O Hábito Faz o Colonizador: Narrativas e Artivismos no Pós-Colonial

18 e 19 de julho de 2024, Departamento de Línguas e Culturas, Universidade de 

Aveiro Site 

Sobre o congresso:

“O hábito não faz o monge”. A antiga expressão popular dizia que as pessoas não deviam ser julgadas somente pela sua aparência, mas também pelos seus atos e condutas. Tempos depois adquiriu uma conotação contrária. Hoje, afinal, também se pode dizer: “o hábito faz o monge”. Como escreveu José de Alencar, em 1854, no folhetim Ao correr da pena: “Hoje, apesar do rifão antigo, todo o mundo entende que o hábito faz o monge. Vista alguém uma calça velha e uma casaca de cotovelos roídos. Embora seja o homem mais relacionado do Rio, passará incógnito e invisível”. Isto é, mais do que uma veste medieval ou terno puído, ontem como hoje, o hábito diz respeito a uma série de costumes, regras, modos e dogmas frequentes e – muitas vezes – permanentes, que induzem maneiras usuais de agir, fazer, sentir e até mesmo de ser. Como postulou Pierre Bordieu, o habitus constitui-se como duro capital simbólico incorporado no modo de agir das pessoas através dos rituais de socialização institucional. Não há, pois, colonialismo nem pós colonialismo fora deste contexto. Escola, estado, trabalho, espaço público têm, assim, a “função de produzir indivíduos dotados de um sistema de esquemas inconscientes, o qual constitui a sua cultura”, as suas crenças arreigadas (Bourdieu, 1974, p. 346). Nesse sentido, o hábito faz o monge. Portanto, o hábito molda o colonizador e enforma também o preconceito.

Neste âmbito, tomamos emprestado esse significativo ditado para pensar criticamente e debater as Narrativas (literárias, performativas e outras) e Arte Ativistas, nos seus múltiplos formatos e suportes – plástico, visual, musical, escrito, videográfico, digital, podcasts e soundscapes diversos (Blaagard et al., 2023), mas incluindo também o próprio corpo, considerado como tela e espaço de criação (Martins & Campos, 2023) – articuladas em torno de conceitos como o Pós-Colonial (Castellano, 2021, pp. 262-264),  o Anti-Colonialismo, a Colonialidade do poder (Grosfoguel, 2008), do saber (Lander et al., 2005) e do ser (Maldonado-Torres, 2007), o Contra-Discurso, a Descolonização, a Decolonialidade (Ashcroft et al., 2000), as Transperiferias Colaborativas (Windle et al, 2020); e linhas de pensamento como a Filosofia da Libertação de Dussel (2016), a Teoria da Dependência de Quijano (2005) e a Categoria Político-Cultural de Amefricanidade de Gonzalez (1988), etc.

Para tal, o evento, propositadamente de banda larga, destina-se a expressões académicas e filosóficas que se alimentem da postura crítica discutida pelas teorias e práticas pós-coloniais organizadas nos temas listados abaixo e outros que se enquadrem nesse âmbito:

– Artivismo pós-colonial transdisciplinar, inter e multiartes;

– Planeamento do território e práticas de resistência à segregação étnica, religiosa, cultura;

– Discursos e intervenções no tema reparações históricas;

– Narrativas nos media e confrontação política;

– A abordagem histórica no aparelho educativo da antiga metrópole e ex-colónias;

– A velha máxima do Luso-tropicalismo e suas ramificações;

– Artistas no exílio e perspectivas (anti-)coloniais, pós ou decoloniais;

Habitus colonial e discursos ideológicos;

– O papel da ficção especulativa em narrativas pós-coloniais;

– Colonialidade do saber, epistemologias subalternas e a legitimidade do conhecimento;

– Colonialidade do poder contra as lutas identitárias de género, raça e classe;

– Colonialidade do ser e a influência das Narrativas em processos de subjetivação.

– Associações artivistas, comunas de artistas, cooperativas e movimentos artísticos unidos em torno de objetivos sociopolíticos;

– O corpo enquanto problemática e ferramenta artivista nos seus diversos usos;

– Estética artística e campo político: intersecções, porosidades, oposições;

– Artivismo vitalista: o corpo e a vida de ativistas enquanto obra de arte, narrativa e ficção vital;

 

Chamada de trabalhos:

 

O congresso irá recorrer ao uso da língua portuguesa como meio de comunicação entre todos os participantes. Ademais se alerta que não serão consideradas comunicações via zoom e também se encontram fora dos parâmetros seletivos o envio de gravações. Em linha com os objetivos deste congresso, pretende-se dar primazia às interações pessoais e, em conformidade, todas as comunicações serão presenciais. 

As propostas devem ter entre 200 e 300 palavras, incluindo palavras-chave. Devem ser enviadas até ao dia 31 de janeiro de 2024, acompanhadas de uma breve nota biográfica (máximo de 100 palavras). O título do ficheiro com o resumo deve obedecer ao seguinte formato: “nomeResumo”. Exemplo: “AndréMirandaSantosResumo”

As comunicações ao congresso terão entre 15 a 20 minutos. Todas as propostas serão analisadas atempadamente e os autores notificados em tempo útil, tão breve quanto possível. As mesmas deverão ser enviadas para o seguinte endereço eletrónico: habitocolonizador@gmail.com

Todas as informações disponíveis em: 

https://ohabitofazocolonizador.wordpress.com/

 

Referências

 

Ashcroft, B., Griffiths, G., & Tiffin, H. (2000). Post-Colonial Studies: The Key Concepts (2a). London: Routledge.

Blaagaard, B., Marchetti, S., Ponzanesi, S., & Bassi, S. (Eds.) (2023). Postcolonial Publics: Art and Citizen Media in Europe. (1 ed.) Edizioni Ca’Foscari, Venice University Press. Studi e ricerche Vol. 30 https://doi.org/10.30687/978-88-6969-677-0

Bordieu, P. (1974). A Economia das Trocas Simbólicas (Introdução, organização e seleção de 

Sérgio Miceli). São Paulo: Perspectiva.  Miceli, S., Barros, M., Catani, A., Catani, D., Montero, P., Durand, J. (trads.)

Castellano, C. (2021). Art activism for an Anticolonial Future. Albany: SUNY Press

Dussel, E. (2016). Transmodernidade e interculturalidade: Interpretação a partir da filosofia da libertação. Sociedade e Estado, 31(1), 51–73. https://doi.org/10.1590/S0102-69922016000100004

Gonzalez, L. (1988). A categoria político-cultural de amefricanidade. Tempo Brasileiro, 92, 69–82.

