Contai aos vossos filhos

Contai aos vossos filhos A fotografia e a guerra formam, na nossa época, uma parelha que tem muito que se lhe diga, mas não uma leitura única. Susan Sontag, uma escritora americana que descreveu, historiou, e tentou explicar a estranha coligação deste estranho casal (a fotografia e os sofrimentos da guerra) no seu livro “Ohando o sofrimento dos outros” (que diga-se de passagem, foi traduzido por mim) diz a certa altura: “As guerras são agora também imagens e sons de sala de estar. A informação sobre o que está a acontecer noutro sítio, a que se dá o nome de «notícias», sublinha o conflito e a violência – If it bleeds, it leads [«Se há baixas, há cachas»], reza a provecta divisa dos tabloides e dos programas noticiosos de 24 horas – que recebem em resposta compaixão, ou indignação, ou excitação, ou aprovação, à medida que cada notícia vai surgindo.”

Vou lá visitar

15.03.2024 | por José Lima

O poder instrumental da inteligência artificial em regimes fascistas orientados por dados

O poder instrumental da inteligência artificial em regimes fascistas orientados por dados A investigação expõe o uso de um sistema chamado "Habsora" ("O Evangelho"), que utiliza tecnologia de Inteligência Artificial para gerar quatro tipos de alvos: alvo tático, alvo subterrâneo, alvo de energia e casas de família. Os alvos são produzidos de acordo com a probabilidade de que combatentes do Hamas estejam nas instalações. Para cada alvo, é anexado um arquivo que "estipula o número de civis que provavelmente serão mortos num ataque". Esses arquivos fornecem números e baixas calculadas, para que, quando as unidades de inteligência realizam um ataque, o exército saiba exatamente quantos civis provavelmente serão mortos.

A ler

02.03.2024 | por Anaïs Nony

Pelo Tribunal a acusação de genocídio é plausível

Pelo Tribunal a acusação de genocídio é plausível Para além do aspecto humanitário de uma irmandade que une os povos sul-africano e palestiniano – este é provavelmente o maior significado desta ação legal: desmascarar a ausência de conteúdo concreto de uma série de normas internacionais; questionar a aplicação de diferentes standards quando se trata de proteger cidadãos de diferentes áreas geopolíticas – observações que a guerra na Ucrânia já tinha suscitado; denunciar a impunidade garantida, culposamente, a Israel pela comunidade internacional.

Jogos Sem Fronteiras

28.01.2024 | por Laura Burocco

Com os olhos em Gaza

Com os olhos em Gaza “Numa terra de profetas, é difícil ser profeta”, dizia Amos Oz, mas é muito possível, vamos acreditar, que o espelho que daqui resulta – o massacre odioso do Hamas, o mundo devastado de Gaza deixado pelas retaliações do exército israelita – faça todos recuar de horror e permita abrir uma janela para a única solução que ainda se vislumbra e que Oz há muito antevira.

A ler

26.01.2024 | por José Lima

Entrevista ao cineasta israelita Avi Mograbi: “A necessidade de assumir a responsabilidade em relação à ocupação está sempre presente.”

Entrevista ao cineasta israelita Avi Mograbi: “A necessidade de assumir a responsabilidade em relação à ocupação está sempre presente.” Quando fiz Between Fences estávamos no auge dos protestos contra a forma como o país lida com os imigrantes. O Supremo Tribunal tinha rejeitado, consecutivamente, várias leis do Governo relativas aos requerentes de asilo, o que é um ponto-chave para compreender porque o Estado entrou em conflito com o Supremo Tribunal. Atualmente, o Governo está a tentar “cortar a cabeça” deste tribunal. Foi curioso porque na época, muito destes protestos não eram em defesa dos direitos humanos, mas impulsionados pelos proprietários dos restaurantes que reivindicavam que, se os refugiados fossem expulsos, era o fim da sua atividade, porque ficariam sem mão-de-obra: ajudantes de cozinha, profissionais de limpeza, etc. A Lei de Imigração de Israel beneficia apenas a entrada de judeus no país.

Cara a cara

23.03.2023 | por Anabela Roque

A Branquitude como propriedade em Israel - restabelecimento, reabilitação e remoção

A Branquitude como propriedade em Israel - restabelecimento, reabilitação e remoção O Iluminismo europeu é geralmente associado à emergência das democracias liberais, à separação da Igreja e do Estado, tal como ao triunfo da razão e da ciência sobre a emoção e o misticismo. Os pensadores iluministas afirmaram com insistência que conceitos como a razão, a universalidade e o secularismo foram o sustentáculo da modernidade. Contudo, em vez de se aproximarem da tolerância e da inclusão, os conceitos iluministas reificaram e entrincheiraram as distinções com diferença consequente. O conhecimento científico, marcado por uma verdade demonstrável, não pôs em questão as ordenações divinas da hierarquia racial, fornecendo explicações racionais para elas. Em vez de aceitar a amplitude da diversidade humana, o universalismo impôs violentamente uma norma hegemónica e singular do sujeito universal. Os judeus europeus acabaram por transportar o peso do triunfo da modernidade. O Iluminismo secularizador interrompeu as relações sociais tradicionais construídas em torno das doutrinas religiosas e, por meio da etnologia, produziu hierarquias étnica e racialmente ordenadas dos seres humanos.

A ler

18.10.2021 | por Noura Erakat

As palestinianas e a luta das despossuídas

As palestinianas e a luta das despossuídas E se a Nakba, a palavra que elucida a despossessão catastrófica por excelência, não é um evento do ano de 1948, mas uma condição constantemente reconstituída da vida palestiniana, então resguardar-se contra ainda outra Nakba passou a ser estrutural nesta história e entrelaçado com a própria vida palestiniana.

Vou lá visitar

25.05.2021 | por Samera Esmeir

Marlene Dumas: Uma pintora da vida moderna

Marlene Dumas: Uma pintora da vida moderna Marlene Dumas viveu e estudou na África do Sul até 1976, contornando como podia as limitações impostas pela censura, nomeadamente no meio estudantil britânico da Michaelis School of Fine Arts da University of Cape Town. A relação com pintura era, entretanto, vivida de forma dolorosa, confusa. "Vivia inserida numa sociedade que não valorizava a pintura ou que a submetia a um ensino caduco. Não respondia aos meus desejos e aspirações. Chegava a sentir-me culpada por ser uma pintora, actividade que na África do Sul todos achavam insignificante e não tinha modelos. Vivia um conflito com aquilo de que gostava. Por isso, criei a minha própria história pessoal com o suporte."

Cara a cara

26.03.2011 | por José Marmeleira