O gesto é político e o que nos apresenta rejeita qualquer hipótese informativa, propondo-nos um filme numa linguagem cinematográfica muito percetiva e relacional, que não cai em descrições e narrativas da diferença e preserva a intimidade da vida e do espaço privado.
A matéria do cinema, o movimento que nasce do conhecimento e da relação para a criação de universos que partilhamos a partir do som e da imagem é um gesto profundamente político, porque move lugares e reifica histórias, dando conta de uma partilha do sensível.
Cara a cara
15.06.2017 | por Mariana Pinho
Pessoas que se sentiram abandonadas,de repente os seus patrões, que lhes davam ordens, passaram do campo socialista para o capitalista sem nenhum problema. Tudo aquilo que eles tinham feito, morto e torturado, em nome de um ideal socialista, tinha deixado de ter sentido. Essas pessoas sentem, algumas delas são muito atormentadas. Outras não. Outras também mudaram de lado com os patrões.
Cara a cara
13.06.2017 | por Nuno Ramos de Almeida
A imagem de não pertencer, de não conseguir, de ter tudo contra si, sem referências positivas, sem modelos que permitam acreditar que ser negro não é uma condenação a trabalhar nas obras ou limpar casas ou - se se tiver sorte na lotaria genética e no talento - a jogar futebol, fazer atletismo, ser músico de hip-hop ou kizomba. Para não falar do estigma da delinquência. Daí que uma professora negra, ou outra figura de referência que permita alargar e concretizar o horizonte de ambição, possa fazer tanta diferença.
A ler
13.06.2017 | por Fernanda Câncio
Este artigo debate a relação entre concepções arquitetônicas e modelos educacionais para o ensino superior no século XXI. Para este fim analisaremos o caso da instalação da Universidade de Cabo Verde. É possível vislumbrarmos um projeto arquitetônico com melhor capacidade de atender a uma universidade localizada no continente africano no início do século XXI? Esta discussão será capaz de apontar novos caminhos para arquitetura e ensino superior ou estará refém de paradigmas anteriores, produzidos pelo norte global?
Cidade
22.05.2017 | por Andréia Moassab
Esta consciência da fragilidade do corpo negro dentro de uma história de ataques sistemáticos condicionou a educação e o comportamento de gerações e gerações de negros. Qualquer atitude fora dos padrões de submissão e obediência definidos pelos brancos podia ser entendida como insolência e ameaça, logo, como justificação para a violência. Responder a um insulto, fazer gestos mais bruscos, olhar o outro nos olhos, exigir respeito, eram comportamentos que podiam, de um momento para o outro, abrir as portas do inferno e fazer recair sobre o corpo negro a violência pronta a explodir da população branca.
Mukanda
20.05.2017 | por Bruno Vieira Amaral
Fundamentos políticos, económicos, jurídicos. E linguísticos. A implantação do Acordo Ortográfico (AO) na totalidade da CPLP continua em discussão e os encontros de ministros da Educação e da Cultura em Luanda, há uma semana e meia, trouxeram à luz novos argumentos sobre os impasses na ratificação de Angola e Moçambique.
A ler
20.05.2017 | por Marta Lança
O antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro esteve em Lisboa para o ciclo “Questões indígenas: ecologia, terra e saberes ameríndios” do Teatro Municipal Maria Matos, no qual também participou o líder indígena Ailton Krenak. De uma longa conversa para o BUALA ficam fios de reflexões sobre antropoceno, apocalipse, crise da antropologia, noções de humano, antropomorfismo, reindigenização da modernidade, devir índio, os povos por vir e os direitos da natureza.
Cara a cara
18.05.2017 | por Ritó aka Rita Natálio e Isadora Neves Marques
Um programa sobre o autor maliano, da diáspora africana, que pretende proporcionar uma reflexão sobre a contemporaneidade africana através do conhecimento aprofundado da sua obra e do seu pensamento. Através da criação de uma espécie de “sala de estudo” pretende-se que o visitante possa ver e consultar, de acordo com o seu próprio critério e motivação, os filmes e livros da autoria de Diawara e outros ensaios.
Afroscreen
12.05.2017 | por vários
Sobre a ilha de Queimada Grande, dizem ser uma forma de sugerir que as suas músicas, por mais festivas que sejam, “têm algo de obscuro, místico”. É essa espécie de misticismo, que nos perturba mas ao mesmo tempo hipnotiza que sentimos ao ouvir, por exemplo, “Novos Mistérios”, o penúltimo álbum que lançaram, editado pela Hospital Productions. Da capa, aos títulos das músicas e letras, tudo nos faz mergulhar nesse imaginário misterioso.
Cara a cara
08.05.2017 | por Mariana Pinho
O “eurocentrismo” entra na equação quando os europeus nas suas práticas e nas suas proclamações entram sistematicamente em contradição com estes valores por si próprios declarados. Ou por outra, “eurocentrismo” não é impôr um padrão europeu como medida de tudo, mas sim não ter vergonha de violar o que se declara como sendo sua própria cultura quando convém.
