Episódio #6 "França: fantasmas coloniais, Argélia e racismo", com Graça dos Santos

Em Memória da Memória. Interrogações e testemunhos pós-imperiais.

Os fantasmas do colonialismo, feitos memória e pós-memória, estão no centro dos debates sobre a nova identidade francesa no pós-descolonização. Uma França onde, com o fim do império e os fluxos populacionais que ele trouxe, os franceses e as francesas são também pieds-noirs – o equivalente dos retornados portugueses; harkis – que combateram com o exército colonial francês na Argélia; antigos combatentes; franco-argelinos cujos pais migraram para França antes e depois da independência; e descendentes de todos estes grupos. A França contemporânea é este caldeirão de pessoas diversas, com vivências e memórias muito diferentes do antigo império. No entanto, têm uma herança comum: testemunharam como as suas vidas – e as dos seus pais – foram afetadas por um momento histórico extremamente significativo, uma revolução que trouxe mudanças marcantes para as suas vidas, para a configuração dos seus países e para as suas identidades. Isso gerou uma variedade de narrativas de que ouviremos exemplos nos próximos episódios e que, de alguma forma, constroem uma história outra de França e da Argélia, a partir dos espectros familiares dos seus pais e avós.

Os argelinos, franco-argelinos e seus descendentes reivindicam hoje espaço para narrativas que efetivamente contem as suas histórias, contornando as lacunas, os silêncios e as divergências das memórias não-contadas dos seus pais, mães, tios e avós. Mas, sobretudo, ambicionam construir narrativas que preencham as lacunas, os silêncios e as divergências presentes na narrativa oficial do Estado francês, em particular no que diz respeito à guerra da independência da Argélia. Durante largas décadas, assim o conta Graça dos Santos, o Estado francês recusou-se a nomear explicitamente o evento, e isso, diz-nos, é sintomático de um mal-estar latente.

A realização é de Inês Nascimento Rodrigues, a edição de som de José Gomes e a imagem gráfica de Márcio de Carvalho. Indicativo: voz de Rui Cruzeiro e música original da autoria de XEXA.

Ouvir aqui. 

15.12.2023 | par martalanca | Argélia, França, Memória da Memória, podcast

EUROPA, Oxalá

MUCEM (Marselha): Outubro de 2021 a Janeiro de 2022 | Fundação Gulbenkian (Lisboa: Abril - Julho de 2022) Royal Museum of Central Africa (Tervuren): Setembro - Dezembro de 2022

Figures 1883, Reference Map for Business Men (2019), Técnica Mista © Malala AndrialavidrazanaFigures 1883, Reference Map for Business Men (2019), Técnica Mista © Malala Andrialavidrazana

Na Europa, a partir da década de 1960, os fluxos de populações que tiveram uma experiência colonial - retornados, “pieds-noirs”, repatriados, africanos, norte-africanos, asiáticos, caribenhos - carregavam dentro de si uma teia de mistério, novidade, exotismo, fuga, migração e memórias dispersas. A sua presença atestou a transição da Europa como continente colonizador para uma Europa pós-colonial. Hoje, os filhos e netos de gerações que experimentaram processos de descolonização, bem como muitos cidadãos não ocidentais que vivem no Ocidente, questionam-se sobre uma nova perspectiva de enunciação. Uma dessas questões diz respeito ao lugar híbrido em que vivem, o do europeu não branco, o europeu oriental, o europeu latino-americano.

 Patrice Lumumba (2020), Dessin © Marcio de Carvalho Patrice Lumumba (2020), Dessin © Marcio de CarvalhoA exposição EUROPA, Oxalá questiona questões pós-coloniais na Europa, particularmente nas três antigas potências coloniais que eram Bélgica, França e Portugal. As questões memoriais dos descendentes das gerações que experimentaram os diferentes processos de descolonização estarão no centro de um trabalho em torno do poder criativo da diversidade cultural europeia.

EUROPA, Oxalá é o resultado de uma colaboração entre quatro instituições renomadas, o Museu Real da África Central em Tervuren (Bélgica), o Museu das Civilizações da Europa e do Mediterrâneo em Marselha (França), o Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra (Portugal) através do seu projeto europeu MEMOIRS - Children of European Empires and Postmemories, e a Fundação Calouste Gulbenkian - Delegation in France.

