Nestes últimos, o jardim surge precisamente como essa construção colonial (na qual se inclui a estufa), que não deslocou apenas pessoas humanas, mas também plantas e o jardim crioulo aparece como espaço de resistência e criação das pessoas escravizadas e subalternizadas. Porém, na obra de Mónica de Miranda em geral, a memória é um veículo agenciador das presenças e não um dispositivo ao serviço da cristalização de identidades. Um movimento perpétuo que potencializa possibilidades de reescrever histórias e pensar futuros.
Afroscreen
09.05.2025 | por Ana Cristina Pereira (AKA Kitty Furtado)
Pesquisadores (e historiadores em particular) costumam atribuir suas descobertas ao sucesso de uma busca obsessiva pelo fato, atribuem achados ao ato de procurar incessantemente a determinação mais precisa do passado. Esquecem-se assim do caráter fragmentário de todo arquivo e de como cada um dos documentos que o compõe podem nos trazer “vestígios do passado [que] visam o presente e nos dizem alguma coisa. É graças às suas lacunas que os arquivos ainda nos olham” (Ibidem). As “descobertas” historiográficas são, portanto, a correspondência entre o olhar do historiador e o passado que ressurge como um relâmpago tensionado para o futuro.
Vou lá visitar
16.03.2025 | por Luciana Martinez
Que seja então levada a sério – com o mesmo espírito crítico e exigente com que foi realizada – a obra multifacetada de Ruy Duarte de Carvalho, assim como a das gerações artísticas que lhe sucederam, em Angola e na diáspora, e que, sem terem necessariamente pensado muito no que ele fazia, comungam, “por caminhos tão diversos mas também tão convergentes”, duma mesma prática e duma mesma busca.
Ruy Duarte de Carvalho
20.04.2020 | por Ana Balona de Oliveira
O hotel traz consigo a simbologia da viagem, dos trânsitos diaspóricos, é um dos elementos arquitectónicos recorrentes nas explorações da artista. Em Hotel Globo (2015), obra que tem como ponto de partida o hotel construído na década de 50 na Baixa de Luanda, o edifício adquire um estatuto de quase resistência às mudanças aceleradas em seu redor; Panorama materializa a decadência, é um navio naufragado, resignado à própria sorte.
Cidade
29.11.2018 | por Paula Nascimento
Poderíamos pensar numa espécie de teatro decolonial com sua dramaturgia própria, personagens, atores sociais, narrativas, em que se explicita as dinâmicas que animaram e ainda animam as relações que se perpetuam na contemporaneidade com referencias ao passado e construção do presente, da filosofia da estética em relação com a cidade, e que questiona quem somos nós nesta peça?
Vou lá visitar
27.09.2018 | por Cristiana Tejo
O potencial das obras apresentadas em 'Arquipélago' consiste em entender a paisagem tropical como algo construível; não como um reflexo de imaginários políticos determinados, mas como espaço da potencialidade de ação, da prática de 'environmental citizenship'. Essas “paisagens” evocam a participação e a vontade, a capacidade transformativa do humano e “das coisas”, no caráter processual, matizado e azarento que subjaz às grandes configurações de sentido.
Vou lá visitar
18.12.2014 | por Carlos Garrido Castellano
Viagens no imaginário de Monica de Miranda torna-se uma metáfora para o que Walter Mignolo chama de "ferida colonial": como uma maneira de explorar seus múltiplos movimentos e da sua família entre lugares ligados por uma matriz colonial comum, onde ela constrói o seu próprio mapa emocional em uma variedade dos mediums. Pode-se argumentar que os lugares escolhidos para o seu trânsito sugerem uma reflexão sobre a descolonização que nos termos dos zapatistas nos levaria a um mundo que se encaixa em muitos mundos: uma proposta pluriversal- em oposição ao universal - à leitura da realidade.
Vou lá visitar
27.11.2012 | por Gabriela Salgado
O que Mónica de Miranda se propõe é “criar espaço para que os fluxos migratórios e transnacionais sejam vistos como uma realidade diversificada e multi-facetada, como uma plataforma criativa de oportunidades e um lugar de trânsitos para mudanças pessoais, culturais e sociais.” No centro da sua estratégia está o princípio da interculturalidade, que deveria implicar uma promoção sistemática e gradual de espaços e processos de interacção positiva, possibilitadora de uma generalização de relações de confiança, de reconhecimento mútuo, de debate, de aprendizagem e de troca.
Cara a cara
16.05.2010 | por José António Fernandes Dias