Para celebrar o 45º aniversário da independência de Angola, a Associação Tchiweka de Documentação e a GERAÇÃO 80 em parceria com a TPA, a plataforma Mostra de Cinemas Africanos e a PlatinaLine vão exibir vários documentários do projecto “Angola - Nos Trilhos da Independência.”
“Independência”, “Mulheres de Armas”, “São Nicolau - Eles Não Esqueceram” e “A Persistente Fragilidade da Memória”.
Afroscreen
11.11.2020 | por Geração 80
A fundadora e diretora artística do Teatro do Vestido, Joana Craveiro, fala, entre outras matérias, sobre a reivindicação do espaço público, de poder fazer teatro em qualquer sítio. (...) Continua a ser difícil para uma artista criar em Lisboa? As e os artistas continuam a ser empurrados para fora?
Tenho de ser sincera, foi sempre muito difícil em Lisboa. Estamos a falar das estruturas de programação da cidade. Éramos completamente underground não por opção, mas porque, objetivamente, e durante muitos anos, não conseguíamos uma única coprodução em Lisboa. Esta era a nossa realidade até aqui há uns anos atrás. Aí as coisas começaram a mudar e conseguimos aceder a essas estruturas que têm dinheiro para financiar a criação dos artistas.
Cara a cara
10.11.2020 | por Mariana Carneiro
O papel das estátuas e dos monumentos coloniais é, portanto, fazer ressurgir no palco do presente os mortos que, quando vivos, atormentaram, muitas vezes pelo fio da espada, a existência dos negros. Essas estátuas funcionam como ritos de evocação de defuntos, aos olhos dos quais a humanidade negra nunca contou para nada – razão pela qual jamais tiveram quaisquer escrúpulos em fazer, por nada, verter seu sangue. - Achille Mbembe
Cidade
09.11.2020 | por Jorge Victor Souza e Saulo Castilho
Foram algumas destas cópias o único rasto que ficou, por exemplo, de um rolo de fotografias que fiz no Plenário de Estudantes realizado na Cantina da Cidade Universitária de Lisboa em 20 de Novembro de 1968. Neste dia, foi convocada uma manifestação para a Reitoria da Cidade Universitária a contestar o evento. Da Reitoria os manifestantes acabariam por se dirigir à entrada da Cantina Universitária onde já estava concentrada a Polícia de Choque. O Plenário realizou-se depois no interior da Cantina.
Jogos Sem Fronteiras
09.11.2020 | por Fernando Mariano Cardeira
A afiação da luta de classes e os surtos revolucionários reais ou potenciais eram o pressuposto dos fascismos.O esmagamento do movimento operário, a supressão dos sindicatos independentes, a proibição e a aniquilação dos partidos de esquerda foram prioridades da sua acção, numa tentativa de resolver a luta de classes com proscrições e repressão. Os fascismos ofereceram ao capital o fim do "caos" de greves e revoltas, para evitar o "perigo comunista" e para o substituir por uma ordem inabalável favorável aos seus lucros. Grandes secções das grandes empresas financiaram, acompanharam e beneficiaram da ascensão do extremo direito ao poder.
A ler
06.11.2020 | por Daniel Campione
Embora não seja uma obra concebida para agradar um grande público é, no entanto, uma sucessão de oferendas, sobretudo no que se refere ao amor que tem pela família, à admiração que cultiva por alguns amigos ou sua memória, ao carinho que sente pelas terras por onde andou e que lhe deram um olhar maior sobre o mundo, suas gentes e diferenças. Trata-se de um livro de pormenores e lembranças, de luta e exposição só possíveis de transmitir de forma tão forte e incisiva pela escrita em primeira pessoa.
Mukanda
05.11.2020 | por Dina Salústio
O fato das categorias de gênero ocidentais serem apresentadas como inerentes à natureza dos corpos e operam de maneira dicotômica – binariamente opostas masculino/feminino, homem/mulher -, em que o masculino é considerado superior em relação ao feminino e, consequentemente, a categoria definidora, é particularmente exógeno a muitas culturas africanas. Quando as realidades africanas são interpretadas com base em demandas ocidentais, o que consideramos são distorções, disfarces na linguagem e, muitas vezes, uma total falta de compreensão devido à incomensurabilidade das categorias sociais e institucionais.
