Testemunhos da Escravatura Memória africana

No século XV, Portugal iniciou aquilo a que podemos chamar de tráfico de escravos a nível mundial. Se é verdade que no nosso território se praticava a escravatura desde sempre, também é verdade que é nesta altura que se inicia o comércio em larga escala e o seu desvio para o Atlântico. Os negros, capturados e depois comprados em África, serviam às tradições escravistas da Europa, mas eram sobretudo mão de obra necessária para a exploração das riquezas dos novos mundos descobertos.

Portugal foi um país esclavagista por mais de quatro séculos. Os portugueses, conjuntamente com os ingleses, franceses, espanhóis, holandeses (e mais brasileiros e norte-americanos), dominaram o tráfico negreiro, transportando um número que se calcula de cerca de 10 a 12 milhões de africanos para a Europa e América. Alterando radicalmente o desenvolvimento futuro dessas regiões.

Lisboa foi o destino do primeiro carregamento de escravos, muito diminuto no início, mas símbolo do que se veio a tornar depois. Em 1441, chegam a Lisboa dois escravos, capturados a sul do Bojador, acontecimento descrito por Gomes Eanes de Zurara na Crónica dos Feitos da Guiné. O número de escravos negros rapidamente aumenta na cidade, passando a estar presentes em todas as casas, diferenciando-se ricos e pobres apenas pelo número de escravos que possuíam.

A presença dos negros em Lisboa e os testemunhos que a escravatura deixou na memória da cidade são o ponto de partida para este projeto desenvolvido pelo Gabinete de Estudos Olisiponenses, nascido de uma reflexão acerca do que são hoje as sociedades ibero-americanas, dos problemas e desafios que enfrentam.

A identificação de um conjunto de museus, arquivos, bibliotecas e de outras instituições da cidade de Lisboa e a existência de memórias e de património da escravatura, foram o ponto de partida para o convite a estes equipamentos para selecionarem, nas suas coleções, peças e/ou documentação que, de uma forma direta ou indireta, se pudessem relacionar com a escravatura negra.

Estes testemunhos e heranças recuperados, foram objeto de uma abordagem particular que fomentou uma variabilidade de leituras e reflexões relacionadas com o tema.

Mais de duas centenas de peças e documentos mostrados em pequenas exposições, ou destacados nas próprias exposições permanentes, ou ainda disponibilizados apenas em linha, permitem desvendar tópicos sobre o tráfico, o combate e abolição da escravatura, as questões económicas, as vivências e os quotidianos do escravo, o racismo, a legislação, tradições culturais e religiosas, ou ainda, entre outras matérias, olhar para a iconografia do africano. Um vasto património e uma parte da nossa História que se vai desvendando.

Com este projeto, que parte das representações do que a escravatura foi no passado, pretende-se contribuir para uma consciencialização dos equipamentos culturais, bem como contribuir para a construção de uma discussão do que, ainda no presente, significa a escravatura.

ver o site 


GEO- GABINETE DE ESTUDOS OLISIPONENSES 

Identificámos um conjunto de museus, arquivos e bibliotecas da cidade de Lisboa e convidámo-los a seleccionar, nas suas coleções, peças e/ou documentação que, de uma forma direta ou indireta, se pudessem relacionar com a escravatura negra.

Estes testemunhos recuperados serão objeto de uma abordagem particular que, conciliando múltiplas memórias, fomentará a leitura e a reflexão relacionadas com este tema. Mostrados em pequenas exposições, ou destacados nas próprias exposições permanentes, permitem criar, desta forma, um roteiro pela cidade. Com este projeto, que parte das representações do que a escravatura foi no passado, pretende-se contribuir para a construção de uma discussão do que, ainda no presente, significa a escravatura para os povos ibero-americanos.

Ver aqui o Programa Educativo desta iniciativa.

Exposições:

De 12 de janeiro a 30 de dezembro na Academia Militar
MARQUÊS DE SÁ DA BANDEIRA: O ANTIESCLAVAGISTA

Informações: Academia Militar

De 22 de Abril a 30 de Dezembro no Museu Nacional de Arqueologia
UM MUSEU. TANTAS COLEÇÕES!

Informações: Museu Nacional de Arqueologia

De 5 de Abril a 23 de Junho na Biblioteca Central da Marinha/ Arquivo Histórico

TRÁFICO, CONSCIENCIALIZAÇÃO E COMBATE

Esta exposição voltará a patente, mas na Biblioteca Central da Marinha / Jerónimos, de 28 de Junho a 29 de Setembro.

