Adriano Mixinge, um novo moralista?

Adriano Mixinge, um novo moralista? Pertence a uma comunidade cujos membros, "os novos tocadores de batuque", são animados por um desejo de destruir o antigo mundo para o substituir pelo novo - "todo o ato de criação é, em primeiro lugar, um ato de destruição", dizia Picasso - em conformidade com as suas aspirações. O poder ou o homem da rua admite a sua existência; os novos batuqueiros são os pontas-de-lança de uma inédita forma de viver e de pensar.

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30.01.2015 | por Pierrette Chalendar e Gérard Chalendar

O Erro de Cam: o Tráfico de Seres Humanos da origem aos dias que correm

O Erro de Cam: o Tráfico de Seres Humanos da origem aos dias que correm A escravatura tem acompanhado a história da humanidade desde os primórdios, se aceitarmos como verdade testemunhos da Ilíada de Homero ou a própria Bíblia. A escravatura indígena é inegável. Basta lembrar os relatos do trabalho escravo colonial. A escravatura acompanha-nos há demasiado tempo, foi absorvida pelo nosso código genético imaginário e moral.

Corpo

20.01.2015 | por Filipa Alvim

Outra forma de luta

Outra forma de luta Por volta de 1968 ou 1969, já tinha a ideia de que estava a fazer uma biblioteca sobre a história de África. Primeiro, era a África de língua portuguesa. Depois, por causa do meu interesse na escravatura, toda a África. E depois, também a Europa, por toda a interligação.” Nessa altura, os livros sobre África não eram caros, porque poucas pessoas se interessavam por eles. Quando os europeus entenderam que África iria ter importância e que seria preciso compreender as culturas africanas, isso mudou. Então, deixou de fazer contas.

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15.01.2015 | por Susana Moreira Marques

Chegar atrasado à própria pele

Chegar atrasado à própria pele O que perdi enquanto não percebi que era negra não foi por isso qualquer coisa de exterior à experiência de percebê-lo. Não perdi parte da minha vida enquanto a negra que sou, mas parte da minha relação com a pessoa que poderia ter sido se o tivesse percebido anteriormente: um monólogo de difícil tradução.

Mukanda

08.01.2015 | por Djaimilia Pereira de Almeida

As memórias da guerra no documentário “Independência”

As memórias da guerra no documentário “Independência” O projecto “Angola nos Trilhos da Independência“ tem atiçado a curiosidade de muita gente. Foram 57 meses, 900 horas de material audiovisual recolhido em território angolano e internacional, que contem cerca de 700 depoimentos de protagonistas da luta anticolonial. Tudo isto destinado a preservar a memória de um período na História que diz respeito a Angola e à luta de todos os povos sob ocupação colonial cujas memórias padecem ainda de ser registadas e pensadas.É uma epopeia de grande fôlego que implicou muitas viagens, adversidades, muita poeira e entusiasmo. Através dele, a equipa (e futuramente nós) ficou a conhecer um país sob todas as suas diversas camadas. O resultado sai em 2015 na senda das comemorações dos 40 anos da Dipanda.

Afroscreen

07.01.2015 | por Marta Lança

Reparar uma narrativa de séculos sobre a escravatura

Reparar uma narrativa de séculos sobre a escravatura A escravatura é – e talvez venha a ser sempre – um problema contemporâneo. Não se trata apenas de observar que continuam a existir no mundo modelos de exploração semelhantes ao da escravatura e que continua a haver tráfico de seres humanos. (...) “Uma boa divulgação da história da escravatura – e da sua violência e crueldade – poderá despertar a atenção de determinados sectores da sociedade para fenómenos contemporâneos de racismo e de xenofobia, de forma a promover a coesão social e as relações inter-raciais”, resume Vladmiro Fortuna

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07.01.2015 | por Susana Moreira Marques

Ângela Ferreira Monuments in Reverse

Ângela Ferreira Monuments in Reverse A exposição individual Monuments in Reverse reúne pela primeira vez um conjunto de obras de Ângela Ferreira, realizadas entre 2008 e 2012, que partiram de processos investigativos comuns, dando origem, porém, a instalações distintas cujas relações íntimas tendem a manter-se inexploradas do ponto de vista curatorial. Tendo como objectivo a abertura de um espaço de visibilidade para os interstícios conceptuais e formais que sustentam a sua prática em geral e estas obras em particular, a exposição tem uma natureza assumidamente documental e processual. Pretende-se dar a conhecer percursos de reflexão mais do que pontos de chegada, através da possibilidade de novas relações, ou da visibilidade de relações que se encontravam veladas, da forte componente gráfica e videográfica, e do diálogo com obras de outros autores que constituíram ponto de partida ou inspiração.

