A Vénus hotentote, o seu público e a ciência

A Vénus hotentote, o seu público e a ciência Chamar-lhe Vénus era já uma das muitas distorções que o mundo do espetáculo e a ciência da época tinham aplicado a Sarah. E acrescentar hotentote mostrava também como o europeu via o resto da Humanidade em função de si próprio: aquela palavra é uma onomatopeia que designa uma espécie de gaguez, porque os nativos africanos assim designados pareceram, aos primeiros colonizadores, ser gagos; ou talvez seja a fixação de alguns sons comuns da sua língua, que soavam como “hot on tot”. Desde que a Europa fez por se desalojar da posição que tinha concedido a si própria, a de centro do mundo, chamamos khoikhoi ao grupo étnico de que Sarah Baartman fazia parte, porque este próprio assim se designa, e khoisan à sua língua, porque é esse o nome que os khoikhoi lhe dão. Já não são gagos, ou melhor, nunca o foram. Numa era pós-colonial, dizer khoikhoi implica começar a ver os elementos desta população como eles se veem a si próprios.

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10.12.2018 | por Vasco Luís Curado