Informações: Biblioteca Central da Marinha

Peças e documentos em destaque:

Até 29 de Abril 
Documentos e obras bibliográficas na Biblioteca Nacional de Portugal

Informações: Biblioteca Nacional de Portugal

Até 30 de abril
Iconografia do negro/escravo e quotidianos no Museu de Lisboa - Palácio Pimenta
Informações: Museu de Lisboa. Palácio Pimenta

Até 27 de junho 
Tráfico e abolição da escravatura no Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Informações: Arquivo Nacional da Torre do Tombo

Até 30 de junho 
Cêramica no Museu de Lisboa - Teatro Romano

Informações: Museu de Lisboa

Até 30 de outubro
A figura do Gungunhana no Museu Bordalo Pinheiro
Informações: Museu Bordalo Pinheiro

Até 30 de dezembro 
Tráfico de escravos no Arquivo Histórico Militar
Informações: Arquivo Histórico Militar

 Até 30 de dezembro 
Negro como modelo artístico na Casa-museu Anastácio Gonçalves
Informações: Casa-museu Anastácio Gonçalves

 Até 30 de dezembro 
Iconografia do negro/escravo. O negro como representação artística naCasa-Museu Medeiros e Almeida
Informações: Casa -Museu Medeiros e Almeida

Até 30 de dezembro
Iconografia do negro/escravo e quotidianos no Museu de Artes Decorativas Portuguesas. FRESS
Informações: Museu de Artes Decorativas Portuguesas. FRESS

 Até 30 de dezembro 
Peças dedicadas às Companhias Majestáticas de Moçambique (Companhia de Niassa e Companhia de Moçambique) na Fundação Portuguesa das Comunicações – Museu das Comunicações
Informações: Museu das Comunicações

Até 30 de dezembro 
Conjunto de Marionetas: Mamulengos no Museu da Marioneta
Informações: Museu da Marioneta

Até 30 de dezembro
Representações do continente africano e elementos do tráfico no Museu Militar
Informações: Museu Militar

 Até 30 de dezembro
Adereços de vestuário no Museu Nacional do Traje
Informações: Museu Nacional do Traje 

 Até 30 de dezembro
Abolição da Escravatura (figuras e factos). Iconografia no Palácio Nacional da Ajuda e Biblioteca da Ajuda
Informações: Palácio Nacional da Ajuda

 Até 30 de dezembro
Iconografia do negro/escravo na Santa Casa da Misericórdia. Museu de S. Roque / Igreja de S. Roque 
Informações: Museu de S. Roque / Igreja de S. Roque

Até 30 de dezembro
Instrumentos musicais no Museu Nacional da Música
Informações: Museu Nacional da Música

Até 30 de dezembro
Origens do Fado no Brasil e Fado bailado no Museu do Fado 
Informações: Museu do Fado

Até 30 de dezembro
Legislação e escravatura no GEO - Gabinete de estudos Olisiponenes
Informações: GEO

Até 30 de dezembro
Sítio do Mocambo e iconografia do negro no Museu Nacional do Azulejo
Informações: Museu Nacional do Azulejo

Até 30 de dezembro 
“Os Pretos de Serpa Pinto” no Museu Nacional de Arte Contemporânea
Informações: Museu Nacional de Arte Contemporânea

Até 30 de dezembro 
Prisão para escravos no Museu Nacional de Etnologia
Informações: Museu Nacional de Etnologia

Até 30 de dezembro
Quotidianos e iconografia do negro /escravo no Museu Nacional de Arte Antiga
Informações: Museu Nacional de Arte Antiga

 

De 26 de abril até 30 de dezembro
Espólio arqueológico no CAL - Centro de Arqueologia de Lisboa
Informações: CAL

De 10 de maio até 30 de dezembro
Questões económicas do tráfico no Museu do Dinheiro
Informações: Museu do Dinheiro

De 18 de maio até 30 de dezembro
Peças africanas: rituais de cura no Museu da Farmácia
Informações: Museu da Farmácia 

De 18 de maio até 30 de dezembro
Figuras típicas no Museu Nacional do Teatro e da Dança
Informações: Museu Nacional do Teatro e da Dança

De 26 de maio até 30 de dezembro
Arte Contemporânea no Museu Coleção Berardo
Informações: Museu Coleção Berardo

