2ª edição do ciclo 'Outros Cinemas Sexualidades'

Dia 18, 19 e 20 Maio Sessões 18h / 21:30h / 00h

Auditório Soror Mariana|Colecção B, Évora

Outros Cinemas Sexualidades | Marginalidades

Como representa  o cinema hoje as sexualidades? E as homossexualidades? E as transexualidades? Como são as práticas transgressoras representadas no cinema? Que papel tem o documentário na disseminação de temas e na manutenção de tabus? Como encaramos hoje o pornográfico, o obsceno e o erótico?

O ciclo Outros Cinemas: Sexualidades prolonga-se até ao fim de 2012 e traz, a cada 2 meses, uma paragem nas sexualidades que o cinema representa, cruzando o cinema de ficção e o documentário, a vídeo-arte, a performance e a documentação são o material privilegiado, a par de debates, encontros e propostas de formação/sensibilização de públicos.
Muitas das grandes liberdades discursivas sobre sexo e sexualidades, ocorridas durante o século XX, encontraram no cinema um meio privilegiado de expressão. Quase sempre marginais, mesmo quando no coração da indústria da imagem em movimento, as representações da sexualidade trazem ao cinema questões tão marcantes como a política do corpo, os regimes de censura ou os sistemas de valores ideológicos, religiosos e estéticos. É a partir dessas questões que apresentamos as 7 sessões de mais um ciclo dedicado às Sexualidades, desta vez para falar de marginalidades.

Para as sessões das 18h propomos a exploração do hedonismo futurista de Barbarella (1968), o filme de Vadim que valeu a Jane Fonda o rótulo de sex-symbol e quase lhe garantiu uma carreira em direcção muito diferente da que veio a percorrer e Cheezy explotation (2006), uma homenagem às formas de exploração das sexualidades como mecanismo atractor e publicitário (entre a sugestão de temas sexuais e as produções de série B com  que a indústria cinematográfica ia fazendo a máquina funcionar) com a exibição de trailers de filmes como Slaves in bondage, A taste of flesh ou Reform School girls, entre muitos outros de título mais ou menos apelativo e imagens medidamente ousadas.

Para as sessões das 21h30, propomos uma incursão no domínio das grandes inquietações sobre o papel da sexualidade no destino dos homens e mulheres de hoje (com Shortbus), ou na construção de uma acção política radical servida por um erotismo transgressor e subversivo (com O êxtase dos anjos, do mestre Wakamatsu).

Para as sessões das 24h reservámos os materiais mais transgressores. Sexta-feira, a sessão é de curtas. Entramos nelas pelo mundo inventado do desenho contundente e humorado de Phill Mulloy, passamos pela produção nacional,l que tem dado às sexualidades uma expressão renovada e criticamente informada, com filmes de Carlos Conceição e do premiado Gabriel Abrantes. Destaque para este último (A history of mutual respect), aclamado pela crítica como «pura energia trituradora. Devora décadas de cinema experimental - podemos lá pôr Kenneth Anger e Warhol (ou um discípulo como Gregg Araki) ou Werner Herzog - ou o discípulo Harmony Korine» (Vasco Câmara). Uma leitura politicamente ‘pouco correcta’, entre o formal e o pós-colonial. E terminamos a noite com o ambiente punk disruptivo e transgressor dos filmes de Richard Kern, lugar de explosão de convenções, de afirmação de marginalidades e de aprofundamento de uma poética cinematográfica corrosiva face à própria indústria. Filmados em Nova Iorque a partir da marginalidade assumida pelo autor, os filmes de Kern quase poderiam constituir-se em repertório de práticas sexuais desviantes: strap-on, domínio, bondage e muito mais como dinâmicas transgressoras numa poética (e política) da marginalidade expressa na e pela sexualidade.

Encerramos esta etapa no Domingo, com a exibição do documentário Dentro de garganta funda (de 1972), uma viagem através da censura e das reacções ao célebre filme pornográfico, evidenciando a hipocrisia da moral vigente nos EUA e o quanto a luta pela produção e exibição do filme tocava um limiar político que raramente se reconhece na pornografia (e a legitimava), situada por regra nos confins das marginalidades.

