Ciclo "Colonialismo do Colonialismo": El Botón de Nácar

Último Filme do Ciclo de Cinema “Colonialismo do Colonialismo”.
Nesta quinta-feira trazemos um filme-documentario Chileno dirigido pelo realizador Patricio Guzman. 
Como todas as quintas-feira, à noite não vai haver Cantina, mas sim uns saborosos petiscos e, claro, o Bar da Zona aberto.

Sinopse:
O oceano contém a história de toda a humanidade. No mar estão as vozes da Terra e de todo o espaço. A água, fronteira mais longa do Chile, também esconde o segredo de dois misteriosos botões encontrados no fundo do mar. Com mais de 4 mil km de costa e o maior arquipélago do mundo, o Chile apresenta uma paisagem sobrenatural, com vulcões, montanhas e glaciares. Nessa paisagem estão as vozes da população indígena da Patagônia, dos primeiros navegadores ingleses que chegaram ao país, e também a voz dos presos políticos chilenos. Alguns dizem que a água tem memória. Este filme mostra que ela também tem voz.

23.03.2017 | por marianapinho | Colonialismo do Colonialismo, El Botón de Nácar, Patricio Guzman

Colonialismo do Colonialismo: The Act of Killing

Data de lançamento 13 de outubro de 2014 (2h 02min)
Direção: Joshua Oppenheimer 
Elenco: Anwar Congo, Haji Anif, Syamsul Arifin mais
Género Documentário
Nacionalidades Dinamarca, Noruega, Reino Unido

Na Indonésia, são considerados como heróis os homens que comandaram o genocídio de milhões de pessoas no passado. Sem remorso nenhum sobre suas ações, eles foram convidados a reencenarem seus assassinatos para as câmeras, com os novos habitantes do vilarejo onde moram.

15.03.2017 | por marianapinho | Colonialismo do Colonialismo, Joshua Oppenheimer, The Act of Killing, zona franca dos anjos

Colonialismo do Colonialismo: Como Era Gostoso o Meu Francês, de Nelson Pereira dos Santos

Colonialismo do Colonialismo: Um novo Ciclo de Cinema na Zona Franca Nos Anjos desta vez focado no tema do Colonialismo e da “Descolonização”. O ciclo será composto por quatro filmes que decorrerão todas as quintas-feiras de Março.
O segundo filme será “Como Era Gostoso o Meu Francês” de Nelson Pereira dos Santos, esta quinta-feira às 21h00. A cantina estará fechada para o evento mas teremos petiscos e bar aberto.