De 1 de junho até 30 de dezembro
Iconografia do negro e de África no Museu Nacional dos Coches
Informações: Museu Nacional dos Coches

De 6 de junho até 30 de dezembro
Iconografia de Santo António no Museu de lisboa - Santo António
Informações: Museu de Lisboa

De 19 de junho até 30 de dezembro
Modelos de navios no combate ao tráfico no Museu de Marinha
Informações: Museu de Marinha

De 28 de junho a 29 de setembro
Tráfico, consciencialização e combate na Biblioteca Central da Marinha / Jerónimos
Informações: Biblioteca Central da Marinha

Peças online, em www.testemunhosdaescravatura.pt :

Questões económicas do tráfico do Arquivo Histórico do Tribunal de Contas
Escravatura no Brasil do Arquivo Histórico Ultramarino
Legislação e disposições municipais do Arquivo Municipal de Lisboa
Documentação: Tráfico de escravos da Biblioteca da Ajuda

António de Oliveira Cadornega/Angola e escravatura no Brasil da Biblioteca da Academia das Ciências
Documentação de tráfico de escravos da Fundação Mário Soares
Iconografia “Negro Ciríaco” do Museu de História Natural e da Ciência
Documentos de tráfico e abolição da Sociedade de Geografia de Lisboa
Vivências em Lisboa do Arquivo da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa

E ainda:

Desdobrável no Museu de Lisboa - Palácio Pimenta
O Museu de Lisboa propõe uma forma diferente de conhecer Lisboa. Quais os locais emblemáticos das vivências dos escravos, quais as confrarias de negros existentes, quais as memórias que deixaram na história da cidade.

Peça de teatro Paiaçú no Museu de São Roque

Para alguns autores contemporâneos, o Padre António Vieira, Paiaçú ou Pai Grande, como lhe chamavam os gentios no Brasil de Seiscentos, foi um pioneiro e paradigma de interculturalidade. Paiaçú ou Pai Grande é a revelação de um “novo” sermão de Padre António Vieira que nos mostra todo o seu pensamento em defesa dos índios dos escravos e da salvação humana. Vieira exprime o seu desejo de lutar pela libertação dos escravos índios do Grão-Pará e do Maranhão no Brasil. Pela sua atualidade, surpreendente num mundo cada vez mais multicultural mas onde ainda subsistem situações de desrespeito pela dignidade humana. Um encontro íntimo, simultaneamente grandioso, com o pensamento de Vieira, que não deixa ninguém indiferente.

De 22 a 29 de Abril, às 19 horas, com marcação para os números 919732693 ou 21 3430746 ou mediante compra no local à hora do espectáculo. O custo do bilhete é de 5€. Limitado á lotação disponível e à classificação CCE aplicável. 

Curadoria Anabela Valente (Portugal) e Ana Cristina Leite (Portugal)

Com Academia Militar, Arquivo Histórico do Tribunal de Contas, Arquivo Histórico Militar, Arquivo Histórico Ultramarino, Arquivo Municipal de Lisboa, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo da Santa Casa da Misericórdia, Biblioteca da Academia das Ciências, Biblioteca da Ajuda, Biblioteca Central da Marinha, Biblioteca Nacional de Portugal, Casa Museu Anastácio Gonçalves, Casa-Museu Medeiros e Almeida, Centro de Arqueologia de Lisboa, Fundação Mário Soares, Gabinete de Estudos Olisiponenses, Museu de Artes Decorativas Portuguesas, Museu Bordalo Pinheiro, Museu Coleção Berardo, Museu das Comunicações (Fundação Portuguesa das Comunicações), Museu do Dinheiro, Museu da Farmácia, Museu do Fado, Museu de Lisboa - Palácio Pimenta, Museu de Lisboa - Santo António, Museu de Lisboa - Teatro Romano, Museu da Marinha, Museu da Marioneta, Museu Militar, Museu Nacional de Arqueologia, Museu Nacional de Arte Antiga, Museu Nacional de Arte Contemporânea, Museu Nacional do Azulejo, Museu Nacional dos Coches, Museu Nacional de Etnologia, Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Museu Nacional da Musica, Museu Nacional do Teatro e da Dança, Museu Nacional do Traje, Palácio Nacional da Ajuda, Santa Casa da Misericórdia/Museu de S. Roque e Sociedade de Geografia de Lisboa

25.04.2017 | por martalanca | escravatura, Memória africana, Testemunhos