VI FESTIVAL DE POESIA DE LISBOA ABRE ESPAÇO PARA POETAS TRANS

O TRANSarau será o anfitrião do espetáculo, com apresentações especiais de André Tecedeiro e Fado Bicha.

Uma das atrações mais aguardadas da sexta edição do Festival de Poesia de Lisboa, que arranca no dia 12, é oTRANSarau, espetáculo que coloca em cena os discursos gênero-dissidentes, que também estão em disputa por voz e espaço nos territórios.  A presença de poetas trans no FPL é uma aposta para que eles e elas possam contar as próprias narrativas e, assim, ganhar o espaço que merecem. Nesta edição, que discutirá o tema “Terra: uma poética de nós”, serão ao todo 13 artistas LGBTs, sendo 8 deles pessoas trans/travestis/não-binárias.

É a primeira vez que o TRASarau participa de um evento internacional. Nascido no Brasil, em 2015, como espaço de exibição da produção dos estudantes do Cursinho Popular Transformação, o TRANSarau já realizou mais de 40 edições, sendo um importante evento da cena brasileira. Organizado por artistas e ativistas TRANSvestigeneres, em colaboração com LGBTQIA+, voltado para visibilidade T, o TRANSarau é formado por Andrey Lucas, Lucyfer Eclipsa, Patricia Borges da Silva, Polaris Coutinho e Kairos Castro. Importante espaço de representatividade e visibilidade da população  LGBQIA+ Trans, e de resistência negra, recebeu em 2018 o Prêmio Papo Mix, categoria “Eventos e manifestações artísticas”. 

Assinado em parceria com o Museu da Língua Portuguesa, o TRANSarau será o anfitrião do espetáculo que irá mesclar apresentações dos próprios poetas com duas presenças especiais: André Tecedeiro e Fado Bicha. Serão 60 minutos de atividade, com transmissão tanto pelos canais de Facebook e Youtube do Festival de Poesia de Lisboa quanto pelos canais de Facebook e Youtube do Museu da Língua Portuguesa.

“Atuar na empregabilidade de poetas e artistas trans, lésbicas, gays e bissexuais tem sido importante para o FPL, pois entendemos que a visibilidade apenas não fortalece as condições dignas para que esses artistas possam viver e continuar a produzir. Ademais, o potencial artístico-pedagógico de ações como TRANSarau se dá principalmente por conta da sensibilização de pessoas cis-heterossexuais e da representatividade para o público LGBT, o que contribui diretamente para o combate a LGBTfobia e a promoção do respeito e da igualdade”, explica João Innecco, curador do Festival.

Desde 2019 o Festival de Poesia de Lisboa conta com LGBTs na programação, sendo que nesta edição, além do TRANSarau e o André Tecedeiro, outros artistas trans estarão presentes. “Teremos a artista Hilda de Paulo, que estará ao lado do poeta Ramon Nunes Mello e do pesquisador Nuno Pinto, na mesa ‘Balada de Gisberta’, em homenagem à Gisberta Salce, travesti assassinada no Porto há 15 anos, fato trágico que impulsionou o nascimento da primeira marcha do orgulho do Porto”, conta João Innecco. “Este ano teve um abaixo-assinado para que uma rua do Porto levasse seu nome, dado a sua importância para a mobilização LGBT em Portugal e na Europa”, completa. 

A moderadora desta mesa será Daniela Filipe Bento, membro da direção da Associação ILGA Portugal, instituição que atua fortemente no combate à discriminação LGBT em Portugal. O assunto é tão importante nos dias atuais que a próxima edição do FPL será toda voltada à diversidade de corpo, gênero e sexualidade. 

O Festival de Poesia de Lisboa deste ano acontece de maneira virtual, de 12 a 18 de setembro, e terá a presença de poetas de seis países diferentes. Serão 9 mesas, 6 tertúlias, 3 oficinas e 3 espetáculos poéticos. A programação é aberta ao público geral através das redes sociais do Festival.  