Grosfoguel, R. (2008). Para descolonizar os estudos de economia política e os estudos pós-coloniais: Transmodernidade, pensamento de fronteira e colonialidade global. Revista Crítica de Ciências Sociais, 80, 115–147. https://doi.org/10.4000/rccs.697

Lander, E., Dussel, E., Mignolo, W. D., Coronil, F., Escobar, A., Castro-Gómez, S., Moreno, A., Segrega, F. L., & Quijano, A. (2005). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino- americanas (E. Lander (ed.); J. C. C. B. Silva (trad.)). CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales. http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ www.clacso.org

Maldonado-Torres, N. (2007). Sobre la colonialidad del ser: contribuciones al desarrollo de un concepto. Em S. Castro-Gómez & R. Grosfoguel (Eds.), El giro decolonial: reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global (pp. 127–167). Siglo del Hombre Editores.

Martins, J. C. F., & Campos, R. M. de O. (2023). The body as theme and tool of artivism in young people. European Journal of Cultural Studies, 0(0). https://doi.org/10.1177/13675494231163647

Quijano, A. (2005). Colonialidade do Poder, Eurocentrismo e América Latina. Em E. Lander (Ed.), & J. C. C. B. Silva (Trad.), A colonialidade do saber. Eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas (pp. 227–278). CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales. http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/clacso/sur-sur/20100624103322/12_...

Windle, J., Souza, A. L. S., Silva, D. N., Zaidan, J. M., Maia, J. O., Muniz, K., Lorenso, S. (2020). Por um paradigma transperiférico: uma agenda para pesquisas socialmente engajadas. Debate: Trabalhos em Linguística Aplicada, 59 (2). https://doi.org/10.1590/01031813749651220200706

28.11.2023 | par martalanca | Artivismo, Narrativas, pós-colonial

Conferência de Miguel Carmo: Um percurso entre a história do solo e a história agrícola

Expansão agrícola, degradação do solo e fertilização em Portugal, 1873-1960

UM PERCURSO ENTRE A HISTÓRIA DO SOLO E A HISTÓRIA AGRÍCOLA 

Nesta conferência irá discutir-se o que aconteceu à fertilidade dos solos agrícolas durante a Campanha do Trigo, iniciada em 1929. É comummente aceite que a expansão excessiva das culturas de trigo durante o Estado Novo resultou na degradação dos solos na metade sul de Portugal. A década de 1950 parece representar, a partir dos discursos da agronomia portuguesa, um período de intensificação de fenómenos de esgotamento e de erosão do solo disseminados por todo o país e com dimensões calamitosas a sul. Submetemos este panorama a uma revisão crítica que nos obrigou a recuar ao final do século XIX em busca de um sentido histórico para a transformação – indissociável – dos sistemas de cultivo, das práticas de fertilização, das ciências agronómicas e do próprio solo. Por que modos a expansão agrícola, ininterrupta entre 1870 e 1960, interagiu com a evolução das condições de fertilidade do solo?

Miguel Carmo

(Tavira, 1980) licenciou-se em engenharia do ambiente no Instituto Superior Técnico em Lisboa e finalizou, em 2018, o doutoramento em engenharia agronómica no Instituto Superior de Agronomia, a partir do qual desviou o percurso académico para a história da agricultura e para a história ambiental. Atualmente é investigador integrado no Instituto de História Contemporânea, na Universidade Nova de Lisboa, onde coordena o projeto Paisagens de fogo: Uma história política e ambiental dos grandes incêndios em Portugal (1950-2020), financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

26.11.2023 | par martalanca | Agricultura, Alentejo, Beja, Campanha de Trigo, Miguel Carmo

Lançamento de "Angola Degredo Salvação" de Nuno Milagre

Após a independência do Brasil, Angola ocupou a posição de colónia principal, pivô do sistema colonial português. Perante a falta de autonomia financeira de Portugal no final do século XIX, a imaginação metropolitana previu com nitidez que Angola se encarregaria de gerar os recursos para a salvação das finanças portuguesas. Angola Degredo Salvação investiga e discute a atividade portuguesa por volta de 1900, no seu empreendimento transcontinental de converter recursos de Angola em ganhos materiais para Portugal. Identificam-se representações de Angola que provocavam repulsa ou atração pela colónia, condicionando a agenda, a presença e a intervenção portuguesa. Confronta-se a continuidade do envio de degredados para a colónia com a expectativa de que essa mesma colónia viesse a gerar riqueza para a salvação de Portugal. Analisa-se a discussão sobre a concessão do Caminho de Ferro de Benguela a um britânico, e os riscos e benefícios de financiar o progresso angolano com capital estrangeiro. A averiguação das formas de uso de Angola para benefício da metrópole põe em causa a validade do lema que preconizava o «desenvolvimento material das colónias» como orientação principal da política colonial portuguesa.

24.11.2023 | par martalanca | angola, Angola Degredo Salvação, colonialismo, degredo, Nuno Milagre

InShadow no Teatro do Bairro

O InShadow – Lisbon Screendance Festival está na sua 15a edição e até 15 dezembro está em diversos espaços da cidade de Lisboa. O Festival, uma iniciativa da Vo’Arte e uma referência no território da criação contemporânea transdisciplinar, destacando a convergência entre a imagem e o corpo e processos de criação artística fundados na tecnologia.Como ponto fundamental do Festival, a Competição Internacional de Vídeo-Dança vai decorrer entre o dia 28 novembro e 1 dezembro, no Teatro do Bairro, com um total de 60 filmes, prevenientes de 22 países, apresentados ao longo de 6 sessões. A Competição Internacional de Documentário vai decorrer no Teatro do Bairro, nos dias 29 e 30 novembro, às 17h e na ETIC, com 12 filmes de 12 países diferentes, nos dias 27 e 29 novembro.Esta edição, o InShadow conta com a Artista Convidada da Polónia, Iwona Pasinska, Coreógrafa e Directora do Polish Dance Theatre, que vem a Lisboa apresentar uma Restrospectiva do seu trabalho, no dia 28 novembro, às 14h30 na ETIC, abrindo a sessão com uma Estreia Mundial da realizadora com o filme “Histariae Vivae”.Para além da exibição, o Festival tem ainda exposições de fotografia a decorrer na NOTE – Galeria de Arquitectura, no Espaço Cultural das Mercês e no Espaço Santa Catarina e nos espaços da FBAUL. A 3 dezembro, a Companhia Inestética faz acontecer no Espaço Safra, a performance “She’s Lost Control”, e que tem como elemento central uma vídeo-instalação de Alexandre Lyra Leite.O Festival passa também pela Cinemateca Portuguesa, com Sessões Especiais de filmes (en)cantados pela dança, com a exibição dos filmes clássicos do cinema “Top Hat”, “The Red Shoes”, “Les demoiselles de Rochefort” e “Stormy Weather”, de 9 a 16 dezembro.InShadow destaca-se internacionalmente nas áreas do vídeo-dança e da performance, assumindo um cruzamento artístico entre o corpo e a imagem, sendo um dos festivais selecionados para representar Portugal no Festival MOV’IN Cannes.InShadow, o corpo imagina-se na sombra.Toda a programação disponível no site do InShadow.

