Os Monstros tiveram um impacto bastante grande entre a juventude negra a nível das mentes. A sua auto-estima e os seus índices de confiança melhoraram bastante, pois, ao cantar Soul Music, música do negro norte-americano, estes passavam a mensagem de luta dado que aqueles eram conhecidos pelo uso da música como instrumento de luta, de denúncia e contestação ao sistema. Isto era feito de uma forma tão subtil e com uso de linguagem metafórica, que o poder colonial não se sentiu em nenhum momento confrontado, daí que o grupo tenha sido largamente aceite pelo establishment.
Palcos
05.07.2010 | por Rui Guerra Laranjeira
Toda a ambiguidade da ajuda ocidental às cinematografias africanas decorre do fato de que ela carrega boa parte das contradições que cercam as relações do ocidente com o Outro e com as culturas do Outro. (...) O cinema africano continua sendo feito com grande dificuldade, mas festivais dedicados exclusivamente a filmes africanos se multiplicam nos quatro cantos do mundo. Estes festivais internacionais, que poderiam alavancar o lançamento comercial dos filmes realizados por cineastas africanos, acabam funcionando apenas como única oportunidade de exibição pública.
Afroscreen
04.07.2010 | por Mahomed Bamba
Com uma larga e continuada experiência de apoio a projectos de residência em todo o mundo, a “Triangle Art Trust” é um projecto voltado para os artistas que trabalham no local, para as suas necessidades, e encoraja a mobilidade, a troca e o “fresh thinking”, com ênfase no processo e no desenvolvimento. Uma rede em contínua expansão e mutação, com mais de 3000 artistas participantes nos últimos 25 anos.
Cara a cara
02.07.2010 | por Marta Mestre
Do exposto se infere qual é a nossa posição relativamente ao cinema que escolhemos fazer. O profissional de cinema tem plena consciência de que para fazer um trabalho de acordo com a realidade nacional deve munir-se de instrumentos de reflexão que lhe permitam escolher o que deve filmar e como fazê-lo. Ele sente-se autoconduzido à escolha de temas que legitimem o emprego do seu tempo de trabalho, e do da sua equipa, numa actividade não directamente produtiva e numa conjuntura em que a reabilitação da economia e da organização se impõe a todos como tarefa prioritária.
Ruy Duarte de Carvalho
02.07.2010 | por Ruy Duarte de Carvalho
"Acho que a única coisa que realmente existe é a vontade de o fazer, visível na grande adesão da juventude a essa prática artística." José Mena Abrantes dirige o Elinga Teatro e já faz teatro há trinta anos, conversámos sobre o grupo, fazendo o ponto da situação do teatro em Angola.
Cara a cara
02.07.2010 | por Marta Lança
Imagine-se Boris Vian em português e em mucubal, língua de uma etnia do sul de Angola que vive entre o deserto do Namibe e do Kalahari. Além da experiência semântico-linguística, que convoca o espectador para duas culturas com significados diferentes, o diálogo em conflito e as sonoridades e tradução das duas línguas constroem o próprio material dramático da peça. A complexidade começa logo aí. As Formigas que o encenador Rogério de Carvalho e os actores Meirinho Mendes e Dulce Baptista apresentam no Festival de Almada, não faz nem uma ilustração do texto nem particulariza o acontecimento da guerra.
Palcos
01.07.2010 | por Marta Lança
A morte só existe se há ausência. Para uns, como Saramago, não haverá nunca ausência. O escritor semeou-se tanto e por tantos outros que ele apenas mudou de presença. Não falo da escrita. Mas dos momentos em que ele se distribuiu, pessoa entre pessoas. Em mim, essa permanência faz-se de indeléveis momentos. Relembro aqui alguns desses episódios.
Cara a cara
30.06.2010 | por Mia Couto
Na África do Sul, por esta altura, não se joga apenas futebol. Joga-se uma oportunidade única para chamar a atenção para um país e um continente. De 16 a 20 de Junho, enquanto na África do Sul se jogava à bola, do outro lado do mundo, na Suíça, decorria a mais importante feira de arte mundial – a Art Basel – e discutia-se, numa sessão com a dupla de artistas sul-africanas, Rosenclaire, e a directora da galeria sul-africana Goodman, Liza Essers, a arte da África do Sul e o mercado emergente africano.
Vou lá visitar
29.06.2010 | por Susana Moreira Marques
Mal ou bem eis os alicerces conceptuais daquilo que seria, após as independências africanas, a lusofonia, cujas linhas de força e definição são ainda objecto de debate. Gilberto Freyre destacou o papel de Portugal na construção de um espaço cultural comum lusotropical, sem perder de vista o protagonismo presente e futuro do Brasil naquele espaço faltando-lhe, no entanto, uma visão mais clara acerca da evolução e o papel a desempenhar por parte dos futuros países africanos. O seu legado ainda hoje reverbera na tentativa de construção de comunidades linguísticas e culturais numa era ambivalentemente pós-colonial, de processos híbridos intensificados e globalização acelerada.
A ler
28.06.2010 | por Fernando Arenas
Trata-se de um discurso em ascensão, em que o poeta gradativamente incorpora e ressignifica elementos simbólicos do universo insular, encenando experiências da realidade cabo-verdiana, histórias do próprio sujeito e da linguagem, com o objetivo de constituir uma memória coletiva do grupo. Fortes, em um ato de consciência histórica, reflete, enfim, sobre a independência do povo de Cabo Verde no sentido de construção e valorização de uma identidade “em curso”, em constante processo de transformação.
