O ESTADO DAS ARTES EM ÁFRICA E NA AMÉRICA DO SUL

5.º WORKSHOP DE INVESTIGAÇÃO12 DE MAIO DE 2011
Auditório 3 da FCG. 09h30 – 17h30 / ENTRADA LIVRE
Quando propusemos como tema de investigação “O Estado das Artes em África e na América do Sul” no âmbito do Programa Gulbenkian de Cultura Contemporânea – centrado nos países, nos criadores, pensadores, artistas, nos problemas dos países da América Latina e Caraíbas, de África e da Europa –, não imaginávamos que no momento em que este Workshop se realiza, parte destes países estivesse a viver mutações tão profundas com consequências para toda a humanidade.
Mas sabíamos das alterações profundas em todos os domínios da vida que três décadas de democracia acrescidas de progresso económico tinham alterado significativamente a maioria dos países da América Latina. Sabíamos também que em África, dada a sua profunda diversidade e desigualdade económica e política, muitos países se preparam para atingir os objectivos do milénio, enquanto outros, já se prevê, não os atingirão. Sabíamos também que as relações Sul – Sul, que têm uma história muito mais longa do que os media descrevem, se acentuaram na última década, o que veio alterar relações de força, comerciais e de fluxos de pessoas e bens. A abordagem feita do ponto de vista cultural, e não exclusivamente artística, ao longo destes três anos que o Programa já leva, confirma-nos que o Próximo Futuro para toda a humanidade passa necessariamente pelo que acontecer nestas regiões culturais, com as enormes diferenças que, é preciso reafirmar, existem entre os países e, melhor, entre as cidades e as zonas rurais que os constituem.
À semelhança dos quatro Workshops anteriores, queremos contribuir com a produção e difusão de teoria nos campos das ciências sociais e das artes, e uma vez mais em colaboração com Centros de Investigação de excelência, nacionais e internacionais.
09h30
IMAGINÁRIOS POST-UTÓPICOS EN LA ACTUAL NARRATIVA CUBANA
Magdalena López (CEC-Centro de Estudos Comparatistas/UL)
A partir de los años noventa, la narrativa cubana indaga sobre el derrumbe de la utopía revolucionaria. Generalmente, la crítica literaria ha tendido a establecer una diferenciación entre aquellos narradores que fueron hijos de la utopía, nacidos apenas unos pocos años antes de 1959 y los posteriores, que nacieron en el fracaso de esa misma utopía, con posterioridad a aquel año. Ambos grupos se distinguen por un rasgo fundamental: los primeros llegaron a compartir una fe en las premisas de la revolución que los más recientes nunca tuvieron. A pesar de este rasgo distintivo, es posible encontrar puntos de encuentros entre los “desengañados” y los “novísimos” que nos llevan a replantear cómo abordar nuevas subjetividades en un nación que aparenta no tener futuro. Mi investigación comprende un estudio comparativo de las novelas El libro de la realidad (2001) de Arturo Arango, Las bestias (2006) de Ronaldo Menéndez (2006), Paisaje de otoño (1998) de Leonardo Padura y Cien botellas en una pared (2002) de Ena Lucía Portela.  La obras coinciden en la necesidad de deconstruir los parámetros identitarios y teleológicos del discurso revolucionario al tiempo que, las últimas dos, lejos de anunciar el fin de la historia; sugieren nuevas posibilidades de agenciamiento que se resisten a la debacle post-utópica.