InShadow - Lisbon ScreenDance Festival é uma iniciativa inovadora da Vo’Arte e uma referência no território da criação contemporânea transdisciplinar, destacando a convergência entre a imagem e o corpo e processos de criação artística fundados na tecnologia.

InShadow explora atmosferas interdisciplinares pela reflexão sobre soluções estéticas e técnicas de representação do corpo no ecrã, no palco e noutros espaços de actuação. Géneros e linguagens cruzam-se em vídeos, espectáculos e performances, instalações e exposições.

A programação integra uma competição de vídeo-dança, de documentário e de animação, performances, uma secção destinada ao público infanto-juvenil, LittleShadow, uma forte componente de formação com workshops e masterclasses destinados aos vários públicos, bem como instalações e exposições que expandem o Festival pela cidade. 

InShadow promove a criação contemporânea e imprime novos cruzamentos e olhares na cidade de Lisboa em diálogo com o Mundo. Reflecte sobre a vitalidade de um diálogo aberto pelo encontro da experiência de artistas consagrados com as visões de criadores emergentes.

InShadow, o corpo imagina-se na sombra.

23.11.2023 | par martalanca | corpo, dança, InShadow, video

Marcelo Evelin/Demolition Incorporada: Uirapuru

TEATRO SÃO LUIZ - SALA LUÍS MIGUEL CINTRA

Como imaginar os sons e as danças dos seres míticos que habitam as florestas brasileiras?

Uirapuru é uma peça inspirada nas entidades que habitam as florestas do Brasil e no imaginário mítico das matas brasileiras. A floresta como cosmologia particular – selvagem e encantada –, e como regresso a um interior profundo e desconhecido. O Uirapuru é um pássaro brasileiro, considerado o cantor da floresta. Uirapuru significa “homem transformado em pássaro” ou “ave enfeitada” em Tupi-Guarani, a língua dos povos originários do Brasil. Tem sua existência envolta em uma lenda indígena, a estória do encantamento de um dos amantes de um amor impossível em uma ave rara, cujo canto fizesse os ouvintes delirar. Um pássaro mítico, quase nunca visto, de canto belo, conhecido por trazer boa sorte a quem o escuta, símbolo de um Brasil que apesar de destroçado ainda canta.

Marcelo Evelin

Uirapuru é sobre pensar o canto como território, como possibilidade de reinvenção e resiliência. Um convite para nos concentrarmos, para nos prepararmos para escutar o mundo, algo para o qual tendemos a ter cada vez menos tempo.

Conversas Pós-Espetáculo

Dia 25 de novembro o espetáculo é seguido de uma conversa com Marcelo Evelin e Dori Nigro moderada por Raquel Lima.
Marcelo Evelin nos falará sobre como habitar em pássaro, desde a criação da sua peça Uirapuru, e Dori Nigro, performer e educador, é convidado a partilhar a sua leitura cuidada deste espetáculo, na qual relaciona cultura ioruba, candomblé afro-brasileiro, a simbologia do feminino, o animismo, o afrofuturismo, entre outros mitos. A conversa nos permitirá aprofundar e complexificar uma narrativa, que nos entrega várias camadas para refletirmos o canto do pássaro como território, como possibilidade de reinvenção e resiliência num período histórico de extinções e alterações climáticas.

Ficha artística

Conceção e coreografia Marcelo Evelin Criação e interpretação Bruno Moreno, Fernanda Silva, Gui de Areia, Luis Carlos Garcia, Márcio Nonato, Rosângela Sulidade e Vanessa Nunes Dramaturgia Carolina Mendonça Assistência Bruno Moreno Luz Márcio Nonato Som Danilo Carvalho Figurinos Gui de Areia Direção técnica e produção Andrez Ghizze Preparação e ensaios Mariana Alves
Ilustração Elza Hieramente Fotografia Maurício Pokemon Recepção/CAMPO Produção João Marcos Direção de produção Regina Veloso/Casa de Produção Administração e logística Humilde Alves Produção e difusão Materiais Diversos Residências artísticas CAMPO arte (Teresina), Teatro Municipal do Porto - Teatro Campo Alegre, La Vignette (Montpellier) Coprodução Teatro Municipal do Porto, Festival Montpellier Danse 2022 e Festival d’Automne à Paris

22.11.2023 | par martalanca | Brasil, florestas, Marcelo Evelin

Nadia Beugré: Profético (Nós já nascemos)

CULTURGEST - AUDITÓRIO EMÍLIO RUI VILAR 24.11 SEX 21H0025.11 SÁB 21H00

Corpos trans que encenam as suas próprias vidas, inventam os seus próprios lugares, constroem o seu próprio mundo.

Nadia Beugré navega entre Montpellier e Abidjan, na Costa do Marfim, onde cresceu. Para a sua mais recente peça convidou pessoas da comunidade trans de Abidjan. Pessoas designadas à nascença como rapazes, flutuam entre géneros, numa sociedade extremamente patriarcal que, convenientemente, finge não as ver.

Cabeleireiras de dia e divas da pista de dança à noite, transgridem binarismos individuais, familiares, sociais e históricos, sobre o que é bonito ou feio, masculino ou feminino, legal ou ilegal.

Aqui, tudo está à vista e à escuta, como prova de que estas pessoas já nasceram e reivindicam a sua liberdade. Através das redes de solidariedade que tecem e trançam entre si, inventam as suas próprias danças e os meios da sua própria sobrevivência.

Conversa pós-espetáculo

No dia 24 de novembro, o espetáculo será seguido de uma conversa com Nadia Beugré and David J. Amando, com moderação de Raquel Lima (em português).

Ficha artística

Título original Prophétique (On est déjà né·es) Direção artística Nadia Beugré Iluminação Anthony Merlaud Cenografia Jean-Christophe Lanquetin Assistência artística Christian Romain Kossa Olhar externo Nadim Bahsoun, Adonis Nebié Performance Beyoncé, Canel, Jhaya Caupenne, Taylor Dear, Acauã Shereya El Bandide, Kevin Kero Produção Libr’Arts / Virginie Dupray Coprodução Kunstenfestivaldesarts Bruxelas, Théâtre Le Rideau Bruxelas, Montpellier Danse, Points Communs Cergy Pontoise, Holland Festival Amsterdã, CULTURESCAPES 2023 Sahara, ICI—Centre Chorégraphique National Montpellier Occitanie Pyrénées Méditerranée / direção de Christian Rizzo, Fonds Transfabrik – Fonds franco-allemand pour le spectacle vivant, Tanz im August / HAU Hebbel am Ufer Berlim, La Place de la danse CDCN Toulouse Occitanie, Théâtre Garonne Scène Européenne - Toulouse, Les Spectacles Vivants - Centre Pompidou Paris, Festival d’Automne à Paris, Spielart Theater festival Munique, Théâtre de Freiburg, Africa Moment Residência Agora de la danse Montpellier danse, La place de la danse CDCN Toulouse Occitanie, Théâtre Le Rideau Bruxelas Apoio DRAC Occitanie - Ministério Francês da Cultura e Comunicação Agradecimentos Ivoire Marionnettes Abidjan e Institut français de Côte d’Ivoire

Este espetáculo é apresentado com o apoio do Institut Français e do projeto MaisFRANÇA, uma temporada concebida pelo Institut Français du Portugal com o apoio dos mecenas Claude & Sofia Marion Foundation, JC Decaux, BNP Paribas, Mexto e Credibom.