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07.01.2015 | por Ana Balona de Oliveira

De mar a mar, maré

De mar a mar, maré O sentimento não era o de viver uma experiência limite de Rio de Janeiro, zero vontade de adrenalina na ‘expedição’ à favela. Era antes conhecer outra potência de criação, novos modelos artísticos, assim como a convivência humana nos perímetros de periferia como força geradora de novos repertórios da construção de identidade na comunidade.

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06.01.2015 | por Ana Teresa Ascensão

O indígena pós-imperial

O indígena pós-imperial O imigrante da ex-colónia (ou mesmo os seus descendentes, muitos dos quais hoje cidadãos europeus) muitas vezes não consegue escapar ao paternalismo e ao controlo por vezes exacerbado do Estado pós-imperial. No substrato da acção do agente do Estado, mormente os agentes policiais de segurança pública, ainda subsiste o olhar, secular e binário, que categoricamente classifica e ordena o sujeito pós-colonial vindo da ex-metrópole, ou como um nobre selvagem, uma tábua rasa sem cultura e sobre a qual a acção civilizadora e modernizante do Estado europeu deve recair, ou como um selvagem bruto.

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29.12.2014 | por Abel Djassi Amado

De Re Vegetalia (desdobramentos e deslocações da tropicalidade em e além da pós-colonialidade)

De Re Vegetalia (desdobramentos e deslocações da tropicalidade em e além da pós-colonialidade) O potencial das obras apresentadas em 'Arquipélago' consiste em entender a paisagem tropical como algo construível; não como um reflexo de imaginários políticos determinados, mas como espaço da potencialidade de ação, da prática de 'environmental citizenship'. Essas “paisagens” evocam a participação e a vontade, a capacidade transformativa do humano e “das coisas”, no caráter processual, matizado e azarento que subjaz às grandes configurações de sentido.

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18.12.2014 | por Carlos Garrido Castellano

“A vida hoje é um autêntico campo de batalha”.

“A vida hoje é um autêntico campo de  batalha”. Da mesma forma que começamos, vamos terminar insistindo que as questões do corpo, a vida (e a morte) são políticas. Não podemos encarar a vida num sentido neutro, esvaziada de conteúdo existencial. Afirmamos com Debord que “quanto mais a vida do homem se torna no seu produto, tanto mais ele é separado da sua vida”. Editorial de 'ESTE CORPO QUE ME OCUPA'.

Corpo

17.12.2014 | por Candela Varas

O francês, a francofonia e nós

O francês, a francofonia e nós Este texto restitui e põe em causa uma certa relação que o locutor africano francófono tem face à língua francesa. Procura «humanizar» o francês, fazê-lo descer do pedestal em que tem sido colocado para o trazer às suas justas proporções. Sobrevalorizado sob certos céus africanos, o francês possui, efetivamente, todas as características de um mito poderoso: constitui um sinal exterior de saber, confere prestígio e abre as portas do poder. Por essa razão, é necessário desmistificá-lo para pôr a nu o «veneno mortal» que encerra.

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15.12.2014 | por Khadim Ndiaye

A negação pelo silêncio... os africanos e o genocídio dos tutsi

A negação pelo silêncio... os africanos e o genocídio dos tutsi O racismo primário está muito claramente no centro da negação do genocídio dos tutsi por certos ocidentais. Racismo e negacionismo caminham sempre lado a lado. No caso do Ruanda, estamos perante uma negação espontânea da humanidade, mas que permanece quase sempre envergonhada de si própria e escondida nos recantos mais obscuros da alma humana. Formam uma legião, os intelectuais ocidentais que sustentam que a sua África, uma África fantasiada, continua a ser uma terra de paradoxos e de enigmas, ao mesmo tempo glauca e cheia de luz, exaltada e sonolenta, dividida entre uma alegria de viver desenfreada e as paixões mais sombrias.