Entrada livre



Nelson Pereira dos Santos foi um dos cineastas que ensaiaram as primeiras nuances do Cinema Novo Brasileiro. Com seu Rio, 40 Graus (1955), o diretor plantou a ideia da liberdade da câmera, da naturalidade dos cenários e de um roteiro livre de maneirismos. Influenciado pelo neorrealismo, o diretor foi um dos pioneiros a abordar temas contemporâneos e não farsescos; pessoas de diferentes classes sociais e relações humanas em diversos níveis. Em 1963, com o lançamento de seu icônico Vidas Secas, Nelson Pereira dos Santos já tinha seu lugar marcado na cinematografia brasileira.
Nossa atenção, no entanto, se volta para Como Era Gostoso o Meu Francês (1971), uma visão não paternalista ou eurocêntrica das relações entre os índios e os europeus nas primeiras décadas do século XVI. Os eventos históricos que permeiam a obra estão localizados no período da França Antártica, a colônia francesa estabelecida no Rio de Janeiro entre 1555 e 1560.
O roteiro do filme, escrito em tupi, francês e português, baseia-se principalmente em Viagem ao Brasil, relato do alemão Hans Staden, viajante capturado pelos tupinambás que sobreviveu ao ritual antropofágico, e de volta à Alemanha, publicou a sua versão dos costumes e funcionamento da vida na comunidade indígena. Temos ainda temos indicações históricas de obras quinhentistas de Theodore De Bry, André Thevet e Jean de Léry. O diretor ainda leu e se utilizou de outros registros históricos, como a carta de Villegagnon a Calvino e textos de padres jesuítas.
Essa grande existência de documentos e versões históricas trouxeram grande riqueza para o filme, o que permitiu, por exemplo, que se adotasse o ponto de vista dos tupinambás para o período de preparação do prisioneiro francês (preparação para o ritual antropofágico), com destaque para a visão feminina em boa parte da obra. A desconstrução – ou resultado de um exercício antropofágico, vindo de um filme inserido no movimento tropicalista – da visão comum sobre a relação de índios e europeus estranha o espectador desavisado ou desacostumado com tal abordagem, especialmente porque mostra o controle indígena sobre muitas situações, do comércio aos acordos sobre manutenção de prisioneiros.
Do ponto de vista histórico ou mesmo do uso de fontes narrativas, Como Era Gostoso o Meu Francês é um filme louvável. A percepção da pureza dos nativos e o trato para com o prisioneiro – sempre muito bem cuidado antes de ser morto e assado para servir de alimento à tribo – é um dos elementos que foge à maior parte das versões sobre esse período, seja em filmes ou mesmo alguns documentários. Aqui, esse novo olhar vem adicionar ao conhecimento do espectador mais uma versão para os fatos, e não reafirmar o que já se sabe.
Todavia, mesmo que irretocável no quesito histórico-narrativo, o filme falha como produto. Em primeiro lugar, a falta de um enredo (mais) dramático – no sentido de construção de um drama – acaba por misturar o gênero de ficção com nuances de documentário num enredo que só poderia ser bom se fosse abordado por um único gênero. Durante todo o tempo, os eventos ligados à cultura indígena aparecem expostos quase sem nenhum filtro narrativo, com grande número de danças, grande repetição de cenas (ou sequências com ambientações diferentes mas que representavam a mesma coisa) e os incômodos intertítulos, com trechos de documentos históricos.
Se no início do filme vemos representada de forma irônica brilhante a carta a Calvino, por que não usar o mesmo estilo de narração para os documentos a seguir? A separação entre as cenas filmadas e os textos históricos quebrou o ritmo da obra e mesmo que estes sejam bem distribuídos por toda a película, o filme passaria muito melhor sem eles.
Como Era Gostoso o Meu Francês foi censurado pelo gabinete militar, classificado de imoral. O filme foi levado para festivais internacionais (Berlim, Cannes), e só depois de muitas tentativas, liberado para exibição no país. Sobre a censura, a escritora Clarice Lispetor se pronunciou, em sua crônica no Jornal do Brasil. O texto data de 16 de outubro de 1971: “Trata-se de um filme que não escandaliza ninguém. […] Talvez seja inocência minha, mas por favor me respondam: qual é a diferença entre o corpo nu de um índio e o corpo nu de um homem branco? Assisti ao filme em salinha de projeção particular. Havia outras pessoas assistindo também. Duas delas eram freiras de alto nível eclesiástico. A opinião delas: filme belíssimo, de uma ‘grande pureza’, de um valor histórico inestimável por causa de toda a reconstituição […] no filme não há um só gesto ou intenção obscenos ou simples sugestão maliciosa. Será que daqui a pouco nos escandalizaremos se virmos um menino branco nu? Porque em menino pode e em adulto não pode? […] Melhor, por via das dúvidas, pôr terno e gravata nos tupinambás.”
A despeito das falhas de concepção, essa obra de Nelson Pereira dos Santos é um registro do cinema nacional e da própria história do Brasil que deve ser visto e discutido. Tanto por ser fruto de uma época de transformações culturais, quanto por vir de um cineasta que ajudou dar uma cara nova ao cinema nacional, Como Era Gostoso o Meu Francês é um daqueles filmes que dão ao espectador uma outra proposta de pesamento sobre uma ideia já enraizada e massificada pela própria história. 

(Luis Santiago@planocritico.com)

Como Era Gostoso o Meu Francês (Brasil, 1971)
Direção: Nelson Pereira dos Santos
Roteiro: Nelson Pereira dos Santos, Humberto Mauro
Elenco: Arduíno Colassanti, Ana Maria Magalhães, Eduardo Imbassahy Filho, Manfredo Colassanti, José Kléber, Gabriel Archanjo, Gabriel AraújoAna Batista
Duração: 84 min.

06.03.2017 | por marianapinho | Brasil, Colonialismo do Colonialismo, Descolonização, Nelson Pereira dos Santos, tupinambás