Das lutas anticoloniais às lutas do quotidiano: lugares das mulheres nos 50 anos das independências

25 e 26 de setembro de 2025, Auditório do Colégio do Espírito Santo da Universidade de Évora, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e da Universidade de Évora.

Arquivos da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) Arquivos da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique)

Disponível aqui: Livros Ultramar - Guerra Colonial: Moçambique & FRELIMO - ‘A MULHER MOÇAMBICANA NA LUTA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL’ - Maputo 2012 - MUITO RARO.

Esta Conferência pretende promover o conhecimento e a discussão pública sobre os contributos das mulheres, no contexto das lutas pelas independências - em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal - e sobre os progressos e recuos ocorridos, nos últimos cinquenta anos, em matéria de participação política e direitos das mulheres, nestes mesmos contextos.

A mobilização e a participação das mulheres nas lutas de libertação contra o colonialismo português não chamaram particular atenção na academia até à última década. As raras investigações realizadas mostram que mesmo que algumas tenham chegado a postos de chefia e de decisão, os países independentes reproduziram rapidamente as relações desiguais de género. Nos mesmos estudos, enunciam-se sentimentos de desilusão e de traição a partir dos relatos dessas mulheres.

À medida que o percurso dos países independentes avançou, a situação da grande maioria das mulheres melhorou, mas não significativamente. As condições políticas e económicas de Estados recém-nascidos não favoreceram a emancipação das mulheres e a estrutura patriarcal do Estado manteve-se. Apesar de um reconhecimento formal dos direitos das mulheres, a sua valorização foi sendo remetida para o mérito individual, desligada de análises de fundo e ações políticas estruturais

Assistiu-se a um apagamento dos papeis das mulheres nas lutas de libertação na memória nacional oficial. O reconhecimento dado à participação feminina na luta de libertação nacional encontra-se limitado a celebrações oficiais e ao reconhecimento público de algumas, vistas como excepcionais, como Titina Silá, na Guiné-Bissau, ou Josina Machel em Moçambique. A invisibilização de muitas outras mulheres que participaram nas lutas de libertação revela como hoje continuam relevantes as lutas pelo seu reconhecimento.

Objetivos: 

1) aprofundar os conhecimentos sobre a participação das mulheres nas lutas de libertação e contribuir para um processo de reconhecimento e valorização do seu papel para a independência do seu país;

2) contribuir para uma análise crítica dos cinquenta anos das independências em matéria de avanços e recuos na participação política e na consagração de direitos das mulheres;

3) promover a investigação nesta área do conhecimento;

4) divulgar o tema junto de públicos não-especializados, fomentando um debate alargado nas sociedades em questão. 

A entrada é livre para as sessões da manhã e de cinema. No entanto, devido a limitação de espaço, é necessária inscrição nas Rodas de conversa.

Envie e-mail para mulheresindependencias@uevora.pt até 15 de setembro de 2025.

Participação limitada aos lugares existentes. 

PROGRAMA 

25 de setembro  

Auditório do Colégio do Espírito Santo, Universidade de Évora 

9h30 - 10h00 - Sessão de abertura 

Reitora da Universidade de Évora 

Sílvia Roque (UÉvora) - cocoordenadora da Conferência 

Celeste Fortes (Uni-CV/Cabo Verde) - cocoordenadora da conferência  

10h00 - 11h30 - Keynote: Das lutas anticoloniais às lutas do quotidiano 

Patricia McFadden  

Conversa com Teresa Cunha e Sara Araújo 

11h30 - 11h45 - Pausa -Café 

11h45 - 13h15 - A participação das mulheres nas lutas de libertação: uma perspetiva histórica 

Jonna Katto  

Ana Paula Tavares 

Odete da Costa Semedo  

Moderação: Catarina Caldeira Martins

Almoço  

Sala 124 - Colégio do Espírito Santo 

14h30 - 17h30 – Rodas de conversa

Roda de conversa dinamizada pelas organizadoras, com a participação das oradoras e de estudantes, investigadoras/es e ativistas. (máximo de 30 participantes). 

Roda de conversa 1- Onde estão as imagens das mulheres nas descolonizações?

