Lutas dos saberes negros na educação artística: memória do algodão entre Brasil e Cabo Verde

Lutas dos saberes negros na educação artística: memória do algodão entre Brasil e Cabo Verde A partir do ciclo do algodão é criada uma ficção em torno de saberes negr@s em trânsito pela geografia do tráfico atlântico de escravizad@s. Este risco de imaginar o que ficou silenciado e apenas memorizado numa semente, vingada pela união e luta dos povos, provoca uma relação entre a comunidade quilombola de Conceição das Crioulas, no nordeste brasileiro e o projeto Neve Insular no Madeiral, interior da ilha de São Vicente em Cabo Verde. Neste artigo pretende-se fazer uma leitura sobre práticas de educação artística, por um lado a partir de uma lente crítica sobre como os regimes de plantação e colónia atravessam os séculos e as mentes até hoje, e por outro lado uma lente que herda do feminismo a radicalidade face ao patriarcado e ao capitalismo naturalizados como dispositivos de poder e apropriação da própria vida. Em ambas as geografias o algodão e os saberes em torno dele tornam-nos permeáveis a um universo político de questionamento da história da monocultura da planta e do pensamento, abrindo espaço para fazer estremecer a tentação de reproduzir os modos de ensinar e aprender.

A ler

25.01.2022 | por Rita Rainho

Pedra, algodão ou petróleo

Pedra, algodão ou petróleo Os sacos de algodão apertados na camioneta, numa alta muralha, escorrem água em fio. A carga já não pesa somente oito toneladas, pesa bem mais, mas as contas estão feitas, agora pouco importa. Na minha camisola, nas minhas peúgas, as fibras de algodão entrelaçam-se em fios de petróleo. Se a verdade é leve e a mentira pesa chumbo, o camião, a bambolear-se a dez à hora pela estrada ensopada, traz agora no dorso uma grande carga de mentira. Mas talvez seja ao contrário, a mentira leve e a verdade pesada. Nas oito horas que passei na aldeia, o preço do barril de petróleo desceu um dólar.

Mukanda

24.11.2018 | por Paulo Faria