho Neto e colaborou com a I Trienal de Luanda), em Maputo (festival de documentário Dockanema), e tem produzido muitos projetos culturais nos países africanos de língua portuguesa. 

Como programadora organizou: Roça Língua (São Tomé e Príncipe, 2011 e 2022); o ciclo Paisagens Efémeras (Lisboa, 2015); Expats (Porto, 2015); Vozes do Sul (Festival do Silêncio, Lisboa, 2017); projeto NAU com o Teatro Experimental do Porto (2018); Para nós, por nós: produção cultural africana e afrodiaspórica em debate (Lisboa, 2018) e sou esparsa, e a liquidez maciça: Gestos de Liberdade (MAAT, Lisboa, 2020).   

Traduziu de francês para português os autores Asger Yorn, Achille Mbembe e Felwine Saar. 

Alguns artigos seus podem ser lidos aqui.

20.06.2024 | por martalanca | Aílton Krenak, Byung-Chul Han, Clube de leitura, David Graeber, David Wengrow, Emanuele Coccia, ernesto neto, O princípio de tudo, Silvia Federici

As Cosmovisões Huni Kuin

parceria maat / boca 

Conversa: “As Cosmovisões Huni Kuin” 05/07/2024, 19.00–20.00

O povo Huni Kuin, cujo nome se traduz por “Gente Verdadeira”, é um povo do tronco linguístico Pano, habitantes da floresta tropical da região entre o Brasil e o Peru, a sul do Amazonas e Acre. No dia 5 de julho, no MAAT, o coletivo composto por Zenira Neshane, Sabino Dua Ixã e Txaná Nixiwaka abre a BoCA Summer School 2024 com uma conversa acerca das práticas artísticas e sociais que guiam as cosmovisões do seu povo.

O encontro é inaugurado com cantos tradicionais, habitualmente entoados quando se chega a um novo lugar. Segue-se a apresentação do documentário autoral Já me transformei em imagem, de Zezinho Yube Huni Kuin, como prenúncio para uma contextualização acerca da cultura Huni Kuin, a sua divisão do tempo histórico e os seus processos de ensino e aprendizagem, tão intimamente ligados às suas experiências contemporâneas de resistência política. Durante a conversa, debater-se-ão os modos de educar, transmitir e viver conhecimentos ancestrais, pensando sobre estratégias possíveis de engajamento, preservação, saúde e continuidade entre territórios e, até mesmo, continentes distintos.

 

Workshop: “Corpo e Natureza” 06/07 e 07/07/2024, 10.00–14.00

Neste primeiro workshop, guiado pelo perspetivismo Ameríndio, o coletivo propõe uma prática e reflexão acerca do papel da arte no processo de fortalecimento de corpos numa sociedade Huni Kuin. Quando nascem, por exemplo, os huni kuin pintam as crianças com a tinta que extraem do fruto jenipapo, para que os cantos possam penetrar na sua pele e fortalecer o seu corpo. Este é apenas um dos diversos ritos tradicionais deste povo, ricos em elementos que conectam mundos. No workshop Corpo e Natureza, pensado para a programação da BoCA Summer School, o coletivo e participantes atravessam uma visão de mundo não-dualista e uma construção epistemológica numa sociedade amazónica. Durante a formação de dois dias, cada corpo assumirá diferentes faces: ora instrumento, ora embarcação coletiva, ora suporte para intervenção artística, simbólica e comunicativa com a natureza através da descoberta da pintura. O workshop termina com uma performance ritual do Katxa Nawa, que envolve dança, canto e movimento, numa manifestação participativa que evoca fertilidade e potência para humanos, vegetais e animais.

 

 

Workshop “Cantos na Cosmovisão Huni Kuin” 06/07 e 07/07/2024, 15.30–19.30

Na cosmovisão Huni Kuin, a eficácia do remédio, ritual ou alimento está intimamente associada com a força do “performer”, que entoa diferentes cantos enquanto evoca as plantas, histórias e existências específicas em cada uso. Neste workshop, o coletivo propõe uma experiência imersiva que se relaciona com a cultura musical do seu povo, pensando a voz e a melodia enquanto veículos e instrumentos para agir no mundo, constituir corpos e viver bem. Partindo de uma contextualização teórica acerca desta prática tradicional, o grupo convida os participantes a integrar o ritual Hampaya, rito para a iniciação dos artistas em cantos tradicionais. Num modelo adaptado para a introdução desta prática a pessoas não-indígenas e de outras comunidades, propõe-se iniciar com a prova de pimenta – método para “abrir” a voz – e com o Txaná – pássaro que imita o canto de todos os outros pássaros, para que este auxilie cada um a cantar, falar e manifestar a sua própria arte.