Esta roda de conversa propõe uma reflexão sobre as lutas de libertação nas ex-colónias portuguesas a partir das experiências de quem as viveu – e, muitas vezes, de quem foi silenciada nos relatos oficiais. Embora as mulheres tenham desempenhado papeis fundamentais nesses processos, suas vozes e imagens foram frequentemente marginalizadas nas narrativas sobre as guerras anticoloniais.

A partir da análise da iconografia da mulher guerreira na resistência anticolonial, Catarina Laranjeiro discutirá como essas imagens foram construídas e mobilizadas historicamente. Maria do Carmo Piçarra abordará o modo como artistas, cineastas, investigadoras e curadoras têm interrogado e recriado visualmente essas memórias, desafiando arquivos públicos e privados e reimaginando os projetos de emancipação.

A conversa será também uma oportunidade para refletir sobre como práticas curatoriais, artísticas e de investigação têm resgatado e afirmado o papel das mulheres nas lutas anticoloniais, projetando-o nas resistências do presente e do futuro.

Facilitadoras: Catarina Laranjeiro e Maria do Carmo Piçarra

Roda de Conversa 2 -Guerras de libertação: as mulheres falam ou são faladas? 

As narrativas épicas nacionalistas que alimentaram as lutas de libertação e que, após as independências, vieram a consolidar-se como a ortodoxia da memória e da narrativa desse período histórico. São o discurso autorizado e repetidos à exaustão criando uma única imaginação possível do que foi a guerra de libertação, quem esteve na guerra, quem sofreu, quem combateu, quem liderou e quem abandonou a luta contra o colonialismo português. 

O conceito de combatente cristaliza, até hoje, esse estatuto de reconhecimento que veio com respeito, honrarias e privilégios. De fora ficaram tanto os privilégios quanto da imaginação e do discurso quase todas as mulheres. As que ficaram foram reduzidas, porque a elas nada se perguntou nem elas foram escutadas, a duas categorias principais com as quais se define o seu lugar, pretensamente inamovível, na memória social: algumas, muito poucas (muitas delas esposas dos chamados heróis), foram qualificadas de heroínas; a maioria delas foram definidas como vítimas. Das últimas pouco se fala e quase nada se sabe; as primeiras foram sendo ficcionadas até ao ponto de quase não conseguir distinguir o que é real e o que é da propaganda nacionalista. 

O nível de silenciamento a que as narrativas das mulheres que estiveram e combateram nas lutas de libertação nacional têm sido sujeitas é definitório do lugar subalterno que continuam a ter nas sociedades independentes. Parafraseando Lídia Jorge, a imaginação e a memória que se impôs das lutas da libertação pode ser uma ficção, mas as suas consequências são reais. Esta ficção, no entanto, tem efeitos tangíveis e duradouros, moldando não só as narrativas históricas, mas também as dinâmicas de poder contemporâneas. Elas continuam a ser faladas por quem se autoriza a falar por elas e quando elas falam, ou até mesmo gritam, são de novo remetidas para um julgamento de impertinência e de dispensabilidade quando não de subversão antinacionalista.

Nesta Roda de Conversa pretendemos pensar e refletir em conjunto duas coisas principais: 

A primeira é desvendar os mecanismos de silenciamento a que estas mulheres foram e continuam a ser sujeitas e que impactos tiveram e têm nas suas vidas e na vida do país. No fundo será refletir sobre feminismo e nacionalismo.

A segunda é procurar perceber que estratégias de resistência e de fala elas têm utilizado e desenvolvido; como essas falas se processam e como elas são discursos profundamente divergentes da ortodoxia instalada. As perguntas incómodas que permanecem são: como seriam as nossas nações e países se em vez de sermos faladas fossemos autoras plenamente reconhecidas dos nossos processos históricos? Que lutas vêm de longe e continuam a ser travadas no nosso quotidiano?

Facilitadora: Teresa Cunha

18h00 - Sessão de cinema 

Local: Auditório do Colégio do Espírito Santo, Universidade de Évora

Curadoria de Maria do Carmo Piçarra. 