Mukanda
05.05.2017 | por Elísio Macamo
A principal área de investigação de Ângela Ferreira tem sido a tradução do modernismo no contexto colonial africano e os complexos legados arquitectónicos, estéticos e sociais do projecto modernista. As práticas de Ferreira retiram a criticalidade visual da sua identidade dupla, portuguesa e africana, e o corpo de trabalho resultante tem raízes na África do Sul, em Moçambique e em Portugal.
Vou lá visitar
03.05.2017 | por vários
Questionando os discursos sobre a unidade e a paz na Europa que omitem voluntariamente o Outro, aquele que provém da historia extraterritorial da Europa e que foi decisivo para sua construção, faz-se um exercício de memória, onde a articulação com uma reflexão pós-colonial permitiria fazer justiça e reconstruir a narrativa da relação da Europa com os seus diversos Outros.
A ler
28.04.2017 | por Fernanda Vilar
A desmemorização é um processo muito mais subtil do que o revisionismo histórico. Não adultera os factos, mas o quadro em que os interpretamos. Aqui, é como se a escravização massiva e multissecular fosse apenas um detalhe da história económica portuguesa: os escravos metidos no mesmo saco das especiarias e do ouro — nada que tivesse, portanto, a menor relevância para a memória colectiva dos portugueses e para a compreensão do que possa significar a lusofonia que tanto apregoamos e tentamos hoje em dia pôr a render como um capital simbólico que nos deixe bem nuns tantos cantos do mundo.
A ler
24.04.2017 | por André Barata
Orfeu da Conceição se realiza, em termos de modelo compositivo, a partir das determinações de uma “plagiotropia”[4] (êxito: signans o aspecto sensível do signo estético) isto é, Vinicius, como um típico modernista tardio, serve-se de dados da tradição tendo em vista sua transfiguração no presente. A transformação do modelo trágico e do mito grego de Orfeu – herói que inspeciona o Hades arrastado pelo amor – nesse outro Orfeu, sambista do morro carioca, imaginado pelo poeta brasileiro, diz respeito a uma transposição intersemiótica.
Afroscreen
24.04.2017 | por Ronald Augusto
Este ensaio é, ao mesmo tempo, uma provocação e também uma abertura para uma discussão muito mais ampla. É o resultado da pergunta: “o que quer dizer #BlackLivesMatter (referência ao movimento iniciado nos EUA e que pode ser traduzido como #VidasNegrasImportam) no contexto do Antropoceno?” Hoje, de acordo com o senso comum, o Antropoceno é a denominação de uma nova era geológica, a era humana mais recente. Esse entendimento se baseia na identificação de “uma única manifestação física de mudança registrada em uma seção estratigráfica, muitas vezes, refletindo um fenômeno de mudança global”
A ler
23.04.2017 | por Nicholas Mirzoeff
O presente texto debruça-se sobre a peça Parto-Rosa, da qual Renata Torres é autora e intérprete. A encenação é de Torres e Matamba Joaquim. Parto Rosa estreou em Luanda, no Centro Cultural Brasil Angola, no dia 31 de Março, numa apresentação única. O que trazemos aqui não é um resumo da peça com citações transcritas, mas uma curta análise do trabalho da autora, cuja visão crítica interessa reflectir um pouco.
Palcos
20.04.2017 | por Maria-Gracia Latedjou
Porque este não-reconhecimento tem constituído a pedra angular da política da memória preconizada pelo poder político em Portugal desde essas datas, a omissão presidencial nada trouxe de novo. No entanto, ela foi acompanhada de declarações que, marcadas por uma inquietante imprecisão histórica, fizeram ecoar uma narrativa de pioneirismo humanista português cujo paternalismo implícito foi liminarmente rejeitado por portugueses e africanos quando, em 1974-75, optaram por solidarizar-se na defesa do princípio da autodeterminação dos povos e no repúdio do colonialismo.
Mukanda
19.04.2017 | por vários
Para Oiticica, a invenção desta nova forma de expressão não se tratava, como poderia fazer supor o nome parangolé, de uma folclorização na sua experiência ou a tentativa de uma valorização da “cultura popular”, que considerava uma camuflagem opressiva do “mostrar o que é nosso, os nossos valores…” mas de uma reinvenção da própria ideia de uma arte política. Tanto que sempre se distanciou dos projectos culturais da esquerda, de tradição marxista, que pretendiam figurar discursos sobre a “realidade brasileira” como estratégia de luta contra o regime militar.
A ler
19.04.2017 | por Mariana Pinho
O Arquivo Fotográfico mostra Visão Yanomami, exposição no âmbito da Lisboa Capital Ibero Americana da Cultura 2017 que revela o quão intensa foi a ligação entre a fotógrafa brasileira e os ameríndios yanomami. É um namoro que já dura há mais de 40 anos.
Vou lá visitar
13.04.2017 | por Sérgio B. Gomes
Numa cidade aparentemente especialista na monumentalização e memorialização, o passado colonial da Alemanha, e por extensão a história por detrás do Quarteirão Africano, esteve até recentemente ausente da consciência pública.
Cidade
11.04.2017 | por Ana Naomi de Sousa