Fluxos e turismo: notas a partir de "As Cidades e as Trocas", de Luísa Homem e Pedro Pinho

Fluxos e turismo: notas a partir de "As Cidades e as Trocas", de Luísa Homem e Pedro Pinho Plano sobre a avenida Marginal: os turistas calcorreiam-na em passeio, os caboverdianos em trabalho. A acumulação de imagens vai criando um olhar paralelo, de um mundo que interage mas mutuamente se desconhece. Começamos então a descortinar uma linha de leitura do filme. Os dois mundos são-nos dados a ver num certo maniqueísmo, notoriamente assumido pelos realizadores. De um lado, a resiliência dos ilhéus e a sua capacidade de aproveitar os parcos recursos. Os caboverdianos lutadores que resistem aos constrangimentos que os fustigam, cuja vida difícil é atenuada por relações interpessoais de solidariedade e de alguma alienação. Aqueles que têm de colaborar no jogo do turismo como uma das escassas indústrias e emprego que se lhes oferece. Noutro lado do espelho, os turistas que ali passeiam, também alienados na sua lógica desterritorializada: tanto faz estarem naquela ilha específica como noutro lado qualquer, não apreendem grande coisa da cultura local, mantendo apenas relações comerciais com aquele lugar. Podem vibrar muito e até apaixonar-se ou mudar de vida, mas podem sempre escolher.

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17.12.2023 | por Marta Lança