22.11.2023 | par martalanca | Corpos trans, Nadia Beugré

"Breve História Colonial e Outras Memórias", do artista Tchalé Figueira

No Centro Cultural Cabo Verde, em Lisboa, irá inaugurar-se uma exposição intitulada “Breve História Colonial e Outras Memórias”, da autoria do artista Tchalé Figueira. Por meio das suas inconfundíveis pinceladas, Figueira transporta-nos a um universo onde a história colonial é não só observada mas desafiada, fazendo-nos questionar as nossas perceções e realidades. A sua arte não se limita a representações visuais, mas serve de manifesto contra desvalorizações humanas, iluminando episódios muitas vezes sombrios da história, e alertando sobre a indiferença e a amnésia coletiva. “Esta exposição é um convite à introspecção e ação”, destaca Ricardo Barbosa Vicente, curador da exposição. “Através da obra de Tchalé, somos instigados a refletir, questionar e, sobretudo, agir face às memórias e realidades que estas peças nos revelam.” Sobre Tchalé Figueira: Nascido em Mindelo, Cabo Verde, em 1953, Tchalé Figueira consolidou a sua carreira artística na Suíça, emergindo como uma figura proeminente no panorama artístico global. O artista, que também se destaca na literatura, regressou a Cabo Verde em 1985 e desde então tem exposto as suas obras em diversos países. O seu legado artístico estende-se por museus e coleções privadas em África, Europa e Américas. Convidamos a todos para se juntarem a nós na inauguração desta exposição singular e para se perderem nas narrativas entrelaçadas das obras de Tchalé Figueira, numa viagem que promete ser tanto introspectiva quanto reveladora.

21.11.2023 | par martalanca | Tchalé Figueira

Justíça interseccional em Portugal e na Alemanha

No âmbito do ciclo “Quo Vadis, Europa?”

No dia 29 de novembro, às 19h00, terá lugar, no auditório do Goethe-Institut em Lisboa, uma conversa sobre a justíça interseccional em Portugal e na Alemanha, com as convidadas Emilia Zenzile Roig da Alemanha e Cristina Roldão de Portugal. A conversa é coproduzida com a initiativa O Lado Negro da Força e será moderada pela jornalista Paula Cardoso.
Interseccionalidade é um termo que descreve a interação de vários mecanismos de opressão - justiça interseccional refere-se à distribuição justa e igualitária da riqueza, das oportunidades, dos direitos e do poder político na sociedade. Centra-se na interação de privilégios e desvantagens estruturais, ou seja, a desvantagem de alguns é o privilégio de outros. A justiça interseccional entende a discriminação e a desigualdade não como o resultado de intenções individuais, mas como sistémicas, institucionais e estruturais.
Desde o discurso histórico da ativista dos direitos humanos Sojourner Truth, “And ain’t I a woman?”, até às reflexões de Kimberlé Crenshaw, que inventou o termo interseccionalidade, o feminismo negro revolucionou a forma de pensar na luta contra os sistemas opressivos. Na Alemanha, esta força de mudança pode ser vista no trabalho de Emilia Zenzile Roig, que fundou o Centro para a Justiça Interseccional. Em Portugal, a pesquisa da socióloga Cristina Roldão lança luz sobre a presença negra no país, revelando apagamentos e silêncios históricos.
Mais do que um conceito inovador, como se promove na prática esta ideia de justiça? É possível falar de justiça social sem falar de interseccionalidade?


Emilia Zenzile Roig (*1983) é fundadora e directora do Centro para a Justiça Interseccional (CIJ) em Berlim. Concluiu o seu doutoramento na Universidade Humboldt em Berlim e na Science Po Lyon. Emilia Roig leccionou interseccionalidade, teoria crítica da raça e estudos pós-coloniais, bem como direito internacional e europeu na Alemanha, em França e nos EUA. Dá palestras e conferências em toda a Europa sobre os temas da interseccionalidade, feminismo, racismo, discriminação, diversidade e inclusão e é autora de numerosas publicações em alemão, inglês e francês. É autora do bestseller “WHY WE MATTER. O Fim da Opressão”. Em 2022, foi eleita a “Mulher Mais Influente do Ano” no Prémio Impacto da Diversidade. Em 2023, publicou “O FIM DO CASAMENTO. Por uma revolução do amor”.
Cristina Roldão (*1980) é uma socióloga portuguesa cuja investigação se centra na educação e na marginalização e que é conhecida pelo seu ativismo social, antirracista e feminista. Doutorada em Sociologia, é investigadora do ISCTE-IUL e docente da Escola Superior de Educação de Setúbal (ESE/IPS). Tem participado ativamente no debate académico e público sobre o racismo e a história negra na sociedade portuguesa. Foi membro da comissão organizadora da 7ª Conferência Internacional Afro-Europeia (Lisboa, 2019) e coordena o “Roteiro Anti-Racista” na ESE/IPS. É colunista do Público e integrou os grupos de trabalho para o Plano Nacional de Combate ao Racismo e para a recolha de dados sobre origem étnica nos censos de 2021.
Paula Cardoso (*1979) é uma jornalista luso-moçambicana, produtora de conteúdos e ativista antirracismo. É criadora da série de livros infantis Força Africana e das plataformas Afrolink e O Lado Negro da Força. Em 2022, foi incluída na lista das Top 100 Women In Social Enterprise 2022 pela EuclidNetwork, uma rede europeia de empreendedorismo social apoiada pela Comissão Europeia. É também membro do Fórum dos Cidadãos, que trabalha para revitalizar a democracia portuguesa, e do programa de mentoria HeforShe Lisboa.

Mais infos 

21.11.2023 | par martalanca | cristina roldão, Justíça interseccional

O Tempo que resta de Elia Suleiman

LEFFEST17ºLisboa Film Festival 

Um retrato único, poderoso, semi-biográfico e profundamente pessoal da Palestina, entre 1948 e os dias de hoje. Combinado com memórias de Elia Suleiman com a sua família, o filme procura retratar a vida quotidiana daqueles palestinos que ficaram e que foram rotulados de “árabes israelitas”, vivendo como uma minoria na sua própria pátria.

  • Duração: 109’ Ano de produção: 2009 País: FR, BE, UK Idioma: AR Mais infos.

