Em Memória da Memória. Interrogações e testemunhos pós-imperiais

Episódio #8 Em Memória da Memória, hoje sentamo-nos com Amalia Escriva.

Amalia Escriva pertence a uma família que viveu na Argélia durante várias gerações. As vidas de vários dos seus parentes – avós, pais, tios e tias – foram profundamente impactadas pela experiência da guerra e pelo processo de descolonização que se lhe seguiu. Muitos deles acabariam por abandonar o território um ano depois da independência nacional.

Conversámos com Amalia sobre a sua infância e sobre como cresceu a ouvir a palavra Argélia remetendo para um espaço nostálgico, de afetos, mágico, mas perdido. “França,” por sua vez, seria o lugar do frio, do abandono. Esses imaginários foram-se alterando com o tempo – muito fruto do seu trabalho posterior de cineasta e documentarista. Amalia falar-nos-á disso e de muito mais. Sobre como o seu avô paterno, por exemplo, a fez prometer que jamais regressaria à Argélia. Mas Amalia voltou, 50 anos mais tarde, mas voltou. E, desde aí, não mais deixou de lá voltar. Na ocasião em que primeiro regressou ao país fê-lo em trabalho. Queria contar a história da sua bisavó paterna, a quem deve o nome: Amalia Escriva.A realização é de Inês Nascimento Rodrigues, a edição de som de José Gomes e a imagem gráfica de Márcio de Carvalho. A voz de Amalia Escriva é dobrada por Cátia Soares. Indicativo: voz de Rui Cruzeiro e música original da autoria de XEXA.

Márcio de Carvalho (cortesia do artista)Márcio de Carvalho (cortesia do artista)

 

02.01.2024 | por mariana | Africa, africanstudies, Amália Escriva, Argélia, cineasta, independência

Episódio #6 "França: fantasmas coloniais, Argélia e racismo", com Graça dos Santos

Em Memória da Memória. Interrogações e testemunhos pós-imperiais.

Os fantasmas do colonialismo, feitos memória e pós-memória, estão no centro dos debates sobre a nova identidade francesa no pós-descolonização. Uma França onde, com o fim do império e os fluxos populacionais que ele trouxe, os franceses e as francesas são também pieds-noirs – o equivalente dos retornados portugueses; harkis – que combateram com o exército colonial francês na Argélia; antigos combatentes; franco-argelinos cujos pais migraram para França antes e depois da independência; e descendentes de todos estes grupos. A França contemporânea é este caldeirão de pessoas diversas, com vivências e memórias muito diferentes do antigo império. No entanto, têm uma herança comum: testemunharam como as suas vidas – e as dos seus pais – foram afetadas por um momento histórico extremamente significativo, uma revolução que trouxe mudanças marcantes para as suas vidas, para a configuração dos seus países e para as suas identidades. Isso gerou uma variedade de narrativas de que ouviremos exemplos nos próximos episódios e que, de alguma forma, constroem uma história outra de França e da Argélia, a partir dos espectros familiares dos seus pais e avós.

Os argelinos, franco-argelinos e seus descendentes reivindicam hoje espaço para narrativas que efetivamente contem as suas histórias, contornando as lacunas, os silêncios e as divergências das memórias não-contadas dos seus pais, mães, tios e avós. Mas, sobretudo, ambicionam construir narrativas que preencham as lacunas, os silêncios e as divergências presentes na narrativa oficial do Estado francês, em particular no que diz respeito à guerra da independência da Argélia. Durante largas décadas, assim o conta Graça dos Santos, o Estado francês recusou-se a nomear explicitamente o evento, e isso, diz-nos, é sintomático de um mal-estar latente.

A realização é de Inês Nascimento Rodrigues, a edição de som de José Gomes e a imagem gráfica de Márcio de Carvalho. Indicativo: voz de Rui Cruzeiro e música original da autoria de XEXA.

Ouvir aqui. 

15.12.2023 | por martalanca | Argélia, França, Memória da Memória, podcast