 

 

Produção: BoCA Parceria: Fundação GDA, MAAT - Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia

Apoios: Direção-Geral das Artes, Câmara Municipal de Lisboa, Fundação Millennium BCP

20.06.2024 | por martalanca | Huni Kuin

Exposição Enciclopédia Negra pela primeira vez em Portugal

Ampliar a visibilidade de personalidades negras até hoje pouco conhecidas

A exposição Enciclopédia Negra, que pela primeira vez é mostrada fora do Brasil, é composta por mais de 100 retratos de personalidades negras como políticos, artistas, sambistas, advogados e engenheiros, entre outros, que foram sistematicamente invisibilizados pela história oficial. Esses retratos são, na sua maioria, ficções porque, na história da pintura, estas personagens não existem: o retrato era apenas usado pelas classes privilegiadas. A inauguração realiza-se a 20 de junho, pelas 19h00, na Sala de Exposições da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa. O dia termina com uma roda de falar com MC Carol, Farofa e DJ Dorly, no Pátio das Artes. 

 

A exposição Enciclopédia Negra faz parte de um amplo projeto, que se iniciou em 2016, e que pretende ampliar a visibilidade de personalidades negras até hoje pouco conhecidas, explica Nuno Crespo, diretor da Escola das Artes. Contou com o apoio da editora Companhia das Letras, do Instituto Ibirapitanga, da Pinacoteca de São Paulo, do Soma e dos 36 artistas que aderiram ao convite e lhe deram realidade. A mostra traz mais de 100 obras que se pautaram nos verbetes escritos para o livro homónimo de autoria de Flavio Gomes, Jaime Lauriano e Lilia Moritz Schwarcz, que apresenta 417 verbetes e mais de 550 biografias.

Um constrangedor silêncio invade os arquivos da escravidão, os livros didáticos e acervos de obras visuais,” refere Lilia Moritz Schwarcz, uma das curadoras da exposição, acrescentando “neles, as referências acerca da imensa população escravizada negra que teve como destino o Brasil – praticamente a metade dos 12 milhões e meio de africanos e africanas que aportaram no país, desde inícios do século XVI até mais da metade do século XIX, são ainda muito escassas.” Também é pouco mencionado o protagonismo de negros, negras e negres que conheceram o período do pós-abolição; aquele que se seguiu à Lei Áurea, de 13 de maio de 1888, a qual, longe de ter sido um ato isolado, correspondeu a um processo coletivo de luta pela liberdade, protagonizado por negros, libertos e seus descendentes.

Os curadores da exposição entendem que “Narrar é uma forma de fazer reviver os mortos e cada tela traz uma linda história: foram pessoas que se agarraram ao direito à liberdade; profissionais liberais que romperam com as barreiras do racismo; mães que lutaram pela alforria de suas famílias; professoras e professores que ensinaram seus alunos a respeito de suas origens; indivíduos que se revoltaram e organizaram insurreições; ativistas que escreveram manifestos, fundaram associações e jornais; líderes religiosos que reinventaram outras Áfricas no Brasil.

A Enciclopédia Negra pretende, também, contribuir para o término do genocídio dessa população. Pois tornar estas histórias mais conhecidas e dar rostos a estas personalidades colabora para a reflexão por trás das estatísticas, que nos acostumamos a ler todos os dias nos jornais, “naturalizando” histórias brutalmente interrompidas; seja fisicamente, seja na memória.

Esta é a última de quatro exposições do ciclo “Não foi Cabral: revendo silêncios e omissões”, um programa em co-curadoria entre Lilia Schwarcz e Nuno Crespo, que contemplou uma agenda de concertos, conferências, exposições e performances. O ciclo é organizado pela Escola das Artes, em parceria com a Universidade de São Paulo (Brasil) e a Universidade de Princeton (EUA). A exposição estará patente ao público até 4 de outubro.

 

18.06.2024 | por martalanca | Enciclopédia Negra

Arquiteturas Film Festival

Na próxima semana, de 27 a 30 de junho, o Arquiteturas Film Festival apresenta uma seleção de filmes, debates, instalações e passeios numa rede de espaços culturais na cidade do Porto. É no Batalha Centro de Cinema, Casa Comum, Canal 180, Circo de Ideias e Térmita que o AFF acolhe os seus 4 eixos de programação, com destaque para as participações de Bêka & Lemoine como ‘Realizadores Convidados’ e LOCUMENT como curadores do ‘Programa Oficial’.

