Porque são eles invisíveis?, perguntaria a criança a seguir. Porque sempre existiram mas ninguém deu conta deles, não vestem adequado, não cheiram aos aromas de Paris, nem à moda milanesa, antes à contrafação chinesa ou nigeriana; sempre andaram aos gritos que só os arrepiava a si mesmos, porque quem os devia escutar cercou-se de vozes semelhantes, de igual poder e cheiros, cantando todos em uníssono as canções de embalar os saciados. O que ficou para estes, resquícios de uma solidão e angústia só sufocada nas promessas e nos sonhos vistos em ecrãs de smartphones de segunda mão, tal como as roupas, vindas de contentores para o descarte. Os pensamentos da mãe podiam continuar a escalar, não fosse a criança ir-se tornando incómoda, impaciente, um tormento para quem também tem os seus porquês da vida. Está na hora de responder à criança que não se cala, em coro com os inaudíveis.
Vou lá visitar
27.12.2024 | por Eduardo Quive
Estas tensões entre formas de vida e saberes diferentes foram também teorizadas pelo historiador francês Michel de Certeau, que considerou que os diversos campos de construção do conhecimento tendem a entrar em conflito não pela validade das suas ideias, mas pela necessidade de as verem priorizadas nos processos de transformação do quotidiano.
Vou lá visitar
18.12.2024 | por Jessemusse Cacinda
É quase madrugada e Raquelina não chega, a preocupação no coração de sua mãe é ainda maior. Nas primeiras horas do dia, a senhora fez-se à rua e, no seu muro, uma imagem do filho Paito colada à de Raquelina com uma cruz desenhada na testa de ambos. Gritou e os vizinhos saíram para assistir. Todos os traumas voltaram. Pobre mãe, decidiu arrumar suas coisas e regressar a casa que lhe viu nascer, onde durante anos fugiu da guerra civil.
Mukanda
29.11.2024 | por Edna Matavel
São estas balas cravadas no meu peito que levantam choros e dor. Desperta para a vida, desperta tu que ainda dormes, porque o momento de ressuscitar os Mondlane, Machel, Azagaia e tantos outros que aqui, nessa eterna espera, se encontram, chegou. 25 balas por Moçambique, carreguei esta dor, mas com satisfação de saber que a luta continua.
Vou lá visitar
28.11.2024 | por Edna Matavel
Como cresci no Rio de Janeiro, numa cidade que tem muito presente a cultura do samba, eu dava de barato essas coisas. Aqui eu comecei a valorizar muito mais e a identificar o que de tão especial existe nessa parte da cultura brasileira. Ter um grupo de samba no Brasil seria apenas mais um grupo, mas aqui em Portugal já torna a coisa muito mais única, porque não há tantos assim. Torna-se num trabalho de apresentação de uma coisa nova, diferente para as pessoas. Isso sempre me estimulou muito.
Cara a cara
13.03.2021 | por Filipa Teixeira