Sororidade!

Sororidade! Na rua, a vender, tudo se partilhava. O que era de uma estava sob cuidado de todas as outras no mesmo espaço. Havia relações de confiança entre minha mãe e suas companheiras que chegaram a transcender o espaço da rua e perduram por anos. Essas mulheres emprestavam o pouco que tinham quando uma ou outra precisasse de ajuda, praticavam o Ubuntu mesmo sem conhecer a palavra: uma era porque as outras eram. Existiam em coletivo. A solidariedade entre essas mulheres não deixava de ser um ato político na medida em que, juntas, resistiam a um contexto sócio-histórico e político hostil, encontrando ferramentas conjuntas para a sua sobrevivência e das suas famílias.

Corpo

17.01.2024 | por Leopoldina Fekayamãle

Infância em tempos de guerra: Sarajevo, Luanda, Gaza I Um passo atrás

Infância em tempos de guerra: Sarajevo, Luanda, Gaza I Um passo atrás Talvez o esforço de reconciliação entre vítimas e agressores - dois lugares por vezes ocupados simultaneamente pelos mesmos sujeitos - não sirva para curar as feridas de quem viveu a fractura do conflito em si, mas sim para criar um espaço de possibilidade de re-invenção e reparação nas gerações futuras. Assim, o irreparável e o reparável podem coexistir no tempo dos vivos, com a condição inegociável de não deixar que o esquecimento apague aquilo que aconteceu, por mais insuportável que seja lembrar.

Mukanda

29.11.2023 | por Aline Frazão

Thó Simões: “A arte urbana revela e denuncia os monstros da alma humana”

Thó Simões: “A arte urbana revela e denuncia os monstros da alma humana” Thó Simões, artista plástico angolano, acabou de apresentar em Luanda a sua mais recente exposição intitulada “Entre Homens e Monstros”. As imagens criadas pretendem alargar o debate sobre as microviolências de uma cidade em constante mutação. O artista foi um dos percursores da arte urbana em Angola com uma trajetória com passagem por Linda-a-Velha, Oeiras, Malanje e Luanda. A prática profissional em agências de publicidade e depois a rua trouxeram-lhe a vontade de intervir politicamente através do mural e da arte urbana. Nesta conversa questiona a forma como a arte pode mudar as vivências de uma cidade e um país em crise económica e social e ainda com os estilhaços da guerra civil e a ocupação colonial.

Cara a cara

19.04.2021 | por André Soares

Mulheres de armas, entrevista a Margarida Paredes

Mulheres de armas, entrevista a Margarida Paredes Fui testemunha de actos de solidariedade de mulheres da elite com as ex-combatentes que vivem em situações de grande aflição, sobretudo as da Frente Leste e as do Campo de Concentração de São Nicolau. Se hoje podemos ouvir estas mulheres no meu livro é porque as veteranas que são dirigentes me abriram as portas. Joana Mucolo Tchimbinde Fronteira, uma das entrevistadas da Frente Leste, foi muito frontal ao dizer: “Nós não abandonámos o MPLA mas o MPLA é que abandonou o povo”. Mas tem havido uma luta comum pelo reconhecimento no âmbito da organização das mulheres.

Cara a cara

24.02.2016 | por Marta Lança

Mais um dia de vida - Angola 1975

Mais um dia de vida - Angola 1975 Cheirava mal em toda a parte, um fedor ácido, e uma humidade pegajosa e abafada espalhava‐se pelo edifício. As pessoas transpiravam de calor e de medo. Havia um ambiente apocalíptico, uma expectativa de destruição. Alguém chegou com o boato de que se preparavam para bombardear a cidade durante a noite. Uma outra pessoa ouvira dizer que, nos bairros dos negros, se afiavam facas para cortar a garganta aos portugueses. A insurreição explodiria a qualquer momento. «Que insurreição?», perguntei, para poder informar Varsóvia. Ninguém sabia exactamente. Apenas uma insurreição, e descobriremos de que natureza é quando nos atingir.

Mukanda

27.09.2013 | por Richard Kapuschinski

Teoria Geral do Esquecimento - PRÉ-PUBLICAÇÃO Agualusa

Teoria Geral do Esquecimento - PRÉ-PUBLICAÇÃO Agualusa Entre 1997 e 1998 desapareceram nos céus de Angola cinco aviões, com um total de 23 tripulantes, originários da Bielorrússia, Rússia, Moldávia e Ucrânia. A 25 de Maio de 2003, um Boeing 727, propriedade da American Airlines, desencaminhou-se do aeroporto de Luanda, e nunca mais foi visto. O aparelho estava há 14 meses sem voar. Daniel Benchimol colecciona histórias de desaparecimentos em Angola. Todo o tipo de desaparecimentos, embora prefira os aéreos. É sempre mais interessante ser arrebatado pelos céus, como Jesus Cristo ou a sua mãe, do que engolido pela terra. Isto, claro, se não nos estivermos a servir de uma linguagem metafórica. Pessoas ou objectos literalmente engolidos pela terra, como parece ter acontecido com o escritor francês Simon-Pierre Mulamba, são, contudo, casos muitos raros.

Mukanda

08.05.2012 | por José Eduardo Agualusa

A transição de Neto a dos Santos: os discursos presidenciais sobre as relações internacionais de Angola e o conflito com a UNITA (1975-1988)

A transição de Neto a dos Santos: os discursos presidenciais sobre as relações internacionais de Angola e o conflito com a UNITA (1975-1988) pretende-se fazer um balanço dos discursos feitos por Agostinho Neto, primeiro presidente de Angola e do MPLA e, posteriormente, por seu sucessor José Eduardo dos Santos, naquilo que tange as relações internacionais de Angola, e o conflito com a UNITA – desde o momento da proclamação da independência, em 1975, até a assinatura dos Acordos de Nova Iorque, em 1988.

A ler

23.08.2010 | por Kelly Araújo