A sexta edição do FPL tem apoio do Instituto Camões, do Camões – Centro Cultural Português em Brasília, da Livraria da Travessa, do Espaço Espelho D’Água, do Museu da Língua Portuguesa e da Associação ILGA de Portugal. 

Sobre o Festival 

O Festival de Poesia de Lisboa é uma iniciativa sem fins lucrativos criada em 2016, que tem como principal objetivo a valorização da Língua Portuguesa e o incentivo à leitura. Ao longo dos últimos anos, ele tem fomentado a democratização da palavra através da participação de poetas lusófonos de diversas idades, classes, géneros e raças. 

É um Festival aberto ao público e a todas as nacionalidades, mas apenas pessoas que tenham a língua portuguesa como língua materna podem participar da antologia comemorativa e concorrer aos prémios nos termos e condições estabelecidos no regulamento.

Idealizado por Jannini Rosa e Carla De Sà Morais, o FPL tem apoio institucional do Instituto Camões desde 2018. 

Sobre o curador

João Innecco (1993) é poeta, curador e educador em prisões. É editor da Antologia Trans (Invisíveis Produções, 2017), organizador do livro Sarau Asas Abertas: Penitenciária Feminina da Capital (Tietê, 2019) e autor das publicações artesanais Fumaça (2017), Tinto (2018), Solo (2019) e Baby (2019). Integra o TRANSarau, que recebeu o Prêmio Papo Mix 2018, e foi um dos poetas do Sarau Asas Abertas, sarau indicado ao Prêmio Jabuti 2020. Assina a curadoria do VI Festival de Poesia de Lisboa.

07.09.2021 | par Alícia Gaspar | arte, artistas trans, bissexuais, festival de poesia de lisboa, gays, lésbicas, LGBT, poesia, sexualidade, TRANSarau

Estar em Casa no Teatro São Luiz

SÃO LUIZ APRESENTA

ESTAR EM CASA: DIA MUNDIAL DO TEATRO

PRETEND IT’S A LIFE!

O Teatro São Luiz celebra o Dia Mundial do Teatro com uma nova edição de Estar em Casa, desta vez, em formato online. Com programação de Anabela Mota Ribeiro e André e. Teodósio, nos dias 27 e 28 de março, das 10:00 às 23:00, e com acesso gratuito através do site www.estaremcasa2021.pt ou www.teatrosaoluiz.pt, há propostas para todas as idades e variados gostos.

Ana Kiffer, Ana Gomes, Bárbara Reis, Cláudia Varejão, Rui Horta, Gabriela Moita, Teresa Coutinho, Djaimilia Pereira de Almeida, Fernanda Fragateiro, Clara Ferreira Alves e Paulo Pascoal, entre outros, participam em conversas sobre vários e relevantes temas relacionados com o corpo, a sensorialidade, a sexualidade, o fascismo, o medo, etc., 

CONVERSAS

As conversas são um ponto de honra do Estar em Casa. Porque a falar é que a gente se entende!

#1-Ódios e Fascismos: uma conversa com Ana Kiffer e Ana Gomes, moderada por Bárbara Reis. 

[sábado, 27 março, 14:00, 45’]

#2-Corpo, Sensorialidade, Sexualidade: uma conversa com Gabriela Moita, Cláudia Varejão e Rui Horta, moderada por Teresa Coutinho. 

[sábado, 27 março, 15:00, 45’]

#3-Casa, Célula Cela: uma conversa com Djaimilia Pereira de Almeida e Fernanda Fragateiro, moderada por Paulo Pascoal. 

[sábado, 27 março, 16:00, 45’]

#4-Medo, Doença, Morte: uma conversa com Clara Ferreira Alves e José Gardeazabal, moderada por Pedro Santos Guerreiro. 

[sábado, 27 março, 17:00, 45’]

#5-Cansados vão os Corpos para Casa: uma conversa com Mbate Pedro e Itamar Vieira Júnior, moderada por Ju Torres.

