Francisco Castro Rodrigues, o arquitecto do Lobito

Francisco Castro Rodrigues foi premiado pelo júri do Prémio AICA/Ministério da Cultura (Arquitectura) pelo seu trabalho de grande relevância cultural, a maior parte do qual se localiza no Lobito. Lembramos, a propósito deste prémio, a importância do seu percurso pessoal e profissional em Angola de 1953 a 1988 e a sua atitude sempre corajosa, firme e coerente, na época colonial e no pós-independência.

Castro Rodrigues, fotografia Cristina SalvadorCastro Rodrigues, fotografia Cristina Salvador

Da visão da cidade oposta à divisão espacial / racial prevista pelo estado colonial e do princípio que guiou a sua vida e a sua obra nas duas épocas, “temos uma realidade objectiva local que temos que melhorar e daí é que vamos partir para o futuro” resultou uma obra ímpar na cidade  do Lobito, que se reflecte ainda hoje na organização da cidade e num conjunto notável de edifícios. Destacamos: O Plano Director do Lobito aprovado em 1975 pelo Governo da República de Angola, o bairro municipal do Alto do Liro 7.500 fogos (1970-1973), a Catedral, o Liceu e os Paços de Concelho do Sumbe (1972-1973), o Liceu, o Mercado e a Aerogare do Lobito (1963-1964), o Cine-Esplanada Flamingo no Lobito (1963) e o Bloco de habitação Prédio do Sol (1952).

Cine-esplanada Flamingo, Lobito, obra de Castro Rodrigues, fotografia Cristina SalvadorCine-esplanada Flamingo, Lobito, obra de Castro Rodrigues, fotografia Cristina SalvadorCine-esplanada Flamingo, Lobito, obra de Castro Rodrigues, fotografia Cristina SalvadorCine-esplanada Flamingo, Lobito, obra de Castro Rodrigues, fotografia Cristina Salvador

No final dos anos 70 integrou a Direcção Nacional de Edificações de Angola e, mais tarde, até 1984, o Gabinete Regional de Urbanização de Benguela, com uma curta passagem pelo 3º GRU com sede no Huambo. Sobre esta passagem conta como teve que lidar e como compreendeu a hostilidade do comissário local, a braços com multidões que, apesar da guerra em Angola, chegavam da fronteira

- São milhares com tendas e você vem agora aqui com papeis? Preciso é de comida para esta gente!

Desta época, a pedido de Agostinho Neto, desenvolveu um trabalho intitulado “A propósito das aldeias, comunais ou não” que é um tema recorrente sobre o qual trabalha e que conclui com o exemplo dos processos experimentados no Alto do Liro.

Liceu do Lobito, obra de Castro Rodrigues, fotografia Cristina SalvadorLiceu do Lobito, obra de Castro Rodrigues, fotografia Cristina SalvadorJardim infantil João de Deus, Lobito, obra de Castro Rodrigues, fotografia Cristina SalvadorJardim infantil João de Deus, Lobito, obra de Castro Rodrigues, fotografia Cristina Salvador

“Aldeias Comunais. O cúmulo das nossas contradições: vamos buscar ao campo a água e a energia para as nossas casas da cidade, lá longe nas Malubas, enquanto na mesma cidade não se tomam decisões de levar a água e a energia às casas dos camponeses que lá vivem. Aqui não deverá entrar-se em jogo com o gosto ou as certezas das nossas aprendizagens europeias ou americanas, a maior parte das quais inclui complexos socioeconómicos improcedentes”.

Vale a pena também lembrar alguns aspectos da sua actividade cívica, por exemplo a sua actividade como professor de literatura angolana em 1976, onde se inclui o seu trabalho sobre fonética Umbundo. Ou ainda os textos que foi produzindo para o jornal cultural Kilamba e o jornal local “O Lobito”.  

Por causa da cor da pele recusa-se trabalho a um homem, habitação digna, trava-se a sua educação e instrução. Por causa da cor da pele lançam-se em prisões por toda a vida dirigentes políticos que reclamam os mesmos direitos políticos para todos os homens, atiram-se pessoas para guetos, afastam-se da convivência humana. Por causa da cor da pele matam-se outros homens, sem escrúpulos, sem vergonha…” O Lobito 8.12.1976.

Lembramos também como exemplo o seu trabalho na organização do 1º Festival Nacional do Filme, que ocorreu simultaneamente em Benguela, Lobito e Catumbela em Junho de 77, com a estreia do filme “Faz Lá Coragem Camarada” de Ruy Duarte de Carvalho.

Casa Sol, Lobito, obra de Castro Rodrigues, fotografia Cristina SalvadorCasa Sol, Lobito, obra de Castro Rodrigues, fotografia Cristina Salvador

Em 1982 concluiu o estudo “História do Lobito e da Catumbela” e, no final da sua estadia em Angola, entregou a António Jacinto e a Lúcio Lara, uma análise da situação urbana a que chamou o seu “testamento técnico”.

Francisco Castro Rodrigues fixou-se em Portugal em 1987 tendo voltado a Angola em 1993, para a Assembleia Popular Provincial de Benguela lhe entregar um Diploma de Mérito, pelo seu contributo no engrandecimento da cidade do Lobito. 

Ler notícia no site da Ordem dos Arquitectos

por Cristina Salvador
Cidade | 24 Março 2011 | angola, arquitectura modernista, Lobito, urbanismo