Moderação: Catarina Laranjeiro

Filmes em exibição:

Fogo, L’île de Feu, Sarah Maldoror (Cabo Verde, 1979, 34’)

Um Dia Numa Aldeia Comunal, Moira Forjaz (Moçambique, 1981, 29’)

26 de setembro  

Auditório do Colégio do Espírito Santo, Universidade de Évora

9h00 - 11h30 - As lutas pela memória: passado, presente e futuro  

Terezinha da Silva  

Celeste Fortes e Rita Rainho  

Kamy Lara 

Maria-Benedita Basto

Moderação: Cláudia Leal 

11h30 - 11h45 - Pausa-Café 

11h45- 13h30: Mulheres, anticolonialismo e antirracismo

Ana Cristina Pereira  

Cristina Roldão 

Sónia Vaz Borges  

Moderação: Sílvia Rodriguez Maeso 

13h15-14h30 - Almoço  

Sala 124 - Colégio do Espírito Santo

14h30 - 17h30 - Rodas de conversa

Roda de conversa dinamizada pelas organizadoras, com a participação das oradoras e de estudantes, investigadoras/es e ativistas. (máximo de 30 participantes).

Roda de conversa 3 - Entre a academia, o ativismo e os media: como fazer avançar agendas feministas?

Num contexto em que os direitos das mulheres estão em risco um pouco por todo o mundo, e em que os discursos de ódio e a manipulação da informação parecem tornar-se uma norma social aceite, nesta roda de conversa, pretendemos refletir em conjunto em torno de questões fundamentais para avançar na divulgação, compreensão e adesão às agendas feministas. Algumas das questões que se colocam são: Como podemos tornar o discurso feminista mais acessível sem perder a sua complexidade? Que estratégias têm funcionado para criar pontes produtivas entre academia, ativismo e media? O que ganhamos (ou perdemos) com a visibilidade nas redes sociais? Quais os perigos da apropriação comercial ou superficial de discursos feministas nos media e por “celebridades”? Como lidar com o backlash (reação conservadora) no espaço público? 

A partir da reflexão e das experiências de cada participante, procuraremos mapear passos e estratégias que nos permitam avançar coletivamente na luta pelos direitos das mulheres, sem esquecer a diversidade das mesmas e o papel que o neocolonialismo, o racismo, a xenofobia, a homofobia, a transfobia, o capacitismo, entre outros, desempenham na criação de divisões entre movimentos feministas, diminuindo o alcance das transformações que desejamos ver num mundo mais feminista.

Facilitadora: Sílvia Roque 

Roda de conversa 4 - Caminho é pa frenti: como construir uma agenda feminista interseccional para o futuro?

As incertezas que os tempos atuais nos impõem e os desafios que se colocam às conquistas já alcançadas pelas diferentes agendas feministas e outras por construir e nos convocam para um djunta pensamentu, orientada para o futuro.

Convictas que não há futuro sem passado e que o caminhu é pa frenti sem esquecer o passado, nesta roda de conversa a pergunta que se impõe como bússola orientadora do debate resulta da urgência de pensarmos nesta relação umbilical entre passado e futuro.  

Como construir uma agenda feminista para o futuro?

Tomando como referência geopolítica as ex-colónias portuguesas, as múltiplas e distintas experiências de cada uma de nós, procuraremos, juntas, mapear possibilidades de construção de agendas feministas interseccionais para o futuro, que possam ser também guardiãs das conquistas alcançadas nesses espaços e, ao mesmo ritmo, reparadoras das histórias silenciadas no passado e no presente. 

Facilitadora: Celeste Fortes 

18h00 - Sessão de cinema 

Local: Auditório do Colégio do Espírito Santo, Universidade de Évora

Curadoria de Maria do Carmo Piçarra. 

Moderação: Catarina Laranjeiro

Filmes em exibição:

Hanami, Denise Fernandes (Portugal / Suíça / Cabo Verde, 2024, 96’)

Notas biográficas 

ORADORAS

Ana Cristina Pereira (AKA Kitty Furtado) é crítica cultural empenhada na diluição de fronteiras entre academia e esfera pública. Tem curado mostras de cinema (pós)colonial e promovido a discussão pública em torno da Memória, do Racismo e das Reparações, sendo co-criadora da Oficina de Reparações (mala voadora, Porto, 2023). É investigadora do CECS, onde desenvolve o projeto individual Black Gaze Cinema (2023.08077.CEECIND) e é professora convidada da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Fez parte da equipa curatorial da representação de Portugal na Bienal de Veneza 2024, no âmbito da qual foi curadora do programa Biomes. É membro ativo do GT de Cultura Visual da SOPCOM de que foi coordenadora entre 2019 e 2024 sendo, nessa qualidade, subdiretora da VISTA: revista de Cultura Visual. Entre outros textos e edições de números especiais publicou, com Rosa Cabecinhas, o livro “Abrir os gomos do tempo: conversas sobre cinema em Moçambique” (2022).