[sábado, 27 março, 18:30, 45’]

A acompanhar tudo isto, há desabafos na página de Facebook do Teatro São Luiz, um diário online onde ficamos a saber os pensamentos mais profundos deste teatro.

Se nas edições anteriores o São Luiz era transformado numa casa, agora, que estamos todos em casa, o teatro contra-ataca, e vai transformar e viver as casas de todos como um espaço de reinvenção, reflexão, prática artística e lugar de aprendizagem. Pretend it’s a life.

Todo o programa é de acesso gratuito através dos sites do São Luiz ou www.estaremcasa2021.pt.

A maioria das atividades tem horário marcado, algumas ficam disponíveis durante todo o evento, nomeadamente Oh, as Casas, as CasasOh, os Teatros, os Teatros, as visitas guiadas, as Comidas de Artistas e os espetáculos do Teatro São Luiz. 

Programa completo, aqui.

25.03.2021 | par Alícia Gaspar | conversas, corpos, dia mundial do teatro, emissão online, evento, sensorialidade, sexualidade, teatro, teatro são Luiz

Monólogos da Vagina

Teatro Armando Cortez 

De terça-feira 3 novembro 2020 - quarta-feira 11 novembro 2020

Os monólogos da vagina são compostos por vários textos. Cada um deles lida com a experiência feminina, abordando assuntos como sexo, prostituição, imagem corporal, amor, menstruação, mutilação genital feminina, masturbação, nascimento, orgasmo. Um tema recorrente em toda a peça é a vagina como uma ferramenta de capacitação feminina e a personificação máxima da individualidade. Todos os anos, um novo monólogo é adicionado para destacar uma questão actual que afecta as mulheres em todo o mundo.

Endereço

Estrada da Pontinha, 7
Lisboa
1600-583

Mais informações e bilhetes em: http://www.teatroarmandocortez.pt/

02.11.2020 | par martalanca | corpo, empoderamento, feminismo, sexualidade

Mostrar ou não mostrar, eis a questão - Censura e Sexualidade no Cinema. Curso de Verão

Mostrar ou não mostrar, eis a questão - Censura e Sexualidade no Cinema Início: 8 de julho

Datas: 8 a 12 de julho | dias úteis das 18h00 às 21h00

Docente Responsável: Bruno Marques

Docentes: Ana Bela Morais, Bruno Marques e Érica Faleiro Rodrigues

Áreas: História da Arte e Estudos Artísticos

 

As recentes polémicas em torno da censura – em museus, na imprensa, etc. – têm-se estendido também ao cinema. Pela sua reverberação histórica, estas têm gerado acesos debates na praça pública. Posições dividem-se entre a defesa da liberdade de expressão e os chamados “valores de decência”. O nexo Sexualidade e Censura surge assim como oportuno ponto de partida para repensar, retrospetiva e prospetivamente, muitas das tensões e dos paradoxos que caracterizam esta temática. Ao longo deste curso, pretendemos mostrar como a censura ao erotismo e à sexualidade influenciou a criação, circulação, exibição e interpretação de obras cinematográficas desde o seu nascimento até à década de setenta, influência esta que deixou marcas até à atualidade.

Programa Apresentando uma visão que passa por unidades abertas a uma panorâmica alargada do plano internacional, e unidades com um foco mais particular e específico no contexto Português, este curso propõe uma análise da censura ao cinema desde o cinema mudo até aos anos setenta:

(1) do início da história do cinema ao Código Hayes, na sua estrita relação com as profundas mudanças ao nível da revolução dos costumes na cultura popular;

(2) sobre o papel que o cinema experimental assume enquanto força transgressiva e de contracultura;

(3) sobre a forma como no Portugal marcelista estas mudanças foram sentidas, filtradas e cerceadas, nomeadamente através da existência de uma Comissão de Censura, que revia todos os filmes, nacionais e estrangeiros, antes de serem exibidos em território nacional;

(4) sobre a revolução de 1974 e o fim da censura estatal ao cinema em Portugal.

