Universidades sem algemas

Universidades sem algemas Num momento em que, no país e no mundo, ideias e políticas anti-democráticas e autoritárias crescem e ameaçam direitos e liberdades que há muito temos como garantidos, a repressão feita às estudantes e o silenciamento forçado da comunidade universitária dá passos num sentido particularmente perigoso. À beira do ano em que nos preparamos para celebrar meio século do 25 de Abril, tudo isto é revoltante.

Mukanda

20.11.2023 | por vários

Revolta!!! Prefácio a "política Selvagem", de Jean Tible

Revolta!!! Prefácio a "política Selvagem", de Jean Tible Ao pensar a política na rua, na praça, na estrada e na mata, Jean Tible apresenta uma teoria da democracia que a encontra lá onde a polícia e a milícia matam sem medo de consequências jurídicas; lá onde foi assassinada a representante preta e lésbica da favela, do Complexo da Maré; lá onde pessoas pretas e/ou pobres diariamente confrontam a brutalidade policial e a precariedade econômica. Ao fazê-lo, política selvagem nos oferece um ponto de partida para recompor o arsenal disponível para a crítica da arquitetura política liberal, em particular de sua composição mais recente, o Estado-Nação. Essa recomposição pode ser indicada a partir de quatro movimentos, que vejo atuados e sugeridos no livro: focar na revolta como atualização da democracia; ver os comuns como materialização da revolta; adotar subalternos da matriz colonial, racial, cis-heteropatriarcal como figura política central; e a consequente recomposição do Estado-Nação, na qual a repressão aparece como a quarta de suas funções fundantes, ao lado de proteção, preservação e representação.

Mukanda

28.02.2023 | por Denise Ferreira da Silva

Louca verdade e outros (in)verosímeis desatinos, paradoxos e incongruências do quotidiano

Louca verdade e outros (in)verosímeis desatinos, paradoxos e incongruências do quotidiano O regime caboverdiano de partido único veio a contradizer, e de forma cristalina e notória, uma pretensa imagem impoluta e moderada que o mesmo vinha construindo e propalando junto das comunidades emigradas e dos seus imprescindíveis parceiros internacionais, dos quais depende, aliás e em grande medida, a mera sobrevivência física das populações das ilhas, assim logrando o mesmo regime a estranha e risível façanha, o por demais inaudito e ostensivo desígnio de se desnudar de falsos pudores e mentirosos alardes e ardores democráticos e, assim, de se desmascarar em si mesmo e a si próprio nas suas flagrantes e manifestas pulsões e perversões totalitárias, deste modo também se comprovando como um autêntico logro e uma verdadeira falácia a sua auto-representação e a sua auto-projecção na opinião pública nacional e internacional como sendo um regime respeitador dos direitos humanos universalmente reconhecidos.

A ler

02.01.2023 | por José Luís Hopffer Almada

“A vida das mulheres não tem significado para os governantes angolanos”, entrevista a Djamila Ferreira

“A vida das mulheres não tem significado para os governantes angolanos”, entrevista a Djamila Ferreira Nasci em 1989 e cresci num país onde nunca vi um partido diferente a governar, nunca vi alternância política, cresci com um único Presidente da República, que só mudou há quatro anos. Estou a ver outro Presidente no poder e aí se quer manter. Por causa disso, penso que houve mais união popular para fazer pressão e empurrar o sistema. A ativista angolana fala das dificuldades de quem trabalha em recorrer à Justiça angolana e de como falha em casos de abandono familiar, situações de abuso e violações sexuais e despedimentos por gravidez. "Temos as mulheres totalmente acorrentadas e condenadas a serem cada vez mais pobres."

Cara a cara

14.12.2022 | por Marta Lança

Da luta, da perda, da caboverdianidade: entrevista com Flávia Gusmão

Da luta, da perda, da caboverdianidade: entrevista com Flávia Gusmão #4 MANGIFERA é a quarta de cinco partes de um projeto artístico transdisciplinar sobre a perda e o luto, criado por Flávia Gusmão no seguimento da morte prematura da produtora, gestora e ativista cultural cabo-verdiana Samira Pereira. A criação NA LUT@ organiza-se em torno de cinco partes, a primeira das quais estreada há cerca de um ano, no Festival Internacional de Teatro Mindelact, em Cabo Verde; e que terá o seu último capítulo apresentado no Teatro São Luiz, em Lisboa, em abril de 2023. Concebido como forma de processar a perda, NA LUT@ cria um jogo de palavras que, em crioulo, significa simultaneamente “na luta” e “no luto”, e introduz como temas as fases do luto — negação, raiva, negociação, depressão e aceitação —, assim como noções e questionamentos de identidade e pertença, o sincretismo das comunidades cabo-verdianas, e os seus conceitos históricos, políticos e culturais.

Cara a cara

26.09.2022 | por Flávia Gusmão, P.J. Marcellino e Helena Ales Pereira

Chile: um modelo de maltrato e privilégio

Chile: um modelo de maltrato e privilégio Encontrei slogans contra a polícia e o governo, barricadas com fogo, muita gente batendo panela, saques em supermercados, esperança, indignação, medo e muita solidariedade. Senti-me parte de um coletivo e, vivendo um momento único, senti orgulho de ser chileno.

Cidade

24.10.2019 | por Pablo Mardones

Filme 'Gabriel', afectos, direitos, oportunidades e sonhos

Filme 'Gabriel', afectos, direitos, oportunidades e sonhos O desempenho dos protagonistas do filme e a extrema fragilidade de laços sociais faz o espectador mergulhar numa intensidade de cenas portadoras de mágoas, incompreensões e revoltas internas sobre os problemas enfrentados pelas sociedades ditas modernas e globais, que colocam tatuagens em grupos sociais e povos face à pobreza e corrupção do serviço público desumanizante para quem não tem capacidade de montar um sistema alternativo - mesmo que marginal - que possa garantir segurança e possibilidade de continuar a viver com dignidade.