Com uma programação que promete andar à margem das escolhas mais formais, a 2ª etapa do ciclo Outros Cinemas Sexualidades abre de novo o grande palco das liberdades discursivas - porque ninguém quer fugir à transgressão.

Dia 18, sexta-feira

18h | Barbarella, a rainha da galáxia, Roger Vadim (1968) 94’

Barbarella é a personagem que nos transporta a um futuro distante (ano 40 000 d. C.) ao planeta Lythion numa aventura de sensualidade, erotismo e beleza. A personagem valeu a Jane Fonda o rótulo de sex-symbol e quase fez da desinibida (e quase nua) rainha da galáxia a rainha da sexplotation.

21h 30 | Shortbus, John Cameron Mitchell (2006) 98’ | Maiores de 16

Famoso por uma cena de sexo em grupo de contornos muito explícitos, o filme de Cameron Mitchell atravessa todas as vias da sexualidade contemporânea, com personagens nas encruzilhadas da sua (re)orientação sexual, os dilemas ou conflitos com tabus e preconceitos. Situado em Nova Iorque, as personagens de Shortbus, homosseuxuais e heterossexuais, descobrem pelo caminho as virtualidades políticas da condição polissexual.

00h | Curtas | Maiores de 16

6 curtas, 6, entre o humor corrosivo da animação de Mulloy e a marginalidade transgressora de Richard Kern, onde se reinventam papéis e as fantasias sexuais são levadas ao extremo. Pelo meio, dois filmes de jovens cineastas portugueses. Com Carne, entramos no universo da culpa e na perturbadora vivência religiosa que lhe dá corpo. Na curta de Gabriel Abrantes é a História que é filtrada pela perspectiva pós-colonial, é o formalismo dos actores que se inscreve em belíssimas imagens e nos dá um intenso dispositivo de (re)negociação do passado cinematográfico. Nesta leitura da sexualidade como instrumento de domínio colonial, ecoam ainda Sade e a linguagem quase matemática com que descreve as práticas sexuais.

The sex life of a chair, Phil Mulloy (1998) 7’

The history of the world, Phil Mulloy (1994) 6’

Carne, Carlos Conceição (2010) 20’

A history of mutual respect, Gabriel Abrantes (2010) 23’

Submit to me now! Richard Kern (1987) 18’ 37

The bitches, Richard Kern (1992) 9’

Dia 19, sábado

18h | Cheezy explotation (2006) 60’

E se visionássemos uma extensa colecção de trailers de filmes como Slaves In Bondage, Pin-Down Girl, She Shoulda Said No!, A Taste Of Flesh, Tomorrows Children, Rat Fink, Glenn Or Glenda, I Passed For White, Hitlers Captive Women, Covergirl Killer, Reform School Girls, Let Me Die A Woman, Satan In, High Heels e muitos mais, numa divertida aproximação a este universo?

21h 30 | O êxtase dos anjos, Kôji Wakamatsu (1967) 84’ | Maiores de 16

Situado nos anos 70,  este é um filme sobre políticas subversivas e o papel, nelas, da violência e da sexualidade, em busca de uma revolução radical… filmado por um dos grandes mestres do cinema japonês do séc. XX.

00h | Os anjos exterminadores, Jean-Claude Brisseau (2006) 100’ | Maiores de 16

Brisseau explora neste filme a condição do cineasta perante o erotismo, a sensualidade e o prazer. Uma sequência de prazer num casting desencadeia uma ideia de filme onde se vão multiplicar as ligações entre as actrizes-personagens e o cineasta…

Dia 20, domingo

18h | Dentro de garganta funda, Fenton Bailey e Randy Barbato (2005) 92’

Há 40 anos, o clássico Garganta funda lançou para o estrelato a jovem Linda Lovelace e ocasionou um escândalo de enormes proporções, com censuras e proibições de exibição em 23 estados americanos. Na época da luta pela libertação sexual e pela igualdade entre homens e mulheres, o filme teve consequências enormes para o debate cultural mais mobilizador a sociedade americana. Permanece um clássico e talvez o mais lucrativo de toda a historia do cinema.

  O êxtase dos anjos (1967)                                    Shortbus (2006)                                                                     

               

18.05.2012 | por martacacador | cinema, sexualidade