Neste contexto, procurar-se-á compreender de que forma, e por que razões, excertos, e até filmes inteiros, terão sido, em diferentes contextos e momentos, objecto de interdições. Para tal, abordar-se-ão os seguintes temas: as persistências vindas das antigas ortodoxias dominantes (a moral religiosa, o primado da procriação, o modelo social patriarcal, o controlo da comunidade); as conceções em torno da plasticidade ou maleabilidade das identidades sexuais; as contestações dos padrões de normalidade; os incentivos sociais a um experimentalismo sexual mais igualitário e liberto de preconceitos; a “revolução sexual”, a emancipação da mulher e os movimentos queer no cinema; as representações de práticas sexuais interditas, previamente marginalizadas e de carácter panfletário anti-homofóbico, como posição política em defesa da identidade queer; a objetificação da mulher dentro das estruturas capitalistas.
As aulas serão constituídas por apresentações expositivas, pela projecção de imagens e filmes e pelo debate com os alunos.

Aula 1: Cinema, Censura e Revolução dos Costumes
• O que é censurar?
• Censura institucional, censura social e auto-censura
• Liberdade de expressão: o direito de ofender e seus limites
• Cinema e arte, erotismo e pornografia, quais as fronteiras?
• “O pessoal é o político”

Objetivos: Enquadrar histórica e conceptualmente o tema em estudo
Duração: 3 horas

Aula 2: Da Censura no Cinema Primitivo ao Hayes Code
• O cinetoscópio e os primeiros beijos
• Transgressão e censura no cinema mudo
• Sexualidade e violência nas décadas que precedem o código Hayes
• O que foi e o porquê do código Hayes? Qual o seu impacto?

Objetivos: Compreender etapas importantes da história da censura ao cinema, num contexto internacional.
Duração: 3 horas

Aula 3: Art (core): A Vanguarda e o Corpo Fílmico.
• A cena nova-iorquina da década de 1960
• Os clássicos do Underground
• Os cineastas do Cinema of Transgression
• A Cultura Alternativa Queer.

Objetivos: Compreender a forma como, através do corpo explícito no género do filme experimental, alguns cineastas quebraram tabus e a censura da cultura popular nos Estados Unidos
Duração: 3 horas

Aula 4: Censura ao Erotismo no Cinema Durante o Período Marcelista
• “Primavera marcelista”: abertura dos critérios da Comissão de Censura aos filmes? A censura ao corpo nu e as cenas eróticas.
• Qual o tema mais censurado: o erotismo ou a violência?
• Censurados e proibidos: alguns exemplos concretos de filmes nacionais e estrangeiros
• Análise da evolução do sistema censório aos filmes no período do governo de Marcello Caetano (1968-1974)

Objetivos: Compreender o modo como os filmes eram censurados pela Comissão de Censura na época de Marcello Caetano (1968-1974), incidindo nos cortes respeitantes ao erotismo
Duração: 3 horas

Aula 5: Portugal Revolucionário, da Censura à Legislação
• Como acabou a censura em Portugal
• 74-76: anos de transgressão e cinema pornográfico?
• Produção e Exibição: comparação entre a transição democrática Portuguesa e a Espanhola.
• Os principais debates à volta da lei do cinema: censurar e legislar, que diferenças?
• O cinema dos anos 70 que reflecte sobre a censura

Objetivos: Mapear e analisar o período desde o fim da censura, com a revolução de 1974, até ao aparecimento da legislação para a exibição de cinema em Portugal em 1976.
Duração: 3 horas

 

 

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Bibliografia

DURAND, Pascal. La censure invisible. Paris : Actes Sud, 2016. // LEWIS, Jon, Hollywood V. Hard Core: How the Struggle Over Censorship Created the Modern Film Industry, NYU Press, 2000

BUSTARRET, Claire ; VIOLLET, Catherine. Génèse, censure, autocensure. Paris : CNRS, 2005

