Europa, queria começar por enviar-te cumprimentos, mas vais ter de perdoar-me, porque neste momento estou em tormentos cujo comprimento é imenso; tormentos tão velhos como este lamento que me risca o peito e me deixa neste leito, desfeito, em trejeito de dores lancinantes que enlaçam as partes que lançam ares salutares nestes esgares que mostram os meus desaires. Pois tu, tu tudo fazes para que tu e a África não sejam pares. Nunca serão comadres, Europa, enquanto desejares que a África continue à tua sombra… sabes…
Mukanda
26.10.2020 | por Marinho de Pina
Neste momento, há claramente três facções dentro do MPLA: a dos seguidores do Presidente, João Lourenço; a dos fiéis a José Eduardo dos Santos; a dos saudosistas e sempiternos fiéis a Agostinho Neto.
João Lourenço está sob fogo das duas outras facções, em reacção à sua política de luta contra a corrupção. Essas duas facções têm actuado em separado, mas certamente que vão unir-se no combate a esta presidência.
A ler
25.10.2020 | por Adolfo Maria
Mistério da Cultura é, em princípio, sobre cultura, arte e os seus modelos de produção, representação e apoio, mas nunca se sabe. É uma rede de motivações, um thriller burocrático dançado, um enigma de décadas por desvendar. O que de misterioso tiver acontecido ou vier a acontecer durante este processo de criação foi ou será completamente alheio à nossa vontade, apesar da nossa transparência.O que fica do desejo inicial de fazer um espetáculo? O que não se vê quando se assiste a uma peça?
Palcos
24.10.2020 | por Ana Bigotte Vieira e David Marques
Portugueses de origem africana manifestam o orgulho comum do seu legado e cultural, reacriação e mistura. E é através da música que o perpetuam. Kuduro, Afrohouse, Ghetto, Funaná, Rap Crioulo, Batuque, são vários os estilos que procuram disseminar e fazer chegar aos mais diversos públicos. Ao longo do documentário observamos que todas estas vertentes musicais africanas unem as comunidades num ambiente de descontração e interação. E Portugal? Que papel tem nesta história? Desde sempre “senhorio”, quer em terras estrangeiras injustamente expropriadas, quer na sua própria “casa”. Se é assim acolhedor quanto se pinta, qual é a razão para tanta discriminação?
Afroscreen
20.10.2020 | por Alícia Gaspar
O 18º festival internacional de cinema decorrerá de 22 outubro a 1 novembro, com algumas estreias mundiais. A sessão de abertura terá a estreia mundial do filme Nheengatu - A Língua da Amazónia, do José Barahona, um filme sobre o Nheengatu, uma língua imposta pelos colonizadores portugueses que moldou a paisagem e os povos daquela região e que, através do confronto atual entre dois mundos, levanta questões importantes sobre antigos e novos colonialismos, tradição e futuro.
Afroscreen
19.10.2020 | por Doclisboa
Estes textos de Sankara são publicados num momento em que, e não por acaso, no continente africano, ecoam vozes jovens e renovadoras de um movimento pan-africanista, quiçá enterrado quer com o desaparecimento físico, quer com o afastamento da cena política de algumas das últimas figuras representativas dessa corrente política outrora libertadora. São vozes que clamam por uma África livre do assalto neocolonial a que está cada vez mais, e claramente, submetida neste início do século XXI.
Mukanda
19.10.2020 | por Jean-Michael Mabeko-Tali
Uma maneira de resistir a este esvaziamento do âmago daquilo que significa ser-se humano é manter a memória e não deixar que a morte imponha o silêncio. Quando George Floyd, Marielle Franco, Bruno Candé, e tantos outros, são assassinados abertamente, temos que resistir ao medo, invocar as memórias de resistência, e falar. Tal como Morrison também assevera, o fascismo acaba por destruir todos, passo a passo. Mesmo que as nossas bocas estejam cheias de sangue ao testemunhar as violências sistemáticas sobre os nossos companheiros seres humanos, ao assistir à sua degradação, à sua desumanização, e ao seu assassínio, temos de continuar a falar.
A ler
19.10.2020 | por Paulo de Medeiros
O tio Paulo Bano Bajanca tinha-me ensinado para ficar desconfiado quando os tugas me mandam ficar em casa, ele disse assim: “Sobrinho!, fica desconfiado quando os tugas te mandam ficar em casa e te dizem para não sair, porque, de repente, quando te mandam sair, já nem a tua casa te pertence. Foi o que fizeram na Guiné.” Eu, às vezes, pensava que o tio Paulo Bano exagerava, mas descobri que não. Toda a história dos tugas da Europa é desse tipo, tios que matam sobrinhos para tomar o poder, irmão que mata a irmã, tio que casa a sobrinha, uiiiiii.
Mukanda
19.10.2020 | por Marinho de Pina
E se o mundo fosse ao contrário? Se em vez de serem os homens a dominar o discurso, fossem as mulheres? Se num debate televisivo o normal fosse ter um painel maioritariamente feminino? E se, ao mesmo tempo que pregam as maravilhas da pluralidade, as mulheres fossem tratando o único homem na mesa com condescendência? E se, em vez de poder dizer o que pensa e ser ouvido, ele fosse constantemente interrompido e ignorado, elogiado pela roupa que traz e criticado pela maneira como fala? Esta é a proposta de O Eterno Debate: trocar os papéis para pôr em evidência a discriminação de género que está presente em tanto daquilo que dizemos e fazemos.