Ana Paula Tavares, poetisa e historiadora angolana, licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, aí fez o mestrado em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa. Entre 1983 e 1985, coordenou o Gabinete de Investigação do Centro Nacional de Documentação Histórica, em Luanda. Membro da União de Escritores Angolanos, fez parte do júri do Prémio Nacional de Literatura de Angola entre 1988 e 1990. Ao lado de outros investigadores, deu corpo ao levantamento e estudo de documentação relevante para a História de Angola, tombada nos arquivos portugueses. Integra também o projeto “A apropriação da escrita pelos Africanos” do Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga (CEHCA). Além de Docente Universitária (leciona na Universidade Católica de Lisboa), desempenhou diversos cargos e funções na área da cultura, museologia, arqueologia e etnologia, património, animação cultural e ensino. Em 2004 recebeu o Prémio Mário António de Poesia atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian com o livro Dizes-me coisas amargas como os frutos, em 2007, o Prémio Nacional de Cultura e Artes de Angola (categoria literatura), pelo livro Manual para amantes desesperados e, em 2013, foi-lhe atribuído o Premio Internazionalle Ceppo/Pistoia, Firenze, em Itália.

Catarina Caldeira Martins é Professora Associada com Agregação do Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e Investigadora do Centro de Estudos Sociais. Foi leitora, durante vários anos, na Universidade Cheikh Anta Diop de Dakar. É Doutorada em Literatura Alemã pela Universidade de Coimbra (2008) e tem título de Agregada em Estudos Culturais e Literários, com foco em estudos feministas e decoloniais. Tem publicado sobre temas de estudos feministas e pós-coloniais, literatura comparada, literatura de expressão alemã e literaturas africanas, em particular de mulheres. De entre as suas atuais áreas de investigação destacam-se os estudos decoloniais e os estudos feministas, associados a temas e problemáticas das literaturas e culturas. É docente nos programas de Doutoramento em Estudos Feministas, Discursos: História, Cultura e Sociedade, e Estudos de Literatura e Cultura. É Diretora da Coleção CES.

Cristina Roldão é doutorada em Sociologia, investigadora do ISCTE-IUL e docente da Escola Superior de Educação de Setúbal (ESE/IPS). Tem participado ativamente no debate académico e público sobre o racismo e a História Negra na sociedade portuguesa. Foi membro da comissão organizadora da 7.ª Conferência Internacional Afroeuropeans (Lisboa, 2019) e, desde 2019, que co-coordena o «Roteiro para uma Educação Antirracista» da ESE/IPS. Foi cronista do Público e membro dos Grupos de Trabalho sobre o Plano Nacional de Combate ao Racismo e sobre a recolha de dados étnico-raciais nos Censos 2021. É co-autora do livro Tribuna Negra: Origens do movimento negro em Portugal, 1911-1933.

Jonna Katto é investigadora e trabalha sobre a intersecção de história oral, estudos de género e história cultural. Atualmente, é bolseira de investigação da Academia no Departamento de Línguas da Universidade de Helsínquia, onde lidera o projeto “Multiscalar gendered temporalities in southeastern African history: Vozes orais, passados vividos e herdados, e o testemunho profundo do tempo na linguagem” (GENTEMPO-Africa). É também editora-chefe (juntamente com Thera Crane) do Nordic Journal of African Studies.  

Kamy Lara nasceu em Luanda, em 1980. Aos 18 anos mudou-se para Lisboa para terminar os estudos. Em 2010 regressou a Angola e integrou a equipa do projeto “Angola - Nos Trilhos da Independência”, no qual gravou cerca de 700 entrevistas com pessoas que participaram na luta pela independência de Angola que compuseram o documentário “Independência” lançado em 2015. Kamy assina a Direção de Fotografia nos cinco filmes produzidos pelo projeto e é a realizadora de “Mulheres de Armas”. Em 2019 dirigiu a sua longa-metragem, o documentário “Além dos Meus Passos”. Kamy tem trabalhado em vários projetos cinematográficos com diferentes artistas angolanos como os realizadores Fradique, Ery Claver, Sérgio Afonso; os artistas plásticos Kiluanji-Kia-Henda, Pamina Sebastião, Helena Uambembe; o escritor Ondjanki, entre outros. Para além do cinema, Kamy tem trabalhado voluntariamente na Coordenação do Ondjango Feminista desde 2016 desenvolvendo em conjunto com outras mulheres angolanas várias atividades pelos direitos das mulheres. 