BILTEREYEST, Daniel and WINKEL, Roel Vande (eds.), Silencing Cinema_ Film Censorship around the World, Palgrave Macmillan US, 2013

CABRERA, Ana (Coordenação), Censura Nunca Mais - A Censura ao Teatro e ao Cinema no Estado Novo, Aletheia, 2013

MORAIS, Ana Bela, Censura ao Erotismo e Violência - Cinema no Portugal Marcelista (1968-1974), Húmus, 2017

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Ana Bela Morais é investigadora contratada de pós-doutoramento, com o projeto Cinema e Censura: amor e violência em Portugal e Espanha (1968-1974), no cluster DIIA (Diálogos Ibéricos e Ibero-americanos), do Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Tem o doutoramento em Teoria da Cultura subordinado ao tema: Processos de cicatrização: qual a profundidade das feridas? Uma leitura de sete filmes contemporâneos. Entre outras publicações, nacionais e internacionais, publicou um livro pelos Livros Horizonte (2008) que resultou da sua dissertação de Mestrado: Virgílio Ferreira. Amor e Violência e outro, pelas Edições Húmus (2017), que corresponde à sua investigação de Pós-doutoramento: Censura ao Erotismo e Violência. Cinema no Portugal Marcelista (1968-1974). Leciona a disciplina Cinema e Literatura na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Bruno Marques é investigador contratado de pós-doutoramento no Instituto de História da Arte da NOVA FCSH, onde coordena o cluster Photography and Film Studies. Foi Professor Auxiliar Convidado na FSCH (2016-2017), no ISCE (2010-2015) e na ESAD.CR (2014). Autor do livro Mulheres do Século XVIII. Os Retratos. Coordenou os livros Sobre Julião Sarmento e Arte & Erotismo. Entre outros projetos editoriais, co-editor do número especabial SEX AND CENSORSHIP IN ART da Revista de História da Arte. Co-coordenou as conferências internacionais Arte e Erotismo (NOVA FCSH, 2012), Tempos e Movimentos da Imagem (FCSH e ESAD.CR, 2018) e Whats love got to do with it? Performance, Affectivity, Intimacy (Culturgest, 2019). Autor de vários capítulos de livros e artigos científicos em revistas académicas nacionais (Revista de História de Arte, Aniki, Cultura, Convocarte) e internacionais (Photographies, Philosophy of Photography, RIHA Journal, Quintana e MODOS).

Érica Faleiro Rodrigues é licenciada em Realização para Cinema pela University of the Arts, London. Mestre na área das Ciências da Comunicação por Goldsmiths College e doutoranda em Cinema Português por Birkbeck College, com o projeto de tese Women in Portuguese Cinema Before and After the Revolution: Representation and Reality. É investigadora associada do Instituto de História Contemporânea da Universidade NOVA de Lisboa. O impacto social do seu trabalho como realizadora granjeou-lhe uma Skillset Millennium Fellowship do governo britânico pela realização de documentários sobre o papel da arte na vida de refugiados. Lecionou, como Associate Tutor da University of London, na cadeira de Desenvolvimento de Pensamento Crítico Académico e como professora convidada da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa na cadeira de Práticas Cinematográficas. É co-editora do futuro número temático da Revista de História da Arte do IHA da FCSH, número este dedicado ao tema Censura e Arte.

 

19.05.2019 | par martalanca | cinema, sexualidade

2ª edição do ciclo 'Outros Cinemas Sexualidades'

Dia 18, 19 e 20 Maio Sessões 18h / 21:30h / 00h

Auditório Soror Mariana|Colecção B, Évora

Outros Cinemas Sexualidades | Marginalidades

Como representa  o cinema hoje as sexualidades? E as homossexualidades? E as transexualidades? Como são as práticas transgressoras representadas no cinema? Que papel tem o documentário na disseminação de temas e na manutenção de tabus? Como encaramos hoje o pornográfico, o obsceno e o erótico?