Corpo
05.11.2020 | por Bas ́Ilele Malomalo
Embora Portugal seja um país em negação, preferindo vangloriar-se com o seu passado de descobertas e de colonizador sem ter consciência de que isso implicou a ocupação de territórios e a dizimação de populações inteiras, o manto do racismo vai-se estendendo e tornando cada vez mais visível. Casos como o do bairro da Jamaica servem para escancarar a ferida. Como muitos países, vivemos aquilo que se chama racismo estrutural, ou seja, quando a discriminação não é algo que se circunscreve às relações interpessoais e ao preconceito mas ultrapassa a nossa vontade.
A ler
05.11.2020 | por Joana Gorjão Henriques
Nas novas peças do artista, a beleza idílica da paisagem mediterrânica contrasta com os traços arquitetónicos da Guerra Fria e com a história contemporânea dessa região entre a África e a Europa como lugar de migração e injustiça social. Something Happened on the Way to Heaven é formulada como uma observação sobre o mundo mediterrânico com duplo sentido – um idílio aparentemente paradisíaco que revela a presença do seu oposto. Com efeito, as obras de Kiluanji Kia Henda evidenciam a dialética contraditória entre um esplendor natural dotado de traços idealizados e um obscuro reverso de ameaças históricas e atuais.
Vou lá visitar
04.11.2020 | por Kiluanji Kia Henda
O argumento aqui é de ler a cerâmica como símbolo da história portuguesa que nos dá a possibilidade de tornar visível as experiências destas mulheres que chegaram às costas de África e do Brasil, e lembrar como género e sexualidade foram reconfigurados.(…)Os portugueses e os outros poderes imperialistas trouxeram com eles multidões de missionários cristãos. Esses missionários levaram a cabo campanhas que viram essas mesmas jarras de barro tiradas e destruídas porque eram consideradas um elo de ligação com os nossos ancestrais e por isso pecaminosas.Quando as mulheres que acompanharam os exploradores chegaram a África, ao Brasil e a todos os outros sítios, a sua loiça tinha sido partida pelo mar, as cerâmicas todas partidas. Em ambos os casos a cerâmica ficou destruída.
A ler
03.11.2020 | por Rita GT e George Shire
Depressa percebi o que era Abril. E hoje percebo ainda mais a sua necessidade e importância. A luta pelos direitos nunca foi nem nunca será garantida. É diária e extremamente instável. Precisa de vozes, de eco, de gritos. Precisa de inquietação. Abril foi e é também uma das razões pelas quais eu posso cá estar hoje. A ocupar este espaço que durante muito tempo não foi meu nem de nenhuma mulher. Um espaço pequenino, confinado, como uma quarentena obrigatória em que não era suposto sair à rua e muito menos reivindicar o que seria meu por direito. Em que não era suposto eu ter uma opinião e muito menos expressá-la num lugar qualquer, fosse ele político ou social, académico…
A ler
03.11.2020 | por Marta Dias
Quando falamos das políticas da memória temos de perceber que estamos sempre a falar de escolhas que, evidentemente, são ideológicas. E se formos acusados pela extrema-direita de estarmos a ensinar a História que queremos transmitir temos de ser capazes de dizer “Sim, estou a assumir que este é o facto histórico que quero relatar”. Não há História neutra. Isso não existe. Políticas da memória, como o nome indica, implica que há uma escolha, uma edição sobre o que é que quero que fique gravado, que História quero que as crianças aprendam na escola.
Cara a cara
01.11.2020 | por Mariana Carneiro
Ora, nas obras artísticas da pós-memória ocorre um fenómeno semelhante no que diz respeito à distância temporal do artista relativamente ao passado traumático objecto de uma reapropriação. Quando, na sua obra, o artista da segunda geração (que normalmente possui um vínculo familiar com a história colonial europeia) recupera um legado distante, o que está a fazer é integrá-lo na sua vivência biográfica, na sua condição presente de herdeiro de um passado colonial. Isto é, o artista (venha ele do campo da literatura, das artes, do cinema ou da música) tem o valor de aproximar-se daquele Gigante Aparente, que ao longe parece tão desmesuradamente grande, mas que de perto apresenta umas dimensões naturais.
A ler
01.11.2020 | por Felipe Cammaert
“Nunca se perguntou às mulheres como se sentem em relação ao sexo”. Na frase de abertura, um programa revolucionário. E a sua autora, falecida em Londres no passado dia 9 de Setembro, bem merece ficar para a posteridade como “a grande perguntadora”, já que o que de mais bombástico existiu no Relatório Hite não foram as conclusões alcançadas – para muitos, pouco científicas e bastante questionáveis –, mas o facto de, pela primeira vez, alguém ter resolvido interrogar as mulheres sobre o modo como viviam a sua sexualidade, coisa que, pelos vistos, nunca merecera a atenção dos homens, na academia, na política, nem mesmo na cama.