Maria-Benedita Basto é professora associada do Departamento de Estudos Ibéricos e Latino-Americanos da Universidade Sorbonne, investigadora do CRIMIC e investigadora associada do IMAF/EHESS e do IHC/Nova, em Lisboa. É responsável da licenciatura de Português e co-responsável da Cátedra Paul Teyssier do Instituto Camões na mesma universidade. Cruzando história, cinema e literatura do mundo lusófono, o seu trabalho aborda questões coloniais, anticoloniais e pós-coloniais relacionadas com (trans)memórias, memórias íntimas e os usos do arquivo, imaginários imperiais, epistemologias subalternas, lutas de libertação e internacionalismos. Foi responsável científica do programa de história La marche du Monde de Valérie Nivelon/RFI “Amílcar Cabral et Maria Helena, de l’intime au politique” (Julho de 2025) e co-tradutora das cartas de Cabral a Maria Helena publicadas na brochura editada pelo mesmo programa. Publicações: (coedição): Socialismes en Afrique, Paris, éditions MSH, 2021 ; Savoirs en circulation dans l’espace Atlantique. Europe, Amérique latine, Afrique. XVIIe-XIXe siècles, Reflexos, Revue pluridisciplinaire du monde lusophone, [on line], n. 005, 2020 ; Capítulos : « The Retornado as Archive of the Sensible in Contemporary Portuguese Artistic Practices : Between Transmemories, Nostalgias and Possible Futures » dans E. Peralta, The Retornados From the Portuguese Colonies in Africa. Memory, Narrative, and History, NY, Routledge, 2022; « ‘Somos Latino-Africanos’. Angola, entre estrategia geopolítica, propaganda interna e intimidad », dans Nancy Berthier y Camila Arêas (ed.), Noticiero ICAIC:Memoria del Mundo. 30 ans de periodismo cinematográfico en Cuba, Madrid, Édiciones Hurón Azul, 2023, p. 339-358; « Amílcar Cabral », in J-N. Ducange, R. Keucheyan, S. Roze, Histoire Globale des Socialismes, Paris, PUF, 2021)

Maria do Carmo Piçarra é investigadora contratada do ICNOVA-Instituto de Comunicação da Universidade Nova de Lisboa, professora auxiliar na UAL e programadora de cinema. Em 2023, foi galardoada com a Cátedra Hélio e Amélia Pedroso/Fundação Luso-Americana em Estudos Portugueses na Universidade de Massachusetts Dartmouth. Os seus actuais interesses académicos incluem as representações fílmicas (pós)coloniais, a propaganda cinematográfica e a censura em Portugal, as mulheres nos movimentos de descolonização e os usos militantes da imagem. Entre as suas publicações contam-se Catembe, esse Obscuro Desejo de Cinema (2024), Vento Leste: Luso-orientalismo(s) nos Filmes da Ditadura (2023), Olhar de Maldoror. Singularidade de um Cinema Político (2022), Projectar a Ordem. Cinema do Povo e Propaganda Salazarista 1935 – 1954 (2020) e Azuis ultramarinos. Propaganda e censura no cinema do Estado Novo (2015). Com Teresa Castro, foi editora do livro (Re)Imagining African Independence. Film, Visual Arts and the Fall of the Portuguese Empire (2017), e com Jorge António, da trilogia Angola, o Nascimento de uma Nação (O cinema da propaganda; O cinema da libertação; O cinema da independência). 