A arquitetura acolhe culturas e pessoas de todos os quadrantes da vida. Mas nem sempre considera questões prementes como a justiça social, a crise ecológica e a descolonização, em detrimento de um paradigma ocidental dominante na educação e prática da profissão. Sob o tema “Aprender a Desaprender” o Arquiteturas Film Festival 2024 procura desafiar esta hegemonia, refletindo sobre os discursos enraizados na disciplina.

Mais info sobre o festival aqui. 

Maria Eduarda Leite / Comunicação e Parcerias


 

18.06.2024 | por martalanca | Arquiteturas Film Festival

As várias faces de Regina Guimarães e Saguenail

CICLO REALIZADORES CONVIDADOS: REGINA GUIMARÃES & SAGUENAIL

3 a 29 de junho na Cinemateca 
Regina Guimarães (n. 1957) e Saguenail (n. 1955) fazem cinema há mais de 50 anos. Formaram a casa de produção independente Hélastre, no Porto, em 1975, e desde então é a partir dela que declaram o seu amor pelo cinema. É uma relação intensa, ativa e apaixonada que toma uma forma multifacetada, pelo menos tripla: seja na criação, na crítica ou na programação, é sempre de fazer cinema que se trata. Todas estas três faces, inseparáveis, estão em ato neste programa.
Saguenail fez o seu primeiro filme aos 14 anos, em 1969, e durante a sua juventude ainda em França fez outros filmes a que chamou “pecados de juventude” – desses veremos REVOLVER OU CHEVEUX BLANCS, que fez aos 18 anos. Com um desejo e um anseio forte pelo cinema desde muito cedo, então, Saguenail mantém uma prática regular na realização (para além da colaboração com outros cineastas, portugueses e estrangeiros, sobretudo na montagem). Podemos caracterizar brevemente essa prática pelo uso dos meios e ferramentas cinematográficas mais estabilizados e académicos (desde logo na planificação), para corromper e desestabilizar por dentro esse mesmo academismo ou estabilidade. “Sou formalista”, diz na conversa que fecha o catálogo que acompanha este Ciclo. E é de um formalismo arrojado que se trata, radicalmente independente, independência que está assim inscrita em todas as dimensões da sua prática, desde a produção à realização e distribuição dos seus filmes. “Se alguém já fez, não faço”, é a única regra que tem na organização dos seus projetos fílmicos. E em todos os que veremos aqui percebemos o que quer dizer: apesar de uma aparência clássica (os campos/contra-campos, os raccords de continuidade), os filmes de Saguenail são marcados por um forte experimentalismo formal, todos eles tratados preciosos sobre a possibilidade e o limite da “linguagem” cinematográfica – são filmes que perguntam o que é e o que pode essa linguagem. Com temas muito diversos – do colonialismo, à própria morte, ao espaço (imaginário ou não) da cena ou da cidade, ao Porto (que não é só cenário, é tema e vértice na obra dos dois), ao corpo, memória, imagem ou luz (temas que atravessam muitos dos seus filmes) – o tema do trabalho de Saguenail é sempre o mesmo: a imagem cinematográfica.
Regina Guimarães pelo seu lado começou a filmar, ou a “cometer” filmes, como diz, só no final dos anos 80, quando percebeu que os meios videográficos lhe permitiam filmar sozinha, sem ter de explicar a outros aquilo que não sabia explicar se não fosse ela mesma a fazer. Poeta, Regina filma como escreve, a partir daquilo que vê, na rua ou na história das imagens, que articula em montagens-devaneios, que ligam o distante, o discordante, em novos todos – os filmes – poliédricos e expansivos, sempre subversivos. Não é por acaso que se sucedem os “cadernos” na sua prática, e assim é neste programa: não sendo objetos diarísticos, os seus filmes estão ligados ao seu corpo, à sua presença e passagem pelos lugares, aos seus encontros, respondem-lhes, de um modo explosivo (explodem com as formas convencionais). Fazem na prática o que Regina defende quando escreve ou fala sobre cinema: reclamam um espaço para o rascunho na criação cinematográfica.
Os dois escrevem em “Cinema Pobre”, texto publicado no número 0 de A Grande Ilusão, revista de crítica cinematográfica que dirigiram entre 1984 e 1996: “O nosso militantismo é duplo: defesa do cinema — vontade de assegurar a sobrevivência de um meio de expressão para além da sua contingente adequação social (como o circo, os fantoches, etc.) — e luta por uma desenfreada descoberta das suas potencialidades ainda inexploradas.” Com práticas e objetos muito diferentes, então, feitos a partir de impulsos distintos, e resultando em filmes muito díspares também, Regina Guimarães e Saguenail aproximam-se nas perguntas e na reflexão, profunda e contínua, que mantêm sobre o cinema – sobre as suas formas, as suas possibilidades, os seus limites (que trabalham para esticar em todas as suas frentes). Paulo Rocha, confesso admirador dos filmes do casal, elogiava a liberdade e ousadia com que mexiam com as ferramentas do cinema, liberdades e ousadias que o vídeo, meio indomável dizia o cineasta, ajudou a potenciar. Esse gesto que Rocha admirava ficará claro neste programa.
As perguntas que Regina e Saguenail fazem ao cinema não são só colocadas nos filmes: com uma prática crítica e de programação tão longa quanto a da criação, os realizadores apresentam e discutem os filmes (seus e de outros) na mesma medida, com a mesma intensidade com que os fazem. A rubrica dos “realizadores convidados” na Cinemateca é às vezes acompanhada de uma carta branca, outras vezes não. Neste caso, não seria possível fazer um retrato do cinema de Regina e Saguenail se não existisse uma carta branca. As 20 sessões que compõem este programa incluem assim filmes de Regina e Saguenail e filmes de outros, todos eles escolhidos pelos próprios. É um programa que acompanha a visão que os dois têm sobre o cinema e sobre o lugar que os seus filmes ocupam por entre os filmes que veem e amam. É um programa feito por dois cinéfilos, cinefilia apaixonada que arde e é declarada (por citações, referências) dentro dos seus próprios filmes – onde se encontram os cineastas não programados nesta carta branca (Godard, Marker, Carné, Lehman, tantos outros).

