O luso-tropicalismo passaria a funcionar como a narrativa portuguesa do «excepcionalismo», uma narrativa mais ou menos padronizada e internacional, comum a todos os países europeus que tiveram possessões coloniais. Por mais que as histórias e mitologias nacionais digam o contrário, o processo de construção de identidades nacionais é um fenómeno internacional. A narrativa do «excepcionalismo português», ou o investimento na especificidade portuguesa, fez de porta-estandarte das ideias de miscigenação, fácil convivência dos portugueses com os outros povos e ausência de preconceito racista. Esta narrativa adaptou-se a uma forma de narrar a história e imaginar Portugal e os portugueses.
A ler
12.01.2021 | por Marcos Cardão
A resistência às máquinas identitárias também passa pela sua compreensão, pela análise de exemplos, que são efectivações e não modelos. Por isso, neste texto pretende-se analisar alguns aspectos de dois textos recentemente publicados e que se propõem reflectir sobre a actualidade em Portugal – O texto de Luís Trindade, «Fado, Futebol, Fátima, Foices e Martelos. Combates pelo senso comum no século XX português», e o livro de José Gil, com o título Portugal Hoje. O Medo de Existir.
Jogos Sem Fronteiras
03.12.2020 | por Silvina Rodrigues Lopes
Devemos constatar que a selecção das vidas acontece e aconteceu já muito antes do hospital. Como é que a economia nacionalista se transforma num cuidado necropolitico na qual o gesto de curar pode ferir ou até matar? Estamos, de certo modo, isolados nas nossas vida privatizadas pela crise sanitária em que usamos o sentido da vida contra o outro. Quando os migrantes chegam à Europa, não é realmente pela primeira vez. Há algo que faz falta na melancolia racial que apagou o que constitui o estrangeiro aqui e lá porque fere a nossa nostalgia. Esta força que os migrantes têm de fugir dá uma nova força à coragem política e ao amor pela vida.
Jogos Sem Fronteiras
15.11.2020 | por Gisela Casimiro
Em Cabo Verde não é novidade nos dias de hoje porquanto muitas são as tentativas de formalizar o fenómeno do bairrismo em discursos descentralizados ou regionais, que infelizmente caiem em “saco roto”…talvez devido à sua conceptualização equivocada…
Mas a tentativa de compactar o assunto vem desde o fim do séc. XX, numa monografia por mim realizada em que auscultava a possibilidade de haver rivalidades em duas cidades de Cabo Verde, cuja perceção era maior do que o conhecimento das suas próprias realidades.
Cidade
12.10.2020 | por Elsa Fontes
A Carla diz que tenho de deixar o cabelo seguir o seu caminho, pois sabe exactamente o que tem de fazer e como se deve enrolar até chegar a cada conjunto de caracóis. Ela admoesta-me de cada vez que me ponho a enrolar e a desenrolar nervosamente com os dedos o que de si é já enrolado. Não sei se isto me ajuda a pensar ou dificulta a função. Parece que a minha paciência não dá, afinal, para tudo. Ou então, o meu cabelo tornou-se uma novidade; se calhar tento, apenas, perceber o que há de tão especial nisto. Quando sou eu que o toco, porém, o outro não sou eu e sim o meu cabelo, que já foi outro. É, vários graus de enrolamento.
Corpo
09.04.2020 | por Gisela Casimiro
Que todos estes acontecimentos do ano de 2019 confiram um novo impulso ao combate contra o racismo, eis o que desejamos e aquilo a que este texto vem, apelando-se nestas linhas ao empenhamento anti-racista de quem se filia na mesma tradição política que nós, a das esquerdas.
Mukanda
26.12.2019 | por vários
Sonhou que via Luanda lá de cima. No alto do Morro da Cruz, um mpungi gigante de marfim equilibrava-se na sua ponta. No Morro da Fortaleza, outro mpungi igual. Da terra chegou um sopro grave que subiu pelas pontas maiores dos mpungis. Este alcançou as nuvens, e o céu palpitou em resposta. O barulho feito pelo céu espalhou-se por onde lhe levou a vontade. Depois juntaram-se marimbas a tocar na Corimba e mukupelas na Samba.
Mukanda
29.11.2018 | por Yara Monteiro
O mito, ao mesmo tempo que dissimula também revela a ideologia em que se inscreve. É oportuno lembrar que a memória também se configura como um simulacro onde a questão não é a do falso ou do verdadeiro, mas a do acesso subjetivo, o mais amplo possível, à fruição do tempo passado.
A ler
12.11.2018 | por Roberto Vecchi
Do mesmo modo que reinventamos a nossa infância individual, criando uma narrativa – uma dentro das várias possíveis − com a qual escolhemos identificar-nos, podemos afirmar que as identidades nacionais vão sendo criadas, retrospetivamente, através de discursos nos quais os próprios cidadãos são agentes ativos.
A ler
15.10.2018 | por Ana Nolasco
Este festival de cariz comunitário, feminista e queer procura a criação de uma esfera de ideias e relações entre os vários intervenientes no festival com efeito directo na comunidade local de Lisboa, através da discussão de temáticas de cariz social de inclusão, acesso, representação, expressão ou identidade.
Vou lá visitar
23.06.2018 | por vários
Se o conceito de lugar de fala se converte numa ferramenta de interrupção de vozes hegemônicas, é porque ele está sendo operado em favor da possibilidade de emergências de vozes historicamente interrompidas. Assim, quando os ativismos do lugar de fala desautorizam, eles estão, em última instância, desautorizando a matriz de autoridade que construiu o mundo como evento epistemicida; e estão também desautorizando a ficção segundo a qual partimos todas de uma posição comum de acesso à fala e à escuta.