15.11.2023 | par martalanca | Elia Suleiman, leffest, palestina

Open Studio´da artista sul-africana Teresa Kutala Firmino

Depois de quatro intensas semanas, a Residência Artística de Teresa no ‘Angola AIR’ acaba e teremos, em primeira mão, o relato do que foram estas semanas de pesquisa in loco com moderação da conversa pelo curador angolano Marcos Jinguba.

Teresa “é uma artista multimédia, radicada em Joanesburgo, que trabalha com pintura, fotografia e performance. Ela faz parte de um coletivo chamado Kutala Chopeto, que começou como uma investigação sobre a história comum que está ligada ao Batalhão 32, os soldados que se estabeleceram em Pomfret após a Guerra da Fronteira.  

Teresa analisa como, apesar do trauma que vivenciaram, muitas destas mulheres tiveram que continuar a viver com os seus agressores. A artista questiona o que há no corpo e na mente da mulher negra que, apesar do trauma, continua a prosperar. Ela está realmente viva ou está em constante melancolia enquanto existe após o colonialismo, a guerra civil e a traição? Negociar o trauma é perceber que seu agressor possivelmente faz parte de um ciclo maior de abuso?

sexta-feira, 17 de novembro das 18h às 21h  ELA-Espaço Luanda Arte, entrada livre 

Agradecemos o apoio da Weza, da Textang II e da Tipografia Corimba.

O ELA-Espaço Luanda Arte encontra-se localizado no armazém Cunha & Irmão SARL / ex-Escola Portuguesa, Rua Alfredo Troni 51/57, Luanda.

14.11.2023 | par martalanca | Teresa Kutala Firmino

“A luta continua e a reação não passará!? O Iliberalismo contra a Democratização em Angola e Moçambique no século XXI”, de Nuno de Fragoso Vidal & Justino Pinto de Andrade

A Editora/Livraria Sá da Costa, em conjunto com os autores e a Associação Cultural Chá de Caxinde, tem a honra de a/o convidar para o lançamento do livro: “A luta continua e a reação não passará!? O Iliberalismo contra a Democratização em Angola e Moçambique no século XXI”, de Nuno de Fragoso Vidal & Justino Pinto de Andrade, que se realiza no dia 18 de novembro, pelas 17h30, na galeria da Sá da Costa, Rua Serpa Pinto, 19, Lisboa.
Participações:Malyn Newitt; Bruno Ferreira da Costa; Luca Bussotti; Jean-Michel Mabeko-Tali; Reginaldo Silva; David Boio; Domingos da Cruz; Sérgio Dundão; Mihaela Neto Webba; Florita Cuhanga António Telo; Maria Judite Chipenembe; Baltazar Muianga; Eugénio Costa Almeida; Paula Roque; Fernando Pacheco; Maria da Imaculada Melo.
Apresentação analítica crítica:Alexandra Dias Santos&Alberto Oliveira Pinto,seguida de discussão com os autores e alguns co-autores da obra.Coordenador da organização: Francisco de Pina QueirozA mesa conta ainda com as presenças de José Sousa Machado em representação da Editora Sá da Costa e de Jacques dos Santos, da Associação Chá de Caxinde (organização parceira do projeto).De acordo com Malyn D. Newitt (King’s College London), autor do prefácio “aquilo que efectivamente tem sido a governação de partido único nos dois países levou não somente à manipulação das eleições que mantém os partidos governantes no poder, mas também a uma sistemática negligência e, em alguns casos, simples negação dos direitos humanos da população, que tem sido em todos os aspectos tão extrema quanto o foi sob o regime colonial. (…)”, considerando também “essencial que aqueles que monitorizam a democracia e os direitos humanos sejam capazes de tornar públicas as suas análises, avaliações e conclusões. (…) O tipo de estudos como estes que se apresentam neste volume, que têm sido pesquisados com profundidade, revistos e escrutinados de forma independente, apresentam-se por si só como exemplos de esperança e sinais para a possibilidade de um futuro mais justo e igualitário.”O livro terá um custo de 20€Existirão disponíveis outros livros do mesmo projecto científico.

14.11.2023 | par martalanca | angola, de Nuno de Fragoso Vidal & Justino Pinto de Andrade, democracia, “A luta continua e a reação não passará!? O Liberalismo contra a Democratização em Angola e Moçambique no século XXI”

Reformular a autoridade e a autoria nas artes

20 novembro I Culturgest


TECENDO LINHAS DE REPARAÇÃO 

“Se a construção de uma ponte não enriquece a consciência de quem nela trabalha, então a ponte não deve ser construída.” É a partir desta premissa de Franz Omar Fanon, estendida enquanto território conceptual, que abrimos caminho à reflexão que molda esta conferência, no Dia da Consciência Negra. Num momento histórico em que o conceito de diversidade tende a esvaziar-se de significado nos discursos sobre cultura, abordaremos as dimensões de autoridade e autoria de modo a facilitar (e talvez acelerar) o pensamento e a concretização de insurreições radicais e reparadoras no sector cultural. O programa da conferência constrói-se a partir de uma pedagogia de perguntas: o que são e para que/quem servem linhas antirracistas para a arte-educação? Como reparar o reparável no sector artístico em Portugal? Quais os potenciais críticos dos nossos posicionamentos político-performativos? Como operar as categorias políticas deste tempo, sem estender a sua duração?

Common Stories junta Maison de la Culture de Seine-Saint-Denis (Paris), o Alkantara Festival e Culturgest (Lisboa), Théâtre National Wallonie-Bruxelles (Bruxelas), o festival africologne (Alemanha), o Riksteatern (Estocolmo) e TR Warszawa (Varsóvia), num projeto de três anos. Em novembro, o espaço Alkantara, em Lisboa, recebe o primeiro CommonLAb, que reúne artistas em ascensão preocupados com questões de identidade e diversidade, enquanto a Culturgest acolhe a conferência ‘Reformular a Autoridade e a Autoria nas Artes’, uma curadoria de Raquel Lima que corresponde à primeira sessão pública da Fábrica de Boas Práticas sobre como acolher a diversidade nas instituições culturais.

PROGRAMA COMPLETO

9:30 – 12:30 
Workshop teórico-prático*
LINHAS ANTIRRACISTAS PARA A ARTE/EDUCAÇÃO: TECENDO PASSADOS, PRESENTES E FUTUROS
UNA – União Negra das Artes: Dori Nigro e Melissa Rodrigues
Sala 2
Entrada gratuita mediante inscrição aqui

Linhas Antirracistas para a Arte/Educação. O que são? Para que servem? E para quem? Estas são algumas Pedagogias das Perguntas de partida com as quais nos deparamos numa tentativa de materializar a vontade de criar um objeto que reflita criticamente a realidade, questione e especule caminhos e possibilidades de futuro mais solidárias, plurais e horizontais no pensar-fazer artístico e educativo. Tendo a arte a potência de transformar, criar imaginários e expandir a outras realidades e dimensões do sentir-pensar, estas Linhas Antirracistas que agora se tecem a várias mãos - enraizadas no conhecimento, práticas e auscultação de artistas, ativistas, pensadoras/es e educadoras/es negras/es - apresenta-se como um diálogo e objeto-mediador-reparador para uma Pedagogia da Transgressão que promova mudanças efetivas nos currículos, nos imaginários, nas realidades e nos seus modos de pensar e fazer. Este propõe-se como um workshop teórico-prático.