Mudas Mudanças (1980) de SaguenailMudas Mudanças (1980) de Saguenail
Levamos assim até ao programa o questionamento que Regina e Saguenail mantêm vivo, em curso e em público, numa prática que recupera as sessões cineclubísticas mais intensas (movimento onde foram figuras importantes e ativas) – este programa inclui aliás CINECLUBE, que Saguenail fez em 2020, em pleno confinamento, onde integra e joga com esse espaço que continua a criar quotidianamente (um espaço de ver e discutir e por isso ver outra vez). Os realizadores vão apresentar e acompanhar todas as sessões do programa, que serão momentos preciosos para acompanhar esta prática ao vivo e discutir com eles as suas ideias de cinema e o ponto onde a sua prática crítica toca a da realização (uma não vive sem a outra, nos filmes que vamos ver). À exceção de MUDAS MUDANÇAS, MA’S SIN e OS MEUS MORTOS, todos os filmes de Regina Guimarães e Saguenail a exibir no Ciclo são primeiras apresentações na Cinemateca.
Resta dizer que esta retrospetiva é incompleta. Não só porque Regina Guimarães e Saguenail continuam, desenfreadamente, a cometer filmes, mas porque há facetas da sua prática ausentes neste programa. A mais óbvia, e mais importante, é o trabalho fílmico que têm desenvolvido em conjunto sobre o cinema português. São filmes onde exploram, experimentam, por dentro, com os filmes dos outros, onde fazem um meta-cinema, objetos incontornáveis na sua prática por conjugarem a tríade apontada acima (crítica, programação, realização). E são objetos preciosos e raros sobre a História do cinema português. Ficaram de fora desta carta branca onde Regina e Saguenail quiseram pôr em cena outros movimentos do seu trabalho – apontados nos títulos das sessões, que são também deles – mas são ótimas razões para continuar a visitar a simultaneamente monumental e pobre obra de Regina Guimarães e Saguenail.

ver programa 
 

18.06.2024 | por martalanca | cinemateca, Regina Guimarães, Saguenail

Chão é Lava!

CONVERSA COM CARLOS ANDRADE, INÊS SAPETA DIAS E COMPANHEIRAS DA ESCOLA AR.CO

TERRITÓRIO #6

Curadoria: Catarina Laranjeiro e Daniel Barroca

No âmbito da exposição Chão é Lava! (Território #6), Inês Sapeta Dias - uma das programadoras da sala de cinema instalada na galeria da Fidelidade Arte - junta-se às companheiras da escola artística independente Ar.Co para uma conversa que marca o terceiro andamento do seu programa, com filmes realizados por alunas e uma professora do Ar.Co. O humorista Carlos Andrade, cujas obras audiovisuais geram fluxos culturais entre Cabo-Verde e respetivas diásporas na Europa e nos Estados Unidos da América, junta-se para debater estes filmes que retratam os territórios que rodeiam a Ar.Co e que olham para o que normalmente fica fora de campo (da cidade e da representação cinematográfica).