CASAS PARA UM PLANETA PEQUENO. ARTE, ARQUITECTURA E TERRITÓRIO, A CONDIÇÃO URBANA CONTEMPORÂNEA DOS MUSSEQUES EM LUANDA
Margarida Louro e Francisco Oliveira (CIAUD - Centro de Investigação de Arquitectura, Urbnaismo e Design/ FAUTL)
“Casas para um Planeta Pequeno” assume-se como uma investigação sobre a contingência contemporânea de crescimento e densificação urbana, propondo através da reflexão de um contexto particular: os musseques de Luanda, uma abordagem critica que promova soluções potenciadoras de novas urbanidades emergentes, onde interagem diversas escalas e campos de expressão. De facto os musseques como paradigma da cidade informal preconizam um caso potencial de reflexão e intervenção perante a aceleração de concentração e crescimento populacional em condições desqualificadas. O grande objectivo desta investigação é assim a proposta de unidades habitacionais autónomas e sustentáveis entre a arte, a arquitectura e o território, que impondo novas lógicas de implementação promovam, a partir de potencialidades locais, soluções de espaço qualificado.
CINEMA AFRICANO: UM POSSÍVEL, E NECESSÁRIO, OLHAR
Mirian Tavares (CIAC – Centro de Investigação de Artes e Comunicação/ Escola Superior de Teatro e Cinema. Universidade do Algarve)
Na África são produzidos milhares de filme por ano. Falar de cinema em África é falar da procura de meios possíveis para a sua realização – os filmes, quase sempre são feitos e distribuídos em VHS ou DVD, o que não invalida a criação de uma linguagem própria que advém das condições mesmas de produção. Para conhecer melhor o outro e tentar perceber o seu lugar na construção de uma nova narrativa, mais adequada ao necessário esbatimento das fronteiras culturais actuais, precisamos de apreender o seu discurso sobre os outros, que somos nós. Neste contexto, coloca-se esta questão: de que maneira as sociedades africanas absorveram, transformaram ou rejeitaram, o modelo de narrativa ocidental da modernidade?
Assim sendo, e partindo da premissa que o cinema, como forma visível, é mais do que apenas uma forma cultural e/ou artística, é também uma maneira de se organizar e de se reflectir sobre o mundo, irei utilizar este medium como veículo que poderá ajudar-nos a compreender as marcas que o ocidente deixou nas culturas africanas.
“A ARTE DA FRONTEIRA: NOTAS SOBRE A PROBLEMÁTICA DA CIRCULAÇÃO ARTÍSTICA EM TERRITÓRIO AFRICANO”
Sara Martins (Departamento de Sociologia/ Goldsmiths College)
Esta comunicação propõe-se problematizar as especificidades adjacentes ‘a produção de um festival de artes performativas e o seu modus operandi dentro de fronteiras africanas.
No 1o Campus Euro-Africano de Cooperação Cultural (Moçambique, 2009) uma das questões que aproximou produtores culturais africanos de diferentes origens e áreas de actuação foi a dificuldade de circulação artística em África - a questão das fronteiras. A fronteira associa-se ao problema da falta de transporte, ‘a dificuldade em obter e validar vistos, ‘as fronteiras linguísticas, étnicas. Existem fronteiras culturais, mas são sobretudo as sociopolíticas que ditam condições de trabalho artístico e desafiam a criatividade dos programadores.
Nesta pesquisa olhamos para 2 festivais de grande visibilidade internacional como estudos de caso desta problemática: HIFA - Harare International Festival of Arts, Harare/ Zimbabwe; e o Festival Mondiale des Arts Negres, Dakar/Senegal. Ambos projectos têm significativo impacto local, quer em termos económicos como simbólicos.
DO CENTRO PARA A PERIFERIA
Bárbara Alves (Portugal)
Reflectindo sobre uma prática de design que tem como base processos participados para explorar comunicação em comunidades, discutir-se-ão ideias sobre metodologias, perspectivas e conflitos, realçando a importância de interpretações culturais. Apresentam-se projectos desenvolvidos entre 2008 e 2010: «Do Centro para a Periferia» foca primeiras experiências em comunidades com forte presença africana, na periferia de Lisboa. O desafio do contexto apresenta acções desenvolvidas com o Grupo de Teatro do Oprimido de Maputo em Hulene (Maputo); o projecto ZONA aborda questões relacionadas com espaço público; e Cadeiras abre-se ao desafio da língua, às suas idiossincrasias locais, assim como a uma perspectiva sobre cultura material moçambicana.
A SURVEY OF SURVEYS: UM PANORAMA DAS EXPOSIÇÕES DE FOTOGRAFIA AFRICANA
Federica Angelucci (Itália)
Desde a exposição seminal In/sight: African Photographers, 1940 to the Present no Museu Guggenheim, em 1996, e a quase simultânea publicação da antologia da Revue noire, a fotografia africana tem vindo a atrair a atenção do público internacional. Desde então, nos últimos quinze anos, algumas das mostras mais significativas incluem Flash Afrique! Photography from West Africa (2001), Snap Judgements (2006), A Useful Dream (2010), Afropolis (Colónia, 2010), Figures and Fictions (Londres, 2011), para enumerar apenas algumas. A iniciativa destes projectos tem partido, na maior parte dos casos, de instituições ocidentais e de curadores da Diáspora. É interessante realçar que a Bienal de Fotografia Africana de Bamako, há já algum tempo o único evento fotográfico de relevo organizado em África, tem vindo a ser secundarizada por outros eventos como o Lagos Photo, o Fotofestival de Addis Abeba e o Festival de Fotografia de Abidjan, cujas curadorias e organização são locais. Esta comunicação irá fornecer uma perspectiva global da fotografia contemporânea africana tal como tem sido construída pelas principais mostras. Irá igualmente apontar os estilos e temas da geração mais nova de fotógrafos africanos que têm emergido dos eventos de fotografia africanos mais recentes.