Afroscreen

23.03.2019 | por Miguel de Barros

As origens do movimento negro e da luta antirracista em Portugal no século XX: a geração de 1911-1933

As origens do movimento negro e da luta antirracista em Portugal no século XX: a geração de 1911-1933 A questão colonial será a grande ambiguidade revelada por esta geração de ativistas. A realidade social e política nas “colónias” africanas, as injustiças aí cometidas ou a luta por mais autonomia serão uma constante ao longo dos anos nas páginas desta imprensa. No entanto, nunca haverá uma posição anticolonial total que exija de forma taxativa a independência efectiva dos territórios ocupados; também por isso Mário Pinto de Andrade refere-se a esta geração como Protonacionalistas em oposição ao movimento surgido no pós-II Guerra Mundial, os Nacionalistas Africanos.

Mukanda

08.01.2019 | por Pedro Varela e José Pereira

Estamos todos em perigo: razões e perspectivas da vitória eleitoral autoritária no Brasil

Estamos todos em perigo: razões e perspectivas da vitória eleitoral autoritária no Brasil Marchas, grupos, associações, festas, hortas, ocupações, ações e criações mil constituem a irrupção singular de novas subjetividades preta, LGBTQ+, trabalhadora, periférica, feminista, indígena, múltiplas que desperta medo (todos os levantes brasileiros foram seguidos de uma brutal repressão – a revolta do malês de 1835 como um dos inúmeros exemplos). O golpe (que segue) como uma peculiar contra-revolução, desencadeada pelo temor da exuberância vital dos corpos livres, insubmissos, descolonizados, não domesticados. Daí as reações identitárias (branca, masculina, heteronormativa) que pululam e os ataques constantes às principais esferas de atuação (cultura e educação) dessas emergências.

A ler

12.12.2018 | por Jean Tible

Postais das viagens e da luta de Amílcar Cabral

  Postais das viagens e da luta de Amílcar Cabral O relato das viagens de Amílcar Cabral, incontornável líder da luta anticolonial, é aqui, quase, biografia, na exata medida em que conta as experiências do autor num registo novo, que não conhecíamos. Com efeito, este livro compila uma inestimável antologia de alteridade e de construção, na linha da premissa da libertação como ato de cultura e de desafio humanista, preconizados por Cabral, de “aprender, aprender sempre; pensar com as nossas próprias cabeças”.

A ler

03.08.2018 | por António Guterres

A coisa tá branca!

A coisa tá branca! A política das alianças brancas no mundo da arte tem implicado a manutenção de um sistema desigual de distribuição de recursos, que permite que pessoas brancas “esclarecidas” controlem as agendas do debate racial nesses campos, irrigando os imaginários coletivamente produzidos por meio do sistema de arte com base na sua ótica e ética estreitadas pela adesão sempre parcial, e algo oportunista, ao projeto de abolição do mundo como conhecemos.

Mukanda

07.11.2017 | por Jota Mombaça

O herói insolente

O herói insolente Henrique Luaty da Silva Beirão, 33 anos, é o improvável herói de um movimento de democratização que cresce todos os dias, tirando o sono ao Presidente José Eduardo dos Santos. Estendido numa cama de um hospital-prisão, em Luanda, em greve de fome, Luaty Beirão está a mudar a História de Angola

Mukanda

19.10.2015 | por José Eduardo Agualusa

As memórias da guerra no documentário “Independência”

As memórias da guerra no documentário “Independência” O projecto “Angola nos Trilhos da Independência“ tem atiçado a curiosidade de muita gente. Foram 57 meses, 900 horas de material audiovisual recolhido em território angolano e internacional, que contem cerca de 700 depoimentos de protagonistas da luta anticolonial. Tudo isto destinado a preservar a memória de um período na História que diz respeito a Angola e à luta de todos os povos sob ocupação colonial cujas memórias padecem ainda de ser registadas e pensadas.É uma epopeia de grande fôlego que implicou muitas viagens, adversidades, muita poeira e entusiasmo. Através dele, a equipa (e futuramente nós) ficou a conhecer um país sob todas as suas diversas camadas. O resultado sai em 2015 na senda das comemorações dos 40 anos da Dipanda.

Afroscreen

07.01.2015 | por Marta Lança

Eu também tenho um sonho

Eu também tenho um sonho Cinquenta anos depois o império americano cobre o continente africano com as bases militares e bases de drones através do Projecto Africon e lança bombas sobre vilas na Somália. Cinquenta anos depois a América continua com o seu projecto colonizador escondendo os seus tentáculos por detrás das vestes do Banco Mundial, da Organização Mundial do Comércio e do Fundo Monetário Internacional. Cinquenta anos depois os nativos americanos são tratados com não-cidadãos, quando a américa assassinou os seus ancestrais e roubou-lhes as suas terras.

Mukanda

01.09.2013 | por Plataforma Gueto

A presença de Amílcar Cabral na música RAP na Guiné-Bissau e em Cabo-Verde

A presença de Amílcar Cabral na música RAP na Guiné-Bissau e em Cabo-Verde Este artigo pretende analisar de que forma os jovens guineenses e cabo-verdianos recontextualizaram através do rap, na nova conjuntura dos dois países, o discurso pan-africanista e nacionalista de Amílcar Cabral, tendo em conta o risco de branqueamento da memória coletiva e histórica; a suposta traição dos seus ideais pelos atuais políticos dirigentes; a necessidade de o resgatar enquanto guia do povo; e de representá-lo como um MC (mensageiro da verdade).

Mukanda

15.01.2013 | por Redy Wilson Lima e Miguel de Barros