Curadores: Katia Kameli, Aimé Mpembe Enkobo, António Pinto Ribeiro

Artistas: Malala ANDRIALAVIDRAZANA; Kader ATTIA; Faisal BAGHRICHE; Sammy BALOJI; Nú BARRETO; Sabrina BELOUAAR; Mohamed BOUROUISSA; CARLOS BUNGA; John K. COBRA; Marcio DE CARVALHO; MÔNIA DE MIRANDA; Délio JASSE; Kátia KAMELI; Djamel KOKENE; Aimé MPANE; Sandra MUJINGA; Aimé NTAKIYICA; Josèfa NTJAM; Pedro A. H. PAIXÃO; Sara SADIK; Francisco VIDAL; Pauliana VALENTE PIMENTEL

04.02.2021 | par Alícia Gaspar | Bélgica, colonialismo, Europa, europa Oxalá, Europa pós-colonial, França, Gulbenkian, memoirs, MUCEM, Portugal, Royal Museum of central africa

Conferência // A ascensão da extrema-direita francesa e as memórias coloniais, por Benjamin Stora

10 de Fevereiro
18h | CIUL - Picoas Plaza

No próximo mês de Abril terão lugar em França as eleições presidenciais em que a disputa pelo Eliseu coloca pela primeira vez na linha da frente uma candidata da extrema-direita francesa. A centralidade da França na construção europeia, os atentados de que tem vindo a ser alvo e a contínua discussão no seu quotidiano sobre o social, o político e o religioso, convocam-nos para uma reflexão historicamente densa e aberta a novos paradigmas de pensamento e de interpretação. Benjamin Stora, historiador francês e atual presidente do conselho do Museu Nacional de História da Imigração (MNHI) – Palais de la Porte Dorée, em Paris, vem lançar esse desafio ao estabelecer as relações entre a ascensão da extrema-direita francesa e a herança colonial da República Francesa.

Nascido a 2 de dezembro de 1950 em Constantina, na Argélia, Benjamin Stora é Professor universitário, ensinou história do Magrebe contemporâneo (séculos XIX e XX), as guerras de descolonização e história da imigração magrebina para a Europa nas universidades de Paris 8, Paris 13 e no INALGO (Línguas Orientais, Paris).

Publicou cerca de trinta obras, entre as quais La gangrène et l’oublila mémoire de la guerre d’Algérie (1991), Le transfert d’une mémoire - De “l’Algérie française” au racisme anti-arabe (1999) e o livro-objeto Algérie 54-62. Lettres carnets et récits des Français et des Algériens dans la guerre (2010, Prémio Elle Documents). Recentemente publicou com o romancista Alexis Jenni (Prix Goncourt 2011), Les mémoires dangereuses (2016), obra onde retorna à relação entre a memória colonial e a ascensão da extrema-direita em França. Será precisamente esta temática que irá abordar na sua conferência, proferida em francês com tradução simultânea para português.

Benjamin Stora é convidado do Centro de Estudos Sociais, da Universidade de Coimbra, através dos projetos europeus MEMOIRS – Filhos de Império e Pós-Memórias Europeias e CROME – Memórias Cruzadas, Políticas de Silêncio. As Guerras Coloniais e de Libertação em Tempos Pós-coloniais, financiados pelo European Reserach Council (ERC) e dirigidos respetivamente por Margarida Calafate Ribeiro e Miguel Cardina.

MEMOIRS estuda o impacto, na Europa de hoje, da transferência de memórias dos diferentes acontecimentos que conduziram ao final dos impérios de Portugal, França e Bélgica em África; CROME propõe-se analisar o modo como as guerras coloniais e de libertação têm sido recordadas, em Portugal e nas antigas colónias africanas, desde a queda do império e o advento das independências até aos dias de hoje.

Para mais informações ou obter o dossier de imprensa de Benjamin Stora:
Projeto MEMOIRS
Investigadora coordenadora | Margarida Calafate Ribeiro
memoirs@ces.uc.pt | |+ 351 239 855 570
margaridacr@ces.uc.pt

Projeto CROME
Investigador coordenador | Miguel Cardina
crome@ces.uc.pt | |+ 351 239 855 570
miguelcardina@ces.uc.pt

02.02.2017 | par marianapinho | Benjamin Stora, colonialismo, Europa, Extrema-direita, França, herança colonial, memória