Odete da Costa Semedo (Bissau, 1959) Doutorada em Letras (Literaturas de LínguaPortuguesa), pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUCMINAS), é investigadora sénior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP), na Guiné-Bissau. Professora de Língua Portuguesa e Literaturas africanas de língua portuguesa, expert nacional nos domínios de ensino/formação, participação feminina. Facilitadora de ações de formação no domínio do Género e Desenvolvimento no Contexto Africano, Literaturas e culturas, tradição oral guineenses e literaturas em língua portuguesa. Desempenhou as funções de: Ministra da educação - maio de 2014 a maio de 2016; Reitora da Universidade Amílcar Cabral (2012 a 2014); Ministra da Educação Nacional - junho 1997 a fevereiro 1999; Ministra da Saúde - março de 2004 a novembro de 2005. Escritora com várias obras e artigos publicados na Guiné Bissau e no estrangeiro, entre elas, o diário da dirigente do PAIGC, Carmen Pereira: Os meus três amores: o diário de Carmen Maria de Araújo Pereira: uma visão de Odete Costa Semedo (2016). 

Patricia McFadden de eSswatini (nascida em 1952) é uma feminista radical africana, socióloga, escritora, educadora e editora de eSwatini, ativista e académica que trabalhou no movimento anti-apartheid durante mais de 20 anos. Como escritora, foi alvo de perseguição política e trabalhou como editora da Southern African Feminist Review e da African Feminist Perspectives. McFadden foi professora na Universidade de Cornell, no Spelman College, na Universidade de Syracuse e no Smith College, nos Estados Unidos. Atualmente,  live as an organic vegan on a farm where I grow most of my food.

Rita Rainho (Portugal/Cabo Verde. 1986) é a primeira investigadora de carreira (CEEC) do i2ADS - Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade da FBAUP - Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Atua enquanto artista e investigadora na Europa, África e América Latina dedicada às implicações da arte, política e ecologia. É Doutorada em Educação Artística (bolseira FCT), Mestre em Arte e Design para o Espaço Público, Licenciada Artes Plásticas, FBAUP. Em 2023, foi distinguida como ‘Best of’ das artes visuais africana e afrodiaspórica em Portugal pela Bantumen (2023), com a exposição & programa discursivo “Neve Insular, 0,0003% – Algodão e Resistência” desenvolvidos como co-autora do coletivo Neve Insular e investigadora. Co-coordenou o projeto de investigação e criação “Memórias para o futuro: projetar a independência no feminino” com foco na participação de mulheres combatentes na luta pela liberdade de Cabo Verde e Guiné Bissau.

Sara Araújo é investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e foi professora auxiliar convidada, em tempo integral, na Faculdade de Economia da mesma universidade (2019-2023). É doutorada em sociologia do direito e foi cofundadora do Programa de Doutoramento em Sociologia do Estado, do Direito e da Justiça (UC). Iniciou a carreira, em 2000, no Observatório Permanente da Justiça Portuguesa, mas rapidamente internacionalizou o seu percurso ao integrar uma equipa binacional que desenvolveu uma investigação aprofundada sobre justiça em Moçambique, país onde residiu e trabalhou durante 7 anos. Posteriormente, no CES, participou como investigadora sénior em tempo integral em vários projetos, comprometida com a descolonização da universidade e a complementaridade entre o saber académico e o conhecimento que nasce nas lutas sociais. Em 2015, foi investigadora visitante na Faculdade de Direito da Universidade de Wisconsin-Madison. Foi coeditora dos livros Dinâmicas do Pluralismo Jurídico em Moçambique (Kapicua) e Decolonizing Constitutionalism. Beyond False or Impossible Promises (Routledge), tendo ainda publicado artigos, capítulos e relatórios científicos sobre acesso à justiça; pluralismo jurídico, direitos humanos e descolonização do Estado e do direito; justiça social e epistémica; austeridade, neoliberalismo e justiça laboral. Desde 2023, integra o coletivo Academia sem Assédio, que reúne vítimas de assédio sexual e moral em contexto académico.

Sónia Vaz Borges é uma historiadora interdisciplinar militante e organizadora político-social. Doutorou-se em História da Educação na Humboldt-Universität zu Berlin (HU). É autora dos livros Militant Education, Liberation Struggle, Consciousness: The PAIGC education in Guinea Bissau 1963–1978  (2019) e Ragás Because the sea has no place to grab. A memoir of home, migration, and African liberation (2024).  Como resultado da sua investigação, Vaz Borges é coautora das curtas-metragens, Navigating the Pilot School (2016); Mangrove School (2022)  e  Weaving Stories while Walking (2024). Em 2024, foi co-curadora do pavilhão português na La Biennale di Venezia com o projeto Greenhouse.  Juntamente com Mónica de Miranda, foi curadora do catálogo da exposição com o título Greenhouse- Art, Ecology & Resistance (2024). Atualmente  Vaz Borges é Professora Assistente de História e Africana Studies na Drexel University em Filadélfia (EUA).