Federica Angelucci
Federica Angelucci, nascida em Itália, tem uma licenciatura em Ciência Política pela Universidade Católica de Milão, e é Directora e Curadora de Fotografia da Galeria Michael Stevenson, na Cidade do Cabo. Anteriormente, trabalhou para a agência Magnum Photos em Paris, e para a Peliti Associati, uma editora de fotografia em Roma. Entre os seus últimos projectos inclui-se a exposição “After A”, no âmbito do Festival Atri Reportage, de 2010; actualmente está a fazer um Mestrado em História Visual na Universidade de Western Cape.

A ORQUESTRA EXPERIMENTAL DE INSTRUMENTOS NATIVOS (OEIN)

Cergio Prudencio (Bolívia)

A Orquestra Experimental de Instrumentos Nativos (OEIN) é um conjunto de música contemporânea único no seu gênero. Trabalha com instrumentos musicais tradicionais do Planalto dos Andes, assumindo o profundo significado cultural com o qual estão conotados. A proposta da OEIN consiste em trazer ao presente as ancestrais raízes andinas pre-hispânicas, para desenvolver uma proposta cultural nova ao nível estético e educativo. O seu repertório inclui, principalmente, música erudita de vanguarda, especialmente criada para estes instrumentos, bem como também antiga música tradicional das comunidades aimaras y quechuas da Bolívia. Em ambos os casos, o tratamento dos instrumentos privilegia o respeito pela sua forma física original, pela sua emissão sonora, pela afinação e performance próprias. Para além de ser um elenco musical, a OEIN constitui um sistema de educação musical básica, que trabalha com os instrumentos nativos como ferramentas operativas. Assim, os alunos desenvolvem simultaneamente competências musicais, capacidades de pensamento e atitudes cooperativas para a vida.

Cergio Prudencio (La Paz-Bolívia, 1955). É compositor, director de orquestra, investigador e docente, fundador e director titular da Orquestra Experimental de Instrumentos Nativos (OEIN) desde a sua criação em 1980. Com ela tem vindo a desenvolver uma estética contemporânea de fortes reminiscências ancestrais, em obras como La Ciudad (1980), Cantos de Tierra (1990), Cantos Meridianos (1996), Uyariwaycheq (1998), Cantos crepusculares (1999), Cantos ofertorios (2009), entre outras.
Prudencio compôs também música para formações instrumentais convencionais, como grupos de câmara, solos, música electro-acústica e sinfónica, com difusão em diferentes países da América e da Europa. Foi compositor residente no Schloss Wiepersdorf na Alemanha (2001) e em Bellagio Study no Conference Center da Fundação Rockefeller (Italia 2007) e bolseiro da Fundação Guggenheim (EUA, 2008-2009). Na área audiovisual, a música de Prudencio acompanha mais de quarenta títulos de cinema, teatro, vídeo e dança.

A COLECÇÃO WEDGE

Kenneth Montague (Canadá)

Como canadiano de ascendência jamaicana, o meu interesse pela arte centra-se necessariamente na história, na memória, migração e identidade. A Wedge começou como uma galeria comercial em minha casa e evoluiu para a Wedge Curatorial Projects: uma organização sem fins lucrativos com a missão de explorar a cultura negra global através da fotografia e de outros media. A Colecção Wedge está no centro deste projecto sempre em evolução. Na minha comunicação apresentarei, recorrendo a imagens, uma breve história do meu projecto artístico. Esta incluirá as primeiras exposições em minha casa, vários projectos curatoriais, como workshops com artistas e colectâneas de música, assim como imagens de algumas obras mais emblemáticas na minha colecção. Na parte final da apresentação irei concentrar-me na minha mais recente exposição, Position As Desired / Exploring African Canadian Identity: Photographs from the Wedge Collection, que foi apresentada no Royal Ontario Museum, em Toronto.

Kenneth Montague
O Dr. Kenneth Montague é licenciado pela Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Toronto. É dentista, coleccionador de arte e curador. É, igualmente, fundador da Wedge Curatorial Projects, uma organização sem fins lucrativos dedicada à promoção da arte contemporânea que investiga a identidade negra. É também o proprietário da Wedge Collection, que inclui fundamentalmente fotografia histórica e contemporânea, mas que mais recentemente tem vindo a incluir vídeo, pintura e design.

11.05.2011 | por martalanca | conferências, próximo futuro