mais infos 

17.06.2024 | por martalanca | Catarina Laranjeiro, Daniel Barroca

“SOU BAKONGO”, Tributo ao Mestre Kapela

4ª Edição do Tributo ao Mestre Kapela de título “SOU BAKONGO”, uma Exposição Colectiva de obras de mais de 40 Artistas Angolanos e Internacionais, incluíndo: ALCIDES MALAIKA, OKSANNA DIAS, DANICK BUMBA, FRANCISCO VIDAL DOS SANTOS, GUILHERME MAMPUYA, Cristiano Mangovo, Hamilton Francisco / Babu, Joana Taya, Jone Ferreira, SUEKÍ, entre outros.

Vamos apoiar a memória do Mestre Kapela! Vamos apoiar a Arte Contemporânea em Angola!

Kapela Paulo nasceu em Maquela do Zombo, no Uíge, Angola em Abril de 1947. Era orgulhosamente Bakongo - dizia que era Congolês, mas alusivo ao ´Reino do Congo´. Para além de ter vivido na sua terra-natal Angola, também viveu na República Democrática do Congo e na República do Congo, em Brazzaville, aonde foi aluno da escola endógena ´Poto-Poto´. Regressou a Angola em 1989 e assentou-se em Luanda, primeiro no edifício da União Nacional dos Artistas Plásticos (UNAP), depois no Beiral, e depois de forma auto-suficiente numa casa no Palanca e depois Vila Alice.

Kapela Paulo expôs internacionalmente desde 1995, tendo participado em exposições como “Africa Remix, que viajou por Londres (Reino Unido), Paris (França), Tóquio (Japão), entre outras cidades. Em 2003 venceu o Prémio CICIBA (Centro Internacional de Civilizações Bantu), em Brazzaville. Em 2007 participou na mostra “Check List Luanda Pop” na 52ª Bienal de Veneza, Itália. E em 2009 sua obra fez parte da mostra da 2ª Trienal de Luanda, Angola e, ainda no mesmo ano, sua obra fez parte da Exposição Colectiva “Luanda Smoth and Rave”, França. Em 2013, a sua obra esteve exposta na Exposição Colectiva “No Fly Zone, no Museu Coleção Berardo, Portugal. Em 2015 realizou a sua primeira Exposição Individual de sempre em Angola de nome “Kapela”, na Galeria Tamar Golan, Luanda. Ainda em 2015 apresentou a Exposição Individual “Entre Suplícios na Galeria Hall de Lima Pimentel, também em Luanda. Em 2016 realizou uma Exposição Colectiva no ´ELA-Espaço Luanda Arte´ de nome “Velhos Papéis, Novas Histórias” sob a plataforma ´Pop-Up Mash-Up´ em conjunto com o Artista Angolano Binelde Hyrcan. Em 2017 realizou uma Exposição Individual no ´ELA-Espaço Luanda Arte´ de nome “Luvuvamu + Nzola  I  Paz + Amor”. Em 2018 viajou para Congo Brazzaville, que não visitava há 50 anos, e esteve na ´Escola Poto-Poto´ - após o qual realizou a Exposição Individual “Regresso a Poto-Poto no ´ELA-Espaço Luanda Arte´. Em 2019 expôs sua obra no Camões de Luanda numa mostra com o título simbólico “Regresso à UNAP” que veio a ser a sua última exposição em vida.

Em Outubro 2020 a sua enorme mestria foi reconhecida com a atribuição do ´Prémio Nacional de Cultura e Artes (PNCA)´ 21ª edição - ficou muito feliz com esse reconhecimento. Tragicamente, Kapela Paulo faleceu em Novembro 2020 devido a complicações com o Covid-19.

Com a ajuda dos Artistas Angolanos presentes nesta mostra colectiva - a quem muito agradecemos - continuaremos a fazer ao Papá Kapela esta merecida homenagem! Paz e Amor!

O ´ELA-Espaço Luanda Arte´ é um espaço de arte contemporânea com mais de 9 anos de existência. Re-emergiu em 2022 no armazém Cunha & Irmão SARL / ex-Escola Portuguesa, situado na Rua Alfredo Troni 51/57, na baixa de Luanda ao lado do Ministério das Relações Exteriores. 

14.06.2024 | por martalanca | Mestre Kapela