Morte, poesia, comunismo - Heiner Müller, trinta anos depois

Morte, poesia, comunismo - Heiner Müller, trinta anos depois Resgatar Heiner Müller trinta anos depois da sua morte é um exercício arriscado. Desde logo porque o mais cómodo será olhá-lo na forma fetichizada de um autor oracular. Como é habitual a propósito da evocação de autores mortos, poderíamos cruzá-lo com o nosso tempo começando cada frase por «Como previu Heiner Müller…». Seria um exercício sem dúvida eficaz para efeitos de validação pelas intelligentsias académicas, literárias ou militantes, sempre prontas a legitimar a sua inércia pela idolatria dos seus mortos convertidos em bonecos de cera. Fazê-lo com Müller seria, no entanto, traí-lo, no mesmo sentido em que o próprio entendia que a sua relação com Brecht só poderia ser crítica. Andar à procura de uma realidade que confirmasse as supostas previsões de Müller não passaria de um exercício vazio, até porque o seu gesto foi precisamente o contrário de uma tentativa de descrever a realidade.

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08.12.2025 | por Fernando Ramalho