O Doc’s Kingdom, Seminário Internacional de Cinema Documental. celebra 25 anos

Inscrições abertas. De 14 a 19 de novembro, o Doc’s Kingdom regressa a Odemira com um programa dedicado às práticas cinematográficas colectivas. Em 2025, celebram-se 25 anos do Doc’s Kingdom – Seminário Internacional de Cinema Documental, cuja primeira edição remonta ao ano 2000, em Serpa. Para esta edição especial, o Seminário regressa a Odemira pelo terceiro ano consecutivo, com uma semana densa e imersiva de filmes, debates e outras actividades. A cada ano, o seminário é um ponto de encontro internacional para profissionais e amadores de cinema documental, reunindo cerca de 120 participantes de várias nacionalidades. A experiência prolonga-se além da sala de cinema, envolvendo passeios, refeições colectivas e encontros com o território e as comunidades locais. Este ano, destaca-se a presença de representantes de colectivos cinematográficos históricos e contemporâneos de diversas geografias, incluindo Índia, Japão, Brasil, Portugal e Bolívia. 

Com o título “A collective / inarticulate memory” (a partir de um verso do poeta Sean Bonney), o programa pretende contribuir para uma reflexão sobre as possibilidades do cinema colectivista no presente. Pensado pela dupla Raquel Schefer e Rita Morais, selecionadas através de uma convocatória pública internacional, o foco desta edição examina continuidades e rupturas que interligam momentos-chave do cinema colectivo, analisando a complexidade das relações sociais horizontais, sem fugir às contradições frequentemente inerentes a modos colectivos de organização. O programa dialoga também com a história política do Alentejo – onde o Seminário foi criado e onde se realiza novamente desde 2023 (após ter passado também pelos Açores e pelo Minho) – particularmente com o processo de colectivização da terra e do trabalho que marcou profundamente a região durante a Reforma Agrária. Entre os colectivos que compõem o programa, conta-se o incontornável Grupo Zero, cooperativa cinematográfica activa em Portugal após a Revolução de 1974. O projecto Video Tracts for Palestine reúne e divulga, desde 2023, uma série de ciné-tracts anónimos contra o genocídio em curso na Palestina. CAMP, estúdio colaborativo fundado em 2007 em Bombaim, trabalha com cinema, arquivos e tecnologia desenvolvendo uma crítica situada das formas documentais. A filmografia do colectivo Ogawa Productions, marco incontornável do cinema político no Japão e no mundo, será apresentada com a participação do programador Ricardo Matos Cabo. Sueli e Isael Maxakali e seus colaboradores, cineastas Tikmũ’ũn (Maxakali), povo originário do Brasil, filmam em processos partilhados com as suas comunidades, afirmando que “sem terra não há cinema”. Mujeres Creando, colectivo anarca-feminista boliviano, propõe a criatividade como prática radical de intervenção social, com a participação online de María Galindo. Além dos nomes anunciados, o programa só é revelado no início de cada sessão. 

Este convite para revisitar e analisar práticas de cinema colectivo históricas e contemporâneas surge num momento em que a urgência política e social exige repensar modos de criação e de vida em comum. “Face ao genocídio em curso na Palestina, à ascensão do fascismo e do racismo em Portugal e no mundo […], assim como ao esvaziamento de certos conceitos do seu significado político, este programa aponta para a colectividade não como uma ideia abstracta, mas antes como uma forma de pensar, estar e agir em conjunto”, pode ler-se na apresentação do programa.

As inscrições estão abertas (através do website: docskingdom.org) e são limitadas. A inscrição cobre a participação em todas as actividades e as refeições. Além da participação integral para as pessoas inscritas, o seminário oferece uma série de sessões abertas ao público, no Cineteatro Camacho Costa, e outras actividades a anunciar em breve. 

Esta é a primeira edição do seminário sob a co-direção de Catarina Boieiro e Stefanie Baumann, que assumiram funções no início de 2025. Organizado pela Apordoc – Associação pelo Documentário, com financiamento do ICA – Instituto do Cinema e do Audiovisual / Ministério da Cultura e com o apoio do Município de Odemira, entre outros apoios e parceiros locais, o Doc’s Kingdom afirma-se como um espaço singular dedicado ao debate horizontal e ao pensamento crítico em torno da criação documental contemporânea. 

25.09.2025 | por martalanca | Doc’s Kingdom