12:30 – 14:00
ALMOÇO

14:00 – 15:30 
Mesa conversacional
FARMÁCIA FANON - I GRAMÁTICAS DO AZUL
Keynote speaker: Vânia Gala
Pequeno Auditório
Em português com tradução simultânea para inglês
Entrada gratuita**

Esta apresentação assume a forma de uma performance conversacional, a partir de uma mesa longa com os participantes. Partindo da ideia de degustação e o olfato como abertura sensorial ao mundo revelando através destes as interseções das relações humanas-não humanas neles inscritas e em particular a história colonial pretendo especular em conjunto histórias, saberes e performances alternativas. Quais os potenciais críticos desses posicionamentos? Iremos experimentar e olhar performances negras que se recusam a se atualizarem de forma particular ou mesmo aquelas que recusam certas chamadas para serem realizadas.

16:00 – 18:00
Mesa-redonda 
DA AUTORIDADE DA INÉRCIA À RADICALIDADE DO REPARÁVEL
Anabela Rodrigues, Apolo de Carvalho, Cristina Roldão, Gessica Correia Borges e Kitty Furtado
Pequeno Auditório 
Em português com tradução simultânea para inglês
Entrada gratuita**

Os movimentos sociais e associativos, artistas e investigadores das comunidades negras, por estarem historicamente sujeitos às condições precárias que denunciam, ocupam uma posição estratégica na formulação teórico-prática de políticas de reparação. Contudo, estão ainda limitados pela falsa ideia de inconstitucionalidade das medidas de ação afirmativa, um discurso que se promove e reproduz através de órgãos governamentais, da academia conservadora, do setor cultural e da sociedade civil de forma generalizada. Esta mesa detém-se a debater sobre como reparar o reparável, no setor cultural, desde uma lógica que compreenda a diversidade dos indivíduos, grupos, coletivos e associações que o compõem. Assim sobre como ultrapassar a autoridade da inércia estabelecida, e identificar caminhos radicais com destino à justiça social no meio artístico.

18:30 – 20:00
LIMITE
Keynote speaker: Jota Mombaça
Pequeno Auditório 
Em português com tradução simultânea para inglês
Entrada gratuita**

Como praticar um pensamento no limite das coisas? Como operar as categorias políticas deste tempo, sem estender sua duração? Como pensar a serviço do movimento e da transformação? Esta conferência será dedicada a uma reflexão sobre as noções de sujeito e autora, bem como sobre seu limite constitutivo. Pensadas a partir das tradições radicais preta, indígena e transfeminista, tais questões serão articuladas com base nas múltiplas temporalidades do ativismo e da transformação social, com foco especial no aqui e agora – essa dimensão espiralada do tempo e do espaço, em que passado, presente e futuro convergem de formas previsíveis e imprevisíveis. 

Curadoria Raquel Lima ; Olhares externos Dori Nigro e Melissa Rodrigues

10.11.2023 | par martalanca | artes, autoria, autoridade

Pérola Sem Rapariga |

direção e encenação: Zia Soares

texto: Djaimilia Pereira de Almeida

40.º Festival de Teatro do Seixal

Fórum Cultural do Seixal

16 NOV, 21H30

Pérola Sem Rapariga inspira-se na leitura de Voyage of the Sable Venus and Other Poems de Robin Coste Lewis, e do arquivo fotográfico de Alberto Henschel. O espetáculo pensa a relação entre a superfície do corpo e aquilo que sobre ele somos capazes de dizer, entre legenda e imagem, entre a pele e o salvamento. O artista Kiluanji Kia Henda intervém no espaço da cena instalando prenúncios de apocalipse.

“A ideia é mergulhar na gargalhada e acordar do outro lado. Cair no riso como quem cai no sono e no sono como quem cai ao mar. Ou antes, rir como quem se ergue, tirar o pó dos joelhos dentro dos sonhos, erguer a cabeça dentro do abismo. Ou rir como quem se afoga. Renascer de um afogamento. Acordar da morte.

Duas mulheres que são uma andam por aqui entretidas a abrir o caminho sinuoso aonde levam as gargalhadas. Riem a bandeiras despregadas e, quando dão conta, estão em apuros, numa confusão da qual não sabem sair sozinhas.

Se há uma visão dominante, em Pérola Sem Rapariga, é que as gargalhadas das raparigas são perigosas. Parece que queremos que as mulheres posem sem rir porque temos medo do ritmo, da faca e do arco do riso — que faz tremer a terra e racha o fundo do mar.”

Pérola Sem Rapariga©Filipe FerreiraPérola Sem Rapariga©Filipe Ferreira

Pérola Sem Rapariga©Filipe FerreiraPérola Sem Rapariga©Filipe Ferreira

direção, encenação: Zia Soares

texto: Djaimilia Pereira de Almeida

com: Filipa Bossuet, Sara Fonseca da Graça

artista visual: Kiluanji Kia Henda

instalação e figurinos: Neusa Trovoada

música e design de som: Xullaji

design de iluminação: Carolina Caramelo

assistência à encenação de movimento: Lucília Raimundo

vídeo promocional: António Castelo

produção executiva: Ngleva Produções

coprodução: Sowing_arts, Teatro Nacional D. Maria II, apap – FEMINIST FUTURES (projeto cofinanciado pelo programa Europa Criativa da União Europeia)

apoio: Casa da Dança, Polo Cultural Gaivotas Boavista

duração: 1H

09.11.2023 | par martalanca | Djaimilia Pereira de Almeida, kiluanji kia henda, Neusa Trovoada, Xullaji, Zia Soares

Em Memória da Memória. Interrogações e testemunhos pós-imperiais

Hoje, dia 9 de novembro, estreia o podcast “Em Memória da Memória. Interrogações e testemunhos pós-imperiais”, que vai explorar as reflexões de académicos, artistas e ativistas sobre a Europa pós-imperial, com o objetivo de compreender e discutir as pós-memórias europeias e os legados coloniais. 
Realizado no âmbito do projeto de investigação “MAPS – Pós-Memórias Europeias: Uma Cartografia Pós-Colonial”, coordenado pela investigadora do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, Margarida Calafate Ribeiro, e financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), o podcast vai contar com 18 episódios e vai ficar disponível na plataforma REIMAGINAR A EUROPA. Poderá também ser subscrito em SpotifyApple PodcastsAmazon Music e noutras plataformas de podcasts.  


podcast “Em Memória da Memória. Interrogações e testemunhos pós-imperiais” vai ser disponibilizado semanalmente, em português e em francês, sempre às quintas-feiras. Pretende trazer para primeiro plano as histórias de cidadãos e cidadãs de segunda e terceira gerações cujas experiências se encontram moldadas pelas heranças coloniais e pelos processos de descolonização nos contextos de Portugal, Bélgica e França.
Este novo conteúdo quer contribuir para a compreensão e discussão sobre as pós-memórias europeias e os legados coloniais através das vozes daqueles que estão a transformar ativamente o presente e o futuro da Europa. É uma iniciativa que pretende promover um diálogo enriquecedor e crítico sobre questões fundamentais da contemporaneidade, contribuindo para redefinir noções de cidadania na Europa contemporânea. A realização é da investigadora do CES, Inês Nascimento Rodrigues, a edição de som de José Gomes, a imagem gráfica de Márcio de Carvalho e a música do indicativo é da autoria de XEXA.