Cara a cara
28.06.2010 | por Cláudia Fabiana
Decidi agir na esfera simbólica, o objectivo não é mudar o mundo mas mudar o discurso em relação ao mundo. Contribuir para a tomada de consciência da nossa própria responsabilidade nos fenómenos globais. No meu trabalho artístico e textual, esforço-me para clarificar a correlação entre as sociedades de alta tecnologia e o surgimento de condições de vida precárias. Um dos meus principais objectivos é dar a conhecer que as causas e as soluções não estão sempre “noutros lados”.
Jogos Sem Fronteiras
27.06.2010 | por Ursula Biemann
Em Moçambique, como em vários outros países de diferentes continentes, os “médicos tradicionais” ou “curandeiros” assumem um papel central quer na prestação de cuidados de saúde, quer na regulação da incerteza e dos problemas sociais dos seus utentes.
Esses terapeutas são normalmente chamados tinyanga (sing. nyanga) no sul do país e, de acordo com as teorias locais, devem os seus poderes curativos, divinatórios e de eficácia ritual ao facto de serem possuídos por espíritos de defuntos, que com eles formam uma simbiose profissional e ontológica (Honwana 2002).
A ler
25.06.2010 | por Paulo Granjo
O sentido comunitário sofreu abalos provocados pela ordem avassaladora da modernidade tecnológica e cultural assimilada, quando não imposta, a partir dos centros difusores do Ocidente, mas é reconhecível - nas práticas do quotidiano, no imaginário e nas criações artísticas - uma ideia de comunhão de origens atracada a formas tradicionais de existência.
Na narrativa africana, onde ainda se observa a ressonância de elementos estruturantes de convivência social, de marcas profundas de oralidade, de práticas de partilha de espaços e de bens, e de consciência de pertença a um destino comum, o sentido comunitário da existência impõe-se.
A ler
24.06.2010 | por Francisco Noa
“Em Angola a mulher participou lado a lado com o homem na tarefa de luta pela independência nacional com a mesma coragem e passando pelos mesmos sacrifícios que os seus companheiros homens. (...) fardada com rigor militar, a cumprir as mais diversas missões, mesmo a mais arriscadas."
A ler
22.06.2010 | por Margarida Paredes
A cidade, essa missanga grande, esse vidrilho, esse
espelhinho delicado, forrado de seda, com que se tentava entreter e seduzir as mulheres grandes para que estas amaciassem as decisões dos dignitários da terra, tudo isso se diluiu neste traçado, lugar de desembarque e depois de muitos desenhos por onde correm as gentes e as coisas.
Penetremos, pois, nesse colar multicolorido, afagando-lhe algumas das contas, as de um certo e improvável Zefanias Plubios Sforza, um moçambicano com qualidades.
Mukanda
22.06.2010 | por Luís Carlos Patraquim
Em Luanda, onde a febre da segurança lateja à luz de um sol dengoso e desmotivante, há avenidas que são autênticas caixas-fortes – de um lado e doutro, dezenas de guardas ganham (mal) a vida sentados em cadeiras improvisadas, bancos e bancadas, onde fazem de tudo um pouco: dormem, trocam ideias e comem, trabalham. A sua utilidade é duvidosa (têm falta de formação adequada, muitas vezes não estão armados nem alimentados convenientemente) mas a verdade é que estes homens fazem parte da paisagem e dinâmica da capital angolana.
Cidade
21.06.2010 | por Miguel Gomes
Sobre a insegurança da infância e a rebeldia da adolescência existe a mão do saber que nos afaga e alenta, muitas vezes sem sucesso, perante a imagem da máscara que, ao ultrapassar o domínio da matéria, pretende transcender o humano. Revelando uma outra identidade, esta “sombra” viva exige e testemunha o respeito pelos seus poderes e pelos rituais em que desafiamos os nossos temores, correndo os riscos que nos são impostos.
Palcos
20.06.2010 | por Ana Clara Guerra Marques
A África do Sul está com os nervos à flor da pele. Não é fácil jogar a sua reputação e a de um continente inteiro num simples torneio desportivo, por mais prestigiante que seja. Sente-se obscenamente observada e sabe que não lhe será perdoado nenhum erro. Nunca foram tão obstinadamente postas em dúvida, muitas vezes a partir de simples preconceitos, as capacidades do país anfitrião.
Relato de uns dias antes de começar o Mundial.
A ler
17.06.2010 | por Boubacar Boris Diop
Descoberta em 1462 por Diogo Gomes, S.Vicente manteve-se praticamente deserta até princípios do séc. XIX, apesar de várias tentativas de colonização, realizadas durante o séc. XVIII. Tentativas frustradas pelas secas que, numa ilha tão escassa em água potável, tornavam a sobrevivência praticamente impossível. Assim é que, em 1813, a população de S. Vicente, estava reduzida a um punhado de “aventureiros, pastores de rebanhos alheios, prostitutas e degregados”.
Cidade
17.06.2010 | por Ana Cordeiro
No triângulo Europa-América-África da lusofonia, há um elo mais fraco. Os africanos vivem um período de afirmação da língua portuguesa como língua identitária e serão tanto mais iguais quanto forem diferentes.
A ler
17.06.2010 | por Susana Moreira Marques