Cidade e Feminismos | Políticas e poéticas do espaço urbano

Projecto independente | Trienal de Arquitectura de Lisboa 2022

8 e 9 de Outubro de 2022

Palácio Sinel de Cordes

©Catarina Botelho©Catarina Botelho

Partindo de perspectivas feministas interseccionais do espaço urbano e da arquitectura, Cidade e feminismos pretende criar um espaço de partilha de diferentes investigações, práticas e vivências da cidade que contribuam para enriquecer o debate sobre o espaço urbano em Portugal. Fundadas no cuidado, no reconhecimento das diferentes necessidades e vivências dos corpos e na participação colectiva, estas formas de conceber a arquitectura e criar cidade são fundamentais para repensarmos os problemas e fracassos do modo como se tem pensado e construído o espaço urbano. Particularmente num momento em que o contexto pandémico que atravessamos expôs e intensificou as fragilidades e contradições urbanas, e em que, ao mesmo tempo, assistimos a uma crescente gentrificação e neoliberalização do espaço público das cidades em Portugal.

Cidade e feminismos assenta numa diversidade de actividades, incluindo duas conferências de arquitectas, alinhadas com diferentes genealogias da arquitectura feminista, que nas últimas décadas deram contributos essenciais para recentrar a discussão e o desenho da arquitectura, do espaço urbano e da cidade: Zaida Muxi, arquitecta e urbanista que foi Directora de Urbanismo, Habitação, Espaço Público, Ecologia e Ambiente em Santa Coloma de Gramenet (2015-2019) e é autora do livro Mujeres, Casas y Ciudades: Más allá del umbral (2018), que tece uma história da arquitectura e do urbanismo a partir das contribuições transformadoras feitas nessas áreas por mulheres; e Doina Petrescu, cuja investigação se debruça sobre políticas do espaço, comuns urbanos e feminismos, e foi fundadora, com Constatin Petcou, do Atelier d’Architecture Autogerée, que desenvolve acções e investigação sobre urbanismo e arquitectura participativa. A conferência de Zaida Muxi é moderada por Maribel Sobreira, co-fundadora do ColectivoFACA, doutoranda em Filosofia na Faculdade de Letras Universidade de Lisboa e a conferência de Doina Petrescu, moderada por Liliana Coutinho, curadora e investigadora, actualmente programadora de Debates e Conferências da Culturgest. As jornadas integram uma oficina orientada por Sara Ortiz do Col-lectiu Punt 6, de Barcelona, colectivo feminista que desenvolve uma prática de desenho urbano e também pedagógica e de formação desde há 14 anos. Neste ciclo terão lugar duas mesas redondas: a primeira com coletivos feministas que têm diferentes práticas sejam elas ligadas à reflexão, investigação, vivência ou desenho do espaço urbano: Col·lectiu Punt 6; MAAD, colectivo de mulheres imigrantes, artistas, arquitetas e designers, que tem como foco o combate às dinâmicas patriarcais de opressão presentes na cultura urbana que se manifestam no espaço público; e Inmune - Instituto da Mulher Negra em Portugal, entidade feminista e anti-racista que combate a invisibilização e o silenciamento das mulheres negras, africanas e afrodescendentes. A segunda mesa redonda é dedicada à problematização do género e da racialização no espaço público, com Maria Gil, actriz e activista cigana, Gaya de Medeiros, bailarina, diretora e produtora, e Paula Cardoso, fundadora da rede digital “Afrolink”; esta mesa é moderada por Luísa Semedo, professora de filosofia e colunista do jornal Público. Destas jornadas fazem parte dois jantares colectivos elaborados pelo colectivo AFAVA, enfatizando a valorização da comida e do momento da refeição como espaço privilegiado para o encontro e a partilha.

As teorias e práticas feministas da arquitectura e do urbanismo vêem nas pessoas, com as suas diferenças, necessidades e desejos, o núcleo a partir do qual pensar a organização e o desenho do espaço e da cidade. Estas teses implicam uma alteração dos campos da arquitectura e do urbanismo, que passam a incluir a participação como instrumento essencial e a assumir a condição processual e aberta como fundamentais para a construção de cidades expressivas da diferença dos corpos e da sociedade. Afastando-se de um modelo desenvolvimentista e produtivista, assente na individualização dos corpos e na estimulação do consumo, estas cidades serão comunitárias, a um tempo fomentadoras de uma partilha de espaços e recursos, portanto de uma maior justiça espacial e social e, em simultâneo, criando as condições para a redução do consumo e consequente estabelecimento de um maior equilíbrio ecológico.

Programa

Sábado - 8 de Outubro

10h30 - 13h30 | Oficina com Col-lectiu Punt 6

Everyday life walks: Tools to apply Feminist Urban Planning

15h00 | Mesa Redonda Práticas Feministas Urbanas

com Col·lectiu Punt 6 (Sara Ortiz), Colectivo MAAD (Alicia Medeiros), INMUNE (Alexa Santos).

Moderação Catarina Botelho e Joana Braga

17h30 | Conferência Cities: bodies and claims de Zaida Muxi

Moderação Maribel Sobreira

20h00 | Jantar Coletivo com AFAVA

Domingo - 9 de Outubro

15h00 Mesa Redonda Género, Racialização e Espaço Público

com Gaya de Medeiros, Maria Gil e Paula Cardoso

Moderação Luísa Semedo

17h30 Conferência Working with Women on Reinventing the Urban Commons in Suburban Neighbourhoods de Doina Petrescu

Moderação Liliana Coutinho

20h00 Jantar Coletivo com AFAVA

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Ficha Técnica

Direção Artística

Catarina Botelho e Joana Braga

Direção de Produção

Gabriella Sá e Sofia Costa Pinto

Participantes

Alicia Medeiros (Coletivo MAAD), Alexa Santos (INMUNE), Catarina Botelho, Doina Petrescu, Gaya de Medeiros, Joana Braga, Liliana Coutinho, Luisa Semedo, Maria Gil, Maribel Sobreira, Paula Cardoso, Sara Ortiz Escalante (Col·lectiu Punt 6) e Zaida Muxi

Jantares

AFAVA, Bruno Caracol e Inês Carvalhal

Documentação

Francisca Veiga

Design

Vivóeusébio

Organização

Associação Descampado Ocupado

Apoio Comunicação

Antena 2

Baldio

Buala

Gerador

Trienal de Arquitectura de Lisboa

por Catarina Botelho e Joana Braga
Cidade | 31 Agosto 2022 | cidade, colectivo, Corpos, espaço urbano, feminismos, gentrificação, neoliberalização, pandemia, políticas, Portugal