09.11.2023 | par martalanca | memória, pós-imperial

Lançamento de "Xirico", de Nélson Moda I 7 de novembro I Tigre de Papel

XIRICO retrata a história da guerra civil em Moçambique, apresentando as causas internas e externas. É a primeira compilação genuína de entrevistas feitas em todas regiões de Moçambique aos moçambicanos que viveram a guerra civil. Estabelece igualmente uma descrição exaustiva de todo sinuoso processo de negociações desde Nairobi, para finalmente assinar-se o Acordo Geral da Paz a 4 de Outubro de 1992, em Roma, sob o envolvimento insólito duma entidade débil, fora das potências globais, a Comunidade de Sant’Egidio.

A obra contém uma exclusiva entrevista feita pelo autor Nelson Moda ao antigo presidente de Moçambique, Joaquim Alberto Chissano.

7 de novembro às 18h30 na Tigre de Papel

Apresentação do autor e Álvaro Vasconcelos, com moderação de Marta Lança

03.11.2023 | par martalanca | guerra cívil, Moçambique, Nélson Moda, processos de paz, Xirico

IRMÃ MARGINAL — SISTER OUTSIDER, de Audre Lorde

O Hangar — Centro de Investigação Artística e as edições Orfeu Negro convidam para o lançamento do livro IRMÃ MARGINAL — SISTER OUTSIDER, de Audre LordeNa próxima quinta-feira, 9 de Novembro, às 19h, o encontro é no espaço do Hangar. A Orfeu Negro dá início à publicação da obra de Audre Lorde em Portugal, com uma das mais significativas colectâneas de ensaios da autora. A apresentação conta com Gisela Casimiro, tradutora e prefaciadora da obra, Alexandra Santos, activista queer e anti-racista, e Rita Cássia, antropóloga, artista e activista.
Venham transformar o silêncio em linguagem e acção.
Contamos convosco!

03.11.2023 | par martalanca | Audre Lorde

“Kabeça” no Alkantara Festival 2023

Kabeça ©Bee BarrosKabeça ©Bee BarrosAs atrizes Aoaní Salvaterra e Joyce Souza estreiam no dia 19 de novembro às 17h30, a vídeo- performance “Kabeça”. Resultado da residência artística realizada no programa Kilombo, com a curadoria das Aurora Negra para o Alkantara Festival 2023, o trabalho que será apresentado na sala Mário Viegas, no Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa.

Em yoruba Orí significa cabeça. Mais do que uma parte fisiologicamente estruturada, o Orí é um orixá, um deus, uma divindade pessoal e intransferível. É Orí que irá acompanhar o indivíduo antes de seu nascimento até depois de sua morte. Orí foi uma escolha feita por cada um antes de nascer, e uma escolha que continuamente se faz, ou não.

No ocidente ensinam-nos que a cabeça é uma parte do corpo. Uma parte que abriga o cérebro, que tem uma estrutura composta de ossos, músculos e terminações nervosas. Uma parte que abriga o sistema nervoso. A noção de parte, de desmembramento proposta por lógicas coloniais espelham-se no corpo - cidade. O lapso enquanto instituição, a memória estrategicamente fragmentada, o violento soterramento é o palco desse cistema brancae - Lisboa.

É de terra que Orí é feito. Bater a cabeça na terra, no chão, é (em tradições de matriz africana, ressignificadas na diáspora) o gesto, a ação, de máximo respeito e reverência. O ato primeiro antes da gira, da festa, do movimento, do revide.
Nesta vídeo-performance batemos cabeça para quem veio antes, pedimos licença. Colocamos o nosso Orí e coração sobre as histórias soterradas, como uma cerimónia aos que perderam a cabeça. Interrompemos a lógica do que eles chamam “tempo”, conectamos. Procuramos perturbar o esquecimento como aqueles que não baixaram a cabeça. Reverenciamos quem aqui resistiu e resiste, no desejo de uma libertação súbita de energia que provoque movimentos nessa superfície.

Kabeça ©Indira MatetaKabeça ©Indira Mateta

A vídeo-performance consiste na ação de “bater a cabeça” em dez lugares de resistência negra na cidade de Lisboa, como forma de evocar a memória apagada pela cidade, suprimida pelo sistema, sufocada pelo colonialismo. Com criação e performance de Aoaní Salvaterra e Joyce Souza, o projecto tem direção de Fotografia de Huba Artes, Indira Mateta e Pedro Henrique Sousa, apoio à dramaturgia de Monalisa Silva, música de Xullaji, som de Sara Marita, iluminação de Ariene Godoy, Edição de Victor dos Santos e produção da Ngleva Produções.

As criadoras entendem a vídeo-performance “Kabeça” como um prólogo do projeto “Kabeça Orí”, que foi recentemente aprovado na 4.a edição das Bolsas de Criação na área das Artes Performativas Contemporâneas promovido pelo O Espaço do Tempo, com o apoio do Banco BPI e da Fundação “la Caixa”. O espetáculo terá estreia absoluta n’O Espaço do Tempo, em novembro de 2024, no âmbito do Festival ETFEST.

Aoaní Salvaterra

Nascida em Lobata, São Tomé e Príncipe, é licenciada em Comunicação Social (FANOR) e mestre em Artes Performativas (Escola Superior de Teatro e Cinema). Em 2012 lançou em Luanda, pela editora Chá de Caxinde, a coletânea de crónicas intitulada “Miopia Crónica”. Foi oradora no primeiro evento TEDx de São Tomé e Príncipe. Desde 2017 tem trabalhado como atriz e performer em teatro, cinema e audiovisuais, com trabalho exibidos nos Estados Unidos, Portugal, Alemanha, Itália e China.

Joyce Souza

Natural do Guarujá - SP, Brasil, é mestre em artes performativas (Escola Superior de Teatro e Cinema). Licenciada em educação artística (FPA) e teatro (EAD-Universidade de São Paulo). Artista e pesquisadora transdisciplinar atua entre Brasil e Portugal como atriz, performer, dramaturga e docente. Atualmente integra o elenco do espetáculo “descobri-quê?” da Estrutura e Dori Nigro em co-produção com o Teatro Nacional D. Maria II em digressão na Odisséia Nacional e ministra formações acerca de uma educação anti-racista e decolonial.

