A Cidade Invisível:

 curtas-metragens rodadas na periferia de Lisboa lembram Odair Moniz e estreiam no Cinema Ideal a 28 de Novembro
 

Um conjunto de seis curtas-metragens feitas por alunos da escola suíça HEAD, orientados pelo realizador Basil da Cunha, estreiam a 28 de Novembro, às 21h30, no Cinema Ideal, em Lisboa. A sessão conta com o apoio do Doclisboa - Festival Internacional de Cinema e será uma oportunidade única para ver estes filmes que retratam os bairros periféricos de Lisboa e que foram rodados num contexto muito particular e inesperado: o assassinato de Odair Moniz por um agente da PSP a 21 de Outubro de 2024.

Durante o workshop feito em Lisboa pelos alunos da HEAD, a morte de Odair Moniz teve um impacto profundo nos autores, nos protagonistas e nos próprios filmes. Tendo acontecido a meio da produção, este acontecimento transformou os projectos em objectos que vão além de retratos documentais. A Cidade Invisível é uma radiografia de um momento crucial na história recente de Portugal — um país que, durante demasiado tempo, silenciou a realidade da violência policial nas suas periferias.

Trabalhando em pares, os estudantes de cinema criaram um retrato documental de residentes locais, moldando uma cartografia sensível dos bairros periféricos da cidade. O projecto começou sob o impulso de António Brito Guterres, investigador e “dinamizador urbano”, cujo trabalho ilumina as zonas sombrias da “cidade branca”, abrindo uma reflexão crucial sobre a invisibilização desses territórios.

Os primeiros encontros com os protagonistas tiveram lugar em vários bairros da Grande Lisboa, guiados pela artista visual e produtora Maíra Zenun. Esta primeira fase alternou entre a procura de locais, escrita e as primeiras filmagens, complementadas por um workshop de câmara do director de fotografia Rui Xavier. Nas semanas seguintes, sob a supervisão da realizadora Cláudia Varejão, os alunos continuaram a escrever e a filmar, com o apoio de Basil da Cunha, Pedro Diniz e Eliana Rosa —  colaboradores de longa data enraizados nessas comunidades.

Os filmes que integram A Cidade Invisível foram criadas no âmbito do “Grand Atelier” da HEAD – Genebra, um workshop de três semanas realizado no estrangeiro, Em 2024, o workshop decorreu em Lisboa, em colaboração com a Escola de Cinema da Universidade Lusófona, orientado por Basil da Cunha – cineasta e professor na HEAD desde 2013, que se dedicou a filmar a comunidade da Reboleira ao longo de duas décadas.

Anita Hugi, directora do Departamento de Cinema, felicita a estreia destes filmes em colaboração com o Doclisboa, no Cinema Ideal: “São obras notáveis de beleza cinematográfica e humana. Reflectem a abordagem da nossa escola de cinema: cinema inovador, vozes individuais fortes e um processo de trabalho baseado na estreita colaboração com os protagonistas, que participam activamente na criação de cada filme.”

Sinopses
Entre cães e lobos
Khalissa Akadi, Mathilde Sauvère
2025, 13’ 

N’O Fim Do Mundo, um dos bairros de Lisboa, o coração de Leo está em chamas. Quando Odair Moniz é assassinato, Leo recusa-se a permanecer em silêncio. Ele quer compreender, agir, vingar-se e transformar. Mas como pode ele iniciar uma revolução? Como pode ele fazer ouvir a sua voz? Entre uma vontade feroz de viver, esperanças ardentes, um desejo de revolta e a necessidade de agir, Leo traça um caminho para a resiliência.

Solo De Vidro
Achiraf Djakpa, Jonathan Leggett
2025, 23’

Kleyton é um jovem adolescente que sonha um dia tornar-se dançarino. Junior, por outro lado, sonha em ser futebolista. Ambos vivem nos bairros periféricos de Lisboa: Cova da Moura e Reboleira.

Com o mar
Selam Tesfu Michael, Gabriel Berrada
2025, 22’

No bairro do Fim do Mundo, Álvaro, um jovem da comunidade cigana, está prestes a ser pai pela primeira vez. À medida que o nascimento se aproxima, ele recorre às pessoas à sua volta para compreender o que significa transmitir valores, proteger e amar num mundo onde a sua comunidade ainda enfrenta isolamento político, preconceito e estigmas profundamente enraizados.

No Mundo
Sirak Ghere, Luca Quiero
2025, 14’

Ao volante da sua carrinha pintada com as cores da sua empresa, Tiago Melo percorre os arredores de Lisboa para entregar os seus ovos. Através deste trabalho invulgar, descobrimos um homem com um passado conturbado que encontrou o seu caminho de volta, contado com um toque de humor. 

Xineza
Clélia Baudrie, Noah Chung
2025, 15’

Xineza é uma jovem determinada e poderosa. Mãe solteira, ela luta para fazer ouvir a sua voz no exigente mundo da música. Acompanhando a sua luta diária, o filme retrata a realidade de ser uma mulher negra de origens desfavorecidas, numa experiência moldada pela esperança, pelas dificuldades e pela resiliência. Uma visão íntima de um caminho repleto de obstáculos, impulsionado por uma vontade inabalável de sucesso.

Vera
Solveig Carnajac, Julien Monges
2025, 21’

Vera é o retrato de uma mulher que tenta viver a sua paixão pela música apesar das dificuldades no quotidiana: precariedade, racismo e trabalho exaustivo.

Contactos  Miguel Chorão press@doclisboa.or

20.11.2025 | por martalanca | filmes