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15.12.2014 | por Boubacar Boris Diop

O género no racismo

O género no racismo Não há bom e mau racismo, nem sequer mau e pior. Hoje em dia, muitas pessoas, demasiadas, são discriminadas, perseguidas e violentadas com base no facto de, basicamente, não serem brancas. Isto acontece independentemente de outras características, como idade, origem, classe e género. Mas tal não significa que, quando associadas, estas categorias, onde, infelizmente, tendemos a encaixar as pessoas humanas, não agravem o quadro de discriminação já existente.

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09.12.2014 | por Sofia Branco

Os anjos de Deus são brancos até hoje, entrevista a Paulina Chiziane

Os anjos de Deus são brancos até hoje, entrevista a Paulina Chiziane Uma das mais eminentes figuras da atual literatura moçambicana, ponto de referência incontornável para as lutas feministas desse país e uma mulher que abordou na sua literatura, com uma intensidade inusitada, aspetos especialmente conflituosos do tecido cultural africano. São temas silenciados, tabus, assuntos particularmente dolorosos, pendentes, irresolutos, como a guerra civil moçambicana, os direitos da mulher no sistema poligâmico, a magia negra, o curandeirismo tradicional, o racismo e outras formas de discriminação.

Cara a cara

26.11.2014 | por Doris Wieser

Raça e racismo são coisas que se aprendem

Raça e racismo são coisas que se aprendem A ‘raça’ não é, tão pouco, um dado natural que se imponha à classificação que os seres humanos façam do mundo. É, sim, uma das várias identidades, socialmente construídas e arbitrárias, com que contactamos; um caso particular que, como todos os outros, é situado social, política e historicamente. Da mesmo forma, apesar de toda a sua importância histórica, o racismo é apenas uma forma particular de entre os etnocentrismos, com os quais partilha os mecanismos de construção e afirmação. Só compreendendo-os o poderemos combater com eficácia.

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21.11.2014 | por Paulo Granjo

O colonialismo nunca existiu?

O colonialismo nunca existiu? A questão colonial é deslocada através de um mecanismo que omite os processos históricos ligados ao racismo, à escravatura e à dominação económica e cultural, em alternativa, realça o papel da língua, do património e do Mar como elementos diferenciadores da experiência colonial portuguesa. Se estas interpretações do passado revelam uma dada leitura da História – e dos seus usos no presente – elas dão conta também da dificuldade em evocar a dimensão violenta do colonialismo e a forma traumática como se encerrou o ciclo do Império.

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20.11.2014 | por Miguel Cardina

“Ausência Permanente” de Délio Jasse

“Ausência Permanente” de Délio Jasse São lugares de “decadência imperial” sendo que apresentam vestígios materiais e imateriais, tangíveis e intangíveis de detrito colonial; ou seja, uma espécie de lixo – não só material, mas também ideológico e institucional – que degrada as personalidades que aí habitam. Isto revela-se no modo como as pessoas são forçadas a viver com os efeitos e influências do período pós ou neocolonial. Olhando para as imagens de Jasse, avistamos fragmentos de espaço teimosamente habitados por gente deslocada, forçada a ceder ou encontrar um espaço na cidade comodificada e moldada para o consumo turístico, para o minério e multiplicação de centros comerciais.

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20.11.2014 | por Nancy Dantas

O racismo começa onde acaba a cultura?

O racismo começa onde acaba a cultura? A premissa luso-tropicalista, assente numa falácia histórica, minada por um misto de hipocrisia e cinismo políticos, vai ganhando sedimentação ideológica e dificultando um debate sério e frontal sobre o racismo. Em Portugal, o racismo e a sua negação são estruturais no confronto ideológico sobre o lugar da diferença numa sociedade potencial e estruturalmente racista, porque estrutural e historicamente coloniais.

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20.11.2014 | por Mamadou Ba

Fazer nascer uma nação

Fazer nascer uma nação O escritor Manuel Rui chegou a Portugal já a delegação da Casa dos Estudantes do Império de Coimbra tinha sido encerrada pela PIDE, mas a semente do movimento nacionalista crescia sem controlo entre os estudantes vindos das colónias. «Saímos daqui sem saber o que era Angola e a história dos grandes lutadores contra a ocupação. Na escola estudámos a História de Portugal, decorávamos o hino nacional, conhecíamos as cores da bandeira nacional portuguesa, e era isto que nós sabíamos».

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14.11.2014 | por Joana Simões Piedade