03.11.2023 | par martalanca | alkantara festival, Aoaní Salvaterra, Joyce Souza

Diálogos de Pertença, Identidade e Futuro

 A proposta de Tom Farias é olhar para a forma como queremos que o mundo seja hoje, amanhã ou daqui a cem anos, e como desejamos que a sociedade se comporte entre um tempo e outro?O termo “diálogo” está ligado a palavra, assim como a palavra, o logos, se identifica com o étimo de conversa. Se a conversa e o diálogo estão juntos, na cosmologia do universo da língua escrita, então faz todo o sentido o que estamos fazendo aqui hoje, como princípio da comunicação social e da liberdade de expressão e dizer algo além do aparentemente plausível.

Detalhes do evento:
Talk - Diálogos de Pertença, Identidade e FuturoData: Sexta-feira, 3 de novembro de 2023Horário: 11h - 13hLocal: Museu do Fado, em Lisboa
RSVPPress@lisboacriola.pt+351 930 524 843

31.10.2023 | par martalanca | festa criola

1001 noites | IRMÃ PERSA - Teatro O Bando

Aconteça o que acontecer, se soubermos contar histórias
teremos mais hipóteses de acordar no dia seguinte.


IRMÃ PERSA é o primeiro de quatro espetáculos do Teatro O Bando em torno das 1001 NOITES, antologia de fascinantes histórias preservadas na tradição oral e que se tornou numa das mais importantes obras da literatura universal.
As 1001 NOITES são o fio condutor da tetralogia que ganhará vida pela mão de diferentes encenadoras e encenadores do Teatro O Bando.
À semelhança da teia tecida por Xerazade, noite após noite, todos os anos um novo espectáculo nascerá a partir do final do espectáculo anterior.
Em cena, um trio de personagens atravessará as quatro encenações: Xariar, interpretado por Fabian Bravo; Xerazade, interpretada por Rita Brito; e Dinarzade (a irmã de Xerazade) que será representada por uma actriz de uma cultura diferente, dando assim nome a cada uma das criações teatrais.

Em 2023, Tara Fatehi, actriz e bailarina iraniana, será a IRMÃ PERSA.
Começamos a IRMÃ PERSA pelo início da obra, descobrindo na sombra o enredo das personagens de Xariar, Xerazade e da sua irmã Dinarzade. Depois de entrever a traição da mulher, o Rei Xariar inicia o seu ciclo de matança e, durante anos, o Vizir, pai de Xerazade, cumpre zelosamente o seu terrível ofício de carrasco, até ao dia em que é a vez da sua filha. As irmãs Xerazade e Dinarzade elaboram um plano para salvar as mulheres e o seu povo. 

texto de autores anónimos traduzido do árabe por Hugo Maia
dramaturgia e encenação Suzana Branco
com Fabian Bravo, Rita Brito, Tara Fatehi três músicos ao vivo
cenografia João Brites apoio à cenografia Rui Francisco
música Jorge Salgueiro figurinos e adereços Clara Bento
corporalidade Vânia Rovisco desenho e retroprojeção Maria Taborda
desenho de luz Maria Taborda e Rita Louzeiro investigação Sabri Zekri Arabzadeh
produção Inês Gregório
2 NOV a 10 DEZqui a sáb às 21h / dom às 17hbilheteira@obando.pt | 910 306 101
É possível jantar antes do espectáculo mediante reserva.
Aos sábados há conversa com a equipa artística.

 

31.10.2023 | par martalanca | 1001 noites, Teatro O Bando

O LUSO‑ORIENTALISMO NA FILMOGRAFIA PRODUZIDA DURANTE O ESTADO NOVO SOBRE A «ÁSIA PORTUGUESA», de Maria do Carmo Piçarra

A filmografia sobre a «Ásia portuguesa» realizada em Portugal durante o Estado Novo é limitada. Produzida tardiamente, projectou uma retórica luso‑tropicalista que propagandeava a importância — mítica, porque já passada — de um império outrora vasto. Durante a ditadura, as colónias orientais mantinham sobretudo um valor simbólico.

Analisando a filmografia existente, Vento Leste propõe que a escassez de filmes sobre o «Oriente português» decorre sobretudo do valor simbólico destas comunidades imaginadas, evocadas com certa indefinição porque a sua relação com a metrópole estava há muito em desagregação, assentando em projecções e ruínas. Com o surgimento de tensões entre Portugal e a Índia quanto à autonomização da «Índia portuguesa», a filmagem das colónias orientais surgiu da necessidade de a ditadura sedimentar um discurso luso‑orientalista, que, não obstante, ignorou as especificidades locais e a miríade de diferenças entre a África e a Ásia e entre os territórios colonizados nessas regiões.

Maria do Carmo Piçarra: “É o culminar de um processo de investigação que me ocorreu fazer no pós-doutoramento quando, durante os visionamentos no CNC, em França, percebi que aqui estávamos a começar a estudar as representações filmadas das ex-colónias africanas - que perduram ainda hoje -, mas não aquelas relativas a Macau, Timor e à chamada (durante a ditadura) Índia Portuguesa. É sempre um gosto ser acolhida pela Livraria Linha de Sombra, onde amanhã, às 18h, o investigador Ricardo Roque e o director do Museu do Oriente, João Amorim, me dão o gosto de apresentar o livro. Também é o primeiro livro que publico com as Edições tinta-da-china e tem sido muito bom trabalhar com a sua equipa. Os cinco capítulos são ilustrados com fotografias que “garimpei” em várias colecções (Cinemateca, MUHNAC, Arquivo do Ultramar, Fundação Oriente). Tudo magnificamente paginado pelo Pedro Serpa (T-d-C), que também assina a capa, muito bonita. A seguir ao lançamento, haverá uma sessão com a Linha de Sombra que inclui a projecção de filmes programados por mim, com o apoio do FILMar - obrigada ao seu coordenador, Tiago Bartolomeu Costa -, em que haverá a possibilidade de ver pela primeira vez a versão digitalizada de Os pescadores de Amangau, filme de Miguel Spiguel exibido na VIII edição do Festival de Cinema de Berlim, e uma montagem de materiais filmados por Ruy Cinatti (entre filmes de propaganda explícita). Fecha um ciclo da minha vida, e não só de modo simbólico. Agradeço a presença das amigas e amigos que possam partilhar este momento comigo. Com o FILMar, estarei também no Porto/Post/Doc (e com a sua magnífica equipa), a lançar o livro, a dar formação a professores, a debater filmes e muito mais. Será uma alegria.”

31.10.2023 | par martalanca | Luso-orientalismo, maria do carmo piçarra