Gempenstrasse por estes dias é o refúgio e ponto de encontro de vários exilados políticos das pavorosas ditaduras latino-americanas, filha bastarda da Operação Condor engendrada por Henry Kissinger. Também há prófugos das tiranias africanas e fugitivos de déspotas asiáticos.
Mukanda
27.04.2011 | por Tchalé Figueira
O que fazer com o seu segredo? Era o primeiro a despertar na Aldeia, e o único que sabia, agora, do segredo deste apagamento proibido. Estaria quebrado o ciclo? Seria perseguido pelos espíritos dos mais-velhos pelo seu descuido de natureza amorosa? E havia sido um descuido de natureza amorosa?
Mukanda
26.04.2011 | por Ondja ki
A pós-independência na África é um espaço de ambivalência, em que as aspirações de seu povo vão, frequentemente, em oposição a seus líderes e às influências externas. Sua riqueza é aleijada pelo controle financeiro ocidental que visa uso próprio dos recursos do continente. Nos últimos anos, o rápido crescimento da influência econômica da China sobre a África se tornou mais um aviso do novo agente fomentado pela globalização e da resultante expansão política e econômica. Ainda não há indícios de uma mudança, onde os tentáculos dessas influências alcançam cada vez mais áreas afetadas por conflitos e governos fracos. Neste conflito terreno, nós devemos carregar conosco as palavras de Walter Benjamin “A tradição dos oprimidos nos ensina que o ‘estado de emergência’ em que nós vivemos não é uma exceção, mas sim uma regra.”
A ler
25.04.2011 | por Stina Edblom
É no cemitério do Cairo, mais do que nas pirâmides, que se percebe o culto da morte. E é aí, mais do que no colorido bazar Khan el Khalili, que se vê a força dos vivos. Uma viagem à Cidade dos Mortos quando fazia falta a revolução.
Cidade
24.04.2011 | por Susana Moreira Marques
No país que tem uma Kalashnikov na bandeira, percorríamos um longo caminho a pé, íamos ao encontro de um músico para gravar temas seus para a banda sonora de um documentário. Tobias Dzandiwandira, talento praticamente desconhecido, ou não vivesse ele com a sua extensa família a hora e meia de caminho da estrada mais próxima, no centro oeste de Moçambique, já perto do Zimbabué.
Vou lá visitar
21.04.2011 | por Nuno Milagre
inútil dizer: o deserto
é rosto afogueado de mulher
iminência de revelação constelada
apocalipse imenso do braseiro;
o deserto é ar e areia
ar e areia quente e seco;
Ruy Duarte de Carvalho
19.04.2011 | por Breyten Breytenbach
A epidemia que mais mata no mundo roubou-lhes os pais, deixando-as entregues a si próprias ou ao cuidado de terceiros. Lutam contra o estigma, discriminação, desapropriação de bens, maus tratos físicos e psicológicos, abusos sexuais, trabalho forçado, abandono escolar e gravidez precoce. Enfrentam a doença e a morte. São apenas crianças – mas há as que se erguem dos escombros para quebrar o ciclo da desesperança. Para essas, SIDA rima com Vida.
A ler
19.04.2011 | por Cristiana Pereira
Partindo da ideia do universalismo do conceito de “amizade” e “viagem”, dois artistas, um escritor e um fotógrafo, um português e um angolano, propõem-se passar sete noites e um dia atravessando algumas províncias angolanas. Em busca de materiais visuais, humanos e de escrita.
Vou lá visitar
18.04.2011 | por Ondjaki e Jordi Burch
A palavra amigo é uma conjura secreta, um pacto cuidadoso, pé-ante-pé num momento crucial, dois olhos atentos a controlar a fraqueza do outro. Para lhe remeter as culpas de tudo aquilo que está mal e de que ninguém afinal é culpado. Será? O miúdo pouco que se preocupa, é felino, usa o instinto para vender batiques feitos muito à pressa algures numa habitação que chamam de precária no Bairro do Aeroporto. Linhas circulares, girafas de pescoço torto, palhotas no mato de paisagens irreais aonde vivem homens e mulheres com dentaduras postiças.
Mukanda
17.04.2011 | por Aida Gomes
Nunca português de Lisboa ranjou tante nota na nôs terra cma agora! Agora que estou a ver pamode quês gente de Angola tem quês português tromentode. Senhor Salazar, quel quê Rei de Lisboa, disse come tude português que vai pra terra d’África vai pra ensinar amor na nome de Cristo. Mas ê mentira, pamode se els ia na nome de Cristo, desde quel tempe antigue atê hoj-im-dia, ês tude, branco e prete, já era irmão; stava tude na mesma camada.
A ler
17.04.2011 | por Djunga Fotógrafo
Apesar de abolida em 1836, persistem nas sociedades contemporâneas formas cruéis de escravatura e exploração. Hoje chamam-lhe tráfico de pessoas e é um lucrativo negócio ilícito que movimenta anualmente até 32 mil milhões de dólares – o mais rentável a seguir à droga e às armas. Moçambique não só é país transitário nos movimentos migratórios, como um importante abastecedor da indústria do sexo, trabalho doméstico e exploração infantil na vizinha África do Sul. Para além dos vivos, existem os mortos que nunca chegam a conhecer o seu macabro destino: extracção de órgãos para feitiçaria.