O ciclo Outros Cinemas: Sexualidades prolonga-se até ao fim de 2012 e traz, a cada 2 meses, uma paragem nas sexualidades que o cinema representa, cruzando o cinema de ficção e o documentário, a vídeo-arte, a performance e a documentação são o material privilegiado, a par de debates, encontros e propostas de formação/sensibilização de públicos.
Muitas das grandes liberdades discursivas sobre sexo e sexualidades, ocorridas durante o século XX, encontraram no cinema um meio privilegiado de expressão. Quase sempre marginais, mesmo quando no coração da indústria da imagem em movimento, as representações da sexualidade trazem ao cinema questões tão marcantes como a política do corpo, os regimes de censura ou os sistemas de valores ideológicos, religiosos e estéticos. É a partir dessas questões que apresentamos as 7 sessões de mais um ciclo dedicado às Sexualidades, desta vez para falar de marginalidades.

Para as sessões das 18h propomos a exploração do hedonismo futurista de Barbarella (1968), o filme de Vadim que valeu a Jane Fonda o rótulo de sex-symbol e quase lhe garantiu uma carreira em direcção muito diferente da que veio a percorrer e Cheezy explotation (2006), uma homenagem às formas de exploração das sexualidades como mecanismo atractor e publicitário (entre a sugestão de temas sexuais e as produções de série B com  que a indústria cinematográfica ia fazendo a máquina funcionar) com a exibição de trailers de filmes como Slaves in bondage, A taste of flesh ou Reform School girls, entre muitos outros de título mais ou menos apelativo e imagens medidamente ousadas.

Para as sessões das 21h30, propomos uma incursão no domínio das grandes inquietações sobre o papel da sexualidade no destino dos homens e mulheres de hoje (com Shortbus), ou na construção de uma acção política radical servida por um erotismo transgressor e subversivo (com O êxtase dos anjos, do mestre Wakamatsu).

Para as sessões das 24h reservámos os materiais mais transgressores. Sexta-feira, a sessão é de curtas. Entramos nelas pelo mundo inventado do desenho contundente e humorado de Phill Mulloy, passamos pela produção nacional,l que tem dado às sexualidades uma expressão renovada e criticamente informada, com filmes de Carlos Conceição e do premiado Gabriel Abrantes. Destaque para este último (A history of mutual respect), aclamado pela crítica como «pura energia trituradora. Devora décadas de cinema experimental - podemos lá pôr Kenneth Anger e Warhol (ou um discípulo como Gregg Araki) ou Werner Herzog - ou o discípulo Harmony Korine» (Vasco Câmara). Uma leitura politicamente ‘pouco correcta’, entre o formal e o pós-colonial. E terminamos a noite com o ambiente punk disruptivo e transgressor dos filmes de Richard Kern, lugar de explosão de convenções, de afirmação de marginalidades e de aprofundamento de uma poética cinematográfica corrosiva face à própria indústria. Filmados em Nova Iorque a partir da marginalidade assumida pelo autor, os filmes de Kern quase poderiam constituir-se em repertório de práticas sexuais desviantes: strap-on, domínio, bondage e muito mais como dinâmicas transgressoras numa poética (e política) da marginalidade expressa na e pela sexualidade.

Encerramos esta etapa no Domingo, com a exibição do documentário Dentro de garganta funda (de 1972), uma viagem através da censura e das reacções ao célebre filme pornográfico, evidenciando a hipocrisia da moral vigente nos EUA e o quanto a luta pela produção e exibição do filme tocava um limiar político que raramente se reconhece na pornografia (e a legitimava), situada por regra nos confins das marginalidades.

Com uma programação que promete andar à margem das escolhas mais formais, a 2ª etapa do ciclo Outros Cinemas Sexualidades abre de novo o grande palco das liberdades discursivas - porque ninguém quer fugir à transgressão.