Terezinha da Silva é ativista feminista e pesquisadora do Instituto de Estudos Sociais e Económicos de Moçambique. Foi coordenadora Nacional durante 13 anos do think tank feminista Women and Law in Southern Africa - Moçambique. Tem uma longa experiência de trabalho sobre saúde, género, direitos humanos das mulheres e ação social em Moçambique; é membro do National Reference Group at the Civil Society do programa SPOTLIGHT INITIATIVE. Realizou mestrado em Social Policy and Planning in Developing Countries pela London School of Economics and Political Science (LSE), University of London, Reino Unido. Realizou trabalho no Carr Centre for Human Rights Policy, Universidade de Harvard, EUA, durante o ano de 2000, sobre a área de gerontologia.

Silvia Rodríguez Maeso é doutorada em Sociologia Política (Universidade do País Basco), Silvia é investigadora principal do CES e vice-coordenadora da Linha Temática “Democracia, justiça e direitos humanos”. Silvia é co-coordenadora do Programa de Doutoramento “Human Rights in Contemporary Societies”(CES/IIIUC) e leciona no Programa “Sociology of the State, Law and Justice” (CES/FEUC). Foi coordenadora do projeto POLITICS - “A política do (anti)racismo na Europa e na América Latina: produção de conhecimento, decisão política e lutas coletivas” (ERC-Consolidator Grant, 2017-2022). O seu trabalho de investigação e ensino em programas de pós-graduação debruça-se nos âmbitos dos estudos críticos da raça e o (anti-)racismo e o pensamento descolonial, com ênfase na análise da relação entre poder e produção de conhecimento, políticas públicas e discurso sociolegal.

COMISSÃO ORGANIZADORA  E DINAMIZAÇÃO DAS OFICINAS

Sílvia Roque (Coimbra, 1980) é Professora Auxiliar de Relações Internacionais na Universidade de Évora. Doutorada em Relações Internacionais, é, desde Janeiro de 2025, investigadora do Centro de Investigação em Ciência Política (CICP). Entre 2008 e 2024, foi investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, onde foi também investigadora júnior entre 2005 e 2007. Neste centro, foi cocoordenadora do Núcleo de Humanidades, Migrações e Estudos para a Paz entre 2016 e 2019. Foi Professora Auxiliar Convidada no Mestrado em Estudos Africanos, no ISCTE-IUL (2017-2019). 

Desde 2005 tem trabalhado em projetos de investigação no domínio das Relações Internacionais, em particular na área de Estudos para a Paz e dos Estudos Feministas. Para além da Guiné-Bissau e de El Salvador, países onde concentrou a maior parte da sua investigação, colaborou ainda em projetos de investigação em Portugal e em Moçambique. Além disso, tem colaborado com organizações da sociedade civil e organizações internacionais na realização de estudos, formação e cooperação que visem a compreensão e a diminuição de várias expressões de violência. Das suas publicações destacam-se: Pós-guerra? Percursos de violência nas margens das Relações Internacionais. Coimbra: Almedina, 2016; e “Mulheres, nação e lutas no cinema anti/pós-colonial da Guiné-Bissau”, Revista De Comunicação E Linguagens, 54, 276-295, 2021.  

Celeste Fortes é cabo-verdiana, safra de 1981. Doutorada em Antropologia Social e Cultural, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Feminista e ativista social e cultural. Docente e investigadora na Universidade de Cabo Verde. Lutadora, em várias frentes, pela democratização e polifonia das vozes femininas. Criadora de projetos que promovem diálogos entre a academia e a intervenção artística, de forma a produzir agendas endógenas de investigação e ativismo. Co-coordenou o projeto Memórias para o futuro: projetar a independência no feminino. É corealizadora do documentário Bidon: nação ilhéu (2019), financiado pelo programa CPLP Audiovisual - DOCTV III. 