Corpo
31.10.2020 | por António Araújo
Vimos, em nossas noites confinadas, os satélites de Elon Musk substituir as estrelas, assim como a caça de Pokémon substituiu a caça de borboletas extintas.
Vimos durante a noite nosso apartamento, que nos havia sido vendido como um refúgio, se fechar sobre nós como uma armadilha.
Vimos a metrópole, uma vez desaparecida como o teatro de nossas distrações, revelar-se como um espaço panóptico de controle policial.
Vimos em toda a sua nudez a estreita rede de dependências da qual nossas vidas estão suspensas. Vimos ao que nossas vidas estão sujeitas e por que estamos sujeitados.
Temos visto, em sua suspensão, a vida social como um imenso acúmulo de limitações aberrantes.
Não vimos Cannes, Roland Garros ou o Tour de France; e isso foi bom.
Mukanda
30.10.2020 | por Julien Coupat e vários
O Portugal de hoje não é o mesmo Portugal que se apresentou como uma potência imperial nem o mesmo que atravessou boa parte do século XX enquanto metrópole colonizadora. Mas no país habita, ainda hoje, o que se poderia definir como um caldo de imperiofilia, definidor de uma parte significativa dos discursos sobre a sua identidade e a sua história. O peso de uma história colonial negada desponta no racismo manifesto na atuação das polícias, nas políticas de habitação e segregação, nas leis de nacionalidade, o discurso de crescentes setores políticos, bem como numa auto-representação do país, do seu povo e do seu passado marcada pelo lastro duradouro do lusotropicalismo.
Jogos Sem Fronteiras
30.10.2020 | por Miguel Cardina
Esta prisão chama-se ‘frigideira’. A luz e o ar entram através de três buracos feitos na pesada porta de ferro e por um pequeno rectângulo, aberto junto ao tecto. Durante o dia, o sol quente dos trópicos aquece as portas e as paredes deste pequeno túmulo. O ar aquece lá dentro. O calor torna-se insuportável. Os presos despem-se, mas o calor não deixa de os torturar. Dos seus corpos cansados cai o suor em bica. Se são muitos, condensam-se no tecto gotas de água, e quando caem, longe de serem um alívio, são uma tortura. (…) De noite, os mosquitos vêm. Da picada do mosquito surge a febre, da febre vem a morte pela biliosa e pela perniciosa. Não são raros os casos de presos levados dali em braços ou amparados.
A ler
30.10.2020 | por Mariana Carneiro
Raquel Castro conversa com Ana Bigotte Vieira sobre o espectáculo Turma de 95. Estávamos no 9º ano, o João C. e a Filipa N. estavam apaixonados, o Pedro C.C. sonhava em vir a ser jogador de futebol e o Rui A. foi à televisão imitar o Mickael Jackson. Quase todos tinham uma alcunha: a Testa Rossa, a Cavalona, o Splinter, a Beaver, o Chinês, o Dumbo. Eu, a sétima a contar da esquerda, na fila de trás, era a Olívia Palito. Em 2019 - 24 anos depois - procurei cada um dos meus colegas de turma para conversar sobre aquele tempo e sobre o rumo que a vida levou depois de tirada esta fotografia.
Palcos
27.10.2020 | por Ana Bigotte Vieira e Raquel Castro
Chegam notícias da Bolívia. Fala-se em resistência, em vitória da democracia. Na mobilização dos fodidos, os indígenas, que há séculos estão em luta e veem em Evo Morales e no partido Movimento ao Socialismo (MAS) um respiro. Fala-se em traição, em devaneios de um Evo dizem-que-ditador. Em lítio que abunda lá no alto das terras bolivianas e que os capitalistas querem abocanhar. Veias da América Latina ainda por fechar.
A ler
26.10.2020 | por Pedro Cardoso
O conjunto dos textos do Comitê Invisível torna visível linhas distintas de percepção do estado de coisas e das lutas por sua transformação: i) a análise de conjuntura; ii) a análise tática e estratégica; iii) a crítica à esquerda; iv) a análise dos modos de vida.
O vigor e a potência de seus textos não deixam de apresentar problemas diversos: a arrogância de suas críticas; a concentração em lutas de caráter metropolitano; a ausência de explicações consistentes sobre como se vai destituir tudo; o eurocentrismo de seus conceitos e métodos; a adoção de uma única perspectiva para interpretar e alimentar as lutas.
Mukanda
26.10.2020 | por immanens