Dia 18, sexta-feira

18h | Barbarella, a rainha da galáxia, Roger Vadim (1968) 94’

Barbarella é a personagem que nos transporta a um futuro distante (ano 40 000 d. C.) ao planeta Lythion numa aventura de sensualidade, erotismo e beleza. A personagem valeu a Jane Fonda o rótulo de sex-symbol e quase fez da desinibida (e quase nua) rainha da galáxia a rainha da sexplotation.

21h 30 | Shortbus, John Cameron Mitchell (2006) 98’ | Maiores de 16

Famoso por uma cena de sexo em grupo de contornos muito explícitos, o filme de Cameron Mitchell atravessa todas as vias da sexualidade contemporânea, com personagens nas encruzilhadas da sua (re)orientação sexual, os dilemas ou conflitos com tabus e preconceitos. Situado em Nova Iorque, as personagens de Shortbus, homosseuxuais e heterossexuais, descobrem pelo caminho as virtualidades políticas da condição polissexual.

00h | Curtas | Maiores de 16

6 curtas, 6, entre o humor corrosivo da animação de Mulloy e a marginalidade transgressora de Richard Kern, onde se reinventam papéis e as fantasias sexuais são levadas ao extremo. Pelo meio, dois filmes de jovens cineastas portugueses. Com Carne, entramos no universo da culpa e na perturbadora vivência religiosa que lhe dá corpo. Na curta de Gabriel Abrantes é a História que é filtrada pela perspectiva pós-colonial, é o formalismo dos actores que se inscreve em belíssimas imagens e nos dá um intenso dispositivo de (re)negociação do passado cinematográfico. Nesta leitura da sexualidade como instrumento de domínio colonial, ecoam ainda Sade e a linguagem quase matemática com que descreve as práticas sexuais.

The sex life of a chair, Phil Mulloy (1998) 7’

The history of the world, Phil Mulloy (1994) 6’

Carne, Carlos Conceição (2010) 20’

A history of mutual respect, Gabriel Abrantes (2010) 23’

Submit to me now! Richard Kern (1987) 18’ 37

The bitches, Richard Kern (1992) 9’

Dia 19, sábado

18h | Cheezy explotation (2006) 60’

E se visionássemos uma extensa colecção de trailers de filmes como Slaves In Bondage, Pin-Down Girl, She Shoulda Said No!, A Taste Of Flesh, Tomorrows Children, Rat Fink, Glenn Or Glenda, I Passed For White, Hitlers Captive Women, Covergirl Killer, Reform School Girls, Let Me Die A Woman, Satan In, High Heels e muitos mais, numa divertida aproximação a este universo?

21h 30 | O êxtase dos anjos, Kôji Wakamatsu (1967) 84’ | Maiores de 16

Situado nos anos 70,  este é um filme sobre políticas subversivas e o papel, nelas, da violência e da sexualidade, em busca de uma revolução radical… filmado por um dos grandes mestres do cinema japonês do séc. XX.

00h | Os anjos exterminadores, Jean-Claude Brisseau (2006) 100’ | Maiores de 16

Brisseau explora neste filme a condição do cineasta perante o erotismo, a sensualidade e o prazer. Uma sequência de prazer num casting desencadeia uma ideia de filme onde se vão multiplicar as ligações entre as actrizes-personagens e o cineasta…

Dia 20, domingo

18h | Dentro de garganta funda, Fenton Bailey e Randy Barbato (2005) 92’

Há 40 anos, o clássico Garganta funda lançou para o estrelato a jovem Linda Lovelace e ocasionou um escândalo de enormes proporções, com censuras e proibições de exibição em 23 estados americanos. Na época da luta pela libertação sexual e pela igualdade entre homens e mulheres, o filme teve consequências enormes para o debate cultural mais mobilizador a sociedade americana. Permanece um clássico e talvez o mais lucrativo de toda a historia do cinema.

  O êxtase dos anjos (1967)                                    Shortbus (2006)                                                                     

               

18.05.2012 | par martacacador | cinema, sexualidade

Género, sexualidade e práticas vaginais - Brigitte Bagnol

03.07.2011 | par martalanca | Brigitte Bagnol, género, sexualidade