Teresa Cunha é doutorada em Sociologia pela Universidade de Coimbra em pós-colonialismos e cidadania global com uma tese com o título ‘Para além de um Índico de revoltas. Uma análise feminista e pós-colonial das estratégias de autoridade e poder das mulheres de Moçambique e Timor-Leste’. Realizou uma investigação pós-doutoral em Economias Feministas em Moçambique, África do Sul e Brasil (2011 a 2018). É professora desde 1980, professora-coordenadora da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Coimbra desde 2020 Os seus interesses de investigação e formação são feminismos e pós-colonialismos; outras economias e economias feministas mulheres; transição pós-bélica, paz e memórias; direitos humanos das mulheres. Tem publicados vários livros e artigos científicos em diversos países e línguas. Destacam-se os seguintes livros: Economic Diversity in Contemporary Timor-Leste; Mulheres; Territórios e Identidades vol 1, 2 e 3; Women InPower Women. Outras Economias criadas e lideradas por mulheres do sul não-imperial; Never Trust Sindarela. Feminismos, Pós-colonialismos, Moçambique e Timor-Leste; Ensaios pela Democracia. Justiça, dignidade e bem-viver; Elas no Sul e no Norte; Vozes das Mulheres de Timor; Timor-Leste: Crónica da Observação da Coragem; Feto Timor Nain Hitu - Sete Mulheres de Timor»; Andar Por Outros Caminhos e Raízes da ParticipAcção. Formadora do Conselho da Europa desde 1993 na área dos Direitos Humanos, Educação não-formal, Juventude e Género. Realizou ao longo da sua vida muitos projetos de educação-não formal feminista e pós-colonial nomeadamente em Moçambique, Colômbia, Brasil, Espanha e Timor-Leste. É fundadora da coletiva internacional ‘Economias Feministas Camponesas’ que junta ativistas e académicas de Espanha, Portugal, Colômbia, Brasil e Moçambique. Desde 2019, no âmbito do trabalho desta coletiva co-coordenou várias escolas avançadas e projetos feministas decoloniais em Coimbra, Bogotá, Medellín e Maputo. Foi presidente durante 7 anos da ONG internacional Youth Action for Peace (1990 a 1997) e ativista feminista em várias organizações nacionais e internacionais como a Marcha Mundial das Mulheres. Em 2017, foi agraciada com a Ordem de Timor-Leste pelo Presidente da República Democrática de Timor-Leste pelos seus contributos para a paz e a independência do país. 

Catarina Laranjeiro é investigadora do Instituto de História Contemporânea da NOVA FCSH, onde desenvolve uma investigação sobre cinema vernacular em Cabo-Verde e Guiné-Bissau e respectivas diásporas em Portugal e França. É doutora em Pós-Colonialismos e Cidadania Global pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, e mestre em Antropologia Visual e dos Media pela Freie Universitaet Berlin. Participa, regularmente, em diversos projetos e coletivos que cruzam a antropologia, a fotografia e o cinema. Das suas publicações destacam-se: Dos sonhos e das imagens. A guerra de libertação na Guiné-Bissau. Lisboa: Outro Modo, 2021; e “Gender Struggle in Guinea-Bissau: Women’s Participation On and Off the Liberation Record,” in Resistance and Colonialism: Insurgent Peoples in World History, editado por Nuno Domingos, Miguel Bandeira Jerónimo e Ricardo Roque, 85-122. London: Palgrave Macmillan, 2019, com Inês Galvão.

Cláudia Constance Leal é moçambicana. Licenciada em Linguística e Literatura pela UEM (Moçambique), pós-graduada em Mass Communications pela Universidade de Leicester (UK), Mestre e doutoranda em Estudos africanos pelo ISCTE (Portugal). É investigadora do CEI – Centro de Estudos Internacionais do ISCTE e trabalha sobre o tema “Mulheres e Poder”, focando-se, em particular, na investigação sobre mulheres moçambicanas combatentes e a sua invisibilização. Para além de estudante de doutoramento, é jornalista da Televisão de Moçambique, correspondente para a Europa. Já trabalhou em Angola com a Rádio OCHA/IRIN das Nações Unidas em programas de desminagem, desmobilização e reassentamento da população, na TV ZIMBO como Pivô e em Portugal na apresentação do programa Bem-vindos da RTP África. É mãe de 4 filhos.

Laura Monteiro é licenciada em Relações Humanas e Comunicação Organizacional e estudante finalista de Relações Internacionais na Universidade de Évora, com especial interesse em Estudos Africanos e Direito Marítimo.

04.08.2025 | par martalanca | independência