A ler
16.10.2020 | por Maria João Caetano
Perante esta campanha de ódio contra outras culturas, foi-se tornando cada vez mais imperativo difundir conhecimentos concretos e documentados, de modo a que, as pessoas que de nada verídico conheciam acerca dos povos pudessem ver que também estes são constituídos por pessoas normais, que praticam as mesmas atividades que os demais, apenas se expressam de maneira diferente. Embora tenha existido um esforço por parte dos autores para defender os povos aborígenes, estes sempre foram mal compreendidos, e algumas tribos chegaram mesmo a ser erradicadas por homens brancos que sentiam o seu privilégio racial posto em causa.
A ler
16.10.2020 | por Alícia Gaspar
Cada capítulo da publicação identifica distintas esferas de actuação das mulheres africanas. Porque, segundo a autora, o objectivo é “mostrar a longa duração da presença africana em Portugal; mostrar que os africanos desenvolveram um conjunto de trabalhos, de funções, extremamente importantes, porque a sociedade portuguesa não seria o que é sem a participação constante de uma massa de população de origem africana extremamente vasta. E é preciso que as pessoas percebam que nem todos esses homens e mulheres eram escravos”.
A ler
14.10.2020 | por Carla Fernandes
O texto que se segue é escrito aquando a morte de Pasolini e no seguimento de uma mais abrangente discussão sobre a natureza do assassinato. Pela a importância actual da crítica feroz que faz ao processo de assimilação, higienização, e mesmidade da homossexualidade tardia — um processo que só 30 anos depois tomaria o nome de ‘homonormatividade’ —decidimos publicar a sua tradução.
Corpo
13.10.2020 | por Guy Hocquenghem
Em Cabo Verde não é novidade nos dias de hoje porquanto muitas são as tentativas de formalizar o fenómeno do bairrismo em discursos descentralizados ou regionais, que infelizmente caiem em “saco roto”…talvez devido à sua conceptualização equivocada…
Mas a tentativa de compactar o assunto vem desde o fim do séc. XX, numa monografia por mim realizada em que auscultava a possibilidade de haver rivalidades em duas cidades de Cabo Verde, cuja perceção era maior do que o conhecimento das suas próprias realidades.
Cidade
12.10.2020 | por Elsa Fontes
O documentário aborda os fundamentos de cidadania e direitos humanos, através da educação artística nomeadamente:
Música, artes plásticas, dança, teatro, literatura, entre outras nas suas múltiplas dimensões (cognitivas, sociais, políticas, afectivas, éticas e estéticas).
Afroscreen
12.10.2020 | por Faradai
Não é em nome do trabalho e dos trabalhadores que se protesta contra o capital, contra a especulação, contra as políticas neo-liberais? E, sobretudo: como é que uma sociedade poderia existir sem o trabalho? Não é o trabalho um dado eterno da vida humana, por vezes dura necessidade, outras vezes factor de desenvolvimento pessoal, mas sempre inevitável – de maneira que só podemos reduzi-lo graças às tecnologias, mas nunca aboli-lo?
A ler
11.10.2020 | por Anselm Jappe
Assim, numa espécie de ‘Eterno Retorno do Mesmo’ tentamos, em vão, definir um objecto – homem – que nunca corresponde ao momento em que o olhamos. Porque assim que o capturámos, encontramo-nos já no passado e na História. Como pode, então, alguém deslindar o futuro se não como uma extrapolação do instante vivido e como uma projeção cuja força reside na subjectividade do olhar e na força da luminosidade desse mesmo olhar? Aperceber-se da impossibilidade de representar o real permite aceder à liberdade do artista criador. É entrar no domínio da metáfora e da lenda.
Mukanda
08.10.2020 | por Simon Njami
E se for eu mesma que, nalgum momento, por descuido ou por cansaço ou pelos dentes cravados na minha perna, resvale por estes caminhos molhados, tropece em alguma das suas avultadas rugosidades e desvaneça? Ninguém notaria a minha ausência... mas claro, isso é perfeitamente compreensível, porque para os outros e, será mau admiti-lo mas como eles para mim, sou uma pessoa como outra qualquer. E por isso, vou estar bem mais atenta.
A ler
08.10.2020 | por Candela Varas
Contact Zone questiona o que significa viver numa sociedade multi-cultural onde a identidade, cultura e costumes são diariamente negociados. Contact Zone é um termo cunhado pela linguista Mary Louise Pratt para referir “espaços sociais onde culturas se encontram, chocam e lutam umas com as outras, frequentemente em contextos de assimétricas relações de poder, no caso do colonialismo, escravatura ou, consequentemente, em muitas partes do mundo de hoje.”
Jogos Sem Fronteiras
08.10.2020 | por Isabel Lima
Este crescimento da extrema-direita tem parasitado o modo como a acumulação neoliberal cria, em significativas parcelas da população, um cenário de expectativas socioeconómicas minguantes. Um tal quadro favorece populismos de direita que se declaram anti-sistema ao mesmo tempo que mantêm o extrativismo capitalista a salvo. A estratégia consiste em mobilizam preconceitos contra alvos de expiação concretos: LGBTQ+, imigrantes, negros, ciganos, Estado Social, corrupção, etc.
A ler
08.10.2020 | por Bruno Sena Martins
Recorro aos materiais produzidos por Carvalho durante um longo período de tempo para mostrar algumas dimensões do seu processo criativo, procurando fornecer uma primeira interpretação destas em relação a algumas das suas obras. Uso livremente várias áreas exploradas pelo autor, concentrando-me, porém, sobretudo em dimensões gráficas e visualmente estimulantes. Combino essa discussão com a apreciação de alguns resultados do que chamo “animar” este arquivo obtidos através da inventariação e apresentados na exposição, e termino enquadrando um dos vídeos baseados em material de arquivo nela apresentado.
Ruy Duarte de Carvalho
08.10.2020 | por Inês Ponte