Ver é um verbo demorado. Ensaio neocolonial sobre tempos, olhares e desconfortos.

Ver é um verbo demorado. Ensaio neocolonial sobre tempos, olhares e desconfortos. Na sala de montagem, trabalhava-se numa sequência de vinte minutos que não chegaria à versão curta, o mesmo é dizer de 217 minutos. No ecrã: três corpos, três temperamentos. Conversavam, provocavam-se, mediam-se. Vi em silêncio por meia hora, enquanto o Pedro discutia opções com a montadora. Visto de fora, pareceu-me uma cena magnética, em que nada acontecia e tudo acontecia. Pensei que é assim que a realidade respira quando não é obrigada a caber num guião. Numa cena lenta, tensa e viva. Vinte minutos, e nem um a mais do que precisava. Pinho monta como quem tenta ressuscitar o tempo. Deixa o ar mover-se, o pulso palpitar, o olhar perder-se e regressar. Não corta para acelerar, corta para ser honesto. É um gesto radical, hoje, num mundo onde até a indignação precisa de caber num clip.

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24.10.2025 | por Pedro José-Marcellino aka P.J. Marcellino

Areia e aprumo, Timbuktu

Areia e aprumo, Timbuktu Timbuktu nunca escolhe a via da esquematização ou do maniqueísmo e tratando da violência armada, da humilhação de um povo ocupado pela brutalidade de uma milícia, observa sobretudo as questões transculturais das paixões, da justiça e da morte; a linhagem de sangue, o direito à terra, a propriedade, os limites da lei e a dignidade cultural; numa meditação sobre o espaço de vida que resta entre o discernimento e a selvajaria. Assim, o imã explica aos jihadistas que, na mesquita, devemos descalçar-nos e usar a cabeça; Samita lembra a Kidane que usava uma arma antes de ter uma filha; Kidane, encarcerado, quer compreender as razões do amigo de infância entretanto radicalizado, a quem reconhece pelo olhar.

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05.07.2021 | por João Sousa Cardoso

Mauritânia: entre o Magreb e a África Subsahariana (parte 2)

Mauritânia: entre o Magreb e a África Subsahariana (parte 2) É objecto de incertezas e de discussão académica quem terão sido os primeiros habitantes do amplo território mauritano. Segundo Marchesin (1992), os pioneiros poderão ter sido os agricultores negros Bafur que foram sendo empurrados para o sul tanto pela seca existente no Sahara, como pela penetração na região dos Sanhadja, nómadas cameleiros, entre os séculos II e III, mas esta teoria constituirá uma hipótese, a par com a possibilidade dos primeiros habitantes terem sido os judeus, ou os navegadores espanhóis e portugueses.

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05.10.2012 | por Joana Lucas

Mauritânia: entre o Magreb e a África Subsahariana (parte 1)

Mauritânia: entre o Magreb e a África Subsahariana (parte 1) A Mauritânia poderá de facto nascer do encontro. Do encontro entre árabes e berberes nómadas com negro-africanos sedentários. Do encontro entre o Sahara e o Sahel, onde à semelhança de muitos outros territórios as suas fronteiras de areia são alvo de tentativas de domesticação através de desenhos a régua e esquadro. Neste caso em particular pela interferência da administração colonial francesa, que também contribuiu para determinar a sua terminologia e sua actual denominação – o país dos mouros –, de onde resulta que os seus limites geográficos e identitários são ainda hoje objecto de gestão quotidiana.

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25.09.2012 | por Joana Lucas

BAB SEBTA, mudar a percepção das migrações, entrevista a Pedro Pinho

BAB SEBTA, mudar a percepção das migrações, entrevista a Pedro Pinho "O filme é sobre a espera, sobre os tempos de espera. Se pode haver diferenças entres as acções das pessoas de cá e as pessoas de lá, a espera permite-nos reconhecer uma unidade e uma semelhança. Por definição, quando esperamos estamos dependentes de alguma coisa exterior que não controlamos e de que estamos dependentes e esse estado de vulnerabilidade é universal. O quotidiano da espera é comum a todas as pessoas do mundo e facilmente reconhecível e identificável." Pedro Pinho

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10.07.2012 | por Marta Lança

"Vos islamistes sont-ils sympas?" Pequena viagem entre tribo, Islão e poder na Mauritânia

"Vos islamistes sont-ils sympas?" Pequena viagem entre tribo, Islão e poder na Mauritânia No caminho para o “Marché aux Khaimas" falava-nos das várias razões porque achava que um dia a situação política e social na Mauritânia teria de “explodir”: uma população muito jovem e desempregada, desigualdades económicas gritantes, e a presença, cada vez mais sólida, de um islão fundamentalista. Mas, se este cenário parece ser semelhante a outros tantos países árabes e islâmicos, devemos acrescentar-lhe, no caso da Mauritânia a questão étnica e tribal que poderá contribuir para complexificar a realidade.

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23.03.2011 | por Joana Lucas