Corpo
19.07.2017 | por Jota Mombaça
Para Oiticica, a invenção desta nova forma de expressão não se tratava, como poderia fazer supor o nome parangolé, de uma folclorização na sua experiência ou a tentativa de uma valorização da “cultura popular”, que considerava uma camuflagem opressiva do “mostrar o que é nosso, os nossos valores…” mas de uma reinvenção da própria ideia de uma arte política. Tanto que sempre se distanciou dos projectos culturais da esquerda, de tradição marxista, que pretendiam figurar discursos sobre a “realidade brasileira” como estratégia de luta contra o regime militar.
A ler
19.04.2017 | por Mariana Pinho
O mapa ou a cartografia resultante não pode, então, constituir-se senão como um desmapear, um descartografar, um baralhar das coordenadas actuais a partir dos três andares do Globo, das várias camadas de história e memória – colectiva e individual; colonial, anti-colonial, pós-colonial, pós-Marxista, pós-guerra civil – que estes albergam e que o relato sonoro de Almeida, contíguo à instalação vídeo, convoca em permanência. Este desmapear só pode compreender-se, também, a partir do desejo de inscrição de memória no presente e para o futuro que o projecto de requalificação e restauro nunca concretizado, posicionado diante do vídeo, evoca.
Vou lá visitar
08.11.2016 | por Ana Balona de Oliveira
O que perdi enquanto não percebi que era negra não foi por isso qualquer coisa de exterior à experiência de percebê-lo. Não perdi parte da minha vida enquanto a negra que sou, mas parte da minha relação com a pessoa que poderia ter sido se o tivesse percebido anteriormente: um monólogo de difícil tradução.
Mukanda
08.01.2015 | por Djaimilia Pereira de Almeida
O Estado, seja no Brasil como no Peru ou em Portugal ou na Alemanha, está impregnado do Capital. Os governos são associações de empresários ou advogados dos grandes negócios com as empresas privadas. Daí a tese de Slavoj Zizek (entrevista ao L’Humanité.fr, 5.8.2013) que faz aqui todo o sentido: o poder do Estado deve ser tomado porque “eu não quero ser apenas alguém que é mobilizado todos os dias para uma manifestação”.
A ler
03.09.2013 | por António Pinto Ribeiro
Neste livro apresentam-se e complexificam-se os conceitos de lusofonia e “espaço lusófono” tendo em conta a história colonial, identidades locais e diáspora. Todos os artigos estão orientados para o entendimento da questão da juventude a partir de sua diversidade, em oposição à sua homogeneização, e todos confluem também para ressaltar o protagonismo juvenil nas diferentes modalidades.
Palcos
02.05.2013 | por Rosana Martins
Esta identidade encenada enche-se plenamente graças à fricção deste corpo e da sua percepção com a dos outros. Basta fazer emergir um terceiro-espaço em que a identidade subjetiva e subversiva se possa exprimir. Este terceiro-espaço torna-se uma dimensão imaginária da sua arte em que a multiplicidade dos olhares é possível. A arte está aí, na rua, no quotidiano, tudo é "arte" ou for sale como afirma Paulo Nazareth nos seus cartazes. A sua arte - simples e poderosa - é participativa e todos, por sua vez, se podem tornar criadores. Tal como Marcel Duchamp, ele afirma uma ética da resistência face à comercialização excessiva do mundo. Conduz-nos a gestos e ações simples como resgatados de um tempo passado
Corpo
31.03.2013 | por Joanna Espinosa
Os especialistas nos estudos da literatura caboverdiana parecem estar de acordo quando, na sua esmagadora maioria, vêm asseverando que pouco eco tiveram na obra dos literatos das ilhas sahelianas anteriores ao movimento político-literário caboverdiano da Nova Largada a negritude e outros movimentos literário-culturais similares, como o renascimento negro norte-americano, o indigenismo haitiano, o negrismo cubano, aliás, amplamente dissecados por Manuel Ferreira, na sua "Introdução" a No 'Reino de Caliban' e n'O Discurso no Percurso Africano, e, mais recentemente, por Pires Laranjeira, no livro 'A Negritude de Língua Portuguesa'.
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28.03.2013 | por José Luís Hopffer Almada
A gestão de saudade que esta onda literária e testemunhal tem marcado no panorama literário português traz contudo uma novidade – denuncia também, mal ou bem, que para se perceber o Portugal actual se tem de fazer a viagem de retorno a África, mas não no sentido com que Isabela Figueiredo o faz, ou seja, no sentido de lidar de frente com os seus fantasmas, mas de habilmente os transformar em fantasias, ora escrevendo a busca do paraíso perdido que não poderá lá estar porque nunca existiu a não ser na imaginação, ora na efabulação de uma África Minha que nunca tivemos.
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26.03.2013 | por Margarida Calafate Ribeiro
A identidade terá a nacionalidade que seja o eu. E o eu será esse empastamento, camadas sobrepostas que não correspondem à cronologia ou à soma dos meses, das décadas e da dissolução… Camadas de existência que residem em locais detectados, mapeados e circunscritos. Mónica de Miranda dá continuidade a uma pesquisa que visa o conhecimento aprofundado das suas matrizes culturais, a retoma da ancestralidade, fruto de uma lucidez e rigor que vai do sociológico e antropológico para o estético.
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29.11.2012 | por Fatima Lambert