A ler
15.04.2011 | por Cristiana Pereira
A Conferência Internacional "Conhecimentos Endógenos e a Construção do Futuro
em África" realiza-se nos dias 15 e 16 de Abril 2011, na Fundação Engº António de Almeida, no Porto. A conferência terá entrada livre, aberta a
todos os que se interessem pelo tema. A conferência inaugural do Prof. Paulin J. Hountondji (filósofo do Benin) é no dia 15 às 10h45.
Vou lá visitar
14.04.2011 | por CECFA
A biblioteca da sala era composta por cinco livros: “Eva e a África” (?), “Portugal Amordaçado” (Mário Soares) , “O Barão Trepador” (Italo Calvino), “Lady L” (Romain Gary) e a Bíblia Sagrada. À direita ficavam os três álbuns de família; no lado esquerdo os pisa-papéis de água, com a Ópera de Sidney dentro, e as fotografias da família nas molduras e nos fundos da faiança, mandada gravar em Yokohama, por familiares embarcados, sinal de que haviam tocado um porto japonês (o Japão e o golfo Pérsico como última fronteira para os marinheiros crioulos).
Mukanda
12.04.2011 | por Joaquim Arena
Spoek Mathambo é Nthato Mokgata: músico, produtor, DJ e designer gráfico de 26 anos, líder de uma verdadeira vaga de inovação musical saída do continente africano. Divide-se entre vários projectos musicais, como Sweat.X e PlayDoe, mas é a solo que este homem dos mil ofícios nos visita, trazendo consigo a sua banda para invadir o Lux, em Lisboa, no dia 14 de Abril. Numa entrevista à FACT magazine, aqui partilhada com o BUALA, Spoek fala da inescapável hibridização de géneros e da entusiasmante mistura da herança rítmica africana com linguagens electrónicas.
Cara a cara
11.04.2011 | por FACT
Ao designar de proto-nacionalista a geração de seu pai, Mário de Andrade admitiu que as lutas fragmentadas pela dignidade dos filhos da terra tinham uma vertente que levaria a uma reivindicação de tipo nacional. Ele mesmo, filho, acabou integrando a geração que luta pelos direito à auto-determinação e independência, e fê-lo com a ideia de que a Nação era um instrumento utilitário para unificar lutas fragmentadas. Ou seja, era uma invenção social conveniente que ganhou forma com a contribuição dos próprios protagonistas. Nada de diferente em relação ao pan-africanismo, outra construção hipotética, inventada pela diáspora militante, que não dispunha de identificação territorial própria no continente.
A ler
11.04.2011 | por Carlos Lopes
Paulino Damião, repórter fotográfico, 35 anos de carreira, todos no Jornal de Angola. Estudou fotografia por correspondência no Instituto Universal Brasileiro e na Escola Álvaro Torrão, de Portugal. No auge do P&B teve estúdio e laboratório no Largo da Portugália, centro de Luanda. Sem saudosismos, gosta muito da instantaneidade da foto digital. Adora mostrar o resultado no visor de sua câmera. Em 80 foi enviado a Moscou para cobrir a olimpíada. Era o único fotógrafo negro credenciado para os jogos olímpicos, conta. Conhece quase toda a África subsaariana.
Cara a cara
11.04.2011 | por Greg Salibian
Mário Macilau é um fotógrafo (de fragmentos) do real. Macilau é um contador de histórias, e enquanto narra, através das suas imagens, medita acerca do ambiente social, político e económico do seu país e do mundo – para os quais olha de forma nua, crua, sem artifícios. Como o próprio afirma, não encena nem desenha o momento fotográfico. As suas imagens são instantâneas. Ele não as procura, encontra-as. Aproxima-se, com a sua câmara, das inúmeras personagens anónimas que povoam os seus registos – interessam-lhe o movimento do homem contemporâneo e a relação deste com o espaço. O corpo torna-se, assim, protagonista, sem artefactos, das realidades que captura.
Cara a cara
11.04.2011 | por Sílvia Vieira
Transformar o romance Chiquinho (1947), de Baltazar Lopes, em audiolivro foi até agora a tarefa mais ambiciosa da Boca. Desde logo pela grandeza da obra, fundadora da moderna literatura caboverdiana, e do seu autor, um dos mentores da revista Claridade e do movimento de emancipação cultural de que esta foi o órgão difusor e agremiador.
Palcos
08.04.2011 | por BOCA
A partir dos anos sessenta, há uma ebulição em muitos países africanos com a criação de escolas de arte. A par das primeiras exposições de autodidactas, acontecem os primeiros festivais de artes negras e até a fotografia de autores africanos se impõe em África, em países europeus e em alguns fóruns nos EUA. Está em fase de redacção a história do que foram estes movimentos artísticos, as suas escolas, os seus protagonistas, a sua difusão internacional, mas uma coisa já sabemos: ela foi desigual e heterogénea conforme os países, a natureza do ex-colonizador, a maior ou menor presença de artistas e escritores autodidactas, assim como a maior ou menor opção pela escolha da escrita em línguas universais ou em línguas locais, com diferentes impactos na comunidade literária internacional.
A ler
08.04.2011 | por António Pinto Ribeiro
Boémio por excelência, Marhulane conhecia a noite como ninguém. Dormia até o sol se pôr, e, quase que num impulso de mola, saltava para a vida com o nascer do cinzento que o crepúsculo trazia. Exímio guitarrista, desafiava os rasgados agouros das corujas com acordes de labor elevado que arrancava da sua caixa acústica, tão amada como a sua esbelta Margarida, que embora se lamentasse do noctívago homem, a ele não poupava atenções e carinhos. Nisso ela não era austera. E, assim, lá iam levando a vida.
Mukanda